Aconselhamento não diretivo

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CASO ILUSTRATIVO DO ACONSELHAMENTO NAO-DIRETIVO O CASO DE MARGARIDA CASTRO Margarida foi enviada ao orientador por seu médico assistente, que exigiu um exame psicológico da mesma, antes de dar início a qualquer tratamento especificamente clínico. Na sua opinião, os sintomas apresentados por Margarida, perda de peso, inapetência, Insônia, choro fácil e vertigens, eram, em grande parte, decorrentes do estado emocional da orientanda. Margarida contava 18 anos na época da entrevista que transcreveremos a seguir.

Havia sido submetida, recentemente, a uma operação plástica no rosto, que a tornava bastante atraente, o contrário do que era antes. Foi tal a transformação de sua fisionomia, que ao voltar para sua escola, Margarida não foi reconhecida pelos professores e nem mesmo por suas colegas. Segue-se a entrevista que teve com a orientadora: M. – Bem, aqui estou. Acho tolice ter vindo, mas Dr. Carlos insistiu tanto que lhe prometi que viria, apenas por uma hora. De maneira que aqui estou. Podemos começar… O. Você veio porque seu médico insistiu, e nao porque sentiu necessidade (clarificação de vivências emocionais). M. – Exatamente. Ele disse que não tenho nada fisicamente e que todos os sintomas que apresento são de fundo emocional. Ele acha que estou muito perturbada emocionalmente (rapidamente). Bobagem dele! Estou perfeitamente bem. Não estou perturbada com coisa alguma. O. – Você sente que seu médico está errado quando afirma que -lal Studia ao conteúdo). M. – (cortando) Não tenho nada com que me preocupar! Tenho uma porção de amigas, dinheiro, estou me saindo bem no colégio.

O. – Você sente que está tudo correndo aparentemente bem e que não há razão alguma para ele achar que você está emocionalmente perturbada (clarificação de vivências emocionais). M. – É, em resumo é isto (começa a chorar). Está vendo, esta é ma das razões que faz Dr. Carlos supor que não estou bem, emocionalmente (limpando os olhos). Choro à toa, à toa. Às vezes, sem motivo nenhum começo a chorar e nao consigo parar. Não posso saber porque! O. —Você não sabe a razão desta enorme vontade de chorar que, às vezes, sente (reflexão do conteúdo emocional).

M. – Bem, na verdade, acho que sei sim. O. – Ah. Você sabe qual a causa (reflexão). M. – Fui operada há pouco tempo e isto não é mais que uma reação nervosa bastante natural. O. – Você acha que o choro é uma reação bastante natural numa pessoa, depois de uma operação (reflexão). M. – (chorando copiosamente) Foi no meu rosto. Sempre fui uma criança horrorosa. Meu nariz e meu queixo eram completamente deformados. No princípio deste ano mamãe chegou para mim e disse: – “Na semana que vem, você vai para X para fazer uma operação plástica.

Já está tudo combinado, médico, casa de saúde, e o lugar que você ficará, depois da operação, até poder voltar para aqui, em julho. ” E foi tudo o que ela disse. E eu tive que ir… Foi um tal choque o dia em que tirei as ataduras! Quando me olhei no espelho não me reconheci. Estava completamente mudada! Foi o fim do patinho feio . om extrema amargura e ressentimento). Belo trabalho a senho 20F 10 completamente mudada! Foi o fim do patinho feio . com extrema amargura e ressentimento). Belo trabalho a senhora não acha? O. ?? Um belo trabalho com o qual você não ficou muito satisfeita (Aceitação – Clarificação de vivências emocionais). M. – (Falando muito baixo) E a senhora acha que eu poderia ficar? Estou completamente diferente. Ninguém me reconhece mais (falando rapidamente). Afinal de contas isto não sou eu. Sou uma mascarada. Sinto-me uma falsária, uma chantagista. Virei uma coisa artificial, construída (mudando de tom). A senhora precisava ver o dia que voltei para o colégio. Ninguém me reconheceu, nem minhas colegas nem meus professores, ninguém!

E quando souberam o que aconteceu, . com ironia) eu mesma me encarreguei de explicar, – todos diziam: “Mas que maravilha! Você ficou linda! puxa, que sorte você teve de poder pagar uma operação destas! ” E eu agradecia e fingia que também estava satisfeitíssima. Mas por dentro gritava: fraude, fraude, fraude!!! O. – Apesar de suas colegas acharem admirável toda a transformação de sua fisionomia, você não a considerava mais que uma fraude, que uma grande tapeação (Clarificação das ivências). M. – À noite, trancava-me no quarto e chorava. Chorava até dormir.

Até que um dia um de meus professores me chamou e me disse entre outras coisas: “Você está se martirizando à toa. Por acaso quando uma pessoa perde um braço ou uma perna ela não substitui por outro mecânico? Quando se perde um olho não se coloca um de vidro no lugar? E então! E por acaso você acha que alguém pode chamá-los de falsários ou vigaristas? Você nada mais fez do que essas pessoas. 30F 10 chamá-los de falsários ou vigaristas? Você nada mais fez do que essas pessoas. Você apenas teve oportunidade de corrigir m erro da natureza.

Por acaso é fraude, fazer uma ondulação permanente, usar maquilagem ou qualquer coisa neste gênero? Não há razão para tanto desespero. ” (Recomeçando a chorar) Ê, de certo modo vi que ele tinha razão. Daí por diante comecei a me sentir um pouco melhor. O. – Depois da conversa com seu professor você conseguiu aceitar melhor sua transformação, sem se considerar uma falsária ou vigarista (Clarificação de vivências). M. – É (grande pausa). É . com voz resignada). Isto já não me aborrece tanto. Não resta dúvida que é um grande progresso. E Deus sabe quanto (pausa) (mudando de tom).

Meu médico está convencido que tudo que tenho é por causa disto. Ele já me disse mesmo, que as pessoas que sofrem uma grande transformação física, às vezes, custam a se adaptar a estas mudanças (como se falasse para si mesma). Acho que ele apostaria seu salário de um mês, tal a sua certeza. O. – Você está certa de que seu médico está enganado (clarificação)? M. – (enfática) Tenho a mais absoluta certeza. (Longa pausa. Enxuga os olhos e o nariz e prossegue em voz muito baixa) Ninguém pode agüentar passar a vida inteira odiando a mãe como eu, sem acabar ficando com os nervos em frangalhos.

Desde que me entendo por gente que desejo que ela morra. Ela é uma pessoa tão tremendamente dominadora, que levou meu pai e minha irmã ao suicídio. Poderia dizer que os matou. Ela é um verdadeiro vampiro que nada mais fez, a vida inteira, que sugar o sangue de seus próprios filhos. Minha operação plástica foi 10 fez, a vida inteira, que sugar o sangue de seus próprios filhos. Minha operação plástica foi apenas um acidente. Desde criança que ela me usou como empregada, Nesta época ela estava iniciando um negócio e toda sua energia era aplicada naquilo. Não resta dúvida que ela venceu.

Atualmente é dona de uma cadeia de casas comerciais. Cada um de seus filhos, os que restam, possui um certo capital em seu próprio nome. Agora ela quer que participemos de seus negócios. Uma de minhas irmãs já é sua sócia. A outra casou-se, mas como o marido não “serviu”, ela rapidamente providenciou o desquite. Seu último projeto é encarregar-me de um dos setores da Firma. Coitada, mas desta vez ela vai ficar muito surpreendida. O dia em que eu fizer 21 anos, aposso-me do dinheiro e vou-me embora para nunca mais voltar. O. — A dominância de sua mãe tornou sua vida insuportável e você sente…

Clarificação). M. – (Prosseguindo de maneira muito clara)… É a primeira vez em minha vida que falo a alguém quanto odeio minha mãe, e como sempre desejei sua morte. (Irônica) Deveria ficar envergonhada, mas, por incrível que pareça, não sinto vergonha alguma. O. – Você acha que deveria envergonhar-se do que disse a respeito de seus sentimentos em relação a sua mãe, mas na verdade não sente vergonha alguma (Clarificação). M. – Acho que estou ficando insensível, assim como ela sempre foi comigo. O. – Você acha que assimilou a falta de sensibilidade de sua mãe? Reflexão). M. – É (calma). Não sei. ?s vezes fico pensando se vale a pena gastar minhas energias continuando a odiá-la, desejando sua morte. Já não dependo tanto dela. Acho que já pos 0 minhas energias continuando a odiá-la, desejando sua morte. Já não dependo tanto dela. Acho que já posso viver minha própria vida. Na verdade não preciso mais dela para nada. O. – Você sente que já não é mais necessário desejar a morte de sua mãe? (Clarificação). M. – É, acho que já sei o que devo fazer, que direção dar a minha vida daqui por diante. Excitada) A senhora compreende? Minha vida tem sido um verdadeiro inferno. Minha infância não foi muito iferente da infância de uma empregadinha. Era responsável por todo o serviço da casa, arrumar, lavar e cozinhar. Era uma criança horrorosa e mamãe nunca se preocupou em me arrumar. Andava como um judas. Minha vida se limitava em ir de casa para a escola, da escola para casa. Meu único refúgio eram os livros. No colégio só falava com os professores, assim mesmo, para dar minhas lições. Acho que meus professores tinham pena de mim. Acho não, tenho certeza.

Nunca consegui ter uma amiga. Naquela época me sentia a pessoa mais miserável e infeliz do mundo. A coisa mais importante para mim era ser a primeira aluna da lasse, e, apesar de conseguir, mamãe nunca me deu um alfinete por isso ou me fez um elogio. Nem tampouco papai. Ela só sabia falar comigo para dar ordens: “Lave a roupa quando chegar do colégio”; “Arrume melhor a casa, que está uma desordem”. Divertimentos! Ah, isto é coisa que ela jamais pensou em nos proporcionar. A senhora precisava ver em que estado viviam minhas mãos. Tinha até vergonha de que alguém as visse.

Minha grande preocupação era mantê-las escondidas. Nesta época, ela não dava a menor importância à minha feiúra. Herdava as roupas de 6 0 escondidas. Nesta época, ela não dava a menor importância ? inha feiura. Herdava as roupas de minhas irmãs. Não fazia mal que não ficassem muito bem, era mais econômico. Era tratada como o cachorro. Pior que isto, porque de vez em quando ela fazia uma festinha nele, mas para mim nunca sobrava tempo. Ela jamais deixou transparecer a menor afeição por mim, nem eu por ela, é lógico. Papai e ela passavam dias e dias sem se falarem. Coitado!

A senhora precisava ver a maneira como ela o tratava! Só se dirigia a ele para dizer-lhe que era um fracassado e que não servia nem mesmo para sustentar a família. .Com rancor contido) Ah, como eu desejava que ela morresse. Quando ela saía, ia para porta e ao vê-la afastar-se desejava intensamente que ela nao voltasse mais, que fosse morta. Mas quando chegava à tarde tinha verdadeiro pânico que tivesse acontecido o que desejara e só ficava calma quando ela regressava. Mas não levava muito tempo, todo meu ódio voltava de novo. E foi neste inferno que passei toda a minha infância.

Nunca fui a lugar nenhum. Não tinha tempo e não tinha vontade, pelo menos achava que não tinha. Minha vida consistia em trabalhar e estudar, trabalhar e estudar. Como era importante para mim ser a primeira da classe! Às vezes, como não tinha tempo de estudar de dia, passava s noites em claro a fim de me preparar para as provas. Era considerada menina modelo. Os professores me apontavam como exemplo e isto fazia com que meus colegas me odiassem. (Pequena pausa e em ritmo mais lento) Então um dia… bem, acho que ele agüentou até demais, – quando fui ao porão buscar mantimentos… ncontrei-o. Es mantimentos… encontrei-o. Estava morto. Ah, acho que nunca tive tanto ódio de mamãe. Como desejei que ela nunca mais voltasse, que ela morresse. Desejei tanto que cheguei até a adoecer (pausa). Há anos que desejo isto. E é uma coisa que não consigo superar. ? como se tudo dependesse da sua morte (longa pausa). É, mais de algum tempo para cá isto está melhorando! Sinto que para me libertar não é mais necessário eliminá-la. Isto depende somente de mim (pausa). Às vezes, chego a sentir pena dela. Sua vida deve ser um inferno. ? uma mulher tão tremendamente solitária! Ninguém consegue aproximar-se dela. Ela não tem uma amiga sequer. Todo mundo tem desprezo por ela. Sua vida também deve ser um inferno. O. — Você sente que sua mãe é uma pessoa que merece piedade, que é desprezada por todos (Reflexão). M. – É, mas apesar de tudo acho que ela pode viver sua vida ssim, como eu a minha, e quanto mais longe vivermos uma da outra, melhor será. Um dia… quem sabe… talvez seja possível uma certa conciliação desde que arranjemos um “modus vivendi”, em que nos respeitemos mutuamente, como seres humanos.

O. – Você acha que poderá um dia vir a ter uma relação humana com sua mãe, na qual haja um respeito mútuo (Clarificação). M. – É. A senhora vê, na verdade sei que não necessito desta orientação. Acredito que Dr. Carlos tenha tido boas intenções quando me mandou procura-la. Mas não me sinto… (campainha toca). 0h! Já estou aqui há uma hora? (tom de descrédito). O. – O tempo pareceu voar (Clarificação). M. – Bem… (levantando-se). Não pretendo volta 80F 10 descrédito). O. — O tempo pareceu voar (Clarificação). M. – Bem… (levantando-se). Não pretendo voltar.

De qualquer modo, agradeço-lhe muito (Clarificação). O. – Você sente que não necessita marcar outra hora? M. – Não. Boa tarde. O. — Boa tarde. (Sai, mas volta alguns minutos depois). M. – Seria possvel a senhora me dar seu telefone? Assim poderei telefonar-lhe, caso necessite. O. – Está muito bem. Aqui está. M. – Obrigada. Até logo. Margarida não voltou a procurar a orientadora, mas o relatório édico declarou melhora pronunciada em seu estado emocional após a entrevista. Sentimentos e vivências emocionais significativas expressas por Margarida durante a entrevista: 1.

Eu só vim procurá-la porque meu médico insistiu. 2. O doutor acha que tenho esses sintomas porque estou perturbada, emocionalmente, mas isto não é verdade. Não estou perturbada a respeito de coisa alguma. 3. Choro sem motivo algum. É apenas uma reação natural devido à operação cirúrgica a que fui submetida. 4. Minha mãe fez todos os preparativos para que eu me submetesse a essa operação plástica, sem me consultar – nem ao enos procurou saber como eu me sentia a respeito. 5. Foi um choque tremendo quando tudo terminou. Eu era uma outra pessoa. . Senti-me como uma falsária, uma vigarista. 7. O doutor acha que estou assim perturbada por causa da operação, mas ele está enganado. 8. Uma pessoa não pode assar toda a vida odiando profundamente alguém, c minha própria mãe, e nervos destroçados. 9. Eu odeio minha mãe e desejo sua morte. 10. Suponho que me deveria sentir envergonhada, mas não me sinto assim. 1 1 . Minha vida tem sido um verdadeiro inferno. Quando criança eu não passava de uma miserável criadinha. 12. Nunca tive amigos e me sentia profundamente infeliz na escola. 13.

Jamais esquecerei o choque que eu senti quando encontrei meu pai. Ela o matara. 14. Todavia, acho que já sou suficientemente adulta para viver e deixar os outros viverem suas próprias vidas. 15. Na verdade, eu estava fugindo de enfrentar uma decisão, na esperança que algo lhe ocorresse. Mas isto agora depende de mim. Realmente, acho que tenho pena dela. Sua vida deve ser um inferno. 16. Talvez algum dia, possa haver uma certa conciliação entre nós duas. 17. Como a senhora vê eu não precisava mesmo vir aqui. 18. Poderia me dar seu telefone, caso eu necessite lhe falar utra vez?

SEGUIMENTO Alguns meses após a entrevista transcrita, Margarida Castro casou-se com um colega de Faculdade. Seu médico nos informou que ela parecia estar muito feliz. DOIS anos mais tarde, soubemos que sua progenitora sofrera um derrame cerebral, que a deixar paralítica. Atualmente vive em companhia de Margarida que voluntariamente se propôs a cuidá- la. A relação entre ambas, segundo os informes recebidos, é multo satisfatória, parecendo haver compreensão e amizade. Infelizmente, fica apenas no terreno das especulações se houve alguma relação ent ntos e a entrevista de 0 DF 10

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