Relaзoes de genero na sala de aula

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RELAЗХES DE GКNERO NAS PRБTICAS ESCOLARES E A CONSTRUЗAO DE UM PROJETO DE CO-EDUCAЗAO AUAD, Daniela – FEUSP GE: Gкnero, Sexualidade e Educaзгo / n. 23 Agкncia Financiadora: FAPESP O presente trabalho expressa resultados de pesquisal, de inspiraзгo etnogrбfica, realizada em pбtios e salas de aula de sйries iniciais de escola pъblica de Ensino Fundamental. Tratou-se de investigaзгo cujo problema principal consistiu em saber como й possнvel, a partir de pesquisas, enfrentar (e vencer) o desafio colocado pelo tradicional sistema educacional no que se refere ao fomento das desigualdades de gкnero.

Estas desigualdades ferem os princнpios bбsicos de A idйia original da qu espaзo especialment diversas publicaзхes em nosso paнs, acъm OF24 Swipe nentp eseja democrбtica. que a escola й um s de gкnero. Embora згo, nгo se verifica, s de referкncia tratando exclusivamente das relaзхes de gкnero nas prбticas escolares no Ensino Fundamental. Assim, й possнvel concluir que a maioria das pesquisas educacionais ignora a escola que se constrуi determinando e sendo determinada pelas relaзхes de gкnero.

Uma possнvel explicaзгo para esse fenфmeno, como aponta Tomaz Tadeu da Silva, seria a existкncia de uma tradiзгo rнtica em educaзгo no Brasil, rigidamente apegada a esquemas fechados e estбticos de anбlise, indiferente ao reconhecimento e incorporaзгo da importвncia de novos atores SOCIalS3. Essa tradiзгo critica revela-se incapaz de se apropriar de “novas” categorias, como gкner Sv. ‘ipe to View next page gкnero, raзa-etnia e geraзгo. Como consequкncia disso, hб a tendкncia a se desconsiderar tudo aquilo que extrapola as relaзхes de classe, de dominaзгo e exploraзгo sуcio-econфmica.

Realizada com financiamento da Fundaзгo de Amparo а Pesquisa do Estado de Sгo Paulo (FAPESP), para obtenзгo do tнtulo de Doutora em Educaзгo. 2 Dentre estas, destacam-se as seguintes: Cristina BRUSCHINI e Tina AMADO, Estudos sobre mulher e educaзгo: algumas questхes sobre o magistйrio, Cadernos de pesquisa; Fъlvia ROSEMBERG e Tina AMADO, Mulheres na escola, Cadernos de Pesquisa; Tomaz Tadeu da SILVA, Territуrios contestados: O currнculo e os novos mapas polнticos e culturais; Guacira Lopes LOURO, Gкnero, Sexualidade e Educaзгo: uma perspectiva pуs-estruturalista; Guacira Lopes LOURO (org. , O corpo educado: pedagogias da sexualidade. 3 Tomaz Tadeu da SILVA, Territуrios contestados: o currнculo e os novos mapas olнticos e culturais, p. 3. 2 Na produзгo dos estudos educacionais, portanto, parece nгo se considerar o sexo dos participantes do cotidiano escolar e os significados de gкnero que constituem tal cotidiano. Da mesma maneira, pode nгo estar sendo percebido o modo como a escola й mais do que uma mera “reprodutora”, sem conflitos e problemas, de uma determinada visгo do que seja tradicionalmente masculino e feminino.

Alunas e alunos nгo sгo vнtimas passivas. Elas e eles resistem, contestam e podem apropriar-se diferentemente do corpo de conhecimentos com os quais entram em contato na escola, formal e informalmente. Nesse sentido, como й possнvel depreender da leitura da obra de Guacira Lopes Louro, a escola й produtora de diferenзas, distinзхes e desigual 24 da obra de Guacira Lopes Louro, a escola й produtora de diferenзas, distinзхes e desigualdades. A escola que a sociedade ocidental moderna herdou separa adultos de crianзas, ricos de pobres e meninos de meninas.

Herdamos, e agora de muitas maneiras mantemos, uma importante instвncia de fabricaзгo de meninos e meninas, homens e mulheres. O trabalho de conformaзгo que tem inнcio na famнlia encontra eco e reforзo na escola, a qual ensina maneiras prуprias de se movimentar, e se comportar, de se expressar e, atй mesmo, maneiras de ‘preferir’. Guacira Lopes Louro destaca, contudo, que os sujeitos nгo sгo passivos receptores de imposiзхes externas. “Ativamente eles se envolvem e sгo envolvidos nessas aprendizagens — reagem, respondem, recusam ou as assumem inteiramente. 4. A partir da leitura de Estudos sobre Resistкncia, de Flбvia Schilling, ainda й possнvel depreender que os sujeitos nгo sгo assim tгo ‘sujeitados” e, em pequenas e cotidianas recusas e afirmaзхes, os ‘nгos’ vгo se mostrando contidos nos gestos e nas falas daqueles que resistem5. Como exemplo disso, Nara Bernardes tambйm observou, em pesquisa de camp06, que as meninas estariam mais propensas a inovar no que diz respeito аs relaзхes de gкnero impostas culturalmente. Elas questionariam usualmente as suas vivкncias escolares e as dos meninos.

Assim, й possнvel afirmar que: • A escola, na sociedade ocidental em que vivemos, legitima e transmite modelos masculinos e femininos tradicionais. Hб um conjunto de atividades e acontecimentos escolares condizentes com as relaзхes de gкnero predominantes, tradicionais e bipolares em vigкncia na nossa sociedade; Guacira Lopes LOURO, Gкnero, Sex radicionais e bipolares em vigкncia na nossa sociedade; perspectiva pуs-estruturalista, p. 61. Flбvia SCHILLING, Estudos sobre Resistкncia, p. 4/5. 3 • Essa mesma escola tambйm reformula os modelos masculinos e femininos tradicionais.

Na escola, hб tambйm um conjunto de atividades e acontecimentos motivadores de novos e alternativos arranjos e exercнcios acerca do masculino e do feminino. Tais arranjos e exercнcios sгo diferentes daqueles socialmente esperados e em vigкncia. Essas assertivas, reveladoras do lado “passivo” e do lado “reativo” das relaзхes de gкnero na escola, sгo a base sobre a qual se assentaram s pressupostos centrais da investigaзгo, os objetivos e a metodologia do trabalho e, enfim, as conclusхes do estudo.

Os pressupostos da investigaзгo Um dos pressupostos centrais da investigaзгo й que, embora as escolas brasileiras sejam mistas, nгo temos, em nosso pais, co-educaзгo. Trata-se de assertiva elaborada a partir do diбlogo, por mim estabelecido, entre publicaзхes sobre as temбticas “Educaзгo e Relaзхes de Gкnero E “, ” ducaзao e Democracia”, e, ainda, “Educaзгo e Direitos Humanos”. Em seu texto Educaзгo em Direitos Humanos: de que se trata? Maria Victoria Benevides faz distinзгo entre os termos educaзгo para a democracia” e “educaзгo democrбtica”. A partir disso, foi possнvel demarcar em que diferem os termos “co- educaзгo” e “escola mista” A educaзгo democrбtica corresponde ao processo educacional permeado por regras democrбticas — igualdade diante das normas e do uso da palavra — durante o seu desenvolvimento. Jб a educaзгo para a (e na) democracia, de mai 4 24 do uso da palavra — durante o seu desenvolvimento.

Jб a educaзгo para a (e na) democracia, de maior profundidade e abrangкncia, ocupa-se da formaзгo dos sujeitos para a vivкncia de valores republicanos e democrбticos, tornando-os cфnscios e sua dignidade e a de seus semelhantes, de modo a fomentar a solidariedade. A educaзгo para a democracia consiste ainda na Cidadania Ativa, ou seja, na formaзгo para a participaзгo na vida pъblica como governante ou cidadгo comum7.

Somou-se а distinзгo realizada por Benevides a leitura do livro La mixitй ? l’йcole primaire, de Claude Zaidman8_ A uniгo dos referenciais de Benevides e Zaidman auxiliou-me a construir a seguinte assertiva: o fato de as meninas e os meninos frequentarem juntos a escola nгo garante que haja co-educaзгo. Ou seja, na escola nгo Nara BERNARDES, Crianзas oprimidas: autonomia e submissгo. Mana Victoria BENEVIDES, Educaзao para a Democracia, Lua Nova, p. 28. 8 Claude ZAIDMAN, La mixitй а l’йcole primaire. A autora da obra й Maitre de Confйrences, na disciplina de Sociologia, na Universidade Paris VII. 7 6 estгo garantidas sequer as regras democrбticas tradicionais, no sentido da igualdade diante das normas, igual uso da palavra, direito а escolhas e а participaзгo. Assim, escola mista e co- educaзгo sгo termos que podem ser diferenciados, apesar de serem utilizados como sinфnimos.

Proponho tal distinзгo, inйdita em nosso paнs, ao longo da escrita deste trabalho com a inalidade de potencializar o debate sobre educaзгo e relaзуes de gкnero. A maneira pela qual a ‘mistura’ entre meninos e meninas se impхe na realidade escolar, sem objetivos definidos e sem reflexгo pedagуgica, p meninos e meninas se Impхe na realidade escolar, sem objetivos definidos e sem reflexгo pedagуgica, pode influenciar na construзгo e no reforзo de relaзхes de gкnero desiguais na realidade escolar e, tambйm, a partir dela.

A ‘mistura’ de meninas e meninos no ambiente escolar nгo equivaleria, desta forma, ao ideal de co-educaзгo. para que este fosse levado a terma, escola mista teria de ser pensada, questionada e analisada a partir das relaзхes de gкnero e das relaзхes entre os sexos que estгo em jogo cotidianamente. Sendo assim, conclui-se que pode revelar-se estйril a coexistкncia entre os sexos se nгo houver uma reflexгo pedagуgica a esse respeito.

Essa coexistкncia nгo serб sinфnimo de tйrmino de desigualdades se nao for considerado o contexto social de separaзгo em vigor, e ainda largamente dominante, no tocante aos gкneros masculino e feminino. Nesse sentido, compreende-se a co-educaзao como necessбria e possнvel, mesmo que nгo aplicada de fato ainda. Tal situaзгo conduziu-me ao conceito de “idйia prбtico-regulativa”, da filуsofa hъngara, radicada nos EUA, Agnes Heller.

Tal conceito foi utilizado por Beatriz Bastos Teixeira, em sua tese de doutorado, para referir-se а educaзгo para a democracia: ” й uma idйia que regula a aзгo humana, ou seja, nгo й existente no sentido em que o sгo os objetos, nem estб submetida а causalidade; ao mesmo tempo tem ‘realidade objetiva’ na medida em que regula as aзхes humanas inseridas no mundo causal, temporal e fenomкnico” 9 Ou seja, a “idйla prбtico-regulativa” trata-se de idйia que nгo xiste ainda em fato, do modo como й descrita discursivamente, mas pode vir a existir, atй porque й isso que s 6 OF24 do modo como й descrita discursivamente, mas pode vir a existir, atй porque й isso que se deseja. Assim como a educaзгo para a democracia, a co-educaзгo pode ser uma “idйia prбtico- regulativa”. A co-educaзao pode 9 Beatriz Bastos TEIXEIRA, Por uma escola democrбtica, p. 24. ser entendida como um modo de gerenciar as relaзхes de gкnero na escola, de maneira a questionar e reconstruir as idйias sobre o feminino e sobre o masculino. E existem mais comparaзхes possнveis. A diferenciaзгo stabelecida, por Maria Victoria Benevides, entre educaзгo democrбtica e educaзгo para a democracia pode ser transposta para distinguir escola mista e co-educaзаo. Pode haver educaзгo democrбtica sem que esta seja guiada pelo ideal de educaзгo para democracia. Assim como pode haver — e este й o pressuposto central do qual partiu meu estudo — escola mista sem haver, em exerc[cio e em funcionamento, uma pol[tica de co-educaзгo. Nessa perspectiva, nгo hб co-educaзгo sem escola mista, mas pode haver escola mista sem existir co-educaзгo.

A escola mista й um meio e um pressuposto para haver co- ducaзгo, mas nao й suficiente para que esta ocorra. Em uma escola mista, a co-educaзгo pode se desenvolver, mas isto nгo acontecerб sem medidas explicitamente guiadas por parte das professoras e amparo de polнticas pъblicas cujo objeto seja o fim da desigualdade de gкnero, no вmbito educacional. A co- educaзгo, assim como a educaзгo para a democracia, sу existirб a partir de um conjunto de aзхes adequadas e sistematicamente voltadas para a sua existкncia e manutenзгo. Figura, neste aspecto, o enorme valor das prбticas pedagуgicas para levar a bom termo tal Ideal.

Nessas prбticas este aspecto, o enorme valor das prбticas pedagуgicas para levar a bom termo tal ideal. Nessas prбticas pedagуgicas, os sujeitos sгo professoras, professores, alunos e alunas. Ao considerar esses pressupostos, remonta-se, no вmbito do ideal de coeducaзгo, ao paradoxo da democracia. A democracia nгo existe sem uma educaзгo apropriada, sem a formaзгo de cidadгos democrбticos. Contudo, para que tal formaзгo aconteзa, sгo necessбrias educadoras, cuja formaзгo se darб concomitantemente ao desenvolvimento de prбticas democrбticas10. Desta forma, tanto a educaзгo para a emocracia quanto a co-educaзгo tкm como fator imprescindнvel para o seu alcance a formaзгo de professoras.

Trata-se de formaзгo de profissionais comprometidas com a concretizaзгo de aзхes educacionais e prбticas pedagуgicas igualitбrias e democrбticas. 10 Tal paradoxo й apontado por Maria Victoria BENEVIDES, Educaзгo para a Democracia, Lua Nova, p. 235. 6 Й possнvel, portanto, afirmar que nгo hб educaзгo para a democracia sem co-educaзгo. Ainda que esta seja uma “idйia prбtico-regulativa”, apenas a sua busca pode tornar a escola uma instituiзгo mais comprometida com o tйrmino das desigualdades. Estou, portanto, convicta de que, no Brasil, as escolas mistas, lamentavelmente, nгo correspondem а vigкncia da co-educaзгo.

Minha convicзгo assenta-se sob algumas premissas que podem ser assim resumidas: A distinзгo entre os termos escola mista e co-educaзгo й pela primeira vez proposta por mim em minha pesquisa e neste trabalho, com a finalidade de fortalecer o debate sobre educaзгo e relaзхes de gкnero; relaзхes de gкnero; Nгo hб co-educaзгo sem escola mista, mas pode haver escola mista sem que haja co-educaзгo; A co-educaзгo sу existirб a partir de um conjunto de aзхes dequadas e sistematicamente voltadas para a sua existкncia e manutenзгo; Nгo haverб transformaзгo — no sentido de efetivamente democratizar a rede de escolas mistas — sem a vivкncia da co- educaзгo. Os objetivos e a metodologia do trabalho A partir dos pressupostos centrais da pesquisa, destaco que o objetivo principal da investigaзгo foi conhecer as relaзхes de gкnero nas prбticas escolares. Esse objetivo principal se desdobrou e se compфs por um conjunto de objetivos delineados em sua funзгo. Isso significa dizer que conhecer as relaзхes de gкnero nas prбticas escolares implicou em: Conhecer como se expressam as relaзхes de gкnero em atividades rotineiras, e tambйm incomuns, da escola; separadas por sexo.

Vale notar que trata-se de polкmica acerca da qual, atй o momento, nгo se teve notнcia de maneira sistematizada no Brasil; Fornecer conhecimento para utilizaзгo em cursos de Formaзгo de Professoras, a fim de sensibilizar as educadoras para as relaзхes sociais de gкnero em vigкncia na escola e em nossa sociedade; E, finalmente, subsidiar polнticas pъblicas educacionais que promovam a igual valorizaзгo do feminino e do masculino, em nossa sociedade. Para atingir esses objetivos, o estudo delineou- se em dois eixos: O eixo campo, constituido pela observaзгo das prбticas escolares, nas sйries ou ciclos iniciais de uma escola de Ensino Fundamental. 2. O eixo bibliogrбfico, correspondente а pesquisa de bibliografia sobre os temas “Educaзгo Escolar e Relaзхes de Gкnero”, “Co- educaзгo” e “Mixitй”. 8 O estudo de Bibliografia sobre Educaзгo e Relaзхes de Gкnero, com obras latino-americanas (inclusas nesta categoria as produзхes brasileiras), com obras francesas e anglo-saxгs, dentre outras contribuiзхes, cum guiar o meu olhar 0 DF 24

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