Uma descrição retórico-argumentativa para não coincidencias do dizer

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UMA DESCRIÇÃO RETÓRICO-ARGUMENTATIVA PARA AS NÃO COINCIDENCIAS DO DIZER Ananda Lúcia Lima de Oliveira[l], Carlos Magno Viana Fonseca[2] RESUMO: No presente trabalho objetivamos analisar as propriedades argumentativas das não-coincidências do dizer, para isso foi utilizado como corpus 20 textos, do gênero Cartas ao Leitor coletados de revistas de grande circulação nacional e de artigos acadêmicos de algumas das mais conceituadas revistas da área de Letras/l_ín foram examinados ? do dizer; na análise d Interdiscursiva, nas q contido na fama, car pesquisa tais textos 0 cl de não-coincidências ‘Vipe view next page acou cia do tipo NC eita-se do poder cia profissional, status social do outro para defender sua posição em relação ao assunto, exercendo assim seu poder retórico-argumentativo por meio das NCD.

PALAVRAS-CHAVE: Argumentação, Não coincidências do dizer, Produção Textual. N RODUÇÃO Entendemos a importância da argumentação na vida humana, visto que o meio em que habitamos a pratica em suas mais variadas formas. Nós, assim como este meio, também somos seus praticantes. Televisão, revistas, jornais, rádio, argumentação o ato de força alguém a seguir seus conceitos, e sim fazendo através de suas palavras “uma integração com o niverso do outro” (Abreu, 2001, p. 10) Compreendendo também a linguagem como ambiente do Não-Um, como ente heterogéneo em sua essência, o estudo da heterogeneidade enunciativa torna-se essencial.

A presença de outros discursos no/do sujeito é a prova mais clara, presente na linguagem, da relação entre os indivíduos, e esta presença nao se dá por acaso. Utilizamo-nos do enunciado alheio para firmar o nosso, para dá-lhe força, para que seja aceito, praticando assim, uma intenção argumentativa, onde o próprio enunciador por diversas vezes multiplica-se, entre o que diz e outro que articula obre esse Já dito, chamando essa ação de metaenunciação Nossa análise buscou unir estes dois campos do estudo do discurso. Tomamos como objeto principal as não coincidências do dizer, uma das formas de apresentação da heterogeneidade enunciativa, procuramos caracterizar seu uso argumentativo.

O objetivo é verificar a ocorrência deste uso, suas características, suas positividades/negatividades, tornando viável a aplicação de tais técnicas no aprendizado de produção e interpretação textual. Tomamos com base de nossos estudos e discussões o trabalho apresentado pela francesa Jaqueline Authier-Revuz, a esma apresenta quatro manifestações das “não-coincidencias do dizer” , tais manifestações são elencadas da seguinte forma: Não-coincidencia interlocutiva: Onde o enunciador questiona suas palavras em relação ao outro, não sendo necessariamento o interlocutor, mas seu próprio inconsciente, a si mesmo. Segunda, Não-coincidencia interdiscursiva: Onde os discur 20F 10 inconsciente, a si mesmo.

Segunda, Não-coincidencia interdiscursiva: Onde os discursos se enfrentam, o meu e os outros discursos, de outras épocas, outras línguas, outros textos. Terceira, Não-coincidencia das palavras e das coisas: Diz respeito uma falha no sistema linguístico em que a “coisa” nomeada não atende a nomeação. Diante diversos encontros nos debruçamos sobre essas fontes teóricas procurando através delas entender suas aparições, que muitas vezes assumem uma aparência distinta do que realmente é, a argumentação está presente em qualquer fala da sociedade atual possuindo diversas técnicas que ajudam a maquiar sua intencionalidade, mas sendo muitas vezes traída pelo inconsciente humano. MATERIAL E MÉTODOS A pesquisa ocorreu entre agosto de 2010 e julho de 2011.

Inicialmente foi reforçada a carga teórica dos pesquisadores, tilizando-se principalmente dos postulados de Authier-Revuz por meio dos livros Palavras Incertas e Heterogeneidade(s) Enunciativa(s), e de Charm Perelman e Lucie Tyteca contidos no livro Tratado da Argumentação: a nova retórica, além das consagradas teorias Bakhtinianas. Outra fonte teórica, e esta de grande ajuda a compreensão dos conteúdos, foi a dissertação de mestrado intitulada Escavando o discurso e encontrando o sujeito: uma arqueologia das heterogeneidades enunciativas, do docente Carlos Magno Viana Fonseca, orientador da pesquisa. Reforço teórico este, crucial para a concretização da investigação. Na constituição do corpus foram escolhidos textos do discurso acadêmico e do discurso jornalístico.

Mais especificamente, foram coletados artigos acadêmicos de revistas da temática Linguística, sendo elas algumas das mais concei 30F 10 coletados artigos acadêmicos de revistas da temática Linguística, sendo elas algumas das mais conceituadas do país, avaliadas pela Capes com qualis A, são elas DELTA (Documentação de Estudos em Linguística Teórica e Aplicada), Linguagem em (dis)curso, ReVEL (Revista Virtual de Estudos da Linguagem), todas de divulgação on-line. Já na parte jornalística os textos colhidos oram cartas ao leitor do tipo opinativa, de revistas de grande circulação nacional, sendo elas VEJA, Isto É e Carta Capital. Procedeu-se a digitalização dos textos (aqueles retirados de meios impressos) de forma a facilitar o manuseio dos dados. A partir daí, passou-se à investigação propriamente dita, buscando nos textos a ocorrência dos eventos metaenunciativos. Esta tornou-se a tarefa mais minuciosa, Já que toda a pesquisa baseia- se nela.

Com os objetos-chave da análise já localizados, passamos a retirá-los dos textos, dispondo-os classificatoriamente em tabelas, ara somente depois tabulá-los em planilha eletrônica. Foram divididos por gênero textual e tipo de ocorrência. RESULTADOS E DISCUSSAO texto de resultados. Exemplo 1: Nos últimos tempos, uma dessas instâncias, o Tribunal de Contas da União (TCU), órgão consultivo do Congresso, entrou na mira do Palácio do Planalto, sob a acusação de atraso nas obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), com o qual o governo federal pretende tirar a enorme defasagem do país no plano da infraestrutura – e quem sabe, dar um empurrão na candidatura presidencial da “mãe do PAC”, a petista Dilma Rousseff. (Veja) 10

Nesse exemplo, vemos pelo menos duas vozes, uma explicita, a voz do enunciador, e outra implícita, não necessariamente a voz de um co-enunciador, mas a voz de uma outra instância, a voz do Outro inconsciente marcada por meio da expressão “quem sabe”; é justamente nesse trecho em que se revela o poder argumentativo das não coincidências do dizer, pois ao inseri-la no discurso, o enunciador se afasta da responsabilidade de utilizar o argumento de ironia – “a mae do PAC” – marcado, inclusive, entre aspas, aspas de questionamento ofensivo, por meio das quais o enunciador questiona a legitimidade do título atribuído à petista; ? portanto, por meio da não coincidência interdiscursiva que a força argumentativa do enunciado se faz presente. Exemplo 2: Chegou-se mesmo a cogitar a substituição do TCIJ por outro órgão “mais rápido” nas fiscalizações. (Veja) Nos estudos de Authier-Revuz, chama-se a atenção para o uso das aspas como um dos primeiros instrumentos evidenciadores do Não-l_lm da linguagem, consideradas uma das marcas mais fundamentais da heterogeneidade. Desse modo, as aspas no enunciado acima, marca uma estratégia discursiva do enunciador para se afastar do dito, recusando-se a assumir a responsabilidade por elas.

A expressão “mais rápido” traz consigo uma critica velada ao TCU – acusa-o de lento – contudo, para não se comprometer o enunciador coloca a expressão entre aspas, mostrando-se um sujeito hesitante, temeroso, dividido entre o dizer e o nao-dizer, o dizer e o insinuar. É o sujeito-efeito de sentido que se revela por meio de marcas formais possiVel de ser observado e analisado. 0 marcas formais possível de ser observado e analisado. Exemplo 3: O presidente Lula faz galhofa com as movimentações do candidato da oposição: ‘Tem gente inaugurando até maquete”, disse em cerimônia na qual ele mesmo carregava sua escolhida Dilma para mais uma das sessões de exposição aos flashes e câmeras. Isto É) É notável no exemplo acima o uso irônico no termo marcado por aspas, a mesma marca a presença do outro no discurso, trazendo elementos enunciativos do exterior da sua própria enunciação através do discurso direto, onde o enunciador acaba ficando isento da responsabilidade do dizer, tecendo posteriormente uma critica ao próprio termo utilizado, é através da citação em aspas que o autor produz uma argumentação favorável ao discurso pessoal. Exemplo 4: Essa satânica estratégia política foi levada ao aroxismo nos anos 80 pelo governador Leonel Brizola e seu Vice, Darcy Ribeiro, autor da tese, repetida com gosto pelos populistas, de que “favela não é problema, é solução”. Veja) Nesse exemplo podemos perceber um argumento de contradição construído por meio do uso do discurso do outro para combatê-lo e ridicularizá-lo com seu próprio argumento, isto é, o enunciador, por meio de uma não coincidência interdiscursiva, se apropria do discurso-outro, utilizando-o como argumento de contradição, o ue fica evidente pela nomeação atribuída pelo enunciador ratégia política, ao 6 0 Bakhtin. Exemplo 5: Para Locke (2005: 9), “o conceito de intertextualidade se relaciona aos modos como textos recorrem a outros textos em virtude das histórias (ou discursos) neles embutidos” e, para Bloor & Bloor (2007: 7), intertextualidade é “o modo como um texto conta com textos prévios para sua formação e referências e os modos pelos quais pode incorporar outros textos”. DELTA) Podemos perceber nesse exemplo que o enunciador confronta dois discursos externos, em fomato de discurso direto, para sustentar através deles suas própria tese sobre o conceito de intertextualidade, é nótavel que essa estratégia argumentativa rás para o mesmo não só exposição dos fatos, mas alicerce e vigor ao que vem ser citado posteriomente. Aqui encontramos as NC interdiscursivas pela presença do Não-Um, onde o discurso e feito sobre a fala do outro. CONCLUSÃO Baseados em diversas teorias, porém dedicando uma atenção especial as obras da francesa Jaqueline Authier- Revuz, que pudemos através dessa pesquisa nos introduzir nos aportes que dizem respeito a hetero eneidade enunciativa, priorizando o estudo de uma de suas ndo essa as não artigos acadêmicos para compor nosso corpus.

Em termos de resultados, constatamos que as não coincidências o dizer são expressões aleatórias, códigos randômicos do dizer que se prestam a inúmeras funções que vão desde a mobilização do sujeito que se enuncia ora como um sujeito- efeito do dizer, ora como um sujeito-origem do dizer, passando pela reflexão metaenunciativa da “falha” do sistema linguístico, ou pela polissemia generalizada do sistema, até exercendo funções argumentativas como estabelecer ou manter o acordo inicial, reafirmar a tese proposta, convocar argumentos das mais variadas ordens como o argumento de autoridade, o argumento da contradição ou o argumento da ironia. Esta pesquisa deixa em aberto espaço para inúmeras outras, como por exemplo: em quais gêneros o uso de NCD é mais propício? Há alteração de funções de uma mesma NCD se inserida num ou noutro tipo de gênenro? É poss[vel que haja uma sobreposição de funções levando a uma redefinição da categorização original proposta por Authier-Revuz? Essas são algumas das questões levantadas a partir da presente pesquisa e, pretendemos, serão desenvolvidas em novas pesquisas realizadas por nós ou por outros pesquisadores que, como nós, se interessam pelo caráter eminentemente heterogêneo da inguagem.

AGRADECIMENTOS O argumentar como sempre audacioso nos leva a arrisca- se jogando ao vento algumas palavras que não expressam num todo nosso sentimento. Eé nesse espaço que nos atrevemos a citar alguns, dos que muito contribuiram para a formação desse trabalho. A principio agradecemos ao Soberano, Rei e fiel ,Senhor nosso Deus, por nos momentos de dúvidas e aflições ouvir nossas preces e acale 80F 10 ,Senhor nosso Deus, por nos momentos de dúvidas e aflições ouvir nossas preces e acalentar nosso ser, argumentar com perspicácia, e acalmar nossa mente confusa e por vezes cansadas. A nossa familia, pelo apoio nunca negado, pela divisão de afeto que se resume muitas vezes em um olhar, ou em um “bom dia” monótono. A estes não dá-se somente linhas, mas a vida!

O alicerce sólido que nos fez chegar até aqui e nos acompanhará pelo mais virtuosos caminhos que escolheremos, pessoas que contribuem direta e indiretamente com a nossa formação pessoal. Aos nossos amigos, em especial Ricardo Soares Abrantes, por sua participação ativa no decorrer de toda a pesquisa, não se negando a estudar, pesquisar e analisar conteudos que fogem de sua rótina habitual, sendo digno de mais palavras e espaços, orém as mesmas não descreveriam nossa gratidão. Agradecemos também a UERN como instituiçao padrão, na qual sentimos orgulho de fazer parte e ao CNPq pelo apoio finaceiro, como também a credibilidade e confiança a qual nos foi atribuída. Abro um espaço de forma a transparecer minha pessoalidade para agradecer ao prof. Ms.

Carlos Magno Viana Fonseca, pela oportunidade a mim oferecida, confiança em meu trabalho e desenvoltura como aluna. Pelo apoio como Mestre, e principalmente pelas muitas horas dedicadas a minhas angústias e incertezas, quando a ele procuro e conforto encontro. REFERÊNCIAS AUTHIER-REVUZ, J. Heterogeneidade(s) enunciativa(s). Cadernos de Estudos Linguísticos, no 19, pp. 25-42. Instituto de Estudos da Linguagem. Campinas-SP: Unicamp, 1990. . Palavras incertas: as não coincidências do dizer. Campinas/ SP: Unicamp, 1998. . Deux mots Palavras incertas: as não coincidências do dizer. Campinas/SP: Unicamp, 1998. . Deux mots pour une chose: trajets de non-coincidence, in: Répétition, Altération, Reformulation. p. 7-61, Annales Littéraires de IUniversité de Besançon n 701, Presses Universitaires Franc- Comtoises, 2000a. . Aux risques de l’allusion. In: Murat M. , L ‘Allusion dans a Littérature. coleção Colloques de la Sorbonne, Presses Universitaires de Paris-Sorbonne, 2000b. p. 209-235. . Entre a transparência e a opacidade: um estudo enunciativo do sentido. Porto Alegre/RS: EDIPUCRS, 2004. BAKHTIN, M. Estética da criaçao verbal. 3a ed. sao Paulo: Martins Fontes, 2000. Marxismo e filosofia da linguagem. 6a ed. São Paulo: Hucitec, 1992. DOR, J. Introdução à leitura de Lacan: o inconsciente estruturado como linguagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 2003. FONSECA, C. M. V.

Escavando o discurso e encontrando o sujeito: uma arqueologia das heterogeneidades enunciativas. Dissertação de Mestrado. universidade Federal do ceará/UFC, 2007. PERELMAN, C. ; TYTECA. 0-. Tratado da argumentação: a nova retórica. São Paulo: Martins Fontes, 1996. . Retóricas. São Paulo: Martins Fontes, 1997. REBOUL, O. Introdução à retórica. São Paulo: Martins Fontes, 1998. ABREU, A. S. A Arte de Argumentar: Gerenciando Razão e Emoção. 30 ed. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001 [1] Discente do Curso de Letras, habilitação em Língua Portuguesa, Campus CAMEAM, UERN. Email: ananda. lucia@hotmail. com [2] Docente do Departamento de Letras, Campus CAMEAM, UERN. Email: carlosmaen 0 DF 10

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