As imagens do gesto em coexistence: uma leitura das mãos

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As imagens do gesto em Coexistence: uma leitura das mãos Luciana Coutinho Pagliarini de Souza (UNISO)i Resumo: Intenciona-se analisar o impacto de uma campanha de conscientização pela paz mundial – Coexistence — que se realiza por meio de exposições de outdoors fotográficos. Trazendo temas polêmicos e expondo os conflitos humanos motivadores de reflexão e comoção, as exposições têm por objetivo transmitir a mensagem de tolerância entre os povos, atravessar barreiras linguísticas e alcançar o efeito de consciência global pelo diálogo, e assim o fazem de maneira a criar uma nova simbologia.

Recortando a repres buscaremos explicita Para isso, faremos us peirciana, a fim de fu o objeto de análise, 9 o odutor do impacto. Swipe view next page o ins tico, de origem Palavras-chave: comunicação visual, fotografia, símbolo, Coexistence. Abstract: We intend in this paper to analyze the impact of one campaign for the World peace realized through the exposition of outdoors.

Bringing polemic themes and showing human conflicts that motivates thoughts and commotion, the exposition have as a goal to transmits the message of tolerance between different people all over the word, to cross linguistic barrels and to reach he effect of global conscious and in this process they create a new symbolic system. Analyzing the representation of hands, using the semiotic’s instruments, we Will show signs that produce impacta -lal Studia 1.

Introdução Coexistence é mais que um conceito e mais que uma idéia popular para nossa nova cultura global. Envolve mudar nossas vidas e modificar o modo como pensamos. Não é necessariamente aprender a viver juntos, e sim lado a lado. Raphie Edgarii Este artigo tem como objetivo explicitar a natureza do signo produtor do impacto que a exposição Coexistence propicia com eus outdoors fotográficos. Coexistence foi inaugurada em 2001 em Jerusalém, Israel, no Museum on the Steam (museu na costura).

A construção metafórica que permeará nossas leituras já se faz presente a partir do nome do museu: a costura a que se refere é territorial, um diálogo que busca unir política, religião e etnia. Outro dado que dialoga com essa metáfora inicial é a localização do museu. Localizado exatamente em uma área crítica de Jerusalém, na divisa entre o território árabe e judeu, entre Israel e Jordânia – na frente da ponte Mandelbaum, única via entre as duas terras divididas -, le novamente ata as duas pontas ou tenta fazer a junção dos extremos.

Não é outro o espirito de Coexistence. A exposição nasceu com o intuito de promover a paz, principalmente entre os povos judeu e palestino. Desde então, já percorreu mais de 24 países, sempre com a mensagem de tolerância não só entre os dois povos, mas entre todas as diferentes raças étnicas, baseadas em valores universais. A exposição consta de painéis fotográficos – outdoors – expostos ao ar livre. No ano de 2006, Coexistence foi exposta em São Paulo, na Praça da Paz do Parque do Ibirapuera, ornando possível a contemplação de 26 painéis espalhados pelo parque.

Diversos artistas plásticos, pintor 20F Ig contemplação de 26 painéis espalhados pelo parque. Diversos artistas plásticos, pintores e fotógrafos de diferentes nacionalidades tiveram a oportunidade de expor sobre o tema. Tomei conhecimento dessa exposição durante a orientação de um aluno de Mestrado que elaborou sua dissertação tendo como objeto essa mesma exposiçãoiii. Esse trabalho contemplava um estudo das imagens sob um viés cultural. Nesse artigo, foi feito um novo recorte no corpus de Coexistence, bem como uma ova abordagem.

Optamos por três imagens que têm as mãos como referente. Mas não por acaso. As mãos tradicionalmente estiveram atadas à simbologia da união, o que não seria novidade alguma resgatá-las; contudo, nessa exposição, elas se afastam das configurações convencionais e se impõem como objeto de nova criação simbólica, impregnadas de sugestão ou de iconicidade. Justamente por se tratar de uma questão de linguagem, sentimos a necessidade de um instrumental capaz de auxiliar no desvelamento desse processo sígnlco.

Vem dai a semiótica de origem peirceana que, por trazer um conceito de igno que não se confina ao verbal, abre-se como possibilidade bastante viável na leitura de imagens. Comecemos por clarear alguns conceitos de que lançaremos mão nessa leitura. 2. Tecendo alguns conceitos “Precisamos ler os signos com a mesma naturalidade com que respiramos, com a mesma prontidão com que reagimos ao perigo e com a mesma profundidade com que meditamos” (Santaella, 2000 p. 11). A necessidade de se compreender a relação do homem com a infinidade de signos existentes em nossa sociedade atual tornou se patente.

A linguagem humana tem se multiplicado de várias forma 30F Ig em nossa sociedade atual tornou-se patente. A linguagem humana tem se multiplicado de várias formas. Novas estruturas e novos meios de disseminação desta linguagem têm sido criados. Por essas razões, a utilização da semiótica no campo comunicacional se justifica como método de pesquisa nas mais diversas áreas, seja nos estudos das linguagens musical e gestual, das linguagens fotográfica, cinematográfica e pictórica, bem como das linguagens poética, publicitária e jornalística.

Encontramos dentro da arquitetura filosófica de Charles Sanders Peirce a gramática especulativa, um dos ramos da semiótica ou lógica, imprescindível na análise emiótica de qualquer linguagem. Tal ramo aborda o modo como agem os signos, como se classificam, apresenta ainda misturas sígnicas, caminhando do verbal para o não•derbal, do quase-signo para o signo. Dela se obtém estratégias para leitura e análises de processos empíricos de signos. Assim, apresentamos, de modo breve, conceitos que nortearão este artigo e, a seguir, a leitura semiótica de alguns dos outdoors da exposição.

Comecemos pela definição de signo para Peirce: Um signo, ou representâmen, é um primeiro que se coloca numa relação triádica genuína tal como um segundo, denominado seu bjeto, que é capaz de determinar um terceiro, denominado interpretante, que assume a mesma relação triádica com seu objeto na qual ele próprio está em relação com o mesmo objeto (Peirce, 1977, p. 63). O signo, portanto, representa, ou seja, está no lugar de algo que não é ele mesmo. Por ser sempre parcial em relação ao objeto que representa, ele produz interpretantes.

O interpretante (a ação do signo, ou semiose) AGE 4 OF Ig ao objeto que representa, ele produz interpretantes. O interpretante (a ação do signo, ou semiose) seria uma outra representação, ou melhor, o interpretante de um signo é outro signo. E como são interpretados os signos? O interpretante é o terceiro elemento da tríade que constitui o signo. Ele “é o efeito provocado numa mente e nele se completa o processo ou a operação do signo. Nenhum signo fala por si mesmo, mas exclusivamente por outro signo.

Assim sendo, nao há nenhum modo de se entender o signo a não ser pelo seu interpretante”. (Santaella, 1995, p. 88). por esta natureza triádica – signo, objeto e interpretante -, o signo pode ser analisado em três aspectos: 10 em si mesmo, no seu poder de significar; 20 na sua referência ou quanto ao que ele indica e 3a quanto aos tipos de Interpretação ue pode produzir nos seus receptores. Decorre daí que os processos comunicacionais incluem três faces: a significação (ou representação), a referência e a interpretação das mensagens.

Há três propriedades formais que capacitam o signo a funcionar como tal: sua qualidade, sua existência e seu caráter de lei. Ao se considerar a qualidade, qualquer coisa pode ser signo; pela existência, tudo é signo e, pela lei, tudo deve ser signo. Assim qualquer coisa pode ser signo, sem deixar de ser a própria coisa. Quando olhamos para uma fotografia, lá se apresenta uma imagem. Essa imagem é o signo e o bjeto é aquilo que a foto capturou no ato da tomada a que a imagem corresponde.

Contudo, o signo tem dois objetos: um que está fora do signo, isto é, o objeto “real” que está no mundo: o objeto dinâmico; outro, o objeto imediato, que está no modo como o sig Ig “real” que está no mundo: o objeto dinâmico; outro, o objeto imediato, que está no modo como o signo representa o objeto dinâmico. Ele pode se assemelhar, sugerir, evocar, indicar ou simbolizar aquilo a que ele se refere. A peculiaridade do signo está no modo como esse objeto é apresentado ou representado.

A representação da imagem, em termos peirceanos, pode rocessar-se numa escala que, partindo das simples qualidades, passa pelas relações de resistência até alcançar o domínio da lei. Desta forma, evidencia-se a relação triádica entre o signo, o objeto e seu interpretante, revelando o fenômeno à luz das categorias que nos permitem ler o mundo como linguagem: primeiridade, secundidade e terceiridade. São essas categorias fundantes da semiótica de Peirce que nos conduzirão nessas nuanças de representação das formas visuais fixas. ? primeiridade corresponde a pura qualidade. Qualidade no caso de imagens refere-se à maneira como os elementos básicos e ssenciais de uma forma visual se apresentam – cor, formas, volume, textura, direção, dimensão… Aqui, o referente é apenas sugerido, não há intenção de tornálo visível. Ele apenas se mostra enquanto qualidade. À secundidade corresponde o existente, aquilo que mantém com o objeto uma conexão de fato. O referente é vislVel de tal modo que “parece” ser o real.

A fotografia é o exemplo mais perfeito de um signo paradigma da secundidade. À terceiridade cabe a lei, a convenção, o universo simbólico de que as formas visuais lançam mão para representarem aquilo que não está imediatamente visível, mas ue na sua captura há que se estabelecer relações. Pois bem, sobre essas três categorias assenta-s 6 OF Ig sobre essas três categorias assenta-se a classificação dos signos para Peirce. Ouçamos Santaella: Os signos em si mesmos podem ser: 1. 1 qualidades; 1. 2 fatos; e 1. 3 ter a natureza de leis ou hábitos.

Os signos podem estar conectados com seus objetos em virtude de: 2. 1 uma similaridade; 2. 2 de uma conexão de fato, não cognitiva; e 2. 3 em virtude de hábitos (de uso). Finalmente, para seus interpretantes, os signos podem representar seus objetos como: 3. 1 sendo qualidades, apresentando-se ao interpretante como era hipótese ou rema; 3. 2 sendo fatos, apresentando-se ao interpretante como dicentes; e 3. 3 sendo leis, apresentandose ao interpretante como argumentos. Dessas nove modalidades, Peirce extraiu as combinatórias possíveis. 1995, p. 121) Na relação dos signos com eles mesmos – processo de significação – encontramos como primeiro o quali-signo (uma qualidade que é um signo); como segundo, o sin-signo (um singular, realmente existente que é um signo) e, finalmente, um terceiro componente desta primeira tricotomia: o legi-signo (uma lei ou um tipo geral que é signo). Na relação do signo com o objeto — processo de objetivação —, seguindo a mesma lógica das categorias, temos, respectivamente: ícone, índice e símbolo.

O (cone é um signo que, em virtude de qualidades próprias, representa o objeto por traços de semelhança ou analogia. Em relação ao seu objeto imediato, o ícone é sempre signo de uma qualidade, de um poss[vel… Temos na secundidade o índice. O que o caracteriza como signo não é mais a semelhança, mas sua ligação direta com o objeto. O símbolo – signo que par como signo não é mais a semelhança, mas sua ligação direta com o objeto. O símbolo – signo que participa da terceiridade refere-se ao objeto em virtude de uma lei ou convenção. implica idéia geral e o objeto ao qual se refere deve igualmente implicar idéia geral” (Pignatari, id. , p. 53). Finalmente, a terceira tricotomia está ligada à relação dos signos com os efeitos que provocam na mente de um intérprete: os interpretantes – ou processo de interpretação. Se estamos diante de um quali-signo, na relação signo/objeto teremos um ícone e o efeito provocado numa mente só pode ser uma conjectura ou uma hipótese posslVel, o rema.

Se estamos diante de um existente singular, um sin-signo, na elação signo/objeto teremos um índice e o interpretante será um dicente, isto é, produz numa mente uma quase-proposlção ou uma constatação. Caso se trate de um legisigno, obteremos um símbolo na relação entre signo e objeto e o interpretante será um argumento. A linguagem da fotografia apresenta-se como uma trama signica. Ancorada na secundidade, enquanto forma visual que insiste, resiste, ela pode cambiar entre primeiridade e terceiridade. ? essa mobilidade dos signos que buscaremos abordar nesse artigo, no processo que revela sua natureza: o legi-signo permeado por quali-signos, ou o simbólico prenhe de ícones. Assim, tomando as definições e as classificações de signos como princípio norteador para um método de análise de processos de signos e às mensagens a eles vinculadas, será possível olharmos, mais profundamente, para o movimento das mensagens. 3. O jogo das mãos em Coexistence O artista não pode copiar um gramado banhado de sol, mas pode sug 80F Ig O artista não pode copiar um gramado banhado de sol, mas pode sugeri-lo.

Exatamente como fará, num caso ou em outro, é segredo seu, mas as poderosas palavras que tornam a mágica possível são do conhecimento de todos os artistas – ‘relações’. (Gombrich 1986: 31) Antes de penetrarmos no espaço s[gnico que se nos apresenta, tomemos de empréstimo a classificação das formas visuais erigidas por Santaella (2001) para encaixarmos a forma visual a que nos propomos analisar. A autora, seguindo a lógica das categorias de Peirce, divide em três as formas visuais: 1. Formas não representativas; Formas figurativas; 3. Formas representativas.

Faremos aqui um recorte, buscando objetivar nossa investigaçao. Sendo a fotografia nosso objeto de estudo, pinçaremos a classificação em que ela se encaixa. As formas visuais, segundo Santaella, pertencem à segunda categoria peirceana – a ecundidade. Trata-se de existentes que captam seu referente e o revelam. Esta revelação se dá em diferentes graus ou nuanças: dependendo da maneira como o referente se mostra. Vejamos como Santaella (idem) dispõe essa classificação e seus graus: 2. 2 Formas figurativas 2. 2. 1 A figura como qualidade: o sui generis 2. 2. A figura como registro: a conexão dinâmica A figura como convenção: a codificação São formas figurativas as que se revestem de referencialidade, aproximando, por semelhança, o signo e seu objeto, por essa razão é visível sua “vocação mimética”. São as mais indexicais as formas visuais: registram objetos existentes. Para nosso propósito, a figura como registro: a conexão dinâmica, o segundo nivel das formas fig nosso propósito, a figura como registro: a conexão dinâmica, o segundo nível das formas figurativas, é o espaço da fotografia, daí a elegermos como farol para o nosso percurso.

No nível da figura como registro, estão todas as figuras que buscam ser fieis ao objeto que representam. As subdivisões dessa submodalldade são: (22. 2. 1) registro imitativo: a figura apresenta alto grau de semelhança com o objeto a que se refere, por isso é altamente icônica. No entanto, seu funcionamento sígnico está calcado no indice, dado o fato de a semelhança estar submetida a relações existenciais. As figuras realistas, por representarem com fidelidade seu referente, enquadram-se nesta subdivisão.

A segunda subdivisão, (2. 2. 2. 2) registro ffsico, tem como modelo a fotografia, limite da indexicalidade da Imagem, dada a conexão dinâmica e direta com o referente. A terceira subdivisão, (2. 2. 2. 3) registro por convenção, abriga as formas também geradas por conexão dinâmica que obedecem a uma certa convenção, ou seja, “normas de representação figurativas que determinam odos especializados de registro” (2001 : 237). É o caso de mapas, diagramas, organogramas.

Feito esse panorama, deixemos que nosso olhar mergulhe nas imagens que se nos oferecem, em busca de Interpretantes… FIGURA 1 (COEXISTENCE – BY MILTON GLASER – USA) A primeira mão que se oferece ao nosso olhar vem estendida, oferecimento duplo: além de se oferecer ao nosso olhar, oferece-se para outro que potencialmente possa aceitá-la e apertá-la. É parte de um ou de vários todos? Em sendo parte, sejam quantas forem, é a metonímia que se apresenta para a posterior produção de sentidos. Vejamos as 0 DF 19

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