Bem estar espiritual na saude mental de estudantes universitaros

Categories: Trabalhos

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RESUMO OBJETIVO: Examinar a influência do bem-estar espiritual na saúde mental de estudantes universitários. MÉTODOS: Estudo transversal com 464 universitários das áreas de medicina e de direito, de Pelotas, RS. A coleta de dados foi realizada em grupos na sala de aula. Os alunos ausentes foram localizados para responderem individualmente; entretanto, 43 não foram encontrados (9,3% de perda). Utilizou-se um questionário auto-aplicável contendo: escala de bem-estar espiritual (SWBS), SRQ-20 (Self-Reporting Questionnaire) e informações sociode espirituais e sobre a 6 Swip to view next page de estresse.

Para aná e esta qui-quadrado e regre RESULTADOS: A maio s religiosas/ o e vida produtores ilizados os testes de ma possuir uma crença espiritual ou religião. O escore médio de bem-estar espiritual foi de 90,4, sendo de 45,6 e 45,1 para as sub-escalas existencial e religiosa, respectivamente. A SWBS apresentou associação com a freqüência a serviços religiosos e práticas espirituais, e não demonstrou ser influenciada por variáveis sociodemográficas e culturais. Indivíduos com bem-estar espiritual baixo e moderado apresentaram o dobro de chances de ossuir transtornos psiquiátricos menores (TPM) COR-0,42; 105% 0,22-0,85).

Sujeitos com bem-estar existencial baixo e moderado apresentaram quase cinco vezes mais TPM (OR=O,19; IC95% CONCLUSÕES: O presente estudo mostrou que o bem-estar espiritual atua como fator protetor para transtornos psiquiátricos menores, sendo a sub-esc sub-escala de bem-estar existencial a maior responsável pelos resultados obtidos. Descritores: Saúde mental. Religião e medicina. Espiritualidade. Estudantes. Estudos transversais. Fatores socioeconômicos. ABSTRACT OBJECTIVE: To assess the influence of spiritual well-being In ental health of college students.

METHODS: It was interviewed 464 medical and law students of Pelotas, Brazil. Data collection was carried out in groups in the school classroom, 43 absent students were not interviewed and represented a loss of 9. 3% of the sample. It was used a self- reported questionnaire with three instruments: 1) Spiritual Well- geing scale (SWBS), 2) SRQ-20, and 3) a precoded questionnaire with questions on sociodemographlc data, religious/spintual practices, and stressful life events. Statistical analysis was performed using Chi-square test and logistic regression.

RESULTS: Most of the students (80%) declared that they had a spiritual belief and/or religous denomination. The mean score of spiritual well-being was 90. 4 with scores 45. 6 and 45. 1 in the existential and religious subscales, respectively. SWBS showed an association with religious practices, but it was not influenced by sociodemographic and cultural variables. Subjects presenting low and moderate spiritual well-being showed a doubled risk of presenting minor psychiatric disorders (MPD) (OR=0. 42; 95%Cl: 0. 22-0. 85). Subjects presenting Iow or moderate existential well- beng showed almost five times more MPD (OR=0. ; 95%Cl: o. 08-0. 45). CONCLUSIONS: The study reveals spiritual well-being as a protection factor for minor psychiatric disorders, and that the results were mostly due to 20F results were mostly due to the Existential Well-Being subscale. Keywords: Mental health. Religion and medicine. Spirituality. Students. Cross-sectional studles. Socioeconomic factors. NTRODUÇÃO Segundo a Organização Mundial de Saúde, 450 milhões de pessoas sofrem de transtornos mentais, resultantes de uma complexa interação de fatores genéticos e ambientais.

O impacto desses distúrbios evidencia-se por representarem quatro das ez principais causas de Incapacitação. Estudos epidemiológicos, realizados em centros de atenção primária de 14 países, mostraram que cerca de 24% da clientela apresenta transtornos psiquiátricos, sendo os diagnósticos mais frequentes depressão, ansiedade e uso inadequado de substâncias. 14 Na população urbana de Pelotas, foi encontrada uma prevalência de transtornos psiquiátricos menores (TPM) de 22,7% em maiores de 15 anos. Embora a promoção da saúde mental da população seja meta importante, ainda há muito a aprender sobre como atingir esse objetivo, principalmente por meio de recursos psicossociais e omunitários, 14 como a dimensão espiritual da vida humana. Vários estudos têm demonstrado a influência da espiritualidade na saúde física, mental e Em 1988, a Organização Mundial de Saúde (OMS) despertou para o interesse em aprofundar as investigações nessa área, com a inclusão de um aspecto espiritual no conceito multidimensional de saúde.

Tem-se por espiritualidade o conjunto de todas as emoções e convicções de natureza não material, com a su osição de que há mais no viver do que pode ser per amente compreendid 3 6 suposição de que há mais no viver do que pode ser percebido u plenamente compreendido, remetendo a questões como o significado e sentido da vida, não se limitando a qualquer tipo específico de crença ou prática religiosa. 4 Há na literatura crescentes evidências de que a espiritualidade implica fator de proteção, tanto em questões de ordem médica, quanto em problemas da área psicológica, bem como em situações relativas ao campo da educação. 13 A questão da espiritualidade é muito ampla e sua mensuração bastante complexa, sendo o bem-estar espiritual, ou seja, a percepção subjetiva de bem-estar do sujeito em relação ? ua crença, um de seus aspectos passíveis de avaliação.

O desenvolvimento de instrumentos de mensuração do bem-estar espiritual foi baseado no conceito de espiritualidade que envolve um componente vertical, religioso (um sentido de bem-estar em relação a Deus), e um componente horizontal, existencial (um sentido de propósito e satisfação de vida), sendo que este último não implica em qualquer referência a conteúdo especificamente religioso. O bem-estar espiritual já foi estudado em relação a diversos desfechos em saúde, principalmente em pacientes idosos elou portadores de patologias f[sicas. Contudo, pouco foi investigado sobre sua interação com a saúde mental.

Em pacientes idosos com câncer, o bem-estar espiritual representou um fator de proteção, estando relacionado a atitudes positivas de combate à enfermidade,3 diminuição da ansiedade6 e das demandas impostas pela doença. 5 Em estudantes universitários, esteve associado à diminuição do risco de depressáoa e suicídio. l Nessas investigações, entretanto, há diversas lim tações, se] do risco de depressã04 e suicídio. l Nessas Investigações, entretanto, há diversas limitações, seja devido ao delineamento ransversal, tanto em função de falhas na seleção das amostras, como da pouca capacidade de generalização.

Em um estudo de base populacional, com 506 pessoas, com idade entre 16 e 78 anos, residentes em Porto Alegre, o caráter protetor do bem-estar espiritual foi demonstrado por sua associação com a diminuição de distúrbios mentais. 11 Assim, os achados sugerem que o fortalecimento do bem-estar espiritual pode auxiliar significativamente na redução da angústia relacionada a doenças, bem como na promoção da saúde mental. O presente trabalho foi desenvolvido com o objetivo de testar a ipótese de que o bem-estar espiritual pode ser considerado um fator de proteção para transtornos psiquiátricos menores.

MÉTODOS Foi utilizado um questionário auto-aplicável . com um total de 68 questões) contendo a escala de bem-estar espiritual (SWBS), de Paloutzian & Ellison,12 que mede o bem-estar espiritual e a crença religiosa; o SRQ-20, recomendado pela OMS como método de screening para distúrbios psiquiátricos menores, além de informações sociodemográficas e sobre práticas espirituais/ religiosas. Foram incluídas também sete questões visando a pesquisar a ocorrência de eventos de vida produtores de stresse.

A escala de bem-estar espiritual foi desenvolvida para avaliar o bem-estar espiritual geral. Seus autores procuram não fundamentá-la em assuntos teológicos específicos ou padrões de bem-estar, os quais variam de acordo com o sistema de crença ou denominação religiosa; pretendem, assim, possibilitar uma utilização mais ampla dest OF crença ou denominação religiosa; pretendem, assim, possibilitar uma utilização mais ampla desta medida. 2 É constituída de 20 itens, respondidos em uma escala de seis pontos, que varia de “concordo fortemente” a “discordo fortemente”.

Dez itens ão designados para avaliação do bem-estar religioso (RWB) e os demais para mensuração do bem-estar existencial (EWB). Os escores das duas sub-escalas são somados para obtenção da medida geral de bem-estar espiritual (SWB). Testes de confiabilidade, obtidos em uma amostra de 100 estudantes voluntários da Universidade de Idaho, tiveram como resultados os coeficientes de 0,93 (SWB), 0,96 (RWB) e 0,86 (EWB). 12 Como índices de consistência interna, os coeficientes alpha encontrados foram 0,89 para o índice geral, 0,87 para a sub-escala de bem- estar religioso e 0,78 para a sub-escala de bem-estar existencial. A magnitude destes coeficientes sugerem que SWBS tem alta confiabilidade e consistência interna. Os escores de SWBS estão correlacionados, como esperado, a outras medidas de avaliação da espiritualidade/religiosidade, bem como a outros índices de bem-estar. Paloutizian & Ellison12 sugerem, como pontos de corte para o escore geral de bem-estar espiritual, os intervalos de 20 a 40, 41 a 99 e 100 a 120, para baixo, moderado e alto bem-estar espiritual, respectivamente. Nas duas sub- escalas, os intervalos são de 10 a 20, 21 a 49 e 50 a 60 pontos.

No presente estudo, para fim de análise, os resultados de SWBS oram denominados positivo para o escore alto e negativo para os escores moderado e baixo. A SWBS foi adaptada para população brasileira a partir da tradução do Instrumento original por dois tradutores profissi 6 OF para população brasileira a partir da tradução do Instrumento original por dois tradutores profissionais, que realizaram sua atividade independentemente. As versões em português foram novamente traduzidas para seu idioma original, por outros dois tradutores. Os textos gerados foram semanticamente comparados com o instrumento original.

A escala adaptada foi espondida individualmente por 20 pessoas, com o objetivo de verificar a adequação e compreensão do instrumento. O Self-Reporting Questionnaire (SRQ-20) é um instrumento de screening de transtornos mentais em serviços de atendimento primário, recomendado pela OMS, validado para a população brasileira por Mari & Williams. IO No presente trabalho, considerou-se que os sujeitos que obtivessem escores de até 7 pontos seriam considerados SRQ negativo, enquanto os que obtivessem pontuações acima desta teriam a denominação de SRQ positivo.

Durante os meses de maio e junho de 2001, foram investigados 64 universitários, matriculados no terceiro, quarto e quinto anos, dos cursos de direito e de medicina de uma universidade de Pelotas, no Sul do Brasil. A coleta de dados foi realizada em grupo, na sala de aula, por psicólogos ou acadêmicos de psicologia. Os alunos ausentes foram procurados para responder individualmente ao questionário; destes, 43 não foram encontrados (9,3% da amostra). Dois operadores diferentes realizaram a entrada de dados num banco, utilizando o Epi Info 5. . Os erros, apontados pela rotina de checagem do Epi Info, foram verificados nos instrumentos de coleta de dados e corrigidos. Tabelas de frequência foram utilizadas para identificar observações estranhas ou incomuns, também r Tabelas de frequência foram utilizadas para identificar obseruações estranhas ou incomuns, também revisadas nos instrumentos. Estatistica descritiva foi utilizada para descrever a amostra e as frequências observadas. Teste do qui-quadrado foi usado para determinar a diferença entre os grupos de alunos.

Para avaliar a associação entre transtornos psiquiátricos menores e seus possíveis determinantes, utilizou-se a regressão logística. Foram acrescentadas no modelo todas as variáveis que tiveram alguma vidência de associação com o desfecho (gênero, curso, grupo religioso, tempo de participação em grupo religioso e número de atividades espirituais). RESULTADOS A amostra apresentou um predomínio do gênero masculino no curso de medicina (58,8%) e feminino no curso de direito (55%) (Tabela 1).

A distribuição etária não diferiu significativamente entre os dois grupos, sendo a média geral de 23,4 anos Entretanto, a idade dos alunos de medicina variou de 20 a 33 anos, enquanto que a dos alunos de direito variou de 19 a 59 anos. O estado civil dos alunos dos dois cursos apresentou iferenças significativas sendo solteiros 166 (97,6%) em medicina e 214 (85,3%) em direito. Não houve diferença significativa quanto à etnia dos estudantes dos dois cursos, sendo 407 (96,7%) brancos. Em relação à classe social, os alunos do curso de medicina concentraram-se de forma mais acentuada nas classes mais elevadas.

Quase todos os alunos de medicina (97,6%) não exercem atividade profissional, enquanto cerca de um terço dos estudantes de direito trabalha. 80F direito trabalha. Quando questionados sobre possuírem uma crença religiosa ou espiritual, 80% dos alunos responderam afirmativamente, e 86,5% ealizam uma ou mais atividades espirituais (oração, meditação, leitura de textos espirituais e outras). Quanto à afiliação religiosa, ambos os cursos apresentam maior número de participantes em religiões proféticas monoteístas (cristianismo, judaísmo e islamismo).

Entretanto, na amostra do curso de direito há maior ocorrência de participantes do grupo espirita. Por outro lado, os alunos de medicina apresentam um maior tempo de participação na religião do que os alunos de direito (Tabela 1). Quanto ao desempenho na SWBS, os dos grupos de alunos não apresentaram diferenças significativas, sendo a média geral ara SWB de 90,37, e para as sub-escalas de EVVB e RWB de 45,61 e 45,10, respectivamente. O escore na escala também não apresentou influência das variáveis de gênero, idade, estado civil, etnia, classe social, tempo de participação na religião e grupo religiosos.

Entretanto, apresentou associação com a presença de crença espiritual/religiosa, com freqüência a serviço religioso e com número de atividades espirituais realizadas. A prevalência de transtornos psiquiátricos menores foi de 18,5%, não diferindo significativamente entre os dois cursos, mas apresentou diferença significativa entre gêneros (p=O,007) com 3,4% para mulheres e 13,1% para homens. Na relação entre a variáve principal e o desfecho de SWB (escore alto), 10,6% apresentaram SRQ positivo; daqueles que apresentaram menor índice de SWB (escores moderado e baixo), 22,14% apresentaram SRQ positivo.

Quando considerada apenas a sub-escala de EWB (Tabela 3), observou-se que, dos sujeitos que apresentaram um melhor índice (escore alto), 5,71% apresentaram SRQ positivo; já entre aqueles que apresentaram menor índice de EWB (escores moderado e baixo), 24,9% apresentaram SRQ positivo. As razões de odds entre os níveis de bem-estar espiritual e o score de SRQ foi de 0,42 (IC95% 0,2-0,85), mesmo após ajuste para género, curso, grupo religioso, tempo de participação na religião e número de atividades espirituais realizadas.

As razões de odds entre a sub-escala de bem-estar existencial e o escore de SRQ foi de 0,19 (IC95% 0,08-0,45) após controle para os seguintes fatores de confusão: gênero, curso, grupo religioso, tempo de participação na religião e número de atividades espirituais realizadas. A sub-escala de bem-estar religioso não apresentou correlação estatisticamente significante com o desfecho. 0 DF 16

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