Etnografia upp no borel

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO UNIDADE DE PODER PARALELO E UNIDADE DE POLÍCIA PACIFICADORA NO BOREL Ciclos de Dependência de Uma Comunidade RIO DE JANEIRO 201 1 IFCH — Departamento de História Etnografia Introdução à Antrop Professora Paula Lac Ana Carolina Monay Bruna Stutz Klem or28 to view nut*ge Guilherme Ferreira Mariano Praça Juliana Timbó Martins Priscila Pereira de Andrade Yan Orge Fernandes Barbosa INTRODUÇAO O presente trabalho abordará as relações existentes entre uma comunidade outrora dominada pela facção criminosa Comando anos de idade, com exceção de uma entrevistada de 19 anos, ?nica a apresentar escolaridade completa. Visando melhor entendimento, abrimos o trabalho com uma breve introdução à história da facção Comando Vermelho e o antigo relacionamento dos moradores com os traficantes que ali viviam e mandavam.

A escolha do tema foi unanime pelo grupo, o fato de uma das integrantes morar na comunidade do gorel também contribuiu para que a escolha do tema pudesse ser aceito por todos, uma vez que facilitaria bastante o nosso trabalho de campo e ainda poder(amos ter seu ponto de vista da comunidade exposta no presente trabalho. A ORIGEM DO COMANDO VERMELHO O Comando Vermelho tem suas raízes nos anos 1970, no Instituto Penal Cândido Mendes, conhecido como o “caldeirão do diabo”, na Ilha Grande, no Rio de Janeiro, onde presos políticos da Ditadura Militar foram encarcerados com presos comuns em uma das galerias desta prisão. Antes de ficar conhecida como Comando Vermelho, a facção era apenas uma espécie de irmandade dentro da penitenciária em Ilha Grande. De inicio denominada Falange Vermelha, criada sob o lema de “paz, justiça e liberdade”, que até hoje pode ser visto em pichações nos muros das comunidades ainda dominadas pelo

Comando Vermelho, o embrião da facção tinha como intuito a proteção e a união dos seus membros dentro da prisão diante do brutal sistema carcerário e dos violentos conflitos que lá ocorriam. Contudo, a extrema organização e planejamento necessários aos presos políticos para assaltos a PAGF 98 Contudo, a extrema organização e planejamento necessários aos presos politicos para assaltos a bancos durante a ditadura militar foi um dos legados deixado pela facção aos presos comuns da galeria do “fundão” da pnsão em Ilha Grande. Assim, os presos que antes apenas praticavam alguns roubos sem ualquer esquema, passaram a se organizar e cometer roubos a bancos após as fugas do Instituto Penal.

Assaltos frequentes, e geralmente bem sucedidos, em que parte do dinheiro roubado ia para a “caixinha”, fundo usado para bancar as fugas dos outros presos do Instituto em Ilha Grande, fizeram a facção ficar conhecida pela imprensa como o Comando Vermelho. Não demorou muito para que os assaltos a bancos se tornassem tráficos de drogas e armas, e tivessem os morros cariocas como “quartéis generais”. Entretanto, autores como Antônio Luiz Paixão (1 987), defendem teses em que contrariam a explicação anteriormente dada, que, eralmente, é a mais aceita em relação à origem do Comando vermelho. Maria Jamile José (2010, p. 19 apud PAIXÃO, 1987, p. 77) cita o referido autor na seguinte passagem: [… o autor [Paixão] sugere que os primeiros grupos organizados surgiram como resultado do sucesso de novas modalidades de crimes (como assaltos a bancos, tráficos de drogas, sequestros), as quais necessitavam da organização dos criminosos envolvidos para que tivessem bons resultados. por sua vez, essas ações organizadas, além de resultarem em maiores ganhos econômicos para os criminosos, levavam também a um maior pres lém de resultarem em maiores ganhos econômicos para os criminosos, levavam também a um maior prestigio no mundo do crime. E quando eram presos, esses criminosos levavam o “prestigio” conquistado para dentro das cadeias e passavam a gozar de poder sobre os demais detentos. Segundo o autor [Paixão], dessa maneira passaram a surgir as alianças e grupos criminosos dentro dos presídios, que levaram ao surgimento dos grupos organizados de hoje. Atualmente, com alguns de seus principais integrantes presos e espalhados por penitenciárias de segurança máxima em todo o aís, como Luiz Fernando da Costa, o “Fernandinho Beira-Mar”, Márcio dos Santos Nepomuceno, o “Marcinho VP”, Elias pereira da Silva, o Elias “Maluco” e Isaías Costa Rodrigues, o Isaías do Borel, a facção já não é tão poderosa quanto nos anos 1990, quando foi uma das organizações criminosas mais poderosas do Rio de Janeiro, chegando a ter sob poder comunidades como: Rocinha, Complexo do Alemão, Penha, Mangueira, Salgueiro, Formiga e Borel, foco do presente trabalho. AS RELAÇÕES ENTRE MORADORES, TRAFICANTES E POLICIAS.

A comunidade do Borel teve durante os anos 80, 90 e 2000, ma das presenças mais fortes do crime organizado no Rio de Janeiro. Tal aspecto originou um domínio territorial com influência direta sobre a vida dos moradores da região que, como poderá ser verificado nas entrevistas, diversas vezes abdicavam dos recursos do Estado para buscarem ajuda com os traficantes, principalmente durante as lideranças dos anos 80. Da 8 buscarem ajuda com os traficantes, principalmente durante as lideranças dos anos 80. Da mesma maneira, o Comando Vermelho tornou-se o poder judlclário local, substltuindo a polícia e os tribunals em troca e proteção dos moradores contra os dois poderes citados anteriormente, que o tráfico substituiu.

Carlos Amorim (1994, p. 8) em “Comando Vermelho, a História Secreta do Crime Organizado” mostra esta troca de favores no seguinte trecho: “A força de choque dos traficantes entra em ação para ganhar tempo e recolher a mercadoria nos pontos de venda da favela. Ao mesmo tempo, os mais visados pela polícia desaparecem, tragados pelo labirinto de ruelas e barracos. Em muitos pontos das favelas existem camlnhos subterrâneos, verdadeiras passagens secretas, que servem como rotas de fuga durante as nvasões policiais. Ou, em muitos casos, o traficante perseguido simplesmente entra num barraco e se esconde debaixo da cama, num armário, mergulha na caixa-d’água.

E os moradores o protegem com o silêncio. Se o abrigo for descoberto, a família que mora ali diz para a polícia que tinha medo de denunciar o bandido e morrer nas mãos da quadrilha. É verdade. Mas espontaneamente o morador não ajudaria a polícia. ” Deste modo, podemos ver que a principal causa do silêncio dos moradores advinha da falta de confiança na Polícia – que atualmente controla a comunidade através da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) – e o medo da represália (fatos que estreitavam de maneira rude as relações dos moradores com os trafican PAGF s 8 medo da represália (fatos que estreitavam de maneira rude as relações dos moradores com os traficantes).

Tais afirmações podem ser conferidas nos gráficos da Pesquisa Nacional por Amostra de Domcílios – e do acesso à justiça no Brasil (Gráfico 1), fornecidos pelo IBGE em 2009, que retratam as razões (Gráfico 2) pelas quais as vltimas de violência urbana não entram em contato com a polícia: Percentual de denúncias de violência urbana Percentual de pessoas de IO anos ou mais de idade que foram vítimas de roubo e procuraram a polícia 46,1% e não procuraram a polícia por falta de provas | 12,4% | e não procuraram a polícia porque não achavam que era importante | e nao procuraram a polícia porque não acreditavam na polícia I e não procuraram a pol[cia porque não queriam envolver a polícia ou por medo de represália | | Gráfico 1: Percentual de denúncias de violência urbana Fonte: IBGE, 2009.

Razões oferecidas I Vítimas de roubo ou furto (em percentual) I Vítimas de agressão física (em percentual) Falta de provas 15,8 | Não era importante | 23,2 | 17,5 | Não acreditavam na polícia | 32,5 1 Não queriam envolver a pol[cia 10,0 17,4 Medo de represália | 5,1 | 15,0 Recorreram a terceiros Resolveram sozinhos 5,5 | 17,6 | Outros motivos 5,4 7,0 | sem declaraçao | Gráfico 2: Razões para não denunciar. Fonte: IBGE, 2009 para não denunciar. A desconfiança na policia, não só dos moradores de favelas como de cidadãos em geral, tornou-se um enclave para o desenvolvimento das politicas de pacificação, que até hoje são questionadas, criticadas, e seus policiais ainda sofrem com a esconfiança dos moradores locais.

Cabe destacar a falta de atividade do Estado na favela, em épocas de domínio do Comando Vermelho, e a ausência do poder público, em geral, conforme Heloísa Magalhães (201 1): “Após análise de centenas de depoimentos em pesquisa realizada com apoio do CNPq, o livro publicado em 2008 aborda, entre outros temas, a dificuldade que o morador da favela ocupada pelo tráfico tem diante da falta dos direitos humanos mais básicos, como a vida, até a falta de diálogo com o setor público. Ele também precisa conviver com a total precariedade de serviços públicos. ” Tal precariedade dos serviços também é apontada pelos moradores entrevistados, que conviveram com os tempos do domínio, apesar de destacarem que, em alguns casos, a ausência do poder público representava uma zona de conforto, principalmente, tratando-se de cobranças de serviços, pois o poder paralelo encobria os métodos de burlar contas de água, luz, internet, TV a cabo etc. Houve também vários relatos sobre o medo do envolvimento mais profundo de seus familiares com o tráfico do gore’, que seduzia crianças e jovens da região.

Para um dos entrevistados, a fé era vista como a única maneira e não ter filhos envolvidos com o crime, enqu PAGF 7 98 entrevistados, a fé era vista como a única maneira de não ter filhos envolvidos com o crime, enquanto outros citam a educação, ou até mesmo a repressão doméstica, como uma das alternativas encontradas pelas famllias para evitar terem seus filhos aliciados pelo tráfico. Segundo Carlos Amorim (1994), muitas vezes é difícil impedir tal ligação, e então, um processo natural é desenvolvido. Para o autor, tais jovens e, até em alguns casos, seus pais, acabam seduzidos pelas ofertas de dinheiro rápido, poder na omunidade e pela organização fraternal entre os membros do tráfico.

O medo das famílias tradicionais de terem seus lares invadidos e seus membros envolvidos acabou tornando o sistema de UPPS – instalado no Borel no dia 7 de junho de 2010, tendo sido a primeira comunidade a receber tal política de pacificação na Tijuca – um método aceitável para os moradores, de acordo com os relatos das entrevistas. A falta de confiança dos cidadãos no policiamento foi contornada pelo Estado com novos treinamentos, já que só os policiais que estiverem dentro da nova outrina participariam das UPPs, como é afirmado pelo secretário de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame (2010): “Possivelmente, todos esses policiais que se formaram hoje (terça-feira) irão para o que estamos chamando de UPP do Maciço da Tijuca. Também é provável que todos os formados deste ano, em torno de três mil, sejam lotados no projeto das Unidades de Polícia Pacificadora. Mas, apesar de toda a boa intenção PAGF 8 8 lotados no projeto das Unidades de Polícia Pacificadora. ” Mas, apesar de toda a boa intenção do projeto das UPPs, o Estado inda não consegue se firmar integralmente na comunidade. Além dos moradores desejarem mais projetos sociais – lembrando que quadra de futebol não é projeto social -, anselam também por mais realizações voltadas para a educação e a qualificação dos jovens da comunidade. Afora a falta de preparo por parte da Polícia Militar, que recebeu muitas queixas, como pode ser conferido no questionário, há relatos de abuso de poder e de tentativas de seduzir moradoras de forma desrespeitosa, durante o horário de serviço.

Contudo, pelo que observamos, é uma questão de tempo para a dequação dos moradores à nova realidade, e bom censo e profissionalismo por parte do governo para estas questões serem gradualmente solucionadas. TRABALHO DE CAMPO Devido a um conhecimento prévio do local, o que facilitou a mobilidade do grupo dentro da favela, e a própria presença da polícia pacificadora que nos deu sensação de segurança por estarmos transitando em local público, não houve dificuldades para a entrada na comunidade do Borel. Procuramos locais estratégicos com o intuito de facilitar a recepção das pessoas, como a associação de moradores, e fizemos contato com esidentes do morro que alguns membros do grupo já conheciam.

A primeira entrevista foi com uma diarista que ressaltou como vantagem de viver no morro dominado pelo tráfico as facilidades com os gastos da casa, já que não era p viver no morro dominado pelo tráfico as facilidades com os gastos da casa, Já que não era pago nem luz, nem água e havia “gatos” de a cabo e internet: “a gente não pagava luz, nem água, a Net era baratinha, o gás era baratinho, e volta e meia aparecia uns ‘caminhão’ aí na rua e ás ‘vez’ dava coisa de graça ou cobrava baratinho, carne, fogão, geladeira, ‘tevê’, de tudo eu já vi qui! ” A segunda entrevista que tentamos fazer com uma funcionária da Associação de Moradores não pôde ser realizada, pois a entrevistada estava ocupada naquele momento. Tentamos, então, entrevistar uma senhora que nos recebeu bem, dotada de simpatia, se prestou a responder nossas questões.

Porém, na entrevista em si ela foi totalmente evasiva, dando respostas longe de entrar em detalhes, sempre dizendo “não conhecer ninguém, não ter visto nada, nunca ter ouvido falar de nada”, como quando lhe foi perguntado se já tinha ouvido falar de algum ato de ondade ou maldade por parte dos traficantes: “Nunca ouvi falar de nada, não… Eu não me envolvia, era eles lá e nós cá. História a gente até ouve falar, mas às vezes nem é de gente que a gente conhece… ” Resposta dada ainda com resquícios do período que o morro era dominado por traficantes e imperava a lei do silêncio, com risco de retaliações caso algo comprometedor fosse falado. Já a terceira entrevistada foi bastante receptiva, disposta a responder nossas questões desde que elas não fossem para o jornal. Esta, que se mostrou bastante comunicativa e aberta ? respond

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