Livro o que é cultura
– Cultura e diversidade 7 – O que se entende por cultura 21 | -A cultura em nossa sociedade 51 | – Cultura e relações de poder | 80 – Capa – Contracapa – Indicações para leitura 87 Cultura é uma preocupação contemporânea, bem viva nos tempos atuais. É uma preocupação em entender os muitos caminhos que conduziram os grupos humanos às suas relações presentes e suas perspectivas de futuro. O desenvolvimento da humanidade está marcado por contatos e conflitos entre modos diferentes de organiz naturais e transform 5 la.
A história registra m Swtp view nent page que passam as cultur seja em consequênci opriar dos recursos idade e expressá- sformações por s forças internas, flitos, mais frequentemente por ambos os motivos. Por isso, ao discutirmos sobre cultura temos sempre em mente a humanidade em toda a sua riqueza e multiplicidade de formas de existência. São complexas as realidades dos agrupamentos humanos e as características que os unem e diferenciam, e a cultura as expressa.
Assim, cultura diz respeito à humanidade como um todo e ao mesmo tempo a cada um dos povos, nações, sociedades e grupos humanos. Quando se considera as culturas particulares que existem ou existiram, logo se constata a grande variação elas. Saber em que medida as culturas variam e quais as razões da variedade das culturas humanas são questões que provocam multa discussão. Por enquanto quero salientar que é sempre fundame fundamental entender os sentidos que uma realidade cultural faz para aqueles que a vivem.
De fato, a preocupação em entender isso é uma importante conquista contemporânea. Cada realidade cultural tem sua lógica interna, a qual devemos procurar conhecer para que façam sentido as suas práticas, costumes, concepções e as transformações pelas quais estas passam. É preciso relacionar a variedade de procedimentos ulturais com os contextos em que são produzidos. As variações nas formas de familia, por exemplo, ou nas maneiras de habitar, de se vestir ou de distribuir os produtos do trabalho não são gratuitas.
Fazem sentido para os agrupamentos humanos que as vivem, são resultado de sua história, relacionam-se com as condições materiais de sua existência. Entendido assim, o estudo da cultura contribui no combate a preconceitos, oferecendo uma plataforma firme para o respeito e a dignidade nas relações humanas. Notem, porém, que o convite a que se considere cada cultura em particular não pode ser dissociado da necessidade de se onsiderar as relações entre as culturas. Na verdade, se a compreensão da cultura exige que se pense nos diversos povos, nações, sociedades e grupos humanos, é porque eles estão em interação.
Se não estivessem, não haveria necessidade nem motivo nem ocasião para que se considerasse variedade nenhuma. A riqueza de formas das culturas e suas relações falam bem de perto a cada um de nós, ja que convidam a que nos vejamos como seres sociais, nos fazem pensar na natureza dos todos sociais de que fazemos parte, nos fazem indagar sobre as razões da realidade social de que partilhamos e das forças que as antêm e as t 35 sobre as razões da realidade social de que partilhamos e das forças que as mantêm e as transformam.
Ao trazermos a discussão para tão perto de nós, a questão da cultura torna- se tanto mais concreta quanto adquire novos contornos. Saber se há uma realidade cultural comum à nossa sociedade torna- se uma questão importante. Do mesmo modo evidencia-se a necessidade de relacionar as manifestações e dimensões culturais com as diferentes classes e grupos que a constituem. Vejam pois que a discussão sobre cultura pode nos ajudar a pensar sobre nossa própria realidade social.
De fato, ela é uma aneira estratégica de pensar sobre nossa sociedade, e isso se realiza de modos diferentes e às vezes contraditórios. A minha preocupação principal aqui é contribuir para esclarecer esse assunto. Espero tê-los já convencidos de que o tema é importante e que vale a pena estudá-lo e seguir seus desdobramentos. É também um tema repleto de equívocos e armadilhas. Convém desde já que situemos um de seus principais focos de confusão: por que as culturas variam tanto e quais os sentidos de tanta variação.
A partir de uma origem biológica comum, os grupos humanos se expandiram progressivamente, ocupando praticamente a otalidade dos continentes do planeta. Nesse processo, o contato entre grupos humanos foi frequente, mas a intensidade desses contatos foi de forma a permitir muito isolamento, e muitas histórias paralelas marcaram o desenvolvimento dos grupos humanos. O aceleramento desses contatos é recente, e os grupos isolados vão desaparecendo com a tendência à formação de uma civilização mundial.
O desenvolvimento dos grupos humanos se fez segundo ritm formação de uma civilização mundial. O desenvolvimento dos grupos humanos se fez segundo ritmos diversos e modalidades variáveis, não obstante a constatação de ertas tendências globais. Isso se aplica, por exemplo, às formas de utilização e transformação dos recursos naturais disponveis. Não só esses recursos são heterogêneos ao longo das terras habitáveis, como ainda territórios semelhantes foram ocupados de modo diferente por populações diferentes. Apesar dessa variabilidade, são notórias algumas tendências dominantes.
Assim, por exemplo, em vários lugares e épocas grupos humanos inicialmente nômades e dependentes da caça e da coleta para sua sobrevivência passaram a se sedentarizar, isto é, a viver em aldeias e vilas, acompanhando o desenvolvimento da agricultura a domesticação de animais. Não apenas os recursos naturais devem ser considerados quando se pensa no desenvolvimento dos grupos humanos. Mais importante anda é observar que o destino de cada agrupamento esteve marcado pelas maneiras de organizar e transformar a vida em sociedade e de superar os conflitos de interesse e as tensões geradas na vida social.
Assim, por exemplo, a sedentarização que mencionei antes não é uma simples resposta às condições dos recursos naturais. Ela só se tornou viável porque os grupos humanos envolvidos conseguiram reorganizar sua vida ocial de modo satisfatório, criando novas possibilidades de desenvolvimento, e ao fazer isso conseguiram inclusive alterar as condições dos recursos naturais, como a domesticação de animais e plantas pode provar.
São também variadas as formas de organização social, mas do mesmo modo há aqui tendências do 4 35 São também variadas as formas de organização social, mas do mesmo modo há aqui tendências dominantes, como a de formação de poderosas sociedades com instituições políticas centralizadas. Muito já se discutiu sobre as maneiras de ordenar essas culturas de tanta variação. ara muitas delas, como a europeia ou a chinesa, pode-se traçar longas sequências históricas e localizar etapas mostrando as transformações nas relações da sociedade com a natureza e principalmente nas relações de seus membros entre si.
Os esforços para colocar todas as culturas humanas num único e rígido esquema de etapas não foram, no entanto, bem- sucedidos. Apesar da existência de tendências gerais constatáveis nas histórias das sociedades, não é possível estabelecer sequências fixas capazes de detalhar as fases por que passou cada realidade cultural. Cada cultura é o resultado de uma história particular, e sso inclui também suas relações com outras culturas, as quais podem ter características bem diferentes.
Assim, falar, por exemplo, nas etapas humanas da selvageria, barbárie e civilização pode ajudar a entender o aparecimento da sociedade burguesa na Europa, mas não é suficiente para dar conta de culturas que por longo tempo se desenvolveram fora do âmbito dessa civilização. Vamos pensar um pouco mais sobre isso. Até aqui estamos falando de cultura como tudo aquilo que caracteriza uma população humana. Nesse caso, duas são as possibilidades básicas de relacionarmos diferentes culturas entre si. No primeiro aso, pensa-se em hierarquizar essas culturas segundo algum critério.
Por exemplo, usando-se o critério de capacidade de produção material pode-se dizer q s 5 critério. Por exemplo, usando-se o critério de capacidade de produção material pode-se dizer que uma cultura é mais avançada do que outra. Ou então, se compararmos essas culturas de acordo com seu controle de tecnologias específicas, como por exemplo as tecnologias de metais, poderemos pensar que uma é mais desenvolvida do que a outra. Na segunda possibilidade de relacionar diferentes culturas, nega- se que seja viável fazer qualquer hierarquização.
Argumenta-se aqui que cada cultura tem seus próprios critérios de avaliação e que para uma tal hierarquização ser construída é necessário subjugar uma cultura aos critérios de outra. Por exemplo, vamos pensar em duas culturas primitivas, uma nômade praticando a caça e a coleta, outra habitando vilas e praticando a agricultura. Segundo aquele argumento, já que a domesticação de plantas da qual a agricultura é resultado não faz parte da primeira cultura, não haveria como julgá-la menos desenvolvida que a segunda, com base nesse critério de comparação.
Cultura e evolução No século XIX foram feitos muitos estudos procurando hierarquizar todas as culturas humanas, existentes ou extintas, e essa segunda perspectiva que mencionei acima criticou-as fortemente. Segundo as versões mais comuns desses estudos, a humanidade passaria por etapas sucessivas de evolução social, que a conduziriam desde um estágio primordial onde se iniciaria a distinção da espécie humana de outras espécies animais até a civilização tal como conhecida na Europa ocidental de então.
Todas as sociedades humanas fariam necessariamente parte dessa escala evolutiva, dessa evolução em linha única. Assim, a iversidade de sociedade necessariamente parte dessa escala evolutiva, dessa evolução em linha única. Assim, a diversidade de sociedades existentes no século XIX representaria estágios diferentes da evolução humana: sociedades indígenas da Amazônia poderiam ser classificadas no estágio da selvageria; reinos africanos, no estágio da barbárie. Quanto à Europa classificada no estágio da civilização, considerava-se que ela já teria passado por aqueles outros estágios.
Não foi dificil perceber nessa concepção de evolução por estág os uma visão europeia da humanidade, uma visão que utilizava oncepções europeias para construir a escala evolutiva, e que além do mais servia aos propósitos de legitimar o processo que se vivia de expansão e consolidação do dominio dos principais países capitalistas sobre os demais povos do mundo. As concepções de evolução linear foram atacadas com a ideia de que cada cultura tem sua própria verdade e que a classificação dessas culturas em escalas hierarquizadas era impossível, dada a multiplicidade de critérios culturais.
Tais esforços de classificação de culturas não implicavam apenas a justificação do domínio das sociedades capitalistas centrais, que aqueles esquemas globais apareciam no topo da humanidade, sobre o resto do mundo. Ideias racistas também se associaram àqueles esforços; muitas vezes os povos não europeus foram considerados inferiores, e isso era usado como justificativa para seu domínio e exploração. Estudos sistemáticos e detalhados de muitas culturas permitiram destruir os falsos argumentos dessas concepções preconceituosas.
Não existe relação necessária entre características físicas de grupos humanos existe relação necessária entre características físicas de grupos humanos e suas formas culturais, nem tampouco a multiplicidade as culturas implica quebra da unidade biológica da espécie humana. A diversidade das culturas existentes acompanha a variedade da historia humana, expressa possibilidades de vida social organizada e registra graus e formas diferentes de domínio humano sobre a natureza.
A ideia de uma linha de evolução única para as sociedades humanas é, pois, ingênua e esteve ligada ao preconceito e discriminação raciais. por outro lado, a relativização total do estudo das culturas desvia a atenção de indagações importantes a respeito da história da humanidade, como é o caso da constatação de regularidades nos processos de transformação os grupos humanos e da importância da produção material na história dessas transformações.
Cultura e relativismo Em outras palavras, substitui-se um equívoco por outro. Consideremos um pouco mais este segundo. Ele deriva da constatação de que a avaliação de cada cultura e do conjunto das culturas existentes varia de acordo com a cultura particular da qual se efetue a observação e análise; isso diria respeito a qualquer caso e não só ao da visão europeia de evolução social única dos grupos humanos; poderia ser aplicado por exemplo àquela comparação entre duas sociedades primitivas de que falei nteriormente.
Verifica-se assim que a observação de culturas alheias se faz segundo pontos de vista definidos pela cultura do observador, que os critérios que se usa para classificar uma cultura são também culturais. Ou seja, segundo essa visão, na avaliação de culturas e traços culturais tudo é rel também culturais. Ou seja, segundo essa visão, na avaliação de culturas e traços culturais tudo é relativo. Passa-se assim da demonstração da diversidade das culturas para a constatação do relativismo cultural. Observem o quanto essa equação é enganosa.
Só se pode propriamente respeitar a iversidade cultural se se entender a inserção dessas culturas particulares na história mundial. Se insistirmos em relativizar as culturas e só vê-las de dentro para fora, teremos de nos recusar a admitir os aspectos objetivos que o desenvolvimento histórico e da relação entre povos e nações impõe. Não há superioridade ou inferioridade de culturas ou traços culturais de modo absoluto, não há nenhuma lei natural que diga que as características de uma cultura a façam superior a outras.
Existem no entanto processos históricos que as relacionam e estabelecem marcas verdadeiras e concretas entre elas. O absurdo daquela equação acima referida se manifesta no fato de que enquanto a ciência social dos países cap talistas centrais elaborava teorias relativistas da cultura, sua civilização avançava implacavelmente, conquistando e destruindo povos e nações, tendo como instrumento uma capacidade de produção material que não é nem um pouco relativa.
Vemos, pois, que a questão não é só pensar na evolução de sociedades humanas, mas fundamentalmente entender a história da humanidade. O século XIX, em que esse confronto de ideias se consolidou, indicava os caminhos de uma civilização mundial m que as muitas culturas humanas deveriam inevitavelmente encontrar o seu destino, quando não seu fim. Já agora a compreensão dessa civilização mundial exige o entendimento destino, quando não seu fim. Já agora a compreensão dessa civilização mundial exige o entendimento dos múltiplos percursos que levaram a ela.
O estudo das culturas e de suas transformações é fundamental para isso. Enfatizar a relatividade de critérios culturais é uma questão estéril quando se depara com a história concreta, que faz com que essas realidades culturais se relacionem e se hierarquizem. As culturas e sociedades humanas se relacionam de modo esigual. As relações internacionais registram desigualdades de poder em todos os sentidos, os quais hierarquizam de fato os povos e nações.
Este é um fato evidente da história contemporânea e não há como refletir sobre cultura ignorando essas desigualdades. É necessário reconhecê-las e buscar sua superaçao. Cultura e sociedade Há muito em comum entre essas discussões sobre as relaçóes entre culturas de sociedades diferentes quando se pensa sobre a cultura de uma sociedade em particular. Também aí a variedade de formas culturais se manifesta, e sempre se coloca a questão de como tratar esse assunto. Pensem, por exemplo, numa sociedade como a brasileira.
A sociedade nacional tem classes e grupos sociais, tem regiões de características bem diferentes; a população difere ainda internamente segundo, por exemplo, suas faixas de idade, ou segundo seu grau de escolarização. Além disso, a população nacional foi constituída com contingentes originários de várias partes do mundo. Tudo isso se reflete no plano cultural. Existem realidades culturais internas à nossa sociedade que podem ser tratadas, e multas vezes o são, como se fossem culturas estranhas. Isso se aplica não só às sociedade 0 DF 35