Nutrição

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Universidade de São Paulo Faculdade de Saúde Pública VOLUME 31 NÚMERO 3 JUNHO 1997 p. 236-46 Revista de Saúde Pública JOURNALOFPUBLICHEALTH Prevalência de obesidade em adultos e seus fatores de risco Prevalence and risk factors of obesity in adults Denise P. Gigante, Fernando C. garros, Cora L. A. Post e Maria T. A. Olinto Departamento de Nutrição da Universidade Federal de Pelotas. Pelotas, RS – Brasil (D. P. G. , C. L. A. P. ); Departamento Swipe to page de Medicina Social da RS – Brasil (F. C. B. ); Ce Universidade Federal GIGANTE, Denise p. 1 or 29 e pelotas. Pelotas, miológicas da – Brasil (M. T. A.

O. ) e em adultos e seus fatores de nsco Rev. saucte publica, 31(3) : 236-46, 1997. O Copyright Faculdade de Saúde Pública da USP. Proibida a reprodução mesmo que parcial sem a devida autorização do Editor Cientifico. Proibida a utilização de matérias para fins comerciais. All rights reserved. 236 Rev. saúde Pública, 31 1997 Prevalência de obesidade em adultos e seus fatores de risco* Denise P. Gigante, Fernando C. Barros, Cora LA. Post e Maria T. A. Olinto Social da Universidade Federal de Pelotas. Pelotas, RS Brasil (F. C. B. ); Centro de Pesquisas Epidemiológicas da Universidade Federal de Pelotas.

Pelotas, RS- Brasil (M. T. A. O. ) Resumo Introdução Foi realizado estudo transversal em uma amostra representativa da população adulta de Pelotas para determinar a prevalência de obesidade e os fatores a ela associados, tendo em vista o acentuado aumento de excesso de peso no Brasil, entre 1974 e 1989. Foram estudadas 1. 035 pessoas com idade entre 20 e 69 anos, residentes na zona urbana do município. A obesidade foi definida a partir do índice de massa corporal (IMC) igual ou superior a 30 kg/m2. A análise multivariada foi reallzada considerando um modelo hierárquico das variáveis ssociadas com obesidade em ambos os sexos.

A prevalência de obesidade foi de 21% (IC95% 18 – 23), sendo de 25% (IC 95% 22 – 29) entre as mulheres e 15% (IC95% 12 – 18) entre os homens. A relação entre as variáveis socioeconômicas e a obesidade foi inversa entre as mulheres e direta entre os homens. Entre as mulheres, as variáveis que se mantiveram associadas significativamente com obesidade foram: obesidade dos pais, ocorrência de diabete ou hipertensão, não fumar, menor número de refeições dlánas e não ter realizado exercício fisico no lazer durante o último ano.

Para os homens somente a ocorrência de obesidade nos pais e a hipertensão arterial sistêmica estiveram significativamente associadas, enquanto a proteção do mai hipertensão arterial sistêmica estiveram significativamente associadas, enquanto a proteção do maior número de refeições apresentou uma associação quase significativa (p 0,07). Os resultados indicam que os determinantes de obesidade são diferentes entre os sexos, ocorrendo em maior freqüência entre as mulheres e com o aumento da idade. Obesidade, epidemiologia. Fatores de risco.

Material e Método Resultados Conclusão arte de dissertação de mestrado de autoria de D. p. Gigante, apresentada ao Departamento de Nutrição Social da Universidade Federal de Pelotas. Financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio Grande do Sul (Processo n 93/2955-1). Correspondência para/Correspondence to: Denise P. Gigante – Departamento de Nutrição da Universidade Federal de Pelotas. Caixa Postal 354 96010-900 Pelotas, RS – Brasil. E mail: denise@ufpel. tche. br Recebido em 29. 5. 1996. Aprovado em 25. 11. 1996. Gigante, D. P. et al. Rev.

Saúde Pública, 31 (3), 1997 237 Abstract Introduction A population-based cross-sectional study as conducted in Pelotas, Southern Brazil, with the objective of determining the prevalence of obesity and identify associated, variables as this condition increased markedly in the country between 1974 and 1989. and thirty-five adults 20 and 69 years of age were studied. Obesity was defined as a Body Mass Index – BMI – equal to or over 30 Kg/ square meter). The multivariate analyses took into account the hierarchical model of the variables associated with obesity for both men and women.

The prevalence for the overall population was of 21% (Cl 18 – 23). It was higher among women 25% (Cl 22 29) than or men – 15% (Cl 12 – 18). Socioeconomic status was positively associated with obesity among men, whereas the opposite situation was reported for women, with those belonging to the poorest social strata presenting increased BMI. Reported obesity in their parents was associated with increased BMI in the subjects, and this association remained statistically significant even after compensating for the effect of possible confounding variables.

Self-reported diabetes and arterial hypertension doubled the risk of obesity, whereas non-smoking was associated with obesity only among women. Variables which were not associated with obesity after adjusting for confounders were alcohol consumption, marital status and parity. Women having more daily meals were less prone to obesity, even after controlling for confounders, and this association was not quite significant for men (p = 0. 07). The prevalence of obesity was higher among women, and important differences in risk factors were noticed when the population was considered by sex. Obesity, epidemiology.

Risk factors. Material and Met the population was considered by sex. Obesity, epidemiology. Risk factors. Material and Methods Results Conclusions INTRODUÇÃO As prevalências de obesidade em países desenvolvidos, como Suécia 14 e Estados Unidos 13, têm aumentado nas últimas décadas. Uma revisão da literatura 28 mostra que, nesses países, a melhoria da condição socioeconômica está associada com um decréscimo na prevalência de obesidade nas mulheres. por outro lado, nessas sociedades a relação entre o nível socioeconômico e a obesidade em homens é complexa e pouco compreendida.

No Brasil, entre 1974 e 1989 8, a proporção de pessoas com excesso de peso aumentou de 21% para 32%. Dentre as regiões do País, o Sul apresenta as maiores prevalências de obesidade, sendo essas semelhantes e, até mesmo superiores, a países desenvolvidos. A evolução da ocorrência de obesidade nesse período, em relação ao sexo, dobrou entre os homens (de 2,4% para 4,8%), enquanto que entre a população feminina o aumento da obesidade também foi significativo (7% para 12%). Os determinantes da maior freqüência de obesidade entre as mulheres são ainda desconhecidos.

No que se refere à situação socioeconômica, os resultados da Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição (PNSN)8, para o País como um todo, mostraram que a prevalência de excesso de peso umenta de acordo com o poder aquisitivo, especialmente entre os homens. Em um estudo sobre fatores de risco para doenças crônicas realizado em Porto Al especialmente entre os homens. Em um estudo sobre fatores de risco para doenças crônicas realizado em Porto Alegre9, observou-se que a obesidade afeta principalmente os homens de classes soclais mais altas e as mulheres de menor nível socioeconômico.

As conseqüências do excesso de peso ? saúde têm sido demonstradas em diversos trabalhos 4, 20, 30. A obesidade é fator de risco para hipertensão arteria125, hipercolesterolemia18, diabetes mellitus 18, doenças ardiovasculares 19 e algumas formas de câncer 10. Em Pelotas, a obesidade foi estudada como fator de risco para hipertensão arteria121, e os obesos mostraram um risco 2,5 vezes maior de apresentarem hipertensão, quando comparados aos indivíduos de peso adequado. or estar a obesidade aumentando no País, e sendo esta condição um fator de risco para patologias importantes, decidiu se realizar a presente investi- 238 Gigante, D. p. et al. gação para determinar sua prevalência e os fatores que a determinam, ou estão com ela associados, em uma população adulta do Município de Pelotas. O presente estudo aborda a prevalência da obesidade, e sua relação com sexo, fatores socioeconômicos, demográficos e culturais, morbidades referidas e variáveis de alimentação.

MATERIAL E METODO Realizou-se um estudo de delineamento transversal, de base populacional, onde a população a ser avaliad delineamento transversal, de base populacional, onde a população a ser avaliada foi escolhida através de um processo amostral aleatório em estágios múltiplos 3 entre pessoas com idades entre 20 e 69 anos, residentes na zona urbana do Município de Pelotas, RS. O cálculo do tamanho da amostra aseou-se em estudo anterior 21 que estimou a prevalência de obesidade em 20%. Para o estudo da prevalência de obesidade considerou-se aceitável uma margem de erro de 2,5% e nível de confiança de 95%.

Para estudar a associação com os fatores de risco, considerou-se o sedentarismo como a exposição de maior frequência, com uma razão de 4 expostos para cada não exposto. Com um poder de 80%, uma razão de prevalências de e uma prevalência de doença de para os não expostos, obteve-se 720 indivíduos. A esse número foram acrescidos 1 para posslVeis perdas e 30% para análise estratificada. para obter- e o número de pessoas suficiente foi necessário visitar 600 domicílios, baseado em informações do censo do IBGE 7 de 1991, que indicou uma média de 1,8 pessoas entre 20-69 anos de idade por domicílio, no Município de Pelotas.

Com base nesses dados foram sorteados, sistematicamente, 30 setores censitários onde seria realizado o estudo. Também aleatoriamente, foi sorteada, em cada setor, a esquina por onde o estudo deveria iniciar e a partir dessa, sistematicamente, as vinte casas a serem visitadas. Em cada um dos domicílios selecionados foram entrevistados vinte casas a serem visitadas. Em cada um dos domicílios elecionados foram entrevistados todos os moradores com idade entre 20 e 69 anos, através de um questionário abordando fatores blológicos, socioeconômicos, familiares, antropometricos, de consumo alimentar e de atividade física.

A obesidade foi definida a partir do índice de massa corporal(lMC) que é obtido pela divisão da massa corporal (em quilogramas) pela estatura (em metros ao quadrado), sendo esse um indicador apropriado para avaliação do estado nutricional de adultos 1. Foram consideradas obesas as pessoas que apresentaram IMC igual ou superior a 30 kg/m2 e com sobrepeso aquelas com IMC entre 25 30 kg/m2, de acordo com a Organização Mundial de Saúde31.

Foram estudadas as seguintes variáveis: sexo; cor da pele; idade (em anos completos); situação conjugal (entrevistados que viviam com ou sem companheiro na época do estudo); paridade (número total de filhos de cada uma das mulheres entrevistadas – nascidos vivos ou mortos); escolaridade (em anos completos cursados na escola); renda familiar (renda mensal em salários mínimos de todos os moradores do domicílio, distribuída por quartis 0 a 2,73, 2,74 a 4,77, 4,78 a 8,88 e 8,89 a 80 salánosmínimos); classe social e Bronfman 17 (construída a partir da escolaridade, renda e ocupação do chefe da família, distribuída em burguesia, nova pequena burguesia, pequena burguesia tradicional, proletariado não típico, proletariado típico e sub não tipico, proletariado típico e subproletariado); classe social proposta pela Associação Brasileira de Institutos de Mercado Abipeme 24 (construída a partir de bens e utilidades domésticas, além da escolaridade, distribuída por classes A, B, C, D e E de acordo com escore estabelecido); trabalho remunerado realizado no mês anterior à entrevista; exercício físico no lazer ealizado durante o último ano; natureza da atividade (opinião do entrevistado sobre sua atividade fisica diária, distribuída em leve, moderada ou pesada); número de refeições diárias (foram consideradas como refeições, além das habituais — café da manhã, almoço e jantar — outras que possam ter sido realizadas durante a manhã, à tarde ou à noite); consumo de açúcar (construído a partir do consumo mensal da família distribuído pelo número de pessoas que participam do grupo de consumo familiar); consumo de gordura (construído a partir da quantidade de óleo consumida pela família no último mês istribuída pelo número de pessoas que participam do grupo de consumo familiar); consumo de álcool (consumo de diferentes tipos de bebidas alcóolicas — cerveja, vinho, cachaça, whisky, vodka, outros — no último mês); tabagismo (distribuído em três categorias, sendo considerados fumantes aqueles que fumavam pelo menos 1 cigarro por dia); hipertensão arterial sistêmica e diabetes mellitus (referidas pelo entrevistado); obesidade dia); hipertensão arterial sistêmica e diabetes mellitus (referidas pelo entrevistado); obesidade dos pais (referida pelo entrevistado través da pergunta se seu pai/mãe é ou era gordo/gorda); massa corporal (através da utilização de balança de banheiro marca “Bender” com capacidade de 150 kg e precisão de 0,5 kg); estatura (coletada uma única vez com um antropômetro de alumínio construído exclusivamente para pesquisa de campo com uma base móvel formando um ângulo de 90 0 com a régua com precisão de 0,1 cm).

O trabalho de campo foi realizado entre janeiro e maio de 1994 com a participação de 22 entrevistadores, estudantes das Faculdades de Nutrição e Medicina, que trabalharam em duplas, com a finalidade de obter medidas ntropométricas mais fidedignas. Os entrevistadores foram submetidos a um treinamento para aplicação do questionário e padronização da tomada de medidas antropométricas, segundo a recomendação de Lohman e c0116. Durante esta coleta os entrevistados estavam descalços e usando roupas leves. O controle de qualidade foi realizado através de revisita em 5% dos domicílios, quando algumas informações foram conferidas. As análises uni e bivariadas foram realizadas com os programas SPSS/PC+ e Epi Info, utilizando como medida de efeito a razão de prevalências e seus intervalos de confiança. 239 Figura 1 – Mode PAGF ag

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