Rousseau

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ntroduçao Crítico e polêmico, Jean Jacques Rousseau, como homem do século XVIII, procurou realizar uma análise cientifica da humanidade. O ponto central de seu pensamento foi a oposição entre natureza e sociedade, bem como a questão sobre a desigualdade entre os homens e o conjunto de elementos que os legou a tal condição: que separa ricos e pobres, magistrados e fracos, senhores e escravos.

Refietindo acerca da condição humana, das leis da natureza, tanto quanto da situação do homem civil e de sua degeneração moral, Rousseau levantou interessantes questões sobre o trajeto do estado “de natureza” o homem até a chegada ao estado plenamente social. Segundo o autor, no ntato direto com a ureza e que o homem encontra o pleno sentido da liberdade. Partindo desta concepção, formula o conceito de “estado de natureza”, o qual nunca existiu efetivamente, porém, em sua filosofia serve como um patamar de comparação. Neste estado de natureza o homem vivia de forma solitária e simples, inocente e feliz.

Todavia, o homem natural preocupava-se apenas com a sua conservação, sem se amargurar com o dia de amanha. Agia por extinto, nao tinha paixões ou sentimentos de vaidade, egoísmo. A noção do eu e do meu não havia, pois, o que legitima este conceito – a idéia de posse ou de propriedade – também não existia. Assim, o homem natural era uma extensão da própria natureza e tudo o que era natural, como as frutas, as ervas, os riachos, lhe era familiar e disponível (como direito nat Swige to víew next page -lal Studia natural).

Deste modo tudo era de todos e por Isso não fazia sentido as disputas por terra, comida e posse. Dentro deste contexto a posição de Rousseau acerca da propriedade deve ser compreendida como consequência da análise que faz do homem e sua transição para a vida social. Na bra “Discurso sobre a Desigualdade” são apontados motivos que aproximam os homens para o convívio e, consequentemente, para a sociedade. Justamente no estágio civilizado que a propriedade se estabelece e com ela surge a desigualdade, que para o autor é a origem de todos os males.

A propriedade privada foi o que gerou o modo degenerado de conduta moral dos indivíduos. Não obstante a civilização, para Rousseau, impôs o nivelamento e a artificialidade sobre o comportamento humano ao ignorar as necessidades individuais e naturais. Contudo, em sua teoria Rousseau não pretendia impor uma regressão da sociedade ao stado primitivo, e sim, repensar os valores do mundo moderno que brutalmente se sobrepõe aos valores inatos dos homens.

A questão da propriedade privada na concepção de Rousseau Percebe-se na obra de Jean Jacques Rousseau, o papel do “Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens” em denunciar as mazelas da desigualdade política desde sua origem. É precisamente na segunda parte do livro que o autor nos expõe explicitamente a sua idéia acerca da propriedade: “O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o primeiro que, tendo cercado o terreno lembrou-se de dizer “isto é meu” e ncontrou pessoas suficientemente simples para acreditá-lo.

Quantos c 20F 12 de dizer “isto é meu” e encontrou pessoas suficientemente simples para acreditá-lo. Quantos crimes, guerras, assassínios, misérias e horrores não poupariam ao gênero humano aquele que, arrancando as estacas ou enchendo o fosso, tivesse gritado a seus semelhantes: “evitai ouvir esse impostor; estareis perdidos se esquecerdes que os frutos são de todos e que a terra não pertence a ninguém” (p. 3). A partir deste parágrafo nota-se como a instituição da propriedade representa efetivamente a passagem da ordem atural para a formação da sociedade civil fundamentada na moral do “isto é meu”. Contudo, é importante salientar que o parágrafo reproduzido acima é na verdade um artifício retórico do autor para enfatizar a questão, que de fato vem sendo discutida desde o início da obra como um processo.

No mais, com a instauração da propriedade privada motivada pela articulação de vários elementos ordenados por Rousseau – como a o perfectibilidade, a vida em família, o amor próprio e a divisão do trabalho – é que a desigualdade irá consumar-se como a barbárie da sociedade moderna. Entretanto, o autor se refere a esigualdade moral ou politica, gerada por convenções sociais; e não a desigualdade natural – que compreende diferenças físicas, de mais forte e mais fraco, de homem e mulher, etc.

Todavia, para que as relações entre propriedade e desigualdade sejam realmente compreendidas, faz-se necessário realizar uma digressão não só pela obra, como também por toda a história da humanidade. Logo no Prefácio do “Discurso sobre a desigualdade entre os homens”, é narrada a constitu 30F 12 homens”, é narrada a constituição do homem e o processo de sua degeneração social; para tanto Rousseau fará uso de m hipotético “estado de natureza humana” a fim de resgatar os possíveis valores e ações inatas ao homem. ? importante ressaltar que este elemento de resgate do “estado de natureza do homem” é um artifício retórico utilizado por outros autores que assim com Jean Jacques buscaram compreender a natureza do nosso comportamento social – como por exemplo, os pensadores que lhe antecederam, Thomas Hobbes e Jhon Locke. Contudo, no pensamento de Rousseau o estado natural do homem diverge dos anteriores; Locke e Hobbes nos apresentam um estado de natureza como algo violento, um período instável inseguro qual a humanidade deveria superar ao evoluir para a civilização.

Já para Rousseau o estado natural do homem é de plena liberdade onde se vive em comunhão com a natureza e de forma autônoma, assim, sem necessidade de ajuda de outros, sem paixões, luxo ou amarguras, o homem vive bem, satisfeito; a sua única preocupação era em manter a subsistência. Neste estado de natureza a única desigualdade que é posslVel haver entre os homem é fruto da própria natureza, como a diferença de tamanho, força, juventude, etc. ; no entanto essas diferenças nao fazem com que um sobrepuje os demais, nem lhe causa vaidade u egoísmo.

No estado de natureza não há propriedade, tudo é de todos. Todavia, para Rousseau o homem primitivo não pode ser responsabilizado pela condição de desigualdade em que se e 40F 12 homem primitivo não pode ser responsabilizado pela condição de desigualdade em que se encontra a civilização, pois, a essência do homem é naturalmente boa devido a compaixão resultante do sentimento de auto-preservaçao: o amor de si. Este é o instinto natural que evita a dor, o sofrimento e a morte, fazendo com que o ser humano se identifique com a dor daquele que padece em especial aqueles de sua espécie.

A partir deste principio formula- se, então, a teoria da bondade original. Portanto a compaixão contribui não só para auto-presewaç¿o do individuo e sim, para toda a espécie humana. A medida que as dificuldades do meio se apresentavam ao homem, ele teve de superá-las, e desta forma vai adquirindo novos conhecimentos. Esta característica própria do homem, que o difere dos demais animais, consiste em aprender e adaptar-se ao ambiente e suas dificuldades, criando novas alternativas de sobrevivência; Rousseau a denominará por Perfectibilidade. ? por consequência da perfectibilidade que o homem natural aprendeu pescar, caçar e por vezes a associar-se a outros homens. “Aprendeu a dominar os obstáculos da natureza, a combater, quando necessário, os outros animais, a disputar sua subsistência com os próprios homens ou a compreender-se daquilo que era preciso ceder aos mais fortes. ” (p. 64). As primeiras associações entre os homens foram aleatórias, esporádicas e se resumiam apenas à necessidade de uma ação objetiva e efêmera; como podemos supor que era a situação de uma caçada.

Entretanto, ao perceber que era mais fácil e prático sobreviver coletivamente os h 2 caçada. Entretanto, ao perceber que era mais fácil e prático obreviver coletivamente os homens foram se organizando desta forma. Neste ponto é que surge a primeira “revolução”: a construção de abrigos – fazendo com que o homem natural permanecesse mais tempo em um mesmo lugar. Outra importante conseqüência da associação humana foi o desenvolvimento da linguagem: “… uando as idéias dos homens começaram a se estender-se e a multiplicar-se, e se estabeleceu entre eles uma comunicação mais íntima, procuraram sinais mais numerosos e uma língua mais extensa… ” (p. 52). Foi no desenrolar deste processo de associação humana que urgiram as famílias e com elas desenvolveram-se sentimentos ternos: o amor conjugal e o amor paterno. Nesta fase havia um precário sentimento de posse, entretanto, se o homem conseguisse se manter neste estágio pré-social e pré- moral, com poucas necessidades e sem desejos, provavelmente o sentimento de posse não iria subvertê-lo a maldade da sociedade moderna.

Mas, bastou que a pequena comunidade envolvida em atividades rotineiras – como sentar-se a volta da fogueira, cantando e dançando – passasse a se enxergar, que cada indivíduo desejou exclusivamente ser notado. Os homens começam a se comparar mediante esta situação surgem as impressões de que havia o melhor, o mais forte, o mais bonito, o mais hábil. Estava dada a grande faísca que ascenderia a nossa fogueira de vaidades. “Assim, o primeiro olhar que lançou sobre si mesmo produziu-lhe o primeiro movimento de orgulho… ” (p. 5) Pouco á pouco o homem vai se afasta de deu estado 6 2 Pouco á pouco o homem vai se afasta de deu estado natural e dos valores que a ele é inato, como a compaixão. O amor de si é substituído por um uma paixão própria do estado social o “amor próprio”. Este novo tipo de “amor é o que solidificará a base oral do homem social, que tende a estimar e priorizar sempre a si do que aos outros ou ao coletivo. Ao contrário do amor de si – nem bom, nem mal, apenas instinto – o amor próprio, que se origina na comparação com o outro, é artificial e acaba por se tornar o germe dos vícios sociais tal como o ciúme, o ódio e a vingança.

Ainda dentro do processo de vivencia comunitária é que o homem desenvolverá novas técnicas como a agricultura e a metalurgia, evento ao qual Rousseau nomeia de “a Grande Revolução”. A partir destes eventos ocorre também a divisão das terras e sobretudo a divisão do trabalho, criando condições ropícias para a fatal dependência entre os homens, uma vez que agora era possível que um homem trabalhasse por dois. Desde o instante em que um homem sentiu necessidade do socorro de outro, desde que se percebeu ser util a um só contar com provisões para dois, desapareceu a igualdade, introduziu-se a propriedade, o trabalho tornou-se necessário e as vastas flores transformaram-se em campos aprazíveis que se impôs a regar com o suor dos homens e nos quais logo se viu a escravidão e a miséria germinarem e crescerem com as colheitas. ” (p. 69).

Tanto a passagem do amor de si para o amor próprio quanto a ivisão social do trabalho e das terras foram cruciais para 2 amor de si para o amor próprio quanto a divisão social do trabalho e das terras foram cruciais para a consolidação da noção de posse. É importante ressaltar que para Rousseau, o homem se corrompe de fato após a instituição da propriedade privada, que irá estimular e perverter sentimentos de caráter egoístas e mesquinhos.

Neste ponto, retornamos agora ao início do texto quando se apresenta o trecho que sintetiza a essência da propriedade privada para a consolidação da sociedade moderna: “O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o primeiro que, ncontrou pessoas suficientemente simples para acreditá- lo”. Neste momento, a época do estado de natureza terminou definitivamente, decorrente das transformações que a perfectibilidade proporcionou. A propriedade, uma vez consolidada, dará origem há inúmeros conflitos que refletem a ambição humana.

Devido a ambição é que o homem irá sobrepujar-se ou prostrar-se diante de outro, afirmando relações antes ilegítimas tal qual a escravidão. Os frutos da terra passam a ser produzidos não mais para suprir necessidades básicas, e sim para que alguns lucrem em detrimento de outros. A posse da terra e a divisão do trabalho tornam-se elementos de hierarquização tanto de status quanto de condições econômicas entre os homens e fragmenta a humanidade em ricos e pobres, poderosos e fracos Deste modo são alicerçados os governos e leis.

Ao denunciar a fragilidade das leis e da sociedade civil e descrever o modo e os motivos pelo qual a humanidade entregou sua liberdade e di 80F 12 sociedade civil e descrever o modo e os motivos pelo qual a humanidade entregou sua liberdade e dissipou sua igualdade, Rousseau nos expõe a uma questão jurídica das mais complexas e polêmicas: “o que legitima o direito de propriedade? . O direito de propriedade não encontra sua legitimidade no estado de natureza pois é fruto de uma convenção humana.

Tem- se então que a liberdade natural foi trocada pelo que se pode chamar de liberdade civil. Todavia, é na obra “Do Contrato Social” que o autor busca responder a estas questões e aponta um caminho para solucionar a crise de degeneração que a civilização moderna legou á humanidade. Rousseau aponta que a sociedade política, a autoridade e o Estado foram criados pelos homens mediante um contrato com a finalidade de manter a ordem e evitar maiores desigualdades.

Por meio desde contrato o homem aliena ao Estado parte de seus direitos naturais – o direito à vida, à expressão do pensamento, à locomoção, etc. – para que enfim, sobressaia-se o que é a vontade geral. Ou seja, de acordo com a obra “O Contrato Social” o homem abre mão de sua liberdade natural e recebe em troca a liberdade civil “e a propriedade de tudo que possui” (p. 36).

A vontade geral é nada mais do que a manifestação da soberania, e a soberania é a vontade do povo sendo inalienável e indivisível – e afirmar que a soberania é propriedade do povo causou muita discussão na ?poca em que Rousseau escreve sua obra. Não obstante, a vontade geral é estabelecida para garantir condições de igualdade a todos, portanto, a liberdade, a igualdade e aor garantir condições de igualdade a todos, portanto, a liberdade, a igualdade e a ordem civil estão asseguradas mediante a um contrato social genuíno que prevê um novo direito de propriedade.

Dentro desta perspectiva os eleitos do povo para governar são apenas representantes que devem executar a vontade geral; o que nos indica que Rousseau apoiaria a democracia direta ao defender a criação de pequenos Estados ara facilitar o exercício democrático – pois a população pequena pode reunir-se com mais frequência e desse modo os cidadãos partilham da autoridade soberana.

Rousseau concebe uma idéia de democracia baseado num principio em que os interesses arbitrários do indivíduo devem dar lugar à construção coletiva daquilo que permite a igualdade entre todos. Então, sobre a questão da propriedade dentro da ordem civil, o autor propõe que seja repensado e reformulado uso da propriedade com a elaboração novas cláusulas legislativas a fim de suprimir os abusos conseqüentes da exorbitante acumulação ndividual de propriedades.

Rousseau propõe que a propriedade deve estar subordinada aos interesses da vontade geral, uma vez que a lei deve ser expressão da soberania do povo. Conclusão A busca pela igualdade e a liberdade são os grandes paradigmas da filosofia de Rousseau; tanto que os princípios de liberdade e igualdade política por ele formulados inspiraram as matrizes teóricas dos setores mais radicais da Revolução Francesa – quando foi destruido o que sobrava da monarquia e Instalado o regime republicano. Com base em fatos históricos pode se dizer que o pensamento de Ro 0 DF 12

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