Um novo correio na bahia pós carlista
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste Campina Grande — PB — 10 a 12 de Junho 2010 um Novo Correio Na Bahia Pós-Carlista Renato LIJZ2 Tárcio Leonardo Santos MOTA3 p Luiz Henrique Sá da Universidade Federal Resumo: Este artigo tem como jornal “Correio da 3 Cachoeira, BA danças ocorridas no Bahia”, em particular a mudança do nome para “Correio”.
A reforma gráfica, a redução do nome – utilizando a expressão mais coloquial Correio – e as mudanças editoriais ocorrem no momento em que o carlismo perde força e o controle a máquina administrativa do Estado, iniciando um novo momento político na Bahia. O texto trabalha a hipótese de que as mudanças registradas decorrem da perda de privilégios na distribuição da publicidade estatal, como característica do período em que a fam[lia que controla o jornal, detinha ainda o controle da política estadual.
Palavras – chave: Carlismo; Correio; Enquadramento; Jornalismo; Política; Correio da Bahia, e as circunstâncias que levaram à criação do referido jornal, bem como o processo de transformação do periódico em vetor de consolidação do poder político e conômico na Bahia. A Trabalho apresentado ao Intercom Junior, na Divisão Temática 8 – Estudos Interdisciplinares da Comunicação, do XII Congresso de Ciências da Comunicação na região Nordeste realizado de 10 a 12 de Junho de 2010. Discente do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), integrante da linha Cultura Mídia e Política, do Grupo de pesquisa Cultura Memória e Política, registrado no CNPq (CAHL/UFRB). Bolsista do programa de permanência da Pró-reitoria de Políticas Afirmativas e Assuntos Estudantis PROPAAE/UFRB. renatosnick@yahoo. com. r 3 tarciomota@hotmail. com 4 Orientador do trabalho. Professor da UFRB. Coordenador da linha Cultura Midia e Política, do Grupo de pesquisa Cultura Memória e Política, registrado no CNPq (CAHUUFRB). uiznova@yahoo. com. br. ntercom – Sociedade Bra 23 dos Interdisciplinares da Estado. A partir de algumas perspectivas teóricas do Jornalismo, como o agendamento e o enquadramento, analisamos nesse artigo, algumas edições do Correio, buscando compreender o papel de ator social que este meio desempenhou ao longo das últimas décadas. Analisamos também, o processo de reconfiguração do ornal e as recorrentes mudanças, além dos episódios polêmicos de farra publicitária envolvendo empresas da família Magalhães.
Destaca ainda que após o processo de reconfiguração editorial e gráfica, o Correio pode ser caracterizado como um jornal graficamente pós-moderno haja a visto a acentuada exploração imagética, bem como o caráter mercadológico que o periódico tem adquirido ao longo dos anos. Sobre o Correio da Bahia O Correio da Bahia foi fundado em 20 de dezembro de 1978, tendo publicado seu primeiro exemplar no ano posterior. O jornal surgiu com a roposta de modernização do jornalismo baiano.
No período de criação, vários jornalistas foram contratados pela empresa, a fim de implementarem as diretrizes norteadoras do periódico. Ao longo dos anos, com a frustrada tentativa de implantação de uma política editorial moderna, o Correio da Bahia passou a ser um melo de divulgação das ideias de Antônio Carlos Magalhães e do seu ru o olítico, tornando-se um importante instrumento d governos carlistas, enquanto os demais mantinham certa independência em relação ao governo.
Havia, portanto, necessidade de criação de um veículo om identidade política favorável aos interesses do grupo. De acordo com Perseu Abramo, a grande midia constitui hoje, uma coluna de sustentação do poder, sendo legitimadora das medidas políticas anunciadas pelo governo e das estratégias de mercado adotadas pelas grandes corporações. (2003, p. 8). Sendo assim, o Correio da Bahia apresenta-se como um dos vetores do processo de consolidação da hegemonia política e econômica do grupo liderado pelo então senador ACM.
Além do jornal, não se pode esquecer o papel ntercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Campina Grande — PB – 10 a 12 de Junho desempenhado pela Tv, o domínio do grupo no Poder Judiciário e a aliança com os grandes grupos empresariais como a Odebrecht. Sabe-se que a relação entre midia e politica influencia o processo de mudanças sociais e beneficia aqueles que mantêm afinidades com os meios de comunicação e, portanto, a imprensa sempre despertou o interesse da elite política e econômica no Brasil, a exemplo da família Magalhães.
O Correio da Bahia nesse contexto apresentou-se como 4 23 vista politico, haja a vista o crescimento da TV Bahia, também de propriedade da amília Magalhães. Hoje, o jornal circula nas principais cidades da Bahia, sendo o segundo periódico em número de tiragem no estado. Quando o público e o privado se confundem. Até o inicio desta década o grupo Carlista, controlava o governo do estado, a prefeitura de Salvador e ainda era um importante aliado do presidente Fernando Henrique Cardoso na esfera nacional.
O senador Antônio Carlos tinha a presença de dois liderados seus no ministério de FHC, através de Rodolfo Tourinho (Minas e Energia) e Waldeck Ornelas (Previdência Social) além de presidir, pelo segundo mandato onsecutivo, o Senado Federal. (NOVA, 2003). O poderio carlista se dava ainda de forma multo mais intensa no interior com o controle de mais de 300 prefeituras em todo o estado. É a prática da articulação do setor público, Prefeitura e Governo do Estado, com o setor privado e, nele, a mídia. A peculiaridade baiana destaca-se ao combinar a presença do grupo político dominante, “carlismo”, nas duas instâncias.
O grupo ocupa a máquina pública, Governo do Estado e Prefeitura, tem forte influência no Tribunal de ustiça, mesmo que enfraquecido na atual gestão, além da nfluência nos Tribunais de Contas d Municípios, que têm a com a vitória de Lula em 2002, o grupo carlista começa gradualmente a perder espaços na esfera de poder, o que é agravado pela tendência histórica do eleitorado baiano de votar nos candidatos a governador que são aliados do grupo que mantém o poder em âmbito nacional, uma espécie de dobradinha – voto casadinho, confirmado nas eleições de 2006.
Ao longo desses anos o grupo carlista consegue montar uma super-estrutura política e econômica, não só pelo aparelhamento do Estado em todas suas esferas, mas também ela posse de um imenso conglomerado de empresas no ramo da comunicação. A família Magalhães concentrou seus interesses na construção civil, no entretenimento e na indústria gráfica – Rede Bahia — com filiais em todas as macrorregiões da Bahia e maior emissora de televisão do estado e transmissora da Rede Globo, as rádios Globo FM e Tropicalsat além de próprio Correio. (RUBIM, 2001).
Isto é, além do controle do Estado, o grupo carlista apoderou-se desse importante instrumento para consolidar sua hegemonia no estado, de forma a construir um agendamento na opinião pública no qual ossem beneficiados. 6 se refere à publicidade do estado, passa a ser o veiculo impresso na Bahia com maior número de espaços de publicidade comprados pelo governo Jaques Wagner (PT). Podemos destacar o marketing de programas que são âncoras deste governo, como ua para Todos e o Topa – programa de erradicação do analfabetismo – contribuindo assim para a consolidação do A Tarde como veiculo de maior expressão e receita do estado. ? importante destacar que A Tarde cobra 1 ,75 R$ por edição, enquanto com a reforma, o jornal Correio ficou menor e mais barato (embora trabalhe com 100% de páginas oloridas), custando apenas 1 R$ por edição e se configurando como um jornal de fácil acesso para a população com menor poder aquisitivo, já que, como afirma Josineide dos Anjos: Dos leitores do jonal, 43% pertencem à classe AB, 38% à classe C 19% à classe D e E.
Apesar de não termos os dados referentes ao grau de escolaridade dos leitores do Correio da Bahia, de acordo com TGI Consultoria em Gestão 30% dos leitores de jornais completaram 0 10 grau, 46% concluíram 0 20 grau, 21 % têm curso superior e 3% deste público fez pós-graduação, mestrado elou doutorado. (ANJOS, 2004, p. 9) Sobre o A Tarde, é importante ressaltar que recentemente o jornal, ganhou uma causa judicial contra o Estado da rá que indenizá-lo em R$ de todos os recursos, para tentar fechar o jornal. No livro Não deixe esta chama se apagar — história do Jornal da Bahia, João Falcão diz que o governador biônico utilizou dos meios mais maquiavélicos possíveis para atentar contra liberdade de Imprensa. XII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste – Campina Grande – PB – 10 a 12 de Junho o jornal. ? época, em 1999, sob a gestão carlista do governador César Borges e, em eguida, de seu sucessor, Paulo Souto, o veículo detentor da maior tiragem do Norte e Nordeste foi integralmente excluído da publicidade oficial de secretarias, fundações, autarquias, empresas públicas e sociedades de economia mista do poder público estadual (PORTAL VERMELHO, 2009). Enquanto o governo baiano tentava repetir com o A Tarde o que foi feito com o Jornal da Bahia, o Correio da Bahia, embora menor, figurava como principal beneficiário da publicidade oficial.
A partir de 2007, o Correio da Bahia, passa a viver um grande dilema, perdia a exclusividade dos recursos oficiais e pior, a partir de agora os ecursos provenientes de publicidade oficial estariam, em sua maior parte com o seu rival – A TARDE – devido ? sua expressão e tiragem. O iornal e a farra publicitá os carlistas Prefeitura de Salvador, na época administrada pelo carlista Antonio Imbassahy (PFL), e a empreiteira OAS, de propriedade da família de ACM.
Segundo o então vereador de Salvador, Emiliano José (PT), a OAS estava em primeiro lugar no ranking das beneficiadas pela prefeitura, tendo rebebido mais de R$ 12 milhões em contratos sem licitação Outro episódio envolvendo empresas da família Magalhaães, correu em 2001 , quando a Secretaria de Comunicação Social de Salvador contratou a agência Propeg para prestação de serviços publicitários. Com a redução do prazo da prestação de serviço, foi possível um reajuste de 300%, embora a lei permitisse um aumento de 25% sob o valor inicial do contrato.
Ainda de acordo com Emiliano José, durante os oito anos de governo Imbassahy, as empresas ligadas à família Magalhães abocanharam cerca de 70% da verba publicitária da prefeitura municipal. Sobre o referido episódio, Emiliano José afirma em artigo publicado em seu site: A Secretaria de Comunicação Social contratou a agência Propeg por R$ 30 milhões e a Pejota Propaganda, por R$ 4 milhões. Ambas pertencem à Rede Bahia de Comunicações. O serviço deveria ter duração de 48 meses, mas, uma semana depois do contrato, o Diário Oficial publicou a redução do prazo para 12 meses. BLOG DO EMILIANO JOSE, 2001 ) Reconfiguração do Correio da Bahia 5 O Correio da Bahia nunca foi um jornal com uma margem de lucros solidificada, isto é, a dependência estatal era muito grande, não só para contrapor ao A TARDE, mas também por questão de sobrevivência. Sabe-se que competindo em condições iguais com os demais veículos, o Correio como instrumento ideológico e militante teria grandes dificuldades em se manter vivo no mercado.
Desse modo, seria necessário dar uma aparência mais moderna ao jornal, como também uma reforma editorial em que a cobertura política praticamente desapareceu, isto é, configurar a parir de agora uma suposta “isenção”, pelo menos no que se refere ao jogo político de forma mais concreta. Em entrevista ao portal Comunique-se6, Demóstenes Teixeira, diretor de redação do jornal, disse na época, ao se referir ? contratação da consultoria Innovation – da Espanha – e que tem entre seus clientes La Nación, Libération e O Globo: O objetivo é fazer um bom jornal, procurar algo que atenda ? demanda dos leitores.
Claro que nesse processo sempre há espaço para mudanças de nomes. Até porque a direção geral da Rede (Rede Bahia) mudou. Pode ser que seja necessária uma mudança na equipe da redação, mas deve ser preciso agregar novos profissionais. Hoje são 92. Agente já tinha começado um processo de reciclagem de editores, repórteres, que foram conhecer reda ões no Rio, São Paulo, Recife. 0 DF 23