O desespero humano na construção da autenticidade

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O DESESPERO HUMANO NA CONSTRUÇÃO DA AUTENTICIDADE Bárbara Cristine Caldeira dos Santos RE-SUMO: A proposta do presente artigo busca uma compreensão do desespero humano na tentativa de construção da autenticidade. Há várias formas de desespero que auxiliam na construção da nossa autenticidade, mas há outras que nos leva a inautenticidade. O desespero é algo inerente a nós seres humanos, e preclso saber manejá-lo para que ele nos leve a autenticidade. Palavras-chave: desespero humano, condição humana e or6 A proposta do prese en ão de um caso clínico relacionado c or Kiekergaard, a an Jadir Lessa. umano proposto e a autenticidade de Inicialmente abordaremos a teoria de Kierkegaard (1988, p. 199) que diz que “o desespero é a doença mortal” e “quando o perigo cresce a ponto de a morte se tornar esperança, o desespero é o desesperar de nem se quer poder morre”‘. R, 45 anos, ao contar sua historia diz que o pior momento de sua vida foi há 20 anos, quando seu companheiro veio a falecer e logo em seguida seu pai, uma pessoa que, segundo ela, era “unha e carne”.

Após o velório de seu pai R percebeu que estava sozinha a artir dali e teria que tomar conta de dois Swlpe to vlew nexr page filhos pequenos e da casa. Ao pensar nisso R pega todos os remédios (de pressão, diabetes, etc. ) e toma. Quando perdemos alguém nosso eu é provocado à tristeza, pois, temos de ser um eu sem o “outro” e o nosso desespero se torna agora um enorme vazio, pois, morto o “outro” provoca-nos também o abandono. Para Kierkegaard (1988, p. 00) “a perda não é desespero declarado, mas é dela própria que ela desespera”. Essa afirmação fica evidente na fala de R quando ela diz que naquele momento, ua vontade era realmente morrer, mas ao acordar no hospital se arrepende e decide encarar o desafio que a vida lhe propôs. Neste momento fica claro que o desespero de Ré o de não poder morrer, pois, havla muito a ser feito. para Kierkegaard (1 988, p. 199), “esta destruição de si própria que é o desespero é impotente e não consegue os seus fins”.

Sua tentativa de morte física fracassou, mas não a impediu que vivesse para a morte, pois a partir daí R passou a viver para os filhos e para o trabalho se anulando totalmente. Em relação a isso Kierkegaard (1988, p. 99) pondera que: A sua vontade própria é destruir-se, mas é o que ela não pode fazer, e a própria impotência é uma segunda forma da sua destruição, na qual o desespero pela segunda vez erra seu alvo, a destruição do eu: é, pelo contrário, uma acumulação de ser, ou a própria lei dessa acumulação. destruição do eu: é, pelo contrário, uma acumulação de ser, ou a própria lei dessa acumulação. Após ficar viúva R passa a ser muito assediada por homens solteiros e casados, o que a incomodava muito e a fazia se sentir culpada. Ela decide então tentar se esconder de alguma maneira e passa a comer compulsivamente e sem perceber ela passa de uma pessoa de aparência magra, segundo ela, para uma pessoa obesa. Para Boss (1988, p. 16 e p. 7): Há tempos os sentimentos de angústia e culpa dos nossos pacientes se recolheram em proporção cada vez maior para o esconderijo do interior do corpo e daí somente falam na linguagem estranha dos assim chamados distúrbios funcionais Perguntei a ela em quanto tempo isso aconteceu, mas ela diz não saber dizer. O que sabe é que deu certo e ela ficou “invisível” e arou de ser cobiçada, de ser vista pelos outros e por ela mesma. Segundo ela, durante esses vinte anos não se olhou mais no espelho.

A respeito da destruição de si mesmo Kierkegaard, diz que: Bem longe de consolidar o desespero, pelo contrário, o insucesso do seu desespero em destruí-lo é uma tortura, reanimada pelo seu rancor; porque é acumulando sem cessar, no presente, o desespero pretérito que ele desespera por não poder devorar-se nem libertar-se do seu eu, nem aniquilar-se. R acumulou em seu cotidiano o trabalho e devorou a comid PAGF3rl(F6 libertar-se do seu eu, nem aniquilar-se. R acumulou em seu cotidiano o trabalho e devorou a comida na tentativa de se anular e conseguiu com isso a obesidade, nenhum lazer e nenhum amigo.

Ela dedicou sua Vlda ao acúmulo e ao mesmo tempo à culpa, pois, quando arriscava algo vinha junto um enorme sentimento de culpa e angustia. Sobre isso Boss (1 988, p. 17) diz que “hoje, todavia, angústia e culpa ameaçam se esconder mais e mais sob a fachada fria e lisa de um tédio vazio e por traz da muralha gélida de sentimentos desolados completa insensatez de vida” A fibromialgia foi algo que R conseguiu também por conta de sua besidade e de seu modo de viver entediante e vazio. ara as psicólogas Ana Mana Canzonieri Maeda; Maria Isela Garcia Fernandez (201 0), pode se pensar a fibromialgias como uma sensação alterada de dor, resultante das alterações sofridas por um indivíduo suscetível, proveniente de diversos agentes estressores, causando a dor como a manifestação do conflito vivido internamente. A manutenção da dor parece estar ligada diretamente ao suprimento das necessidades do indivíduo.

Pela insuportabilidade psíquica do conflito vivenciado, o indivíduo deixa de entrar em contato com causa do problema, ele apresenta dificuldades para enxergar seu sofrimento, convertendo, assim, a dor emocional em um sofrimento físico. R, agora é PAGF enxergar seu sofrimento, convertendo, assim, a dor emocional em um sofrimento fisico. R, agora é consciente da finalidade de seu sofrimento, disse que algumas pessoas alertaram que a sua dor não tem nenhum motivo clínico, mas algo emocional sugerindo a ela que fizesse terapia como tratamento alternativo e complementar.

Além disso, ela relata que quando está perto do seu neto de quatro anos não sente dor alguma. Não é possível relatar a historia de R em toda a sua riqueza de detalhes, mas a partir do que citamos percebemos que é uma historia de muito sofrimento e busca de superação, e que há ainda muito a superar. R está se cuidando, se olhando no espelho, já emagreceu, se permite ser vista e o mais importante, ela se enxerga e está consciente de que é responsável por essa parte da historia de sua vida que tanto lhe marcou e que agora a faz olhar para frente.

No entanto, ainda há muito a se fazer prosseguindo no caminho sempre com o auxilio de profissionais ela conseguirá superar situações limites. Quanto mais consciência houver, tanto mais eu haverá; pois que, quanto mais ela cresce, mais cresce a vontade, e haverá tanto mais eu quanto maior for à vontade. Num homem sem vontade, o eu é inexistente; mas quanto maior for à vontade, maior será nele a consciência de si próprio. KIERKEGAARD, 1 988) Ser consciente de si permite caminha será nele a consciência de si próprio. (KIERKEGAARD, 1988) Ser consciente de si permite caminharmos para a autenticidade, pois, o “ser humano pode ser feliz quando escolhe ser autêntico e torna-se um Indivíduo que cria e recria a si mesmo” e esse rocesso é construído para que a felicidade e a autenticidade sejam conquistadas. LESSA s/d) R conquista sua felicidade quando decide aceitar e a expressar seus próprios pensamentos e sentimentos, e para concretizar sua transformação ela precisa “se auto-conhecer e se auto- determinar, transformando seus pensamentos e sentimentos em vontade própria e sua vontade em projetos de vida”. (LESSA, s/d) Seus projetos de vida ainda são idéias e vontades, mas para R esse é o primeiro de muitos passos que ela dará em direção ? conquista de sua autenticidade e conseqüentemente de sua felicidade.

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