Inclusгo social

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CMARIA TERESA EGLЙR MOANTOAN 2003 Editora Moderna COORDENAЗГO EDITORIAL Josй Carlos de Castro PREPARAЗГO DE TEXTO Leliis Assessoria Editorial COORDENAЗГO DE PRODUЗГO GRБFICA Fernando Dalto Degan COORDENAЗГO DE REVISГO Estevam Vieira Ledo Jr. REVISГO Jane dos Santos Coelho Taniguchi EDIЗГO DE ARTE/PROJETO GRБFICO Ricardo Posacchini CAPA Ricardo Postacchini Foto: CID DIAGRAMAЗГO Patricia de Souza Costa SAНDA DE FILMES Hйlio P. de Souza Filho, Mareio H. Kamoto COORDENAЗAO DE P Troque 6 IMPRESSГO E ACABA N: „ Svip view nent page Dados Internacionais (Cвmara Brasileira do Mantoan.

Maria Teresa Eglйr Wilson Aparecido Editora Ltda. icaзгo (CIP) Inclusгo escolar : o que й? por quк? como fazer? / Maria Teresa Eglйr Mantoan. — Sгo Paulo : Moderna , 2003. — (Coleзгo cotidiano escolar) Bibliografia. 1. Inclusгo escolar 2. Pedagogia l. Tнtulo. II. Sйrie. 03-4775 CDD-379. 263 Indices poro catбlogo sistemбtico: 1. Inclusгo escolar : Polнtica educacional : Educaзгo 379-263 ISBN 85-1 6-03903-X Reproduзao proibida. Art. 184 do Cуdigo Pйnale ei 9. 610 de 19 de fevereiro de 1996. Todos os direitos reservados Editora Moderna Ltda. NCLUSAO ESCOLAR: POR QUE? 7 A questгo da identidade X diferenзa 29 A questгo legal 34 A questгo das mudanзas 45 3. INCLUSГO ESCOLAR: COMO FAZER? 55 Recriar o modelo educativo 60 Reorganizar as escolas: aspectos pedagуgicos e administrativos 64 Ensinar a turma toda: sem exceзхes e exclusхes 70 E a atuaзгo do professor? 76 Preparar-se para ser um professor inclusivo? 78 CONSIDERAЗХES FINAIS 91 BIBLIOGRAFIA 93 Aprendemos quando resolvemos nossas dъvidas, superamos nossas incertezas e satisfazemos nossa curiosidade. APRESENTAЗГO Caro colega, Minha vida de professora comeзou cedo — aos 17 anos — e jб faz um bom tempo!

Passei por inъmeras experiкncias escolares. Dei aulas para crianзas, jovens, adultos, em escolas regulares e especiais. Hoje, estou no ensino universitбrio, como docente da Faculdade de Educaзгo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Leciono no curso de Pedagogia e nos cursos de mestrado e de doutorado em Educaзгo. Desde 1 996 coordeno um grupo de pesquisa na Unicamp, o Laboratуrio de Estudos e Pesquisas em Ensino e Diversidade (Leped), no qual oriento e desenvolvo trabalhos cientнficos. Gosto e sempre gostei do que faзo. Minha carreira й fruto do meu encanto pela educaзгo.

Considero-a uma expressгo de amor verdadeiro pelo outro, pois ducar й empenhar-se por fazer o outro crescer, desenvolver- se, evoluir. Neste pequeno livro, quero lhe falar de minhas idйias sobre o ensinar e o aprender, compartilhando o que vivi em minha longa caminhada educacional. Minha intenзгo nгo й de simplesmente expor o que enso e sim de dialogar comigo mesma e com vocк, leitor, mas, questхes, dъvidas e com vocк, leitor, sobre problemas, questхes, dъvidas que carrego no dia-a-dia de trabalho e de compartilhar bons momentos, sucessos e tambйm meus sonhos.

Sгo tantos os percalзos, mas tantas as alegrias, que vivemos nesta lida de escola… Agente deixa passar, mas nгo devia. Penso que sempre existe a possibilidade de as pessoas se transformarem, mudarem suas prбticas de vida, enxergarem de outros вngulos o mesmo objeto/situaзбo, conseguirem ultrapassar obstбculos que julgam intransponнveis, sentirem-se capazes de realizar o que tanto temiam, serem movidas por novas paixхes… Essa transformaзгo move o mundo, modifica-o, torna-o diferente, porque passamos a enxergб-lo e a vivк-lo de um outro modo, que vai atingi-lo concretamente e mudб-lo, ainda que aos poucos e parcialmente.

Como estгo hoje as nossas escolas? Todos sabemos ue elas estгo deixando a desejar e que й urgente fazer alguma coisa para redefini-las, de todas as formas poss[veis. E difнcil o dia-a-dia da sala de aula. Esse desafio que enfrentamos tem limite — o da crise educacional que vivemos, tanto pessoal como coletivamente, no ofнcio que exercemos. Em que nos apegamos para nos sustentar nesta crise? Serб que todos temos consciкncia dela? E do nosso papel, para mantк-la ou revertк-la? O que nos tem guiado para nгo perdermos o norte da nossa trajetуria?

Idйias e verdades nгo nos tiram inteiramente de dificuldades e muito menos sгo definitivas. Temos de nos habituar a reaprender constantemente com as nossas aзхes, Individuais ou coletivas: esse й um material infalнvel. E o que fazemos de nossos encontros formais e informais nas escolas para esse fim? Lamentamos nosso destino, o destino de nossos alunos, nosso destino, o destino de nossos alunos, ou aproveitamos esse tempo para saber para onde queremos ir, que novas medidas temos de adotar para romper o cerco do pessimismo e da Incerteza, do fracasso e da mesmice de nossa atividade profissional?

Quantas questхes jб de inicio! Seria a melhor maneira de se iniciar este livro? Por que nгo? Se tenho tanta ontade de entender e de encontrar/inventar uma maneira de penetrar o desconhecido de mim mesma e de cada um de meus leitores em busca de respostas sempre parciais, sem dъvida, mas que nos dгo forзa para continuar a buscar novas soluзхes, melhores condiзхes de ensinar. Nao sou das que diz: “Faзa o que eu digo, nгo faзa o que eu faзo”.

Esforзo-me por falar do que faзo e assumo as conseqькncias desse fazer. Estou convicta de que, na maioria das vezes, remo contra a marй educacional. Mas jб estou habituada, pois faz tempo que ensino. E do meu jeito! Percebi, e reluto em admitir, as medidas excludentes adotadas ela escola ao reagir аs diferenзas. De fato, essas medidas existem, persistem, insistem em se manter, apesar de todo o esforзo despendido para se demonstrar que as pessoas nao sгo “categorizбveis”.

Mais do que demonstrar, tenho procurado reconstruir, tijolo por tijolo, como uma obra de restauraзгo minuciosa e ciosa de sua importвncia, a organizaзгo do trabalho pedagуgico, das grandes linhas aos seus menores detalhes — ou seja, dos princнpios, dos valores e da estrutura macroeducacional аs atividades e iniciativas que brotam do cotidiano escolar. Estamos “ressign’ficando” o papel da escola com professores, ais, comunidades interessadas e instalando, no s 4 “ressignificando” o papel da escola com professores, pais, comunidades interessadas e instalando, no seu cotidiano, formas mais solidбrias e plurais de convivкncia. ? a escola que tem de mudar, e nao os alunos, para terem direito a ela! O direito ? educaзгo й indisponivel e, por ser um direito natural, nгo faзo acordos quando me proponho a lutar por uma escola para todos, sem discriminaзхes, sem ensino а parte para os mais e para os menos privilegiados. Meu objetivo й que as escolas sejam instituiзхes abertas incondicionalmente a todos os alunos e, ortanto, inclusivas.

Ambientes humanos de convivкncia e de aprendizado sгo plurais pela prуpria natureza e, assim sendo, a educaзгo escolar nao pode ser pensada nem realizada senгo a partir da idйia de uma formaзгo Integral do aluno — segundo suas capacidades e seus talentos e de um ensino participativo, solidбrio, acolhedor. A perspectiva de se formar uma nova geraзгo dentro de um projeto educacional inclusivo й fruto do exerc[cio diбrio da cooperaзгo e da fraternidade, do reconhecimento e do valor das diferenзas, o que nгo exclui a interaзгo com o universo do conhecimento em suas diferentes бreas.

Com tudo isso, quero dizer que uma escola para todos nгo desconhece os conteъdos acadкmicos, nгo menospreza o conhecimento cientifico, sistematizado, mas tambйm nгo se restringe a instruir os alunos, a “dominб-los” a todo o custo. Aprendemos a ensinar segundo a hegemonia e a primazia dos conteъdos acadкmicos e temos, naturalmente, muita dificuldade de nos desprendermos desse aprendizado, que nos refreia nos processos de ressignificaзгo de nosso papel, seja qual for o nнvel de ensino em que atuamos. Mas estamos, ve s OF de nosso papel, seja qual for o nivel de ensino em que atuamos.

Mas estamos, verdadeiramente, certos de que o nosso papel й esse mesmo: o de transmissores de um saber fechado e fragmentado, em tempos e disciplinas escolares que nos aprisionam nas grades curriculares? Serнamos tгo reduzidos a meros instrutores, que conduzem e norteiam a capacidade de conhecer de nossos alunos, transformando-os em seres passivos e acomodados a aprender o que definimos como verdade? Jб nos consultamos s. obre o nosso maior compromisso educacional, seja no nosso нntimo, seja no coletivo de nossas escolas, em nossas organizaзхes corporativas?

Essas questхes de fundo recisam ser mais expostas e debatidas, porque й fundamental que tenhamos bem claro o nosso sonho educacional, ou melhor, o que queremos atingir quando dedicamos horas, dias, anos de nossas vidas a ensinar. Estamos todos no mesmo barco e temos de assumir o comando e escolher a rota que mais diretamente nos pode levar ao que pretendemos. Essa escolha nгo й solitбria e so vai valer se somarmos nossas forзas аs de outros colegas, pais, educadores em geral, que estгo cientes de que as soluзхes coletivas sгo as mais acertadas e eficientes.

Nao esperemos que as respostas venham de fora — dos sistemas educacionais, as organizaзхes internacionais, dos bancos financiadores de projetos. Elas tolherгo nossa liberdade de conduzir o barco, desrespeitando nossa identidade nacional em todas as suas especificidades e, ainda mais, desconhecendo nossa capacidade de estabelecer essas rotas, que vгo se diferenciando em cada caminho que se traзa para se chegar а escola que sonhamos. Que nгo venham para nos transmitir suas experiкncias bem-suce 6 se chegar а escola que sonhamos.

Que nгo venham para nos transmitir suas experiкncias bem-sucedidas, mas que possam trabalhar conosco para conseguirmos realizar nossos desejos. Desde crianзa tenho minha concepзгo de escola. Sempre vislumbrei como ela seria, e em cada etapa de meus estudos ia acrescentando, modificando, aperfeiзoando o seu esboзo. Sofri muito nos bancos escolares, pela dificuldade de me adaptar а rigidez e аs incompreensхes de um ambiente que pensava deveria ser diferente.

Hoje, identifico-me com muitas crianзas, encontro-me no olhar desses alunos e, muitas vezes, surpreendo- me fugindo com eles para outros mundos, como eu fazia em meu tempo de estudante Voltando ao tema sobre o qual me comprometi a escrever e pelo qual tenho me empenhado nestes ъltimos anos de trabalho, ele erб apresentado (didaticamente? ) por meio de quatro questхes que sгo recorrentes em palestras, encontros, reuniхes das quais tenho participado, desde o inicio dos anos de 1990 atй os dias de hoje.

Quanto tempo e tantas dъvidas ! Pretendo responder, em trкs capнtulos: o que й inclusгo escolar, quais as razхes pelas quais ela tem sido proposta, quem sгo seus beneficiбrios, e como fazк-la acontecer nas salas de aula de todos os niveis de ensino. Muita pretensгo de minha parte? Quem sabe… Nгo sei se fiz a melhor escolha, mas assim espero. O fato й que nгo posso perder foco deste livro e tenho a tendкncia de pegar atalhos, de fazer meus zigue-zagues, meus contornos de pensamento.

Temos de saber aonde queremos chegar para encontrar um caminho, porque nгo existe o caminho, mas caminhos a escolher, decisхes a se tomar. E escolher й sempre correr riscos. Com carinho e admiraзгo. caminhos a escolher, decisхes a se tomar. E escolher й sempre correr nscos. Maria Teresa Eglйr Mantoan Campinas, setembro de 2003 1. INCLUSГO ESCOLAR: O QUE Й? Crise de paradigmas O mundo gira e, nestas voltas, vai mudando, e nestas mutaзхes, ora drбsticas ora nem tanto, vamos tambйm nos envolvendo convivendo com o novo, mesmo que nгo nos apercebamos disso.

Hб, contudo, os mais sensнveis, os que estгo de prontidгo, “plugados” nessas reviravoltas e que dгo os primeiros gritos de alarme, quando antevкem o novo, a necessidade do novo, a emergкncia do novo, a urgкncia de adotб-lo, para nгo sucumbir а morte, а degradaзгo do tempo, а decrepitude da vida. Esses pioneiros — as sentinelas do mundo — estгo sempre muito perto e nгo tкm multas saнdas para se esquivar do ataque frontal das novidades.

Sгo essas pessoas que despontam nos diferentes вmbitos das atividades humanas e que num mesmo omento comeзam a transgredir, a ultrapassar as fronteiras do conhecimento, dos costumes, das artes, inaugurando um novo cenбrio para as manifestaзхes e atividades humanas, a qualquer custo, porque tкm clareza do que estгo propondo e nao conseguem se esquivar ou se defender da forзa das concepзхes atualizadas. ocorre que, saibamos ou nгo, estamos sempre agindo, pensando, propondo, refazendo, aprimorando, retificando, excluindo, ampliando segundo paradigmas.

Conforme pensavam os gregos, os paradigmas podem ser definidos como modelos, exemplos abstratos que se materializam de modo mperfeito no mundo concreto. Podem tambйm ser entendidos, segundo uma concepзгo moderna, como um conjunto de regras, normas, crenзas, valores, princнpios que sгo partilhado moderna, como um conjunto de regras, normas, crenзas, valores, princнpios que sгo partilhados por um grupo em um dado momento histуrico e que norteiam o nosso comportamento, atй entrarem em crise, porque nгo nos satisfazem mais, nгo dгo mais conta dos problemas que temos de solucionar.

Assim Thomas Kuhn, em sua obra A Estrutura das Revoluзхes Cientнficas e outros pensadores, como Edgar Morin, em O Paradigma Perdido: A Natureza Humana, definem paradigma. lJma crise de paradigma й uma crise de concepзгo, de visгo de mundo e quando as mudanзas sгo mais radicais, temos as chamadas revoluзхes cientнficas. O perнodo em que se estabelecem as novas bases teуricas suscitadas pela mudanзa de paradigmas й bastante difнcil, pois caem por terra os fundamentos sobre os quais a ciкncia se assentava, sem que se finquem de todo os pilares que a sustentarгo daн por diante.

Sendo ou nгo uma mudanзa radical, toda crise de paradigma й cercada de muita incerteza, de inseguranзa, mas tambйm de muita liberdade e e ousadia para buscar outras alternativas, outras formas de interpretaзгo e de conhecimento que nos sustente e nos norteie para realizar a mudanзa. E o que estamos vivendo no momento. A escola se entupiu do formalismo da racionalidade e cindiu-se em modalidades de ensino, tipos de serviзo, grades curriculares, burocracia.

Uma ruptura de base em sua estrutura organizacional, como propхe a inclusгo, й uma saнda para que a escola possa fluir, novamente, espalhando sua aзгo formadora por todos os que dela participam. A inclusгo, portanto, implica mudanзa desse atual paradigma educacional, para que se encaixe no mapa da ducaзгo escolar que estamos retraзando. E inegбvel que os vel se encaixe no mapa da educaзгo escolar que estamos retraзando. E inegavel que os velhos paradigmas da modernidade estгo sendo contestados e que o conhecimento, matйria-prima da educaзгo escolar, estб passando por uma reinterpretaзбo.

As diferenзas culturais, sociais, йtnicas, religiosas, de gкnero, enfim, a diversidade humana estб sendo cada vez mais desvelada e destacada e й condiзгo imprescindнvel para se entender como aprendemos e como compreendemos o mundo e a nуs mesmos. Nosso modelo educacional mostra hб algum tempo inais de esgotamento, e nesse vazio de idйias, que acompanha a crise paradigmбtica, й que surge o momento oportuno das transformaзхes.

Um novo paradigma do conhecimento estб surgindo das Interfaces e das novas conexхes que se formam entre saberes outrora isolados e partidos e dos encontros da subjetividade humana com o cotidiano, o social, o cultural. Redes cada vez mais complexas de relaзхes, geradas pela velocidade das comunicaзхes e Informaзхes, estгo rompendo as fronteiras das disciplinas e estabelecendo novos marcos de compreensгo entre as pessoas e do mundo em que vivemos.

Diante dessas novidades, a escola nao pode continuar ignorando o que acontece ao seu redor nem anulando e marginalizando as diferenзas nos processos pelos quais forma e instrui os alunos. E muito menos desconhecer que aprender implica ser capaz de expressar, dos mais variados modos, o que sabemos, implica representar o mundo a partir de nossas origens, de nossos valores e sentimentos. O tecido da compreensгo nгo se trama apenas com os fios do conhecimento cientнfico. Como Santos (1995) nos aponta, a comunidade acadкmica nгo pode continuar a pensar que sу hб um ъnico modelo d 0 DF 66

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