Corpos de pasagem
privilegiado de experimentações sens veis, algo que possui uma certa inteligência que não se concentra apenas no cérebro. Foi preciso, ainda, libertá-lo de tradições e moralismos seculares, fornecer-lhe um status de prestígio, um lugar radioso, como se ele fosse uma alma. Desde então foi fácil considerá-lo uma instigante fronteira a ser vencida, explorada e controlada. ” (p. 70) 3. Economia do corpo ‘… a economia está bastante interessada na realidade corporal, sobretudo em nossos dias. Alguns economistas chamaram a atenção pa Corpos de pasagem Premium y telipesanta anpe,nR IO, 2012 pages cTrechos 1.
Sócrates e o peso do corpo “Por vezes, a necessidade de desacelerar e de viver lentamente é inconsciente, involuntária, ou considerada ‘dentro do ritmo normal’. O adjetivo lento resulta de comparações e é fruto de medidas, sempre culturalmente determinadas, historicamente sujeitas a modificações inusitadas. Quando a histórica conquista da velocidade cria novas lentidões como se estas fossem somente seus opostos, todo o peso material tende a ser percebido como mero obstáculo a ser ultrapassado, aniquilado. O peso do corpo é um deles.
Sócrates já havia sido porta-voz de to page um antigo sonho: es nos causa mil dificuld e ors to view nut*ge 2. Corpo fronteira “Foi necessário, igual atéria, pois “o corpo rpo num território para essa vocação do capitalismo atual de investir em ‘três esferas infinitas’: a gestão da sociedade, a reprodução da Terra (ar, água, vegetais) e a reprodução do humano. O interesse econômco que o corpo desperta deveria servir para esclarecer à sociedade quais são os grupos que ganham e quais são os que perdem com a transformação das diversas partes do humano em equivalentes gerais de riqueza. (p. 74) 4.
Dolly e o prazer sexual “Se com a pílula anticoncepcional conquistou-se o prazer sexual sem a reprodução da espécie, com as novas tecnologias conquista-se o direito de reproduzir sem prazer sexual. A inovação exposta na experiência que gerou a ovelha Dolly comprova que é possível dissociar inteiramente a sexualidade da reprodução. Mas a potência do gesto criador desta ovelha não repousa apenas sobre essa dissociação. Ela expressa, em grande medida, o quanto é flutuante o estatuto de seres vivos criados pelas biotecnologias: qual seria, por exemplo, o estatuto ntológico de toda a imensa população de seres transgênicos?
Quando um inseto é acoplado a um mecanismo industrializado, como e onde classificá-lo? ” (p. 93) 5. Corpo ignorante “A histórica divisão entre corpo e alma expressa, em grande medida, esta dificuldade, principalmente a partir da época moderna, quando o corpo passou a ser visto muito mais como aquilo que se tem do que aquilo que se é. Pelo menos nas sociedades ociden PAGFarl(F3 visto muito mais como aquilo que se tem do que aquilo que se é. Pelo menos nas sociedades ocidentais, esta separação desdobra- e em muitas outras, sempre afirmando que o pensamento é algo infinito e inteligente, enquanto o corpo é finito e ignorante. (p. 107) 6. Miséria sexual “Pelo menos desde Marx, é sabido o quanto o capitalismo fabrica miséria econômica, e desde Foucault sabe-se que a liberação do sexo e sua colocação no discurso produziu miseria sexual. Hoje, a produção da miséria do afeto por si implica, imediatamente, a escassez de afeto pelo outro. ” (p. 119) 7. O elogio da sutileza “Quando o cavalheirismo e a feminilidade se tornam palavras de ordem, a sutileza é a primeira a se esquivar, a se cobrir e vergonhas diante de suas sedutoras inflexões doravante consideradas patéticas.
Pois a sutileza inclui zonas de sombra, e estas não significam caos nem, necessariamente, silêncio. O gesto sutil é em geral potente justamente porque sua força não se explicita de uma só vez, como se se tratasse do último ou do melhor gesto. A sutileza não se concilia bem com tais romantismos fatalistas, nem com a necessidade de aproximar o começo do fim. Ela também não se adapta ao fascínio pelas palavras (ou pelos gestos), que se impõem como definitivos. De fato, a sutileza não é um fast-food. ” (p. 124) PAGF3ÜF3