Didática velhos e novos temas
José Carlos Libâneo DIDÁTICA Velhos e novos temas Edição do Autor Maio de 2002 2 INDICE Parte – Natureza e c 275 p O essencial da didáti sor (pu). A constituição do objeto de estudo da didática – contribuição das ciências da educação (p. 8). A unidade entre a didática, as metodologias especificas das disciplinas e a prática de ensino (p. 19). Parte II – Novos temas escolha dos livros escolares (p. 21 Didática e ética (em elaboração) da educação física: questões didáticas 3 APRESENTAÇAO Este livro reúne textos de conferências e palestras elaborados nos últimos 5 nos, alguns já publicados outros não. Inclui, também, textos escritos para aulas ou discussões em grupos mais restritos, alguns deles ainda em construção. Na verdade, não é ainda um livro, mas um esboço de livro a ser publicado oportunamente, que estou disponibilizando aos professores de Didática e das Metodologias específicas das matérias, e aos pesquisadores na área.
Minha idéia é de que os colegas interessados possam utilizar-se do livro para consultas pessoais ou, mesmo, em sala de aula, se DF 275 dos conteúdos da Didática. Alguns textos repetem idéias, mas isso será objeto de revisão para a ublicação definitiva. Mesmo os textos que estão completos precisam de uma revisão, talvez para enxugálos, talvez para atualizá-los (alguns têm mais de 5 anos). Espero que façam bom uso do material que reuni. À medida que produzindo os textos que faltam, avisarei aos colegas.
Agradeço à Aída Monteiro, atual coordenadora do GT — Didática da ANPEd, e ao Silas, que possibilitaram a divulgação destes textos na Internet. Goiânia, julho de 2002. 4 CAPÍTULO I O ESSENCIAL DA DIDÁTICA E O TRABALHO DE PROFESSOR Os alunos mais velhos comentam entre si: “Gosto dessa professora porque ela tem didática”. Os mais novos costumam dizer que com aquela professora eles gostam de aprender. Provavelmente, o que os alunos querem dizer é que essas professoras têm um modo acertado de dar aula, que ensinam bem, que com eles, de fato, aprendem.
Então, o que é ter didática? A didática pode ajudar os alunos a melhorarem seu aproveitamento escolar? O que uma professora precisa conhecer de didática, para que possa melhorar o seu trabalho docente? Acredito que a maioria do professorado tem como principal obietivo do seu 3 DF 275 aos alunos um bom ensino. Apesar disso, saberá ela fazer um bom ensino, de modo que s alunos aprendam melhor? Há diversos tipos de professores no ensino fundamental. Os mais tradicionais contentam-se em transmitir a matéria que está no livro didático.
Suas aulas são sempre iguais, o método de ensino é quase o mesmo para todas as materias, independentemente da idade e das características individuais e sociais dos alunos. Pode até ser que esse método de passar a matéria, dar exercícios e depois cobrar o conteudo numa prova, dê alguns bons resultados. O mais comum, no entanto, éo aluno memorizar o que o professor fala, decorar o livro didático e mecanlzar fórmulas, definições etc. Esse tipo de aprendizagem (vamos chamá-la de mecânica, repetitiva) não é duradoura.
Na verdade, aluno com uma aprendizagem de qualidade é aquele que desenvolve raciocínio próprio, que sabe lidar com os conceitos e faz relações entre um conceito e outro, que sabe aplicar o conhecimento em situações novas ou diferentes, seja na sala de aula seja fora da escola, que sabe explicar uma idéia com suas próprias palavras. Há professores tradicionais que sabem ensinar os alunos a aprender assim, mas a maioria deles não se dá conta de que a aprendizagem duradoura é aquela pela qual os alunos aprendem a lidar de orma independente com os conhecimentos.
Os professores que se iul 275 lizados (vamos chamá-los crianças, são mais amorosos. Essa forma de trabalho didático é, sem dúvida, bem mais acertado do que a tradicional. Entretanto, quase sempre acabam tendo um entendimento de aprendizagem parecido com o tradicional. Na hora de cobrar os resultados do processo de ensino, pedem a memorização, a repetição de fórmulas e definições. Mesmo utilizando técnicas ativas e respeitando mais o aluno, fica a atividade pela atividade.
Ou seja, muitos professores não sabem como ajudar o aluno a, através de ma atividade, elaborar de forma consciente e independente o conhecimento. Em outras palavras, as atividades que organiza para os alunos nao os levam a uma atividade mental, não levam os alunos a adquirirem métodos de pensamento, habilidades e capacidades mentais para poderem lidar de forma independente e criativa com os conhecimentos que vão assimilando. 5 Na perspectiva sócio-construtivista, o objetivo do ensino é o desenvolvimento das capacidades intelectuais e da subjetividade dos alunos através da assimilação consciente e ativa dos conteúdos.
O professor, na sala de aula, tiliza-se dos conteudos da matéria para ajudar os alunos a desenvolverem competências e habilidades de observar a realidade, perceber as propriedades e características do objeto de estudo, estabelecer relações entr ento e outro, adquirir S 275 situação de ensino e aprendizagem como uma atividade conjunta, compartilhada, do professor e dos alunos, como uma relação social entre professor e alunos frente ao saber escolar. Quer dizer: o aluno constrói, elabora, seus conhecimentos, seus métodos de estudo, sua afetividade, com a ajuda do professor.
O professor é aqui um parceiro mais experiente a conquista do conhecimento, interagindo com a experiência do aluno. O papel do ensino – e, portanto, do professor – é mediar a relação de conhecimento que o aluno trava com os objetos de conhecimento e consigo mesmo, para a construção de sua aprendizagem. O papel do ensino é possibilitar que o aluno desenvolva suas próprias capacidades para que ele mesmo realize as tarefas de aprendizagem e chegue a um resultado.
Em resumo, atitude sócio-construtivista sign•fica entender que a aprendizagem é resultado da relação ativa sujeito-objeto, sendo que a ação do sujeito sobre o objeto é socialmente mediada. Implica, portanto, o papel do professor enquanto portador de conhecimentos elaborados socialmente, e interações sociais entre os alunos. A sala de aula é o lugar compartilhamento e troca de significados entre o professor e os alunos e entre os alunos. Éo local da interlocução, de levantamento de questões, dúvidas, de desenvolver a capacidade da argumentação, do confronto de idéias. ? o lugar onde, com a ajuda indispensável do rofessor, o aluno aprende autonomia de pensament objetivos, conteúdos, métodos e formas organizativas da aula se relacionam entre si de modo a criar as condições e os modos de arantir aos alunos uma aprendizagem significativa. Ela ajuda o professor na direção e orientação das tarefas do ensino e da aprendizagem, fornecendo-lhe segurança profissional. Essa segurança ou competência profissional é muito importante, mas é insuficiente.
Além dos objetivos da disciplina, dos conteúdos, dos métodos e das formas de organização do ensino, é preciso que o professor tenha clareza das finalidades que tem em me nte na educação das crianças. A atividade docente tem a ver diretamente com o “para quê educar, pois a educação se realiza numa sociedade formada por grupos sociais ue têm uma visão distinta de finalidades educativas. Os grupos que detêm o poder político e econômico querem uma educação que forme pessoas submissas, que aceitem como natural a desigualdade social e o atuai sistema econômico.
Os grupos que se identificam com as necessidades e aspirações do povo querem uma educação que contribua para formar crianças e jovens capazes de compreender criticamente as realidades sociais e de se colocarem como sujeitos ativos na tarefa de construção de uma sociedade mais humana e mais igualitária. A Didática, portanto, trata dos objetivos, condições e meios de ealização do processo de ensino, ligando melos pedagógico-didáticos a objetivos sócio-políticos.
Não há técnica pedagógica sem uma concepção de homem e de sociedade, como não 275 com propósitos 6 claros sobre as finalidades do ensino na preparação dos alunos para a vida social: que objetivos mais amplos queremos atingir com o nosso trabalho, qual o significado social das m atéria que ensinamos, o que pretendemos fazer para que meus alunos reais e concretos possam tirar proveito da escola etc. As finalidades ou objetivos gerais que o professor deseja atingir vão orientar a seleção e rganização de conteúdos e métodos e das at ividades propostas aos alunos.
Essa função orientadora dos objetivos vai aparecer a cada aula, perpassando todo o ano letivo. Dissemos que a Didática cuida dos objetivos, condições e modos de realização do processo de ensino. Em que consiste o processo de ensino e aprendizagem? O principio básico que define esse processo é o seguinte: o núcleo da atividade docente é a relação ativa do aluno com a matéria de estudo, sob a direção do professor. O processo de ensino consiste de uma combinação adequada entre o papel de direção o professor e a atividade independente, autônoma e criativa do aluno.
O papel do professor, portanto é o de planejar, selecionar e organizar os conteúdos, programar tarefas, criar condições de estudo dentro da classe, incentivar os alunos, ou sela, o prof tividades de 8 DF 275 dizer, então, que o processo didático, é o conjunto de atividades do professor e dos alunos sob a direção do professor, visando ? assimilação ativa pelos alunos dos conhecimentos, habilidades e hábitos, atitudes, desenvolvendo suas capacidades e habilidades intelectuais.
Nessa concepção de didática, os conteúdos scolares e o desenvolvimento mental se relacionam reciprocamente, pois o progresso intelectual dos alunos e o desenvolvimento de suas capacidades mentais se verifica no decorrer da assimilação ativa dos conteúdos. Portanto, o enslno e a aprendizagem (estudo) se movem em torno dos conteúdos escolares visando o desenvolvimento do pensamento. Mas, qual é a dinâmica do processo de ensino? Como se garante o vínculo entre o ensino (professor) e a aprendizagem efetiva decorrente do encontro entre o aluno e a matéria?
A força impulsionadora do processo de ensino é um adequado ajuste entre os bjetivos/conteúdos/métodos organizados pelo professor e o nível de conhecimentos, experiências, requisitos prévios e desenvolvimento mental presentes no aluno. O movimento permanente que ocorre a cada aula consist e em que, por um lado, o professor propõe problemas, desafios, perguntas, relacionados com conteúdos significativos, instigantes e acessíveis.
Por outro lado, os alunos, ao assimilar consciente e ativamente a matéria mobilizam sua atividade mental e desenvolvem g DF 275 constante vai-e-vem entre conteúdos e problemas que são colocados e a percepção ativa e o aciocínio dos alunos. É isto que caracteriza a dinâmica da situação didática, numa perspectiva sócio-construtivista. Insistimos bastante na exigência didát ica de partir do nível de conhecimentos já alcançado, da capacidade atual de assimilação e do desenvolvimento mental do aluno.
Mas, atenção: não existe o aluno em geral, mas um aluno vivendo numa sociedade determinada, que faz parte de um grupo social e cultural determinado, sendo que essas circunstâncias interferem na sua capacidade de aprender, nos seus 7 valores e atitudes, na sua linguagem e suas motivações. Ou seja, experiencia sociocultural concreta dos alunos são o ponto de partida para a orientação da aprendizagem.
Professor que aspira ter uma boa didática necessita aprender a cada dia como lidar com a subjetividade dos alunos, sua linguagem, suas percepçoes, sua prática de vida. Sem essa postura, será incapaz de colocar problemas, desafios, perguntas relacionados com os conteúdos, condição para se conseguir uma aprendizagem significativa. Talvez o traço mais marcante de uma didática critico-social – numa perspectiva sócio-construtivista su erando o caráter somente instrumental da