Educação ambiental

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Pesquisa em Educação Ambiental, vol. 2, n. 1 – pp. 141-154, 2007 Educação para a Sustentabilidade: Implicações para o Curr[culo Escolar e para a Formação de Professores Ana Maria Freire Centro de Investigação em Educação Universidade de Lisboa, Portugal Resumo: Na sociedade actual, começamos a estar cada vez mais conscientes da necessidade de construir um futuro sustentável. A educação desempe sentindo-se a necessi OF18 nível da formação de of. _,_ comunicação, discut desenvolvimento sus fundamental, timento a – igação_ Nesta entabilidade e de curriculares para o nsino da temática, a formação de professores e a Investigação educacional que melhor se coaduna com esta dimensão. Com efeito, a educação para a sustentabilidade implica perspectivar uma nova orientação para a prática lectiva, enfatizando situaçóes de aprendizagem activas, experienciais, colaborativas e dirigidas para a resolução de problemas a nível local, regional e global. Isto requer um novo modo de pensar o ensino e a aprendizagem que, certamente, influenciará a formação de professores.

Palavras-chave: Sustentabilidade. Desenvolvimento Sustentável. Educação para a Sustentabilidade. Formação de Professores. Abstract: Society needs that we think about a sustainable future. So, education for sustainability must be a goal with investment concerning teacher education. This paper discusses sustanability and sustainable development, guidelines for tea teaching this thematic, teacher education and educational research. Education for sustainability implies a new orientation or teaching with more pupil-centred learning situations and with problem-based learning at local, regional and global level.

Pesquisa em Educaçao Ambiental, vol. 2 n. 1 , -pp. 141-154, 2007 Keywords: Sustainability. Sustainable Sustainability. Teacher Education. Development. Education Neste artigo, que serve de suporte para o Grupo de Discussão e Pesquisa (GDP), pretende-se colocar questões que podem dirigir a discussão sobre três temas de interesse actual para a educação para a sustentabilidade. Primeiro, apresenta-se o significado de sustentabilidade e de desenvolvimento sustentável.

Em segundo lugar, reflecte-se sobre as finalidades e estratégias de ensino subjacentes à educação para a sustentabilidade e apresentam-se as orientações curriculares para o ensino da temática que foram definidas no meu pais. Em terceiro lugar, discute-se a formação de professores e a investigação educacional que melhor se coadunam com esta dimensão. Com efeito, a educação para a sustentabilidade implica perspectivar uma nova orientação para a prática lectiva, enfatizando situações de aprendizagem activas, experienciais, colaborativas e dirigidas para a resolução de problemas a nível local, re ionale lobal.

Isto requer um novo modo de pensar o ensino em que, certamente, 2 8 reflexão em acção enfatizam um modelo onde os professores são levados a pensar sobre problemas da sua prática, a prever uma olução, a implementá-la, a reflectir sobre acção e a introduzir mudanças, envolvendo-se assim no ciclo de acção – reflexão – acção repensadas (SAGOR, 2005). Esta pode ser uma estratégia que promove a aprendizagem ao longo da vida e que está em sintonia com a educação para a sustentabilidade.

Significado de Sustentabilidade e de Desenvolvimento Sustentável Na sociedade actual, começamos a estar cada vez mais conscientes da necessidade de construir um futuro sustentável. Discute-se hoje o significado de sustentabilidade e as características que lhe estão subjacentes, não havendo entre os peritos um consenso cerca do seu significado, embora se reconheça o 142 pesquisa em Educaçao Ambiental, vol. 2, n. I – pp. 141-154, 2007 imperativo de práticas suportadas por uma acção mais informada e preocupada com o equilíbrio entre os sistemas ambientais, economicos e sociais, a nível planetário.

A Conferência do Rio de Janeiro de 1992 veio chamar a atenção para a problemática da educação de modo a traduzir a perspectiva de sustentabilidade e de relacionar o nosso bem-estar económico com as tradições culturais e o respeito pela Terra e seus recursos. Contudo, para atingir estas finalidades, algo deve mudar, quer a nível urricular, quer a nível das práticas, tornando-se, para tal, necessário uma transformação do nosso modo de pensar e de agir no quotidiano escolar.

A educação desempenha, por isso, um papel fundamental, sentindose a necessidade de um maior investimento a nível da formação de pr 30F papel fundamental, sentindose a necessidade de um maior investimento a nível da formação de professores e da investigação. Pretende-se definir sustentabilidade e desenvolvimento sustentável, mas as dificuldades surgem porque estes conceitos constituem tanto um modo de pensar acerca das coisas como conteúdo do nosso pensamento.

Zaccai (2002) considera que as expressões que definem desenvolvimento sustentável (DS) são relativamente consensuais, mas não fornecem os critérios necessários para realizar uma avaliação. Estabelecem condições para o futuro, a necessidade de se considerar o ambiente natural e de integrar de um modo equilibrado as dimensões económicas, sociais e ambientais. De acordo com Wheeler (2000), três sistemas são tidos em conta quando descrevemos desenvolvimento sustentavel: económico, social e ambiental, cada um integrando os seus subsistemas e, por isso, podemos falar sobre sistema de ideias nter-relacionadas.

Porém, cada um de nós pode observar, interpretar e comunicar o seu ponto de vista de modo diferente dependendo dos seus conhecimentos, interesses e valores. A emergência desta diversidade de posições conduz a múltiplas perspectivas sobre desenvolvimento global e exige que se pense holisticamente. Gostaria de começar os trabalhos neste GDP por uma actividade prática, “Esgotar ou Sustentar”, adaptada de Rizzi (2002) (Apêndice 1), para discutir o significado de sustentabilidade e de desenvolvimento sustentável. 143 Actividade Prática Formar Grupos de 4 elementos. Explicar as regras do jogo.

Distribuir o guião 1 (Apêndi AGE 4 OF regras do jogo. Distribuir o guião 1 (Apêndice 1) e o material necessário. Tendemos a dividir o conceito de sustentabilidade em três partes, pensando que, com base no conhecimento de cada uma, ambiente, economia e sociedade, poderemos atingir o todo. De acordo com Wheeler (2000), esta estratégia poderá incutir a ideia de que sustentabilidade depende de três campos distintos e não permitir que se adquira uma ideia global. Por isso, o autor sugere que se integre os três campos e se pense em cinco temas transversais que nos permitem adquirir uma ideia mais global: i. . iii. iv. v. Pensar sobre o futuro; Criar comunidades sustentáveis; Cuidar dos recursos naturais; Projectar economia sustentável; Globalização. Pensar sobre o futuro. Com efeito, sustentabilidade e desenvolvimento sustentável estão indissociavelmente ligados ao futuro. As escolhas que fazemos hoje para melhorar as condições de vida para nós e para os nossos descendentes afectam o modo de viver futuro. Vou dar um exemplo. Este ano em Portugal, estamos a viver uma grande crise, com falta de água em virtude de não ter chovido durante o Inverno e de a água não ter sido reposta nas nossas barragens.

Precisamos de água para o nosso consumo doméstico, para os nossos jardins, para os nossos campos de golfe, para as nossas fábricas, para a nossa agricultura e para a nossa pecuária. Onde vamos buscar a água? Qual é a primeira prioridade? Quem decide? Qual é a legitimidade do decisor? Que papel cabe a cada um dos cidadãos na decisão? Se cada um dos agricultores accionar os furos subterrâneos para retirar a água que temos no presente a fim de responder à crise a subterrâneos para retirar a água que temos no presente a fim de responder à crise actual, não estará a hipotecar o futuro?

Será que as perspectivas individualistas se podem sobrepor às colectivas? Sustentabilidade requer que se pense no futuro e nas consequências das nossas acções de hoje no bem-estar futuro de 144 todos. Requer que o individualismo seja substituído por práticas mais solidárias, implicando, por isso, uma educação para os valores. Criar comunidades sustentáveis. É importante nos dias de hoje projectar sociedades mais sustentáveis, onde os interesses da comunidade se sobreponham aos interesses individuais. Um bom projecto necessita acautelar as questões ambientais, as questões sociais e nao descuidar das questões conómicas.

Contudo, esta prática parece difícil de implementar. Há sempre uma diversidade de interesses que devem ser acautelados. Vou dar um exemplo do meu país. Há cerca de IO anos, a barragem de Foz Côa foi mandada suspender pelo poder político por se terem encontrado figuras rupestres que evidenciavam que Portugal tinha sido habitado por povos muito antigos. Vieram especialistas de toda a Europa e confirmaram aquilo que os nossos arqueólogos tinham concluído. Terá sido a melhor decisão? Como proteger as figuras rupestres e ajudar a desenvolver a população local?

O estado gastou dinheiro, s obras foram paradas, não houve retenção de água ou a construção da central hidroeléctrica que permitia obter energia eléctrica e as figuras não foram exploradas. O que fazer para tornar esta cidade do interior sus 6 OF figuras não foram exploradas. O que fazer para tornar esta cidade do interior sustentável? Desenvolver o turismo para permitir observar as figuras e compensar a falta de recursos, criando outros pólos de trabalho? Quem toma a iniciativa? As pessoas da cidade? O poder político? Quem investe?

Como promover um turismo sustentável? Cuidar dos recursos naturais. Esta ideia onstitui o ponto fundamental de uma sociedade sustentável. Se nós gastarmos hoje tudo, nao estaremos a deixar para a geração futura. Quero dar outro exemplo do meu pais. No tempo dos romanos, existia uma pequena cidade nas margens do rio Guadiana que faz fronteira com a Espanha, na Andaluzia, que se chama Mértola. Nessa região, abundava o ouro e a prata e cobre, em céu aberto. As galeras romanas subiam o rio até Mértola e carregaram o precioso metal para Roma (nos séculos II e III DC).

Esta cidade foi depois cidade dos mouros e desde o século XIII (1243) integra o território português. A nossa história onta as riquezas desta cidade que dista 100 km do mar e que está para além das serranias. É interessante do ponto de vista arqueológico, pólo de encontro de culturas, mas as riquezas do passado nunca puderam ser repostas. Todavia, hoje 145 Pesquisa em Educação Ambiental, vol. 2, n. 1 — pp. 141-154, 2007 o turismo permite-nos reconstruir a riqueza da cidade e encontrar postos de trabalho que possibilitam uma vida sustentável para todos.

Esgotamos hoje os nossos recursos a um ritmo superior ? sua reposição, correndo o risco de não os legar para as gerações vindouras. Será legítima esta nossa actuação? Que políticas evem ser preconizadas? gerações vindouras. Será legitima esta nossa actuação? Que políticas devem ser preconizadas? Sustentabilidade e desenvolvimento sustentável requerem que se equacione este problema tao visível nos dias de hoje quando não acautelamos a velocidade de reposição dos recursos. O que legamos? Quem tem a responsabilidade? Como a exercer? Como influenciar as políticas? Qual o papel da Educação?

Desenvolver Economia Sustentável. O desenvolvimento de uma economia sustentável constitui um desafio nos dias de hoje. Para além de considerar somente o capital económico, que inclui a troca de bens, há que tender aos capitais intelectual, natural, social e espiritual. É, pois, através da consideração destas vertentes e de um atendimento a todos eles que a economia se desenvolve numa maneira sustentável. A economia sustentável requer que os patrões não retirem tudo para si mas que atendam aos recursos naturais e intelectuais, à qualidade de vida dos seus trabalhadores, do ponto de vista social e espiritual.

Na Europa, a Estratégia de Lisboa em 1999 juntou o pilar ambiental ao social e ao económico. Como coordenar? Quem? A que nível? Qual o peso da educação? Globalização. Nos nossos dias, interessa saber como as acções ue nós desenvolvemos na nossa pequena comunidade afectam localmente e globalmente. Globalização constitui um campo de acção que começa a existir ao nosso redor, que influencia a nossa maneira de viver e que nos faz sentir indefesos e sem poder.

E, por isso, necessário actuar a nível do sistema educativo para ajudar os alunos a compreender que a nossa actuação local tem influência global, a reconhecer o impacto da globalização nas nossas vidas e a resistir aos seus impactos. Os efeitos da gl 80F o impacto da globalização nas nossas vidas e a resistir aos seus impactos. Os efeitos da globalização estão a fazer-se sentir no eu país com a deslocalização das empresas para outras regiões e o desemprego a subir entre aqueles cujas competências se situam a nível do fazer. ?, por isso, necessário investir a nivel do capital intelectual e criar a necessidade do empreendedorismo. De acordo com Wheeler (2000), isto requer uma profunda compreensão dos sistemas económicos, sociais e ambientais, o reconhecimento da interl 46 relação entre estes sistemas num mundo sustentável e o respeito pela diversidade de pontos de vista e de interpretações numa sociedade complexa, onde se cruzam indivíduos com valores eligiosos, raciais, éticos e intergeracionais distintos. ? uma tarefa ciclópica para os educadores deste início do século XXI. Educação para a Sustentabilidade Nos dias de hoje, nao podemos pensar numa comunidade sustentável se não se actuar a nivel da educação e, por isso, tal atitude constitui um imperativo. A UNESCO, a ONU e todos os organismos mundiais estão a apelar nesse sentido. Reorientar a educação em direcção ao desenvolvimento sustentável requer um novo modo de pensar.

O capítulo 36 da Agenda 21 (UNESCO, 2002) apela a que se considere a educação como um processo através do qual todos s seres humanos e sociedades podem alcançar o seu potencial mais elevado. Educação para o desenvolvimento sustentável está a emergir como um conceito dinâmico que engloba uma nova perspectiva de educação que procura integrar todas as pessoas de modo a le dinâmico que engloba uma nova perspectiva de educação que procura integrar todas as pessoas de modo a levar a assumir a responsabilidade de criar um futuro sustentável.

Torna-se, por isso, necessário educar para a sustentabilidade e a Ciência constitui o veículo essencial. Na realidade, a ciência para todos e o movimento da literacia cientifica começaram, a partir dos anos 0, a emergir como um imperativo em diferentes países (DEBOER, 1991 ; FENSHAM, 2000). Ainda que todos concordem sobre a necessidade de se ensinar ciência a todos, independentemente da nacionalidade, do género, das origens culturais e das circunstâncias socioeconomicas, existem diversas orientações e dependem dos aspectos que se valorizam.

De30er (2000) considera que o mais importante é encontrar um equilibno entre as várias dimensões da ciência, substantiva, sintáctica, axiológica, histórica, sociológica e política. Assim, um ensino de ciências para todos que englobe as diferentes dimensões da ciência e que onsidere a necessidade da educação para a sustentabilidade constitui uma recomendação da UNESCO (2002).

Em Portugal, a reorganização curricular que ocorreu nos anos 2001 e 2002 proporcionou a junção das Ciências Naturais e 147 das Ciências Físico-Químicas, que se constituíram nas Ciências Físicas e Naturais e que podem ser leccionadas colaborativamente pelos professores das duas áreas disciplinares. Assim, surgiram as Orientações Curriculares (OCS) para os alunos do 30 ciclo (70, 80 e 90 anos) da escolaridade obrigatória (GALVÃO et al, 2002). AS OCS integram qu 0 DF 18

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