Estruturalismo
obra Implica seu desligamento da dimensão histórica. Logo, a verdadeira preocupação de uma história literária de feição estrutural deveria se caracterizar pelo exame da evolução das propriedades do discurso literário, e nao exatamente pelo exame das obras em si. Por causa de afirmações desse tipo é que Terry Eagleton identifica, em tom pejorativo, o método estrutural com o idealismo, afirmando que o resultado de seus trabalhos não passa de mais uma manifestação da C]doutrina idealista clássica[::], segundo a qual o mundo é constituído pela consciência humana, não o contrário.
De fato, o estruturalismo jamais se submeteu ao materialismo empirista. Roland Barthes afirma, na Introdução à análise estrutural da narrativa (1 966), que não seria necessário investigar todas as narrativas do mundo para chegar à essência do discurso narrativo. Bastava o conhecimento de um número considerável de exemplos para obter as regras segundo as quais se articulam as demais narrativas. Logo, o estruturalismo desde o inicio adotou o método dedutivo de conhecimento, e não o indutivo.
Mesmo assim, não se pode desconsiderar o asto levantamento e o exame concreto de inúmeras narrativas folclóricas levados a efeito pelo formalista russo Vladimir Propp, um dos principais antecedentes do estruturalismo francês, para o estabelecimento das constantes fundamentais do conto popular em seu Morfologia do conto maravilhoso (1928). 36 CULT – outubro/98 Diga-se o mesmo com relação às pesquisas do antropólogo Lévi-Strauss, que, antes de formular sua gramática do discurso mitológico, passou anos estudando os mitos i 2 -lal Studia mitológico, passou anos estudando os mitos indígenas de diversos países, incluindo os do Brasil.
Propp chamou funções as unidades narrativas recorrentes nos contos populares, assim como LéviStrauss denominou mitemas as sequências matriciais dos mitos indígenas. Roland Barthes desenvolveu as pesquisas de Propp, demonstrando que um conjunto de funções forma um núcleo O antropólogo Lévi-Strauss passou anos estudando os mitos indígenas de diversos países — incluindo os do Brasil — antes de formular sua gramática do discurso mitológico narrativo. ela importância e pela extensão dessas unidades, elas recebem o nome de funções cardinais, as quais se unem ela mediação de unidades menores chamadas catálises. Compreendidos entre as funções distribucionais, os núcleos formam o sintagma narrativo, numa sucessão metonímica de aproximação e distensão horizontal e seqüencial do relato, processo em que predomina uma relação de causa e efeito. Além dessas sequências narrativas que operam na horizontalidade do texto, existem as funções integrativas, que trabalham em sentido vertical, semantizando o sintagma narrativo: os Índices.
Correlatos do procedimento metafórico, os índices são unidades que não ontribuem para o desenvolvimento linear da trama, mas para a caracterização das personagens, dos ambientes e dos próprios núcleos narrativos. Há ações que integram a unidade da narrativa: por serem essenciais, a ausência delas produz uma lacuna no relato; essas sãos as funções cardinais. Existem outras, cuja ausência 80F 12 no relato; essas sãos as funções cardinais.
Existem outras, cuja ausência não prejudica a unidade da narrativa; a função delas é agenciar um significado geral para o texto ou ilustrar o tipo de ação que predominará no relato. Veja-se um exemplo e ação indicial em O guarani, de José de Alencar: o fato de peri subjugar uma onça no início do romance não possui nenhuma conseqüência no desenvolvimento da fábula. Sua função é apenas revelar a força e a astúcia do índio, o que terá repercussão no final do romance, quando, no momento critico da enchente, o herói arranca com os braços uma palmeira secular, com a qual improvisa uma jangada e salva Cecília.
Essas seqüências, aparentemente semelhantes, possuem natureza distinta: a primeira é distribucional, compõe-se de núcleos; a segunda é integrativa, constituise num índice. Conforme Todorov, as condições essenciais para que uma poética seja estrutural são: recusa da descrição concreta das obras, eleição de organizações abstratas anteriores à sua manifestação em textos individuais, a correta noção de sistema, a condução da análise até as unidades elementares do discurso e, por fim, a escolha explícita dos processos.
Considere-se em particular a noção de que a poética deve se empenhar na decomposição do discurso literário até suas menores unidades. Do ponto de vista prático, ao menos no que diz respeito ao ensino da literatura, esta última noção tem-se ostrado útil, na medida em que facilita a apresentação imediata de qualquer romance, sem necessariamente afastá-lo das abstrações da estrutura do discurso narrativo. Tome-se mais um exe necessariamente Tome-se mais um exemplo de Alencar: Iracema.
Quem de fato leu esse livro sabe que se trata de uma narrativa com diversos movimentos na fábula. Do ponto de vista estrutural, talvez pudesse ser descrito da seguinte forma: chega ao continente americano um explorador europeu, que se une a uma virgem com funções sagradas em sua tribo. Essa união quebra um tabu. A moça paga com a morte. Deixa, no entanto, um filho mestiço, que implanta a civilização européia na região.
Aplicado ao ensino da literatura, esse tipo de descrição demonstra uma possível aplicação da narratologia ao exame particular das obras, visto que a descrição do discurso literário propriamente dito não seguraria todos os alunos por muito tempo em nenhuma aula de literatura no Brasil. Uma das grandes limitações do método estrutural é que ele não consegue solucionar o problema do valor artístico, pois a caracterização do discurso literário ou a descrição strutural de uma obra não explicam as razões de sua beleza.
O próprio Todorov reconhece os limites do método estrutural diante do problema do estético, embora afirme também que nenhum sistema anterior o resolveu satisfatoriamente. Hegel, por exemplo, considerava que a perspectiva legitimadora do belo era sempre a do príncipe. Acrescente-se a isso a conhecida idéia de que quase toda a arte renascentista se modelou pelo critério dos papas ou dos grandes mecenas, a cujo gosto C] um gosto sistêmico os artistas se Integravam. Em Portugal, O Uraguay, de Basilio da Gama, articulou-se conform 0 DF 12