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O renascimento literário atingiu seu ápice, em Portugal, durante o periodo conhecido como Classicismo, entre 1527 e 1580. O marco de seu início é o retorno a Portugal do poeta Sá de Miranda, que passara anos estudando na Itália, de onde traz as inovações dos poetas do Renascimento italiano, como o verso decassílabo e as posturas amorosas do Doce stil nouvo. Mas foi Luís de Camões, cuja vida se estende exatamente durante este período, quem aperfeiçoou, na Língua Portuguesa, as novas técnicas poéticas, criando poemas líricos que rivalizam em perfeição formal com os de Petrarca e um poema épico, Os

Lusíadas, que, à imitação de Homero e Virgílio, traduz em verso toda a história do po tomando, como moti ors marítimo para as indi p: • Sv. ipe to para cantar a história des conquistas, do caminho m 1497/99. Os Lusíadas, Camões foi buscar na antiguidade cl ssica a orma adequada: o poema épico, gênero poético narrativo e grandiloqüente, desenvolvido pelos poetas da antiguidade para cantar a história de todo um povo. A Ilíada e a Odisséia, atribuídas a Homero (Século VIII a. C), através da narração de episódios da Guerra de Tróia, contam as lendas e a história heróica do povo grego.

Já a Eneida, de Virgílio (71 a 19 a. C. ), através das aventuras do herói Enéas, apresenta a história da fundação de Roma e as origens do povo romano. Ao compor o maior monumento poético Swlpe to vlew next page poético da Língua Portuguesa, Os Lusíadas, publicado em 1572, Camões copia a estrutura narrativa da Odisséia de Homero, assim como versos da Eneida de Virgílio. Utiliza a estrofação em Oitava Rima, inventada pelo taliano Ariosto, que consiste em estrofes de oito versos, rimadas sempre da mesma forma: abababcc. A epopéia se compõe de 1102 dessas estrofes, ou 881 6 versos, odos decassílabos, divididos em 10 cantos.

Episódio de Inês de Castro (Canto III, estrofes 118 a 135) Passada esta tão próspera vitória, Tornado Afonso à Lusitana Terra, A se lograr da paz com tanta glória Quanta soube ganhar na dura guerra, O caso triste e dino da memória, Que do sepulcro os homens desenterra, Aconteceu da mísera e mesquinha Que despois de ser morta foi Rainha. O rei Afonso voltou a Portugal, depois da vitória contra os mouros, esperando obter tanta glória na paz quanto obtivera na guerra. Então aconteceu o triste e memorável caso da esventurada que foi rainha depois de ser morta, assassinada.

Tu, só tu, puro Amor, com força crua, Que os corações humanos tanto obriga, Deste causa à molesta morte sua, Como se fora pérfida inimiga. Se dizem, fero Amor, que a sede tua Nem com lágrimas tristes se mitiga, É porque queres, áspero e tirano, Tuas aras banhar em sangue humano. O Amor, somente ele, foi quem causou a morte de Inês, como se ela fosse uma inimiga. mor feroz, cruel, não se PAGO ri’ s lágrimas, com a tristeza, mas exige, como um deus severo e despótico, banhar seus altares (“aras”) em sangue humano: equer sacrifícios humanos. A palavra “pérfido”, na obra, geralmente se refere aos Mouros inimigos.

Nesse verso, parece indicar que Inês foi morta com a mesma crueldade que se usava contra eles. Estavas, linda Inês, posta em sossego, De teus anos colhendo doce fruito, Naquele engano da alma, ledo e cego, Que a Fortuna não deixa durar muito, Nos saudosos campos do Mondego, De teus fermosos olhos nunca enxuito, Aos montes insinando e às ervinhas O nome que no peito escrito tinhas. Inês estava em Coimbra, sossegada, usufruindo (“colhendo doce fruito”) da felicidade ilusória (“engano da alma, ledo e cego”) e reve (“Que a Fortuna não deixa durar muito”) da juventude.

Nos campos, com os belos olhos úmidos de lágrimas de amor, repetia o nome do seu amado aos montes (para cma, para o alto) e às ervas (para baixo, para o chão). As formas “fruito” e “enxuito” são variantes de “fruto” e “enxuto”. Durante muito tempo, enquanto a Língua Portuguesa se solidificava, essas variantes foram utilizadas simultaneamente. A Língua Portuguesa acabou por definir “fruto” e “enxuto” como a forma culta. Na época de Cambes, palavras como despois, fruto, enxuito e escuito eram as mais usadas.

Ele, então, prefere estas formas ara se adequar à estrutura poética de Os Lusíadas – a oitava rima formada por versos decassílabos (heróicos ou sáficos), e respeitar o sistema rítmico dos versos – abababcc. Port versos decassílabos (heróicos ou sáficos), e respeitar o sistema rítmico dos versos – abababcc. Portanto, fruito (verso 2) e enxuito (verso 6) são as rimas cabíveis a muito (verso 4). Estas formas arcalcas ainda são utillzadas em muitas regiões. Do teu Príncipe ali te respondiam As lembranças que na alma lhe moravam, Que sempre ante seus olhos te traziam, Quando dos teus fermosos se apartavam;

De noite, em doces sonhos que mentiam, De dia, em pensamentos que voavam; E quanto, enfim, cuidava e quanto via Eram tudo memórias de alegria. As lembranças do Príncipe respondiam lhe, em pensamentos e em sonhos, quando ele estava longe. Isto é, a memória do amado fazia com que Inês conversasse com ele, quando este estava ausente. Ambos não se esqueciam um do outro e se “comunicavam” através da memória, em forma de pensamentos e sonhos. Assim, tudo quanto faziam ou viam os fazia felizes, porque lembravam dos respectivos amados. Esta estrofe é bastante ambígua.

As lembranças do Príncipe inham à mente de Inês como resposta aos seus cuidados amorosos; por outro lado, as mesmas lembranças, agora de Inês, existiam (moravam) na alma do príncipe quando estava longe da amada. Os sonhos e os pensamentos dos versos 5 e 6, dois modos de lembranças, pertencem indistintamente ao amado e ? amada. Eo sujeito de cuidava e via, no verso 7, tanto pode ser ela quanto o Príncipe. De outras belas senhoras e Princesas Os desejados tálamos enjeita, Que tudo, enfim, tu, puro amor, desprezas, Quando um gesto suave te sua tálamos enjeita, Quando um gesto suave te sujeita.

Vendo estas namoradas estranhezas, O velho pai sesudo, que respeita O murmurar do povo e a fantasia Do filho, que casar-se não queria, O Príncipe se recusa a casar com outras mulheres (tálamo: casamento, leito conjugal) porque o amor despreza, rejeita tudo que não seja o rosto do amado (gesto significa rosto, semblante) a quem está sujeito. Ao ver este estranho amor, este comportamento estranho de não querer se casar, o pai sisudo (sério, grave) atende ao murmurar do povo e… Tirar Inês ao mundo determina, Por lhe tirar o filho que tem preso, Crendo c’o sangue só da morte ladina Matar do firme amor o fogo aceso.

Que furor consentiu que a espada fina, Que pôde sustentar o grande peso Do furor Mauro, fosse alevantada Contra hüa fraca dama delicada? decide matar Inês, para que o filho seja libertado do seu amor. O pai acredita que só o sangue da morte apagará o fogo do amor. Que fúria foi essa que fez com que a espada cortante que afrontara o poder dos Mouros fosse levantada contra uma frágil e indefesa mulher? Traziam-na os horríficos algozes Ante o Rei, já movido a piedade; Mas o povo, com falsas e ferozes Razões, à morte crua o persuade. Ela, com tristes e piedosas vozes Saídas só da mágoa e saud

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