Interdisciplinaridade no curso de ciências contábeis

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INTERDISCIPLINARIDADE NO CURSO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS: OS DESAFIOS AS POSSIBILIDADES DE APRENDER ENSINAR A PARTIR DE UMA EXPERIÊNCIA Edvalda Araújo Leal Professora da Faculdade de Ciências Contábeis da UFIJ Doutoranda em Administração na FGV Rua São Paulo, 1355 apto. 202 – Bairro – Brasil – Uberlândia-MG CEP – 38. 400-656 fone: (34)32276257 edvalda@facic. ufu. br; edvalda. leal@bol. com. br Cíntia Rodrigues Medeiros de Oliveira Professora da Faculd Doutoranda em Adm no – Bairro – Santa M cíntia@fagen. ufu. r de Ciências Contábei str ica – -M Negócios da UFIJ o Naves de Ávila, s/ ne: (34)3239-41 OO fessor da Faculdade Ciências Contábeis na FEA/USP Rua Profa. Maria Alves Castilho, 1. 580 – Bairro Santa Mônica – CEP: 38. 408-240 – Uberlândia – MG/ fone: (34) 9123-2285 gilbertojm@facic. ufu. br; gilbertojm 1 @gmail. com RESUMO A interdisciplinaridade tem sido amplamente discutida na contemporaneidade como forma de minimizar a fragmentação que caracteriza a construção do conhecimento e o próprio ensino na atualidade.

Este estudo teve como propósito identificar desafios e possibilidades de aprender e ensinar com a prática interdisciplinar a partir da experiência dos estudantes e docentes do Curso de Ciênclas Contábeis da universidade Federal de Uberlândia no projeto “Práticas Interdisciplinares”. A pesquisa foi desenvolvida por meio de um estudo de caso. Ao analisar os resultados, foi verificado que os discentes apontam como de todas as etapas; a capacidade de trabalhar em equipe; a capacidade de falar em público; a realização de pesquisas; a comunicação e aplicação prática dos conteúdos.

Os docentes apontam como principais desafios e possibilidades. uma maior integração entre os professores; uma maior capacidade de trabalho em grupo por parte dos discentes; o fortalecimento da relação teoria-prática; o fortalecimento da relação nsinopesquisa; a formação de professores para a prática da interdisciplinaridade; e a valorização de disciplinas que não fazem parte no núcleo profissional da contabilidade. Palavras-chave: Interdisciplinaridade. Ensino.

Contabilidade. 2 1 INTRODUÇÃO Na sociedade contemporânea e no mundo dos negócios, em particular, os processos de mudança são cada vez mais complexos e abrangentes, tanto no que diz respeito à localização geográfica onde eles acontecem, quanto à sua natureza ou dimensão. As empresas que atuam em âmbito global fazem tentativas para romper com o modelo de gestão egemônico e passam a buscar novos modelos de negócios que possam responder às incertezas que abatem sobre elas.

Essas incertezas demandam das empresas o emprego de novas tecnologias e de novas práticas, além de um pensamento sobre a forma de gerar e disseminar o conhecimento sem as fronteiras impostas pelo reducionismo que a fragmentação da ciência a ele impõe. No âmbito educacional, a abordagem de ensino interdisciplinar ganhou espaço nos estudos e pesquisas voltados para encontrar respostas para os problemas ocasionados pela fragmentação do conhecimento em disciplinas, uma tendência bservada no final do século XX (MORIN, 1999).

Essa tendência coloca a pesquisa e o ensino como um processo reprodutor de um saber também fragmentado, refletindo na profissionalização e nas PAGF 36 como um processo reprodutor de um saber também fragmentado, refletindo na profissionalização e nas relações de trabalho, na medida em que fortalece o predomínio reprodutivista do conhecmento, afastando-o de um projeto mais amplo para uma sociedade melhor. A classificação do conhecimento em disciplinas facilita a organização curricular e, em certa medida, a absorção de conhecimentos.

Entretanto, disposição das disciplinas de forma fragmentada dificulta, muitas vezes, a apropriação do conhecimento para a construção de uma visão contextualizada e crítica da realidade. Nesse sentido, é importante estimular práticas interdisciplinares no ensino de graduação, tendo em vista que essas potencializam o diálogo entre os interessados na construção do conhecimento: estudantes e professores. No ensino de contabilidade, o isolamento das disciplinas cria obstáculos para se estabelecer as interrelações necessárias para superação da extrema racionalidade técnica que permeia a construção do conhecimento a área.

A formação de contadores no contexto contemporâneo, em que as ações das organizações tornaram-se mais significativas, requer a superação das fronteiras conceituais e disciplinares para vislumbrar soluções para situações cada vez mais complexas. A interdisciplinandade vem configurando-se em uma aspiração no ensino e pesquisa em contabilidade que, sem negar a objetividade de cada disciplina, é capaz de recuperar o sentido de unidade na produção do conhecimento.

Este artigo tem como objetivo apresentar o projeto Práticas Interdisciplinares no Curso de Graduação em Ciências Contábeis (PICGCC) e os esultados de sua implementação. A pesquisa foi orientada pela seguinte questão: quais são os desafios e as possibilidades de aprender e ensinar por melo da interdiscipl questão: quais são os desafios e as possibilidades de aprender e ensinar por meio da interdisciplinaridade nos cursos de graduação em Ciências Contábeis?

Busca-se responder essa questão utillzando-se o estudo de caso (YIN, 2005) como método de procedimento para investigar a experiência no curso de Ciências Contábeis da Universidade Federal de Uberlândia. A relevância deste estudo pauta-se na necessidade de encontrar ráticas que subsidiem o processo de ensino aprendizagem no curso de Ciências Contábeis, em um momento que esse campo tem recebido maior atenção. Para Laneve (1993), a importância da memória e do estudo da experiência é potencialmente relevante para elevar a qualidade da prática escolar e da teoria.

Esse entendimento implica em tornar o ensino escolar uma prática social, para então, construir novos saberes pedagógicos: da prática e para a prática (LIBÂNEO, 1996). O estudo está organizado em cinco seções, sendo a primeira esta introdução. Na segunda seção, é apresentado o referencial teórico que ustenta a pesquisa, enfatizando aspectos conceituais da interdisciplinaridade e aspectos relacionados a sua prática, tais como, as dificuldades de sua implementação.

Na terceira seção, são apresentados os procedimentos metodológicos de realização do estudo. Na quarta seção, são apresentados os resultados obtidos, bem como suas articulações com o quadro teórico tecido. por fim, são feitas as considerações finais. 2 A PRÁTICA DA INTERDISCIPLINARIDADE: APRENDER E ENSINAR DIALOGICAMENTE Nesta seção, é adotada uma abordagem conceitual para tratar da interdisciplinaridade, iniciando com progressiva fragmentação das ciências, o que resultou na emancipação de diversas disciplinas.

Esse movimento trouxe impactos que são questionados por pesquisadore 6 emancipação de diversas disciplinas. Esse movimento trouxe impactos que são questionados por pesquisadores contemporâneos defensores da integração do conhecimento, pois trazer a interdisciplinaridade para o aprender e para o ensinar significa romper com os padrões tradicionais de ensino nos quais impera a disciplinarização. 2. Da Disciplinarização à Interdisciplinaridade O conhecimento científico tem sido produzido de forma segmentada e, apesar dos inúmeros rogressos atribuídos ao conhecimento disciplinar, diversas críticas (MORIN, 1999: DELATTRE, 1989) têm sido dirigidas a essa forma do desenvolvimento científico. Essas criticas convergem rumo à integração disciplinar, que tem sido discutida como necessária para enfrentar os desafios da sociedade contemporânea. Morin (1999, p. 17) entende que “a tendência para a fragmentação, para a disjunção, para a esoterização do saber científico tem como consequência a tendência para o anonimato”.

Na disciplinaridade do conhecimento, cada professor preocupa-se apenas com suas disciplinas, considerando-a a ais importante e forçando o conjunto de estudantes a se interessarem só por ela, ocorrendo a desvalorização de outras disciplinas que passam a ser consideradas rivais, apoiando, assm, uma fragmentação do ensino (SANTOMÉ, 1998). O ensino interdisciplinar tem sido então defendido como possível solução para os problemas da fragmentação. Gusdorf (1977) aponta o problema como se fosse uma esclerose mental, na qual o conhecimento é dissociado da existência humana.

A interdisciplinaridade originou-se da reivindicação de professores, em meados dos anos 60, no continente europeu, com maiores vidências na França e Itália. Estes se intrigavam com a forma fragmentada de desenvolver o conhecimento e questionavam as PAGF s 6 intrigavam com a forma fragmentada de desenvolver o conhecimento e questionavam as barreiras entre as disciplinas, suas fronteiras e limitações, indagando sobre o saber tradicional que subdivide as áreas do conhecimento no currículo escolar (PEREIRA’ SANTOS; RECH, 2008). sao vários os conceitos estabelecidos sobre interdisciplinaridade.

O quadro 1 mostra alguns dos principais conceitos encontrados. É possível verificar que, apesar de não serem exatamente iguais, são muito arecidos e levam à mesma interpretação. Conceito de Interdisciplinaridade “Interdisciplinaridade é um método de pesquisa e de ensino suscet(vel de fazer com que Japiassu (1976) duas ou mais disciplinas interajam entre si, esta interação pode ir da simples comunicação das idéias até a integração mútua dos conceitos, da epistemologia, da terminologia, da metodologia, dos procedimentos, dos dados e da organização da pesquisa.

Ela torna possível a complementaridade dos métodos, dos conceitos, das estruturas e dos axiomas sobre os quais se fundam as diversas práticas científicas”. a interdisciplinaridade é o compartilhamento, interação e relação entre várias disciplinas Fazenda (1979) distintas”. ” a interdisciplinaridade diz respeito aos níveis de interação entre disciplinas e as formas e razões dessas interações podem ser: o intercâmbio de metodologia, instrumentos e Klein (1990) conceitos entre as disciplinas; a parceria entre as disciplinas para a resolução de problemas que ultrapassem os limites de cada uma”. Na interdisciplinaridade se estabelece uma interação entre duas ou mais disciplinas; em que cada disciplina em contato é modificada e passa a depender, claramente, das outras. Passos (2004) O enriquecimento é recíproco e acontece uma transformação de suas metodologias de pe (2004) O enriquecimento é recíproco e acontece uma transformação de suas metodologias de pesquisa e de seus conceitos”.

Quadro 1: Conceitos de Interdisciplinaridade Fonte: elaborado pelos autores Fonte do Conceito 4 Embora haja uma diversidade conceitual sobre interdisciplinaridade, existe, ao mesmo tempo, um consenso entre os autores sobre o fato de que a mesma pode ser definida, de modo geral, como a integração, o compartilhamento e o engajamento de educadores no conjunto entre várias iscplinas distintas. A interação das disciplinas também pode ser compreendida como o envolvimento de diferentes áreas do conhecimento, abordagens multidisciplinares e pesquisas.

A interação interdisciplinar tem como propósito romper os limites entre os conhecimentos especializados (JAPIASSU, 1976; FAZENDA, 197* HORN3Y, 2003). Klein (1990) apresenta os niveis de interação entre disciplinas e as formas e razões dessas interações na aplicabilidade da interdisciplinaridade: o intercâmbio de metodologia, instrumentos e conceitos entre as disciplinas; a parceria entre as disciplinas para a resolução e problemas que ultrapassem os limites de cada uma; e o aumento de temas e métodos de estudo e pesquisa que surgiram do intercâmbio entre as disciplinas, gerando uma necessidade de maiores interações.

A interdisciplinaridade obriga o rompimento do paradigma da relação professor e estudante. Nessa nova relação, o professor não e mais aquele que transmite conhecimento ao aluno, mas o que o auxilia a descobrir o construir e a se apropriar dos conhecimentos de forma integrada. Os problemas de uma ciência não podem ser resolvidos por abordagens ou construtos de uma única disciplina (QUELUZ, 2003; SARECEVIC, 1999). Santomé (1998) afirma que o ensino baseado na interdisciplin PAGF 7 36 (QUELUZ, 2003; SARECEVIC, 1999).

Santomé (1998) afirma que o ensino baseado na interdisciplinaridade tem um grande poder estruturador, contribuindo para a capacitação dos estudantes para enfrentar e solucionar problemas na atualidade. As diretrizes curriculares para o curso de Ciências Contábeis (2004), em seu artigo 4, citam algumas competências e habilidades que devem estar embutidas na formação do bacharel, e uma delas é a que consta no inciso II: “demonstrar visão sistêmica e interdisciplinar da atividade contábil”.

As orientações propostas nas diretrizes curriculares retratam que o profissional contábil deve obter conhecimentos não somente da área em que atua, mas também de áreas afins. A relação entre a contabilidade e outras áreas do conhecimento pode contribuir para ampliar os conhecimentos desse profissional, reforçando suas habilidades interdisciplinares.

Na sociedade contemporânea, as organizações assumem papel importante dada as significativas transformações sociais, econômicas e culturais que as levam a uma busca por novos modelos de negócios e à reorganização de seus processos rodutivos, o que requer a combinação de diversos saberes ou, conforme o pensamento de Gusdorf (1977), a colocação em comum das disciplinas ao invés de uma justaposição dos saberes. . 3 possibilidades de Aprender e de Ensinar com a Interdisciplinaridade A interdisciplinaridade incorpora resultados de várias disciplinas, ampliando as possibilidades de aprender e ensinar na medida em que são efetivadas as ações de cooperação, coordenação e a partir das sucessivas e crescentes interações que caracterizam o espaço interdisciplinar.

Na esteira desse pensamento, vários pesquisadores, em todas as áreas o conhecimento, intensificam pesquisas sobre as possíveis maneiras ca PAGF 8 6 em todas as áreas do conhecimento, intensificam pesquisas sobre as possíveis maneiras capazes de fundamentar o pensamento interdisciplinar.

Fazenda (2005) aborda inúmeras vantagens que a interdisciplinaridade pode trazer aos estudantes: conhecimento de outras perspectivas, além de sua própria; habilidade para avaliar o testemunho de pessoas especializadas no assunto; tolerância e ambigüidade; crescimento da sensibilidade para assuntos polêmicos; habilidade para sintetizar ou integrar assuntos diretamente ou indiretamente ligados ? ?rea afim; ampliação de perspectivas e horizontes; aumento do pensamento criativo; e sensibilidade para idéias enviesadas.

O ensino interdisciplinar demanda um trabalho sincronizado entre professores, gestores e outros envolvidos, tendo em vista a necessidade de mudança não só dentro da sala de aula, como em outros espaços que estão intrinsecamente associados a ela. É uma relação de mutualidade, um regime que oferece uma co-propriedade, possibilitando um diálogo entre as partes interessadas (FAZENDA 2005).

O que vem sendo acordado entre os pesquisadores e interessados pela interdisciplinaridade é que ensino interdisciplinar exige uma mudança nos padrões institucionalizados no modelo de educação tradicional. Para Fazenda (2002), é necessaria eliminar barreiras, não só entre disciplinas, como também, entre as pessoas que pretendem desenvolvê-las.

Fazenda (2002) aponta alguns obstáculos ? prática interdisciplinar, distinguindo-os em cinco dimensões: (1 ) Epistemológicos e institucionais – a rigidez das estruturas institucionais e de conhecimento; (2) pslcossoclológicos e culturais – a falta de formação específica e a acomodação ao modelo vigente; (3) metodológicos – a forma como o modelo radicional propõe o desenvolvimen acomodação ao modelo vigente; (3) metodológicos — a forma como o modelo tradicional propõe o desenvolvimento do conteúdo das disciplinas; (4) quanto à formação – ausência de uma formação dialógica dos envolvidos; (5) materiais – planejamento de espaço e tempo para a prática interdisciplinar. Fazenda (1978, p. 8) destaca que a prática da interdisciplinaridade implica numa transformação da Pedagogia e em um novo tipo de formação de professores: Passa-se de uma relação pedagógica baseada na transmissão do saber de uma disciplina ou matéria – que se estabelece segundo um odelo hierárquico linear – a uma relação pedagógica dialógica onde a posição de um é a posição de todos”. Nesse sentido, a formação docente tem peso considerável para a prática interdisciplinar ser bem sucedida, pois, ainda segundo a autora, “o professor passa a ser o atuante, o crítico, o animador por excelência. Sua formação, substancialmente modifica-se: ao lado de um saber especializado múltiplas opções poderão ser- lhe oferecidas em função da atividade que irá posteriormente desenvolver. [… ]”.

Assim, entende-se que uma das forças positivas na prática da interdisciplinaridade advém da atuação docente: “A nterdisciplinaridade será possível pela participação progressiva num trabalho de equipe que vivencie esses atributos e que vá consolidando essa atitude” (FAZENDA, 1978, p. 48). Verifica-se que a interdisciplinaridade surge como uma condição necessária para a formação do professor na absorção de uma consciência crítica no intuito de que a educação não se torne um instrumento de reprodução do sistema, mas, sim, desperte o senso cr[tico dos discentes, proporcionando na educação uma ruptura não somente com o modelo educacional, mas também com o modelo dominante na socie

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