Lévinas

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DOSSIÊ: CONSCIÊNCIAS DO MUNDO — EMMANUEL LÉVINAS 107 Emmanuel Lévinas e a idéia do infinito BENEDITO ELISEU LEITE CINTRA Resumo O autor, depois de uma breve apresentação do Ofenomenólogo[] Emmanuel Lévinas, discorre sobre as origens do pensamento desse judeo-lituano-francês, principalmente como aparece em sua obra máxima Totalité et Infini. Indica como o filósofo assumiu de apenas em seu esqu Lévinas transfere par infinito, onde esta se torna C]desejo do invi 0 Swip to next page finito:, contudo m excede sua idéia[]. face, a idéia do .

Igualmente se sicoO, de onde a ética se faz filosofia primeira. O homem está suspenso à sua própria liberdade, a se justificar pela bondade e a generosidade. Palavras-chave: Lévinas; fenomenologia; idéia do infinito; face a face; ética. Abstract The author, after an abbreviated presentation of the L]phenomenologista Emmanuel Lévinas, discourses the origins of thought of this French Lithuanian Jew, mainly as it appears in his maximum work Totalité et Infini. It indicates how the phllosopher assumed at Descartes the Didea of the infiniteD, however just in his formal outline: C]his ideatum exceeds his ideaÜ.

Lévinas transfers, into the experience of the face to face, the idea of the infinite, where t becomes wisdom to someone else. Equally it turns into adesire of the invisiblen or Dmetaphysic desiren, from where the ethics is made f first philosophy. The man is suspended to his own freedom, justifying himself by goodness and generosity. Key-words: Lévinas; phenomenology; idea of the infinite; face to face; ethics. Começando Emmanuel Lévinas é ainda pouco conhecido do público acadêmico no Brasil. É um pensador judeo-lituanofrancês.

Judeu, porque nascido desse MARGEM, SAO PAULO, No 16, p. 107-117, DEZ. 2002 108 MARGEM No 16 – DEZEMBRO DE 2002 povo. Lituano, porque nasceu em Kaunas, na Lituânia. Francês, orque adotou a cidadania francesa. Diz que tem três solos linguísticos: o hebraico, por sua origem judaica; o russo, falado na Lituânia, e o francês, porque escreve nessa língua. Então também diz que pensa nesses três idiomas. Por certo, isso oferece desafio adicional na leitura de suas obras. Lévinas nasceu no dia 25 de dezembro de 1905 e faleceu em 25 de dezembro de 1995. Emigrou para a França em 1923.

Deste ano até 1930 estudou filosofia em Estrasburgo, participando em 1928-1929 de seminários com Husserl e com Heidegger em Friburgo, na Brisgóvia. Em 1930 doutorou-se em filosofia com a tese La héorie de IC]intuition dans la phénoménologie de Husserl, 1 obra premiada pelo Institut de France. Foi dos primeiros introdutores da fenomenologia husserliana na França, tendo traduzido, em parceria com Mlle- G. Peiffer, Méditations cartésiennes, de Husserl. O judeu Emmanuel Lévinas foi prisioneiro em campos de concentração nazistas de 1939 a 1945, na Bretanha e na Alemanha.

Então soube que sua familia tinha sido morta na Lituânia. Ensinou nas Universidades de Poitiers, Paris-Nanterre, 20 sua familia tinha sido morta na Lituânia. Ensinou nas Universidades de Poitiers, Paris-Nanterre, ParisSorbonne, Lovaina, Utrecht e Jerusalém. 2 1. LÉVINAS, Emmanuel. (1984), La théorie de IOintuition dans la phénoménologie de Husserl. Paris, Vrin. 2. LÉVINAS, Emmanuel. liberté: essais sur le judaisme. paris, Albin Michel, Cf. CINTRA, Benedito Eliseu Leite. (1 998), DDuas notas sobre Emmanuel Lévinas[::]. Revista Brasileira de Filosofia. São Paulo, Instituto Brasileiro de Filosofia, vol. XLIV, fasc. 92, out-dez, pp. 428-446 DTotalité et Infini: essai sur foi escrito por Emmanuel Lévinas para a sua livre-docência (Doctorat és Lettres) na Sorbonne. Tornou se a obra de referência para seu pensamento, da qual sempre fará, em seguida, retomada eflexiva. A respeito do livro há uma história contada por Jacques Taminiaux nas celebrações do Centenário da Fundação do Instituto Superior de Filosofia da Universidade de Lovaina. Na sessão dedicada ao amovimento fenomenológicon, sua exposição traz a seguinte passagem: A coleção Phaenomenologica tinha nascido: o primeiro volume fora um manuscrito de Eugen Fink.

Entre os que logo o seguiram, me lembro de um espesso calhamaço mal datilografado, coberto de rasuras e correções manuscritas, que Van Breda me entregou imperiosamente: L]Leia ISSO. Preciso de um parecer detalhado dentro de quinze dias. Deus sabe que amo o autor, mas vejo que está cheio de criticas a Husserl. Compreenda que hesito, mas confio em você[::]. Era Totalité et Infini. Depois de quinze dias, assegurei ao Padre Van Breda de que o te em você[]. Era Totalité et Infini. Depois de quinze dias, assegurei ao Padre Van Breda de que o texto era de extrema importância e deveria ser publicado com toda prioridade.

Felizmente logo se pôs do meu lado, e, como eu sabia do que se tratava, fez-me seu representante na Sorbonne na defesa de Lévinas. Merleau-Ponty, acometido de crise cardíaca poucos dias antes, fora substituído a banca por Jankélévitch, que saudou o laureando C] cito de memória 0 desta forma: Senhor, felicito-o por nos ter enfim desembaraçado desse pensamento alemão que nos fez tanto MARGEM, SAO PAULO, NO 16, P. 107-117, DEZ. 2002 DOSSIÊ: CONSCIÊNCIAS DO MUNDO EMMANUEL LÉVINAS 109 Lévinas com espanto retorquiu sem demora: DSenhor, mas eu sou fenomenólogo! ?. 3 raison dialectique6, Sartre entendia a intencionalidade de Husserl à maneira de Lévinas: Contra a filosofia digestiva do empiriocriticismo, do neokantismo, contra todo apsicologismoü, Husserl não se cansa de afirmar que não podemos dissolver as coisas na consciência. Vedes esta árvore, certo. Mas a vedes no lugar mesmo em que está: à beira da estrada, no meio da poeira, sozinha e curvada sob o caloro Nao poderia entrar na vossa consciência, porque a árvore não é da mesma natureza que a consciência… ? que Husserl vê na consciência um fato irredutlVel que nenhuma imagem física pode manifestar… Conhecer é nexplodir paran, arrancarse da úmida intimidade gástrica e deslizar para fora além de si, rumo ao que não é SI mesmo, para longe, para junto da árvore e no entanto fora dela, porque ela me escapa e me rejei 4 20 si mesmo, para longe, para junto da árvore e no entanto fora ela, porque ela me escapa e me rejeita…

A consciência é clara como um grande vento, não há nada dentro dela, exceto um movimento para fugir de si, um deslizamento para fora de si; se, impossivelmente, entrásseis numa consciência, Clema uma consciência, seríeis tomados por um turbilhão e expelidos para fora, para junto da árvore, expostos à poeira, porque a consciência nao tem adentro:,• nao é senão o aforan dela mesma… o sentido profundo da descoberta que Husserl exprime nessa famosa frase: C]Toda consciência é consciência de alguma coisan.

Não é preciso algo mais para acabar com a frouxa filosofia a imanência[::] A filosofia da transcendência nos joga sobre a grano. SARTRE, Jean-Paul. (1960), Critique de la raison dialectique. paris, Gallimard. Fenomenólogo, mas não tanto! Justamente em Totalité et nfini 4 diz que Lla fenomenologia husserliana tornou possível a passagem da ética à exterioridade metafisican. Isso em semelhança a que o ClidealismoC] de Platão tornou possível o Orealismoü de Aristóteles.

Se, conforme jargão de certa aristotélica medieval, nihil in intellectu quod prius non fuerit in sensu, nnada no intelecto que antes não esteja no sentidon, Lévinas repete para a fenomenologia Dlntencionalidade e ensaçàoü. Sob este título, escreve: A intencionalidade trazia a idéia nova de uma saída de si, acontecimento primordial que condicionava todos os outros, não podendo ser interpretado por qualquer movimento mais profundo e mais interno da Alma. Esta transcendência prevalecia mesmo sobre a cons movimento mais profundo e mais interno da Alma.

Esta transcendência prevalecia mesmo sobre a consciência de si… No primeiro contacto com Husserl só contava essa abertura, essa presença no mundo Ena rua e nas estradasü e essa revelação de que em breve se iria falar. 5 Isso lembra Sartre. Já muito antes de sua obra monumental, Critique de Ia 3. TAMINIAUX, Jacques. (1990), L]Centenaire de la Fondation de LEIINSTITUT SUPÉRIEUR DE PHILOSOPHIECI. Revue Philosophique de Louvain, 88:250, mai. 4. LÉVINAS, Emmanuel. (1988), Totalité et Infini: essai sur néme édition.

Dordrecht/ Boston/ London, Kluwer Academic Publishers. 5. LÉVINAS, Emmanuel. (1967), En découvrant Inexistence avec Husserl et Heidegger. Paris, Vrin. 110 MARGEM NO 16 – DEZEMBRO DE 2002 de estrada, no meio das ameaças, sob uma luz ofuscante… Esta necessidade para a consciência de existir como consciência de outra coisa, Husserl a denomina Llintencionalidadeü. Husserl einstalou o horror e o charme nas coisas. Restituiu-nos o mundo dos artistas e dos profetas: medonho, hostil, perigoso, com enseadas de graça e de amor.

Abriu espaço livre para um novo tratado das paixões que se inspire nesta verdade tão simples mas tão desconhecida por nossos refinadosn Não é mais em um não sei qual retiro que a nós mesmos haveríamos de nos descobrir: é na rua, na cidade, no meio da multidão, coisa entre as coisas, homem entre os homens. 7 papéis, na Proximidade estamos face a face. DFace a faceo é primordial em Lévinas, ma mero leitmo Proximidade estamos face a face. C]Face a faceo é primordial em

Lévinas, mais do que um mero leitmotiv de seu pensamento, experiência originária do inter-humano, quer dizer, do humano: a posteriori na função de a priori. Experiência originária, na proximidade ética de alguém, de nudez sem máscara. Por conseguinte: La morale nnest pas une branche de la philosophie, mais la philosophie premiàre, na moral não é um ramo da filosofia, mas a filosofia primeiraü. g Caminhando Em 1951 Lévinas publicou em Revue de Métaphysique et de Morale o texto DA filosofia e a idéia do infinitoü. 0 Ele aparece republicado em En découvrant laexistence avec Husserl et Heidegger. 1 Um texto na origem de Totalité et Infini, onde, dentro de LE MÊME ET LDAUTRE, está C15. La transcendance comme idée de IOinfini0. 12 Seria longo explicar adequadamente todas essas subsunções. Brevemente, se o Oface a facea se dá entre o neu de mim mesmon e o Cloutro de mim mesA. MÉTAPHYSIQUE ET TRANSCENDANCE O subtítulo de Totalité et Infini é Zessai sur Mas, de qual Dexterioridaden Lévinas fala? Sartre diz para nos descobrirmos C]coisa entre as coisas, homem entre os homensD. ?vinas diz originariamente da exterioridade de Doutrem[] João, Maria, Pedro, Josefa… É para eles que se reporta 0a idéla o infiniton. Enrique Dussel 8 interpreta muito bem Lévinas ao dizer de diferente e distinto. O diferente se dá na Totalidade e o distinto se dá na Proximidade. Na Totalidade cumprimos 7. SARTRE, Jean-Paul. (1947), L]Une idée fondamentale de la phénoménologie de Husserl: LOIntentionnalité (janv (1947), CIUne idée fondamentale de la phénoménologie de Husserl: LDlntentionnalité (janvier Situations l. aris, Gallimard, p. 29-32. 8. DUSSEL, Enrique. (1996), Para uma ética da libertação latino-americana. Sao Paulo, Piracicaba, Loyola, UNIMEP, sd. , 5v. Cf. CINTRA Benedito Eliseu Leite. LIA verdade supõe a justiçam. Reflexão. Revista do Instituto de Filosofia e Teologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, 21(66): 150-175 set. -dez. 9. LÉVINAS, Emmanuel. (1988), Totalité et Infini, op. cit. , p. 281. 10. LÉVINAS, Emmanuel. (1951), C]La philosophie et IC]idée de lüinfini[] Revue de Métaphysique et Morale, jan. mars. 11. LÉVINAS, Emmanuel. (1967), En découvrant loexistence avec Husserl et Heidegger, op. cit. , pp. 165-178. 12. LÉVINAS, Emmanuel. (1988), Totalité et Infini, op. cita, pp. 18-23. moo, tomo a atitude de Oprimado do mesmo ou narcisismoC] ou tomo a atitude ametaffsica e transcendenteü. O termo Llmetaf(slcaa tem em Lévinas significado próprio. Não é o de Kant, afinal com os paradoxos das idéias meramente reguladoras da Dialética Transcendental; nem o de Heidegger ao substituir a metafísica ocidental por esquecida ontologia.

Para Lévinas a ética tem o nome de metafísica porque se refere à transcendência de noutremn, que não é meramente física. O indicativo dessa transcendência é na idéia do infiniton. Diga-se também de desejo e idéia do infinito, seguindo o título do primeiro parágrafo de Totalité et infini, ODésir d desejo e idéia do infinito, seguindo o titulo do primeiro parágrafo e Totalité et infini, nDésir de Illinvisiblen, ODesejo do invisível[]. Ao lado de certa solenidade do estilo, parece que todo o destino do livro se joga nessas primeiras linhas.

Há comoção nas imagens e nas idéias que inauguram a primeira seção do texto. Tudo para marcar que no desejo metafísico tende para coisa totalmente outra, para o absolutamente outron. Considere-se que Lévinas não está dizendo de Deus, pois nao faz teologia! Totalmente, absolutamente! Se usarmos advérbios como radicalmente, fundamentalmente, essencialmente, substancialmente, ultimamente, ou um outro que se possa ainda sugerir, estaremos ó representando o irrepresentável: a separação infinita de Outrem no face a face, Orelação última e irredutiVel que nenhum conceito abrangen.

O face a face não é a priori como conceito e menos ainda como princípio lógico ou axioma. É fato da experiência cotidiana, fato metafísico, isto é, ético, por isso implicando, na liberdade de cada um, bondade e generosidade. As próprias palavras de Lévinas: O desejo metafísico tende para coisa totalmente outra, para o absolutamente outro… Na base do desejo comumente interpretado encontrar-se-ia a necessidade (bésoin): o desejo arcaria um ser indigente e incompleto ou decaído de sua grandeza passada. Coincidiria com a consciência do que foi perdido.

Sena essencialmente nostalgia, saudade. Mas, desse modo, nem sequer suspeitaria o que é o verdadeiramente outro… Porque se fala levianamente de desejos satisfeitos ou necessidades sexuais ou, ain verdadeiramente outro… Porque se fala levianamente de desejos satisfeitos ou necessidades sexuais ou, ainda, de necessidades morais e religiosas… O desejo metafísico tem outra intenção deseja o que está além de tudo o que possa simplesmente completá-lo. É como a bondade 0 0 Desejado não o cumula mas o scava.

Generosidade alimentada pelo Desejado, relação que não é desaparecimento da distância, não é aproximação ou, tomando de mais perto a essência da generosidade e da bondade, relação cuja positividade vem do distanciamento, da separação… Distanciamento que só é radical se o desejo não é possibilidade de antecipar o desejável, não o pensa previamente e vamos para ele numa aventura, isto é, para a alteridade absoluta, inanticipável, como vamos para a morte… A Visão é adequação da idéia e a coisa, compreensão que engloba. O Desejo é desejo do absolutamente Outro… e precisamente, entende o distanciamento, a alteridade e a exterioridade do Outro. Para o Desejo esta alteridade, inadequada à idéia, tem um sentido. É entendida como alteridade de Ou 112 trem e como do Altíssimo… Morrer pelo invisível n eis a metafísica. 13 Experiência metafísica ou ética, o face a face se dá pelo desejo bom e generoso, contanto que se o deseje! Nele, fica o homem suspenso à sua própria liberdade, a se justificar pela bondade e a generosidade. A respeito da natureza ética do face a face, Lévinas lembra a importância em Husserl da intencionalidade axiológica. O ca 0 DF 20

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