Livro os jovens e a leitura relatos

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Primeiro encontro: Pagina: 30, 31 , 32. Ridha. Vou citá-lo longamente: “Quando eu era criança, às vezes o bibliotecário “parava seu trabalho e contava histórias para nós. Isso me tocou muito, a sensação, a emoção que senti naquele instante permaneceu. E algo parecido com um encontro. Ninguém me disse: faça isso, faça aquilo Mas, me mostraram alguma coisa fez-me entrar em um mundo.

Abriram-me uma po alternativa entre mil de ver que talvez não jê ‘Vipe view nent page aquela a se seguir, q necessariamente a m r alguma coisa na minha vida porque talvez existam outras portas. Quando eu era pequeno, os livros representavam tantas alternativas, tantas possibilidades, saídas, soluções para problemas, e tantas pessoas e individualidades quantas eu podia encontrar no mundo.

Pela diversidade dos livros, das história existe uma diversidade de coisas e é como a diversidade dos seres que povoam essa terra e que todos gostaríamos de conhecer e lamentamos que em cem anos não estaremos mais aqui e nao teremos conhecido as pessoas que vivem no Brasil ou em outros lugares Se não houvesse diversidade, se houvesse flores diferentes, porque se tiver apenas flores amarelas em todo o planeta, em erto momento você enjoará do amarelo Se existe uma diversidade, isso enriquece a pessoa. Para mim, a criança, nessa idade, exige uma diversidade de coisas.

Ela quer se deslumbrar. E tudo passa pelas imagens. E nós não somos necessariamente obrigados a ver esta imagem, podemos ouvir a voz do contador de histórias e sonhar… Acredito que o sentimento de asfixia que uma pessoa pode experimentar se dá quando ela sente que tudo está imóvel, que tudo ao seu redor está petrificado Se realmente for uma pessoa que estiver fraca, numa situação que a impeça de se mover, é desesperador. E omo um passarinho preso numa gaiola, esquecido em algum lugar e que morre ali dentro.

A biblioteca ideal é a que permite que as crianças sonhem e que não lhes imponha idéias, imagens ou histórias, mas que lhes mostre possibilidades, alternativas. Essas coisas terão uma ligação profunda com sua vida adulta, mais tarde. Ler histórias, pura e simplesmente, talvez só pelo prazer de contar, mostrar que se pode sonhar, que existe saída e que nem tudo está imóvel. Que invente sua vida, que é possiVel inventar a própria vida. E que talvez, para inventar a própria vida seja preciso primeiro a matéria prima; ? preciso ter sonhado para poder sonhar e criar.

A busca de si mesmo, o encontro consigo mesmo, é a coisa mais importante ara um ser humano, um indivíduo. coisa mais importante para um ser Essas reflexões são muito ricas; este rapaz toca no essencial em vários pontos, me parece. Tem 22 anos, vem de uma familia numerosa. Seus pais vieram da Argélia, não sabem ler nem escrever. Infelizmente, ele teve de interromper seus estudos. Segundo encontro: Página 59, 60. Como introdução a este assunto, gostaria de evocar dois jovens que encontramos durante uma das pesquisas que comentei ontem, sobre os airros urbanos marginalizados.

O primeiro chama se Ridha, que já mencionei. Ele tem 22 anos, seus pais deixaram a Argélia e vieram para a França nos anos 1960: “Eu tinha um livro que reencontrei aqui [na [biblioteca municipal], o que me deu muito prazer. Está um pouco estragado, mas, ao tocá-lo, senti uma sensação estranha. Há lembranças que se perdem, mas que recuperamos quando tocamos em alguma coisa. O que me aconteceu em primeiro lugar foi ter o prazer de me rever pequeno; não tenho fotos de mim. Mas era ainda mais emocionante que uma foto acho. E como encontrar também uma eferência.

Um caminho, um rastro em um trajeto. Experimentamos uma sensação boa mas, em algum lugar, experimentamos algo mais forte: é ser dono de seu destino”. O que Ridha revela ao lembrar-se do momento em que, por acaso, entre as estantes de uma biblioteca reencontrou a c ha sido, é 3 identidade daqueles que se aproximam dos livros, da sua maneira de se representar a si mesmos, de tomar as rédeas de seu destino; algo que, acredito, teremos a oportunidade de ver ao longo desta exposlçao. Compreendemos isto na fala do segundo rapaz que gostaria de citar.

Chama-se Daoud, é de rigem senegalesa e tem uns vinte anos: “Quando moramos na periferia, estamos destinados a ter uma escola ruim, um péssimo trabalho. Há uma porção de acontecimentos que nos fazem seguir numa certa direção. Mas eu soube-me esquivar desse caminho, tornar-me anticonformista, ir à outra direção, é esse o meu lugar… Os que vagam pelas ruas fazem aquilo que a sociedade espera que façam e é tudo. São violentos, vulgares e incultos. Dizem: ‘Vivo na periferia sou assim’, e eu era como eles. O fato de existirem bibliotecas como esta me permitiu entrar aqui, conhecer outras pessoas.

Uma biblioteca erve para isso Eu escolhi a minha vida e eles “não tiveram escolha”. Neste caso, de maneira muito explícita, é seu próprio destino que o rapaz considera ter sido transformado depois de seu encontro com uma biblioteca e com os bens ou as pessoas que conheceu ali; foi o que lhe permitiu se afastar do caminho já traçado, que o levava direto a um beco sem saída. Terceiro encontro: Página: 127 Acompanhemos agora o escritor paul Smail, que descreve o pátio de recreio de uma rande escola de Paris. O narrado kabila: 4 de Paris.

O narrador é de origem kabila: “Comecei a lutar boxe aos treze anos. Estava na 8a série do Jacques-Decour [trata-se da escola] e, a cada recreio, me cobriam de socos. E na saída me tiravam tudo: meu gorro, minha jaqueta, minha mochila… por quê? Porque eu era o mais jovem, justamente, e tinha as melhores notas. Porque as meninas gostavam de mim. Porque eu lia o tempo todo. Porque não sentia-me desonrado em responder quando o professor interrogava a classe. Porque um dia, o professor de francês leu minha redação para toda a classe, usando-a como modelo.

Porque, como meu pai, eu achava importante falar corretamente Quando vejo no jornal da ma not[cia sobre o genocídio que os Hutus cometeram contra os Tutsis, eu revejo o pátio da escola Jacques-Decour”. Quarto encontro: Página:149, 150,151. Para que entendam até que ponto um mediador pode influenciar um destino, darei um primeiro exemplo. Trata-se de Hava, uma jovem de origem turca que, após ter vivido dez anos em um bairro pobre da periferia de Istambul, mudou-se para a França, em uma cidade de província, onde seu pai, pedreiro, foi tentar a sorte.

Devido ao seu desconhecimento inicial do francês, Hava estava muito atrasada em sua formação escolar. E estava disposta a bandonar seus estudos na sexta série do ensino fundamental (em que os alunos têm normalmente (doze anos) para procurar um trabalho, como era o desejo de seus Passo-lhe a palavra: S trabalho, como era o desejo de seus pais. “Disse isso a meu professor de matemática e ele me disse: ‘Mas você está louca! Em que poderia trabalhar saindo da sexta série? ‘. E eu disse-lhe: ‘Sim, mas já tenho quinze anos.

Vou sair, e trabalhar. Vou fazer um curso técnico’. Ao que ele me respondeu: ‘Não. Eu te aconselho a fazer até a oitava série para ver, pode ser que as coisas mudem’. Gostava muito desse rofessor Então, disse que sim, para lhe agradar, e também para ver o que aconteceria. Iria terminar o fundamental e depois teria o certificado de conclusão; um certificado, para mim, valia muito naquela época; hoje não significa nada. Pensei: ‘Vou tentar isso e depois, com o diploma, vou procurar um trabalho’.

Porque em casa era sempre a mesma ladainha: trabalhar, trabalhar. Depois, terminei o ensino fundamental e pensei: ‘Quero ir mais longe’. E verdade que eu me dava bem com meus [[professores]… ]. Aliás, eles já tinham percebido que a escola era o único lugar onde eu me entia bem Eram os únicos que não me diziam: ‘Você tem que se casar. E anda me ensinavam “muitas coisas”. Ao longo de todo esse percurso, Hava encontrou o apoio das bibliotecárias de seu bairro: “Eu tinha muitos problemas pelo fato de ter vindo mais velha para a França.

Elas me ajudaram muito. Tive sorte, algumas não te ajudam Elas corrigiam meus resumos em francês. Diziam-me: Veja, isso não se diz, é melhor dizer assim’. Ou os erros de gra melhor dizer assim’. Ou os erros de gramática. Explicavam-me e isso tomava um tempo. Diziam: ‘De matemática, bom, melhor não perguntar nada por que… Ajudavam-me muito. Nunca as esquecerei. Ou senão, era a documentalista da biblioteca escolar. Ajudou-me muito também, principalmente com o francês. Como tinha muitos problemas nesta matéria “precisava correr atrás”.

Na biblioteca, Hava também trocava experiências, conhecimentos, com outros usuários que, como ela, ia ali para fazer suas tarefas. Quando a encontramos, ela tinha vinte anos. Cursava o último ano do ensino médio, queria ser professora. Desde então já era animadora intercultural e ajudava as crianças de seu bairro a fazer suas lições. Também era uma leitora. Citei- á, outro dia; foi ela que adorou ler Victor Segalen porque parecia que ele restituía a dignidade às pessoas simples.

Falou-nos também de Agatha Christie, de Shakespeare, de escritores turcos e antilhanos etc. Nada é simples para Hava: sente-se dividida entre seu desejo de emancipação e o apego aos seus pais. E ainda que eles evoluam, fazem-no mais lentamente do que ela. Porém, ela está mais preparada para enfrentar os obstáculos que encontrará em seu caminho. Podemos ver que foi com o apoio simultâneo de um professor, de uma bibliotecária e de uma documentalista, que ela pôde modificar seu destino.

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