Parecer etno-histórico e antropológico

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PARECER ETNO-HISTORICO E ANTROPOLOGICO INDÍGENAS XETÁ,’ARÉ VALE DO RIO IVAÍ CUIABÁ/2010 Adauto Carneiro [NDICE 1. – A IMPORTANCIA 2 – GENERALIDADES 9 p 3 – RESGATE HISTORICO DOS XETA/ARE 4 – A IMPORTÂNCIA DA DOCUMENTAÇÃO PARA RESGATAR A VERDADE HISTÓRICA DA ETNIA XETÁ/ARÉ 11 4. 1 – THOMAS BIGG WIITTER – 1875 4. 2 – TELÊMACO BORBA – 1903 4. 3 – CURT NIMIJENDAJU – 1912 4. 4 – JOSE LOUREIRO 4. 5 – KOZAK 4. 6 – ANETTE LAMING 4. – PERSONAGENS DA HISTORIA 5 – OS TERRITÓRIO E AS ETNIAS DO NOROESTE DO PARANÁ SEGUNDO AS FONTES 16 -lal Studia que é que a atual sociedade brasileira sabe sobre as experiências assadas dos povos que habitaram milenarmente o território? Como reconstruir a história de sociedades sem escrita? A historiografia brasileira desdenhou desde o seu início qualquer documentação verbal que não fosse escrita. Padronizou este traço e universalizou o seu modelo de confiabilidade nos documentos escritos, fazendo extensiva esta qualidade ao “resto” do mundo que foi encontrado no processo de colonização.

Os povos ágrafos, que já eram tratados etnocentricamente como povos pré-lógicos, foram considerados também como povos sem história, posto que não dominavam a escrita. FREIRE, 1992: 154) Nos últimos quarenta anos, esta situação começou a mudar, com o surgimento da Etno-história, uma disciplina que, segundo Le Goff, “constitui um dos desenvolvimentos recentes mais interessantes da ciência histórica”. LE GOFF, 1984: 46) A Etno-história reconhece as profundas diferenças entre as sociedades essencialmente orais e as sociedades onde predomina a escrita, cada uma delas com formas distintas de armazenamento, transmissão e produção do saber. Portanto, considera tais sociedades como equivalentes, no sentido de que ambas possuem uma memória institucionalizada. Ao descobrir a existência, nas sociedades ágrafas, de mecanismos de conservação e transmissão da memória coletiva, a Etno- história entende e valoriza a tradição oral, o que traz de novas fontes a serem trabalhadas.

As pesquisas que incorporaram a tradição oral, como fonte, realizadas nas quatro últimas décadas, vêm demonstrando que os julgamentos sobre as culturas ágrafas, co 2 4g os julgamentos sobre as culturas ágrafas, consideradas como incapazes de construir o pensamento abstrato, são preconceitos que confundem o saber com a escrita, quando na expressão talvez simplificadora do tradicionalista africano Tierno Bokar, mas idática para esse contexto, “a escrita é uma coisa, e o saber outra. A escrita é apenas uma fotografia do saber, mas não o saber em Si”. HAMPATÉ 1980: 181) No Brasil, um dos primeiros fóruns onde se discutiu a temática foi o Grupo de Trabalho “História Indígena e do Indigenismo”, coordenado por Manuela Carneiro da Cunha, da USP, que realizou o seu primeiro encontro formal em 1984, no quadro da reunião da ANPOCS – Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais. Como observa Manuela Carneiro da Cunha: “sabe-se pouco da história indígena: nem a origem, nem as ifras de população são seguras, muito menos o que realmente aconteceu. Mas progrediu-se, no entanto: hoje está mais claro, pelo menos, a extensão do que não se sabe.

Ela chama a atenção para o fato de que uma história propriamente indígena ainda está por ser feita. Não é só o obstáculo, real, da ausência de escrita, não é só a fragilidade dos testemunhos materiais, mas é também a dificuldade de adotarmos esse ponto de vista outro sobre uma trajetória de que fazemos parte. (CARNEIRO DA e Os etno-historiadores combinam suas fontes históricas com o trabalho de campo etnográfico, realizado nas sociedades cujo assado se pretendem reconstruir. O seu objetivo é enriquecer a História em busca de u 3 4g se pretendem reconstruir.

O seu objetivo é enriquecer a História em busca de uma verdade que levará em consideração o sistema sócio-cultural dos povos indígenas. Deste modo, na localização e migração das tribos indígenas, nas mudanças das adaptações culturais ao meio-ambiente, na história demográfica, na natureza exata das relações de cada tribo em particular. Muitos são os aspectos que permitem diferenciar a Etno- história da História convencional. O etno-historiador, como egra geral, tem experiência de campo e contato direto com a área.

Esta experiência aumenta o seu conhecimento sobre as sociedades indígenas e sobre como elas realmente funcionam ou funcionaram. Em consequência, sua interpretação dos testemunhos dos documentos é aprofundada. Ele tende a pensar muito mais em termos sistêmicos e funcionais do que apenas em termos do acaso e dos detalhes. Procura usar o seu conhecimento mais amplo da organização social e cultural e constrói suas unidades a partir de conceitos tais como “sociedades segmentadas em clãs”, “sociedades parentelas” e “sociedades patrimoniais”.

Sua percepção do fato histórico, até mesmo quando utiliza os documentos produzidos pela administração, é sempre na perspectiva dos índios, muito mais do que na literatura. 2 — Generalidades Nosso objetivo neste trabalho é produzir um Parecer Etno- histórico e Antropológico relacionado a pretensão da FUNAI — Fundaçao Nacional do (ndi0 de se criar uma TERRA INDÍGENA XETÁ (Grupo Indígena XETÁ) localizada nos Municípios de Umuarama e Ivaté no estado do Paraná.

Constantes na Portaria 984,’PRES de 20/10/1 999, portaria 1230/PRES de 07/12/20 4 4g no estado do Paraná. Constantes na Portaria 984/PRES de 0/1 0/1999, portaria 1230/PRES de 07/12/2000, Portaria 225/PRES de 13/03/2001, Instrução Executiva 069 de 05/06/2001, Portaria 970,’PRES de 27/11/2001 , portaria 898/PRES de 25/09/2002, Instrução Normativa 141/DAF/02 de 19/12/2002 e finalmente sobre a questão do Processo Administrativo FUNAI/BSB 08620. 478/99 da FUNDAÇÃO NACIONAL DO ÍNDIO, nomeando a Antropóloga CARMEM LUCIA DA SILVA como coordenadora do Grupo de Trabalho de identificação da Área indígena XETÁ. Que por convite dos proprietários atingidos, procuraram nossa ajuda, convidando-nos para, como Historiador e Antropólogo a produzir presente parecer.

Depois de ouvi-los e verificar toda a documentação relativa àquele processo, os títulos de propriedade daqueles senhores, bem como as suas respectivas cadeias dominiais, pude perceber que se tratava de mais uma iniciativa infeliz e equivocada da FUNAI, gerando a insegurança jurídica e o pânico entre aqueles aflitos agricultores, que agora se sentiam ameaçados de perderem suas terras, injustamente, pois nada mais fazem como cidadãos honrados, que cumprir o seu dever, dando sentido social às suas propriedades, gerando renda, impostos e empregos para o pals. 3 – RESGATE HISTÓRICO DOS XETÁ/ARÉ

Os Xetá/Aré, encontrados na região do vale do rio Ivaí, têm consciência étnica de serem uma população indígena à parte. No entanto a designação “Xetá/Aré” era “nome de todo índio daqui”, como afirmou sempre Loureiro. E hoje não temos dúvida em reconhecer que é denominação a qual deve prevalecer à de Aré, usada por Telêmaco Borba, Como veremos ao longo dest s g é denominação a qual deve prevalecer à de Aré, usada por Telêmaco Borba, Como veremos ao longo deste trabalho. Alias, devemos também precisar o sign’ficado emprestado à palavra Xetá/Aré que, no vocabulário organizado por Fritch, corresponde Botocudo.

Sentido este que, de acordo com uma Informação do próprio prof. Loukotka, fora-lhe dado pelos caboclos no Ivaí, em 1906, isto porque sabemos o risco do emprego, em trabalho científico, das denominações vulgares de coroado e botocudo. Muito generalizadas e confusas não só nos antigos documentos como também entre as primitivas populações sertanejas do Paraná. Pelo material que consultamos na obra de Fritch e na de Telêmaco Borba (“Atualidade indígena”), bem como pelas informações fornecidas pelo prof.

Loukotka, as indicações sobre os Xetá/Aré, existentes na literatura e documentários tnográficos, são extremamente precárias, quase inexistentes. Os atuais Xetá/Aré, no Estado do Paraná, são os únicos remanescentes desse grupo étnico. Os Xetá/Aré viviam ao norte do rio Ivaí, (Salto Ariranha) acredita- se que de forma semi-sedentária tal como os Guaranis e Kaingangues Não se têm uma história clara. Porém na história transmitida de pai para filho consta que o grupo foi atacado por grupos que tinham uma faixa branca na cabeça. É, também, confuso se estes grupos eram de colonos ou se eram índios.

Com esta aproximação migraram para o sul do rio Ivaí. Por esta região er rica de fauna, flora e também em hidrografia. Levanta-se outra hipótese de que os Xetá/Aré viviam no Mato Grosso do Sul. Por ocasião da temporada de caça, migravam para a o vale do rio Ivaí, retorna 6 4g Mato Grosso do Sul. Por ocasião da temporada de caça, migravam para a o vale do rio Ivaí, retornando após o período ou temporada. Esta hipótese não procede, porque, logo após os contatos constatou-se que não habitaram no Mato Grosso do Sul, porque sua língua é desconhecida dos índios daquela região, como também, dos grupos Guaranis e Kaingangues.

Outra possibilidade é de terem migrados do Paraguai para a egião. “Teriam vindo os Xetá do Paraguai para o noroeste do Paraná. A pequena tanga púbica dos homens, Ha-maiá, tecida de fibra de carsguatá é espantosamen—te semelhante ao cânhamo. Poderia ter origem nas missões jesuíticas dos séculos dezesseis e dezes-sete, nas quais os indios, especialmente os homens eram levados a cobrir seus genitais”. Este fato nos dá outra possibilidade da origem Xetá/Aré, teriam vindo do Paraguai, pois houve reduções também lá.

Eé importante ressaltar que as reduções jesuíticas estenderam pelo norte do rio Ivaí, onde foram organizadas reduções indígenas. Então o mais provável a primeira possibilidade, a qual procede dos próprios índios Xetá/Aré. “Ocupavam ambas as margens do rio Ivaí, em número de quatro aldeias, até essas aldeias serem atacadas por homens desconhecidos, usando faixas brancas na cabeça”. O que pudemos apurar sobre os Xetá/Até é eram distribuídos em dois outros grupos, que sãos os “Opfábaitá” e os “Aiga-raté Aguef’.

O grupo que teve contacto com a equipe do professor José Loureiro Fernandes, foram os “Opfábaitá”, exceto Eirakán que foi capturado de outro grupo que são os “Aigaraté Aguey”. A história Xetá/Aré ê pouco conhecida porque após os contatos g grupo que são os “Aigaraté AgueY’. e início da colonização da região do vale do rio Ivaí, houve praticamente a extinção do grupo. Conforme a história do pensamento, a cultura recebe influência do meio. Como há pensamentos que expressam que: “o homem é fruto do meio”, ou ainda, “a expressão cultural de um povo está ligada ao espaço geográfico, tempo e meio ambiente”.

A cultura Xetá/Aré não foge a esta regra, pois, sua organização social e cultural perpetuou até contatar com a totalidade, seguindo as leis da natureza que o vale do rio Ivaí lhes roporcionou. Sendo também um dos fatores que levaram os Índios Xetá/Aré a preservarem sua cultura até o século XX (década de 1950-60). Isto porque, o local em que foram encontrados localizava a sudeste da confluência do rio Ivaí com o rio Paraná. Região de densa floresta, terreno arenoso e muitos riachos, não atraiam até então os interesses de colonizar a região noroeste paranaense.

Os índios Xetá/Aré viviam em pequenos grupos seminômades, separados uns dos outros. A distância entre um grupo e outro, variava de 5 a 6 km. Estes grupos não viviam isolados, estavam em constante comunicação. Cada grupo era formado em um umero de até seis famílias. A coordenação do grupo permanecia em algumas pessoas, às vezes irmãos culminando em um chefe. Tal chefe possuía autoridade Imitada, isto é, não mandava e desmandava, porque a liderança era de consenso. Os membros do grupo mantinham respeito pelo chefe. Apesar, do poder limitado, um pedido do chefe era acatado serenamente. Certas ocasiões que um pedido do ch 8 4g poder limitado, um pedido do chefe era acatado serenamente. “Certas ocasiões que um pedido do chefe mansamente proferido, era obedecido sem discussão» . Na politica dentro do grupo, a relação era de parentela. Essa arentela era constituída por grupos domésticos ligados por laços agnáticos (linha de germanos masculinos), suas famílias de procriação (esposas, filhos e netos) e seus agregados eventuais (filhos adotivos, “primos”, ou “tios”), centrado (e organizado) na figura de um chefe – o pai ou . com a morte deste) o irmão mais velho.

E um relacionamento de proximidade entre os membros do grupo. No entanto todos participavam da caça e coleta, como também, do preparo dos alimentos. A tecelagem da tanga era atividade comum, da mesma maneira os cestos e os ornamentos. Existiam, entretanto, atividades distintas, umas realizadas pelas mulheres e utras pelos homens. “Os homens confeccionavam as peneiras trançadas, utilizadas para amassar a polpa do fruto da palmeira, ao passo que as mulheres teciam as esteiras de dormir de folhas de palmeira jerivá, bem como os cestos para colheita de cocos e frutas” .

A caça era atividade masculina, como também a confecção de utensílios, tais como machado de pedra. Os homens faziam a maioria de suas armas, mas, ao menos num aspecto da manufatura de armas, partici-,pavam as mulheres que faziam as cordas para os arcos Praticavam a poligamia. Os homens mais velhos costumavam possuir duas esposas. Consta que nos primeiros tempos, ossuíam até quatro esposas. Muitas vezes cediam uma das esposas mais nova aos jovens que não as possuíam. Por exemplo: Hatsuakán cedeu sua segu 4g cediam uma das esposas mais nova aos jovens que não as possuíam. or exemplo: Hatsuakán cedeu sua segunda esposa, Aluá, para Eirakán, que não possuía esposa. A organização social era bem estruturada dispondo de uma hierarquia, e existindo uma relação política de proximidade. A participação destas atividades se dá quase que ao mesmo tempo. Uma cerimônia marcante nos costumes Xetá/Aré era a da furação do lábio inferior e que os Identificava como membro o grupo. Esta cerimônia era realizada quando o menino tinha de sete a dez anos e era chamada pelos índios Xetá/Aré de “akuto membé” (nome dado a cerimônia de furacão labial), esta cerimônia dava status ao jovem.

O akuto membé, dava oportunidade à festa e a bebida. Alguns homens não tinham os lábios perfurados, e não usavam o tembetá. Porque seus pais eram mortos ou, não podiam bancar a festa. Diziam os Índios Xetá/Aré, que esta cerimônia devia ser acompanhada de uma festa, regada por bastante bebida. Entretanto, no dia da cerimônia, na aldeia, logo cedo, cantavam anções em honra dos espíritos, principalmente os associados às aves. “Antes da cerimônia, a mãe do iniciado pintava o rosto do filho como desenhos negros (… O pai do menino, permanecia no local cantando canções rituais. A entrada do apoenge, sentava- se o menino sobre um tronco, em dois paus horizontais ou arcos presos à parede Um parente masculino do iniciando tomava então de um pau de jatobá endurecido a fogo, tratado com solução de casca de ipê e cinzas, e rapidamente empurrava o furador através do lábio inferior do menino. A mãe permanecia conversando com ele, exortando-o a s 0 DF 49

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