Requalificação urbana

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Redesenvolvimento urbano, uma proposta para a requalificação de antigas áreas industriais na Mooca e no Ipirangal Felipe Asato Araki* Urban redevelopmeent, a proposal for requalification and revitalization of old industrial areas at Mooca and Ipiranga Trabalho Final de Graduação, apresentado à banca examinadora em 23 de junho de 2009, na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), sob orientação do Prof. Dr. Antonio Gil da Silva Andrade e da Prof. DE Joana Carla Soares Gonçalves * Arquiteto formado pela Faculdade e Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. ? Swipe view next page to vien arquiteto e designer 5 RESUMO: A Região M op,_, . por mudanças em se a fragmentação das sociados. lo vem passando como reflexos território e a desativação de plantas fabris. Consequentemente, surgem no tecido urbano grandes vazios que constituem um verdadeiros desperdício econômico, ambiental e social. O presente trabalho apresenta uma proposta de redesenvolvimento da área ao longo do eixo ferroviário da Diagonal Sul, entre os bairros da Mooca e do Ipiranga.

São espaços que oferecem grande oportunidade para repensar-se a construção da cidade, com base em novas ideias e desenhos, em vista de um desenvolvimento mais sustentável, o que pressupõe a promoção de espaços e equipamentos públicos, continuidade urbana, priorização da escala do pedestre, sistemas e infraestruturas integradas, adensamento com diversificação de usos e usuários, recuperação ambiental e otimização do uso de recursos naturais. Palavras-chave: red redesenvolvmento urbano, sustentabilidade, Diagonal Sul. sjt – arq. urb – número 3/ primeiro semestre de 2010 186 ABSTRACT: The productive profile of the Metropolitan Area of São Paulo has been changing, resulting in the fragmentation of industrial activities in the territory and the deactivation of manufacturing sheds. Therefore, arise into the urban context large voids that are real waste, in economic, environmental and social terms. The research shows a propose of area redevelopment along the railway line of “Diagonal Sul”, between the districts of Mooca and Ipiranga.

At these places, we find great opportunities to rethink the construction of the city, with new ideas and design, in view of a more sustainable development, hich involves the provision of public spaces and equipment, urban linking, priority of pedestrian scale, integrated systems and infrastructure, diversification and intensification of uses and users, environmental recovery and optimization of the use of natural resources. Keywords: urban redevelopment, sustainabillty, Diagonal Sul. 1.

Indroduçao A Região Metropolitana de São Paulo, em seu contexto pós- industrial, vem passando por mudanças em seu perfil produtivo, tendo como reflexos a fragmentação das atividades industriais no território e a desativação das plantas fabris. Consequentemente, surgem no tecido urbano grandes éreas ociosas, que acabam constituindo-se em vazios que degradam e formam estoques de áreas próximas ao Centro e bem servidas por infraestrutura. A expectativa de transformação desses espaços ressalta seu potencial e atrai Interesses, principalmente, do mercado imobiliário.

Estas áreas, contudo, configuram-se como grande oportunidade para rever-se a 35 mercado imobiliário. Estas áreas, contudo, configuram-se como grande oportunidade para rever-se a forma pela qual o espaço urbano é construído, permitindo, então, refletir sobre propostas ue se contrapõem ao atual modelo de desenvolvimento, que deprecia social, econômica e ambientalmente a cidade. Instigam, portanto, a propor uma intervenção de revitalização e requalificação, que visa a devolver espaços que cumpram sua função social, recuperar a continuidade urbana e promover um desenvolvimento mais sustentável. 87 Figura 1 – Foto aérea do Pátio da Mooca. Fonte: Felipe Araki, 2008. 1. 1 . Justificativa e problemática O cenário de crescimento das grandes cidades é marcado pelas assimetrias da constante transformação, em que alguns espaços ão ocupados, e outros deixam de o ser. É uma afirmação do contínuo processo dialético da construção e desconstrução do tecido urbano, que evolui e, nesta dinâmica, fragmenta-se e gera vazios. usjt – arq. urb número 3/ primeiro semestre de 2010 188 Figura 2 Às vezes o vazio prejudica a continuidade, e às vezes ele é necessário.

Fonte: Felipe Araki, 2009. Nota de aula tomada de uma discussão levantada pelo prof. Hugo segawa, na FAIJIJSP, em s 08. imobiliária, acabam se tornando espaços desocupados elou subutilizados, e, muitas vezes, estão próximos a áreas centrais, m meio a uma malha consolidada e provida de infraestrutura. Assim, áreas vagas constituem verdadeiros desperdícios, tanto do ponto de vista econômico, quanto do ambiental e do social. Segundo Sánchez (2001), ” o abandono é ambientalmente perigoso, socialmente injusto, e, economicamente, pode representar um desperdício de recursos”.

Aparentemente, os espaços vagos e Inutilizados sugerem um aspecto inofensivo. No entanto, esta aparência passiva esconde problemas urbanos graves, pois os vazios constituem um estoque fundiário que não se disponibiliza para a demanda do crescimento, sendo esponsáveis por restringir o desenvolvimento urbano e, assim, incentivar a expansão horizontal e a ocupação desordenada da periferia, com assentamento da população mais carente em áreas inapropriadas ou de risco.

Outra agravante ocorre quando esses espaços se formam em áreas degradadas e desvalorizadas. Pelo fato de esses terrenos estarem abandonados, ou subutilizados apenas com fins de depósito ou disposição de resíduos, eles acabam conformando lugares que se deterioram com o tempo e se estagnam, desvalorizando a si e a seu entorno. Formam, segundo Vasques (2005), espaço de medo, de rejeição, de arginalidade, convertendo-se em uma paisagem urbana cujos elementos a população rejeita”.

Pode-se dizer que funcionam como tumores que mortificam a região. Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, a presença de áreas degradadas afeta de maneira adversa não apenas o meio ambiente, mas também a saúde econômica e social de uma cidade (OCDE, 1998, citada em GRIMSKI, 2004). 4 35 ambiente, mas também a saúde econômica e social de uma cidade (OCDE, 1998, citada em GRIMSKI, 2004).

No tecido urbano do município de São Paulo, encontramos expressivas áreas om esse perfil: os terrenos e edificações de antigas instalações fabris. 189 1. 2. Reflexos da industrialização e desindustrialização No final do século XIX e o início do XX, a cidade de Sáo Paulo passou por grandes mudanças nas relações de seu espaço urbano, devido à expansão das estradas de ferro, impulsionada pelo sucesso da economia cafeeira, e ao surgimento e o rápido desenvolvimento da indústria nacional.

Os eixos das vias férreas definiram novos trajetos, que redirecionaram a ocupação, circulação e expansão urbana, fazendo com que as áreas por les cortadas, com terrenos até então ignorados e insalubres, se tornassem localização propícia para as primeiras atividades fabris, em função de topografia regular, de baixo preço e grandes extensões, tudo isso acrescido das facilidades geradas pelo transporte ferroviário (RUFINONI et al. 2007). Com a imigração, esses fatores permitiram a ocupação e o desenvolvimento urbano dessas áreas, originando-se, assim, diversos bairros fabris e operários. As indústrias implantaram-se inicialmente, no começo do século XX, no Centro e no bairro do Brás, espalhando- e antes dos anos 1930 na direção dos bairros da Mooca e Barra Funda (SÁNCHEZ, 2001 Mais tarde, avançaram para outras direções, como na região do Eixo Tamanduateí.

Assim, a região dos bairros, como a Mooca, que até a metade do século XIX possuía características rurais, acabou sofrendo um “rápido processo de compartimentação e transformação das áreas suburbanas (for s 5 sofrendo um “rápido processo de compartimentação e transformação das áreas suburbanas (formadas por propriedades rurais ou áreas devolutas) em bairros industriais e operários” (RUFINONI et al. , 2007).

A desaceleraçao econômica da década de 1960, contudo, provocou, segundo Vasques (2006), a diminuição do ritmo de crescimento da indústria paulista, e, a partir da década de 1970, com o declínio gradual da indústria, a cidade passa a ter suas principais atividades econômicas ligadas à prestação de serviços e ao comércio, entrando em sua fase pós-industrial (CRUZ, 2004). As novas exigências do padrão produtivo metropolitano, segundo Cruz (2004), provocaram mudanças territoriais significativas.

Nos anos 1990, com o mercado globalizado, a nova fase de redistribuição física das tividades das metrópoles não mais dependia da proximidade espacial concentrada, coesa e contínua, o que gerou reflexos territoriais, calcados em um desenvolvimento desde então difuso, descontinuo e fragmentado. Desta forma, a metrópole passa a concentrar apenas as sedes das empresas e centros de 190 serviços.

As “atividades manufatureiras tiveram que proceder a Importantes transformações em seus métodos e cadeias produtivas, muitas vezes deslocando unidades de produção para outras regiões” (SOMEKH; CAMPOS FILHO, 2004). Assim ocorreu o êxodo industrial dos antigos centros urbanos para ovos núcleos fora da cidade, motivado por diversos fatores, como restrições ambientais, questões fiscais, busca de menores custos, proximidade dos novos eixos rodoviários, melhores condições de logística e infraestrutura, etc. VASQUES, 2004). Isto foi acompanhado também por um processo de e infraestrutura, etc. (VASQUES, 2004). Isto foi acompanhado também por um processo de redistribuição da população, com a migração para a periferia. Segundo Cruz (2004), “as grandes fábricas instaladas, os alojamentos das classes trabalhadoras e as redes de infraestrutura que viabilizaram a organização da ociedade moderna gradualmente se dissolvem física, territorial e espacialmente”.

Assim, com a reestruturação espacial, plantas industriais ficaram esvaziadas ou utilizadas como depósitos ou usos precários, formando-se grandes áreas ociosas ou subutilizadas em áreas centrais e tradicionais. Portanto, na paisagem desses bairros encontramos as marcas do intenso processo de concentração e posterior desconcentração industrial. Nos últimos anos, o aparente futuro fadado ao abandono e a desvalorização dos espaços vagos gerados pela desocupação da atividade industrial estão se revertendo.

Com a modificação do perfil econômico da cidade, essas áreas acabam se tornando alvos de grandes empreendimentos, como edifícios de condomínios residenciais para a classe média e alta, shopping centers, hipermercados, etc. , atraídos principalmente pelas grandes dimensões e baixo custo relativo dos terrenos. 1. 3. Objetivo Tendo em vista o exposto, o escopo do presente trabalho é a reparação dessas fissuras, geradas pelo processo de esvaziamento e desocupação das áreas industriais, por meio de uma intervenção urbana de requalificação e revitalização.

No caso, o termo “revitalização”, assim defendido por Valentim (2005), deve ser entendido como “práticas vinculadas à renovação seletiva de áreas deterioradas, desenvolvimento de áreas desocupadas, preservação de interesse histórico e cultural, reciclagem cuidadosa de usos em i áreas desocupadas, preservação de interesse histórico e cultural, reciclagem cuidadosa de usos em imoveis históricos, promoção de novos usos e recuperação ambiental”.

Enfim, recuperar e conceder nova vida às áreas em questão, tanto econômica, e ambientalmente, quanto socialmente. Já a requalificação deve er entendida como recuperação e melhoria da qualidade de vida urbana, pres- supondo, segundo Amádio (1998: 32, citado em VALENTIM, 2005: 94), “a valorização do patrimônio edificado como elemento de importância aos ambientes urbanos, a primazia dos espaços públicos como articuladores dos demais elementos urbanos, a valorização dos marcos e referências como elemento da vitalidade”.

Dessa forma, a proposta pretende oferecer um contraponto ao atual contexto de transformação e desenvolvimento, baseado no crescimento desordenado, na configuração de espaços excludentes, desiguais, descontínuos mal conectados, na polarização social, na destruição de importantes vestígios históricos, na depreciação dos recursos naturais, na perda da qualidade de vida, etc.

Busca-se, então, um desenvolvimento mais sustentável para a cidade, por meio de uma reflexão que não parte apenas de coeficientes, índices e taxas, mas de ideias propositivas e criativas para o desenho de um espaço urbano de qualidade. 2. Contextualização No mapa de Uso do Solo Predominante do Município de São Paulo, vemos em destaque as manchas contíguas às ferrovias, que representam o uso industrial e formam os “arcos industriais” m torno do Centro.

A região entre a Mooca e o Ipiranga destaca- se por inserir-se entre bairros centrais consolidados e bem servidos de infraestrutura, destaca-se por Inserir-se entre bairros centrais consolidados e bem servidos de infraestrutura, o que se vê na presença ali de eixos de transportes coletivos de importância intermunicipal, como a Linha 10 Turquesa da CPTM (Luz-Rio Grande da Serra) e o Expresso Tiradentes, e vias estruturais, como a Avenida Alcântara Machado (Radial Leste) e a Avenida do Estado.

Além disso, a área se beneficiará mais, no futuro, com o plano de expansão os transportes públicos, o PITU 2020 (que tem novo horizonte para 2025), com previsão de modernização da linha da CPTM, a implantação do Expresso ABC e a integração com o Metrô. Outra característica relevante da área é o fato de estar inserida em região de grande interesse e pertinente discussão pública, dentro dos limites da Operação Urbana da Diagonal Sul, indicada no Plano Diretor Estratégico do Município de São Paulo (PDE, 2002).

Esta operação urbana surge como esperança de promover o desenvolvimento urbano da Zona Leste, mas, segundo Castro (2007), “as operações 192 Figura 3 – Mapa do Uso do Solo Predominantemente Industrial. ponte: SEMPLA, 2008 193 urbanas, tal como foram desenvolvidas em São Paulo, subordinaram-se à lógica do empreendedorismo imobiliário, contribuindo para processos de construção especulativa do lugar’, pois resumem-se em melhorias no sistema viário, em aumento na flexibilidade de limites, dos índices construtivos, da permissão de uso e ocupa ão.

Diante dessa perspectiva de transformação, somada a e lei e aos aspectos atrativos tradicionais do bairro, a área em questão tem sido alvo de interesse imobiliário significativo, com processo de udanças e formas de ocupação questionáveis, em que edif[cios remanescentes do período industrial são demolidos e substituidos por edifícios de apartamentos para classe alta, com características de condomínios fechados.

Há que se ressaltar também que se trata de uma região que apresenta sérios problemas ambientais, como concentração de áreas com potencial de contaminação do solo, altas temperaturas superficiais, problemas de enchentes, qualidade do ar prejudicada e poucas áreas verdes. Figura 4 – Áreas contaminadas, por distrito. Fonte Geosecovi, 2008 194 2. 1 Área de intervenção

Figura 5 – Área de Interesse 195 A área-foco escolhida é definida como os trechos lindeiros ? ferrovia, marcada por um tecido típico de plantas industriais, entre a Rua da Mooca, ao norte; a Rua Borges de Figueiredo, a Rua Barão de Monte Santo e a Rua Dianópolis, a leste; o Viaduto Grande São Paulo, ao sul; e a Avenida do Estado, a oeste. Apesar do interesse especifico nas áreas de tipologias industriais, a definição do perímetro da área de referência levou em consideração a influência dos setores adjacentes e, por isso, assumiu uma forma expa oco. Nesse recorte, ao 0 DF 35

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