Siderurgicas

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WWW . justicaambientabiental. org. br GLOBALIZAÇÃO E SIDERURGIA a inserção do Brasil e seus impactos para a sociedade e o meio ambiente*Por Bruno Milanez IntroduçãoO crescimento recente do setor siderúrgico no Brasil, embora proporcione ganhos econômicos, vem intensificando impactos negativos para a sociedade e o meio ambiente. Esse crescimento está relacionado com uma estratégia de inserção na economia global que tem por base a exploração de recursos naturais e tecnologias poluentes/ degradantes.

Essas caracter[sticas conformam um modelo de desenvolvimento socialmente injusto e ambientalmente nsustentável, marca externalizam os impa atividades. por esses passar a fazer parte que os complexos si 1 orlo to next*ge sprezam e egativos destas siderurgia deve lenta’, uma vez senos Iscos para a saúde de trabalhadores e moradores do entorno das usinas, como também estão relacionados ao intenso uso de recursos naturais e à degradação do território onde se instalam.

Além de ser considerada uma atividade altamente poluente, a produção de ferro-gusa e aço demanda uma enorme quantidade de energia, principalmente na forma de carvão mineral . com os devidos impactos sobre as mudanças climáticas) ou carvão egetal (cuja produção é associada à destruição de matas nativas e à expansão da monocultura de eucalipto).

Além disso, a expansão da siderurgia reforça a estratégia de inserção do Brasil Swipe to vlew next page Brasil no mercado globalizado como fornecedor de commodlties[l] de baixo valor agregado, intensivas em recursos naturais e, em muitos casos, geradoras de condições de trabalho consideradas inaceitáveis nos padrões dos países mais ricos. O novo ciclo de inserção do Brasil no mercado global de ferro e açoO parque siderúrgico brasileiro começou a se constituir o início do século XX por meio de investimentos privados.

Entretanto, ele só se consolidou com a entrada do investimento público e a criação de empresas estatais a partir da década de 1940. No entanto, já no início da década de 1980, o Estado havia perdido sua capacidade de investimento e de manutenção das empresas. A partir desse momento, principalmente a partir dos anos 1990, houve o fortalecimento do pensamento neoliberal e a consolidação da globalização dos mercados. Nesse período, o setor siderúrgico passou por um intenso processo de reestruturação, que incluiu sua privatização, fusão e aquisição por rupos internacionais.

No início da década de 1990, havia cerca de 40 usinas siderúrgicas no pa(s, caindo este número para 25 em 2007. Os grupos controladores, por sua vez, passaram de 21, na década de 1980, para oito em 2007: ArcelorMittaI Brasil (grupo indiano), Gerdau, Sistema Usiminas (da qual 25% das ações pertencem a um grupo japonês), Companhia Siderúrgica Naclonal, Aço Villares (grupo espanhol), V;M do Brasil (grupo francês), Villares Metals (grupo austríaco) e Votorantim Metais.

Atualmente, o setor vive a etapa de direcionamento para o mercado global; embora a maior parte da produção siderúrgica brasile 0 direcionamento para o mercado global; embora a maior parte da produção siderúrgica brasileira ainda seja direcionada para o mercado doméstico, a participação do mercado internacional vem crescendo nos últimos anos. por exemplo, nos últimos IO anos, a participação do mercado internacional aumentou em nos destinos da produção nacional, crescimento que deve se intensificar nos próximos anos.

De forma geral, o Brasil se coloca em posição de destaque no mercado internacional; em 2005, o pars foi o décimo primeiro exportador de aço bruto do mundo. Essa posição se deve, principalmente, aos baixos custos e produção de aço no pais, resultado, dentre outras coisas, da disponibilidade de minério de ferro (quinta maior reserva do mundo) e dos baixos salários pagos aos trabalhadores (quando comparamos o salário de operadores de auto-forno, um profissional brasileiro recebe menos de um quinto da remuneração de um trabalhador alemão).

Porém o aumento da produção de aço no Brasil não é resultado da simples busca de custos de produção mais baixos. Como parte de sua estratégia global, as principais indústrias do setor decidiram redistribuir sua capacidade produtiva e concentrar a fase quente do processo iderúrgico (que vai até o estágio dos produtos semi-acabados, como placas, tarugos e blocos) nos países penféricos, mantendo a fase fria (etapa de acabamento e de produção de chapas, bobinas e vergalhões) próxima aos mercados consumidores. or exemplo, em 2006, 90% dos produtos semi-acabados vendidos pelas indústrias localizadas no país destinaram-se ao mercado internacional. Além dos vendidos pelas indústrias localizadas no país destinaram-se ao mercado internacional. Além dos motivos econômicos, como os baixos custos de produção, essa decisão está associada ao osicionamento estratégico dos países mais ricos, uma vez que os produtos acabados possuem maior intensidade tecnológica, valor agregado e se adequam mais facilmente a mudanças na demanda.

Dessa forma, os países periféricos arcariam com a maior parte do risco de oscilações no mercado. Articulado a isso, a redistribuição da produção também ocorre devido a fatores políticos e institucionais, como legislação trabalhista e ambiental menos rigorosa dos países periféricos e a necessidade dos países industrializados reduzirem suas emissões de dióxido de carbono. Dentro desse contexto, existe um forte movimento os principais grupos atuantes no país para aumentar sua capacidade instalada.

Isso se deve à expectativa de um aumento da demanda interna e externa. No Brasil, a empresas apostam em um aumento do consumo dos principais produtos que utilizam aço (construção civil, setor automotivo, equipamentos industriais e eletrodomésticos). No mercado internacional, eles esperam fornecer produtos intermediários para empresas de beneficiamento. Nesse sentido, os principais grupos atuantes no Brasil (ArceloMittal, Usiminas, CSN e Votorantim) têm projetos de nova usinas.

Essa tendência é ainda intensificada pela entrada e novas empresas como a Companhia Siderúrgica do Atlântico (grupo alemão), a Companhia Siderúrgica do Pecém (grupo sul- coreano) e a Companhia Siderúrgica Vitória (grupo chinês), que, em parceria Pecém (grupo sul-coreano) e a Companhia Siderúrgica Vitória (grupo chinês), que, em parceria com a Vale, pretendem também construir novas siderúrgicas no país.

Nesse contexto, o Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS) prevê que – considerando o aumento da capacidade das unidades existentes, os projetos em andamento e os projetos em estudo – a capacidade instalada no país passará de 37 para 78 milhões de toneladas. Os mpactos da produção de ferro e aço para a sociedade e o meio ambienteO ciclo de produção do aço envolve basicamente três grandes etapas: (1) a extração do minério de ferro; (2) a produção de ferro gusa[2]; (3) a produção de aço semi-acabado; (4) as transformação do aço semi-acabado em aço refinado.

A mineração do ferro e do carvão mineral tem uma série de impactos sociais e ambientais e vão além do escopo desse texto. O setor das guseiras é muito pulverizado, embora concentrado geograficamente. Existem cerca de 80 empresas no país, das quais três quartos estão em Minas Gerais, um quinto em Carajás que engloba Pará e Maranhão) e o restante no Espírito Santo e Mato Grosso do Sul. As empresas mais antigas encontram- se principalmente em Minas Gerais e se desenvolveram principalmente para atender o mercado brasileiro.

O pólo de Carajás, por outro lado, produz quase que somente para a exportação. Em 2005, o Brasil foi responsável por cerca de 40% das exportações mundiais de ferro-gusa. Este mercado é bastante concentrado e, em 2006, os EUA foram o destino de mais de dois terços das exportações brasileiras. Os principais impactos das guseiras são causados pela sua useiras são causados pela sua necessidade de carvão vegetal, que exerce forte pressão sobre as florestas.

Entre 2006, metade do carvão vegetal produzido no pais foi produzido a partir de mata nativa. Na região de Carajás, estima-se que, quase 80% do carvão seja produzido a partir de desmatamento ilegal. Da mesma forma, o Pantanal vem sofrendo grandes perdas de matas para a produção de carvão vegetal. Uma alternativa à madeira cortada ilegalmente é o uso de madeira plantada. Essa prática, em teoria, contribuiria para reduzir a taxa de desmatamento da floresta nativa.

Entretanto, apesar dessa antagem relativa, a monocultura para produção de carvão vegetal não deve ser considerada como uma solução ideal e sem conflitos, uma vez que ela também está associada a uma série de problemas, como a concentração fundiária, o uso intensivo de agrotóxicos, redução da biodiversidade e diminuição do acesso de comunidades tradicionais a recursos florestais.

Outro problema diretamente associado à produção de carvão vegetal para a siderurgia é a manutenção de trabalhadores em situações degradantes. Desde 2004, diferentes guseiras e carvoarias, principalmente, na região de Carajás, foram autuadas pelo Ministéno públlco do Trabalho por manterem trabalhadores em condições análogas à escravidão. Algumas dessas empresas, inclusive, foram incluídas na “Lista Suja” do Ministério do Trabalho e Emprego.

Além dos problemas relacionados à produção de carvão vegetal e seu uso na transformação do minério de ferro em ferro-gusa, existem outros imp PAGF 10 de carvão vegetal e seu uso na transformação do minério de ferro em ferro-gusa, existem outros impactos importantes da produção de aço, relacionados com o consumo de energia e com a poluição atmosférica e de recursos hidricos. Com relação ao consumo de nergia, a produção siderúrgica é caracterizada por sua grande necessidade de energia, principalmente térmica, para fundir o ferro-gusa e, assim, conseguir transformá-lo em aço.

Segundo o Ministério de Minas e Energias, os setores de ferro-gusa e aço consumiram quase 10% do total da energia utilizada no país em 2006. Como agravante, é preciso considerar que um terço da energia utilizada por esse setor vem da queima de carvão mineral, uma das fontes de energia que mais contribui para as mudanças climáticas. Com relação às emissões atmosféricas, os poluentes gerados pelas siderúrgicas são vários.

Dióxido de arbono (C02) e metano (CH4) contribuem para o aumento da quantidade de carbono na atmosfera e, consequentemente para as mudanças climáticas. Além deles, óxidos de enxofre (SOx) e óxidos de nitrogênio (NOx) reagem com a umidade presente no ar e formam, respectivamente, ácidos de enxofre e ácidos de nitrogênio, constituindo assim a chamada “chuva ácida”. Existem ainda os chamados poluentes orgânicos, alguns dos quais podem causar diferentes tipos de câncer.

Outro impacto importante da produção de aço diz respeito ao seu efeito sobre os corpos d água. De forma geral, os efluentes líquidos apresentam alta oncentração de contaminantes, como amônia, benzeno, óleos, cobre, chumbo, cromo e níquel. Apesar das empresas terem estações como amônia, benzeno, óleos, cobre, chumbo, cromo e níquel. Apesar das empresas terem estações de tratamento de efluentes, o relatório “O estado real das águas no Brasil”, desenvolvido pela Defensoria da Água, aponta duas siderúrgicas entre as cinco empresas mais poluidoras no país.

A organização cita a CSN em terceiro lugar, devido a problemas como depósito irregular de resíduos, vazamentos de benzeno e diversos casos de poluição hídrica. A Gerdau, por sua vez, é listada em uarto lugar por depositar res[duos em local irregular e por sua atuação em conflitos fundiários no litoral sul de Santa Catarina, prejudicando comunidades tradicionais. ConclusãoDesde o início dos anos 1990, o setor siderúrgico brasileiro vem passando por um processo de reestruturação que se caracterizou pela privatização, fusão e internacionalização.

Em seu atual momento de inserção no mercado global, novos investimentos vêm sendo feitos para expandir a capacidade produtiva de produtos semi- acabados para abastecer, principalmente, a Europa e os EUA. Existe um investimento das empresas em reduzir alguns de eus impactos sociais e ambientais, porém esse esforço tem se limitado a mudanças graduais e não parecem capazes de dar conta dos impactos do aumento de produção que está sendo projetado para o Brasil. Adotando uma visão de méd10 prazo, a concentração da produção de semi-acabados pode trazer uma séria de conseqüências indesejáveis.

Primeiramente, os produtos semi-acabados possuem um valor mais baixo em relação aos produtos siderúrgicos mais nobres e isso pode ter impactos negativos na balança comercial relação aos produtos siderúrgicos mais nobres e isso pode ter impactos negativos na balança comercial. Em segundo lugar, esses produtos são commodities, não possuindo nenhum diferencial, tendo seu preço bastante influenciado pela demanda e sendo, por isso, mais variável. Por exemplo, no período 1998-2002, o mercado passou por uma situação de baixa demanda, que fez o lingote de aço valer menos.

Recentemente os preços se recuperaram, mas não há garantias de que eles não passarão por novas quedas no futuro. Em outras palavras, ao concentrar suas exportações em produtos como o aço semi-acabado, o Brasil aumenta a vulnerabilidade de sua economia, e fica mais dependente de fatores sobre os quais ele ão tem controle. por fim, como os produtos seml-acabados possuem menor conteúdo tecnológico, pouco contribuem para o desenvolvimento da ciência e tecnologia do país e para a redução de sua dependência tecnológica.

Além desses efeitos negativos no campo da economia e tecnologia, a expansão da produção de semi-acabados tenderá a agravar os impactos sociais e ambientais produzidos atualmente pelo setor siderúrgico. Adotando os indicadores de eficiência divulgados pelo IBS, para garantir a produção de 78 milhões de toneladas de aço, prevista para a próxma década, o setor siderúrgico brasileiro precisana odo ano captar uma quantidade de água equivalente a três quartos de toda a égua distribuída no estado de Minas Gerais.

Levando em consideração ainda a quantidade de eletricidade que as empresas adquiririam externamente, essa produção de aço exigiria uma quantidade similar ao con empresas adquiririam externamente, essa produção de aço exigiria uma quantidade similar ao consumo residencial de todo o estado de São Paulo em 2006. Se as empresas tentassem substituir o carvão mineral pelo carvão vegetal somente produzido a partir de madeira plantada, elas necessitariam errubar todo ano 7,7 milhões de hectares de eucalipto, o equivalente a 1,7 vezes a área do estado do Rio de Janeiro.

Portanto, o desafio apresentado ao setor siderúrgico é maior do que o simples debate sobre eficiência e gestão e vai além da engenharia e da administração. Esta indústria é, por natureza, altamente intensiva em recursos naturais e em poluição e, por esse motivo, o debate sobre a relocalização das etapas mais Impactantes para países como o Brasil, deve ir além do simples cálculo de empregos gerados e aumento da exportação. O que se encontra em jogo são as novas tendências da divisão nternacional do trabalho na atual fase do mercado global, assim como a qualidade da inserção de países como o Brasil neste processo.

O setor siderúrgico não se encontra isolado, mas faz de uma tendência mais geral que concentra no Brasil setores produtivos intensivos em recursos naturais e poluentes voltados para a exportação de commodities. Por esse motivo, a sociedade precisa se apropriar desta dlscussão e levar o debate para fóruns de política pública, desenvolvimento local, promoção da saúde e proteção ambiental, para discutir se esse é o modelo de progresso e desenvolvimento que deseja para o país. I

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