Suicídio entre os povos indígenas: um panorama estatístico brasileiro
ACHAMENTO OLIVEIRA, Cleane S. de; NETO, Francisco LOtufo. suicídio entre os povos indígenas: um panorama estatístico brasileiro. Revista de Psiquiatria Clínica, v. 30, n. 1, p. 4-10, 2003. Disponível em: . Acesso em: 16 setembro 2011. Resumo Os autores, a partir de uma revisão das estatísticas mundiais, destacam países onde os números de óbitos por suicídio são maiores; mostram uma revisão das estatísticas entre sociedades tradicionais que detêm as taxas mais alarmantes e, através destes dados iniciais, indígenas do Brasil.
Citações “O suicídio relaci tre as populações OF6 p om uma gama de atores, que vão desde os de natureza sociológica, econômica, política, religiosa, cultural, passando pelos psicológicos e psicopatológicos, até os genéticos e os biológicos”. (ROY, 1999 apud OLIVEIRA & NETO, 2003, p. 5). a taxa de suicídio varia inversamente com a integração dos grupos sociais dos quais os indivíduos fazem parte”. (DURKHEIM, 1983 apud OLIVEIRA & NETO, 2003, p. 5). “Ainda entre as variaveis sociais, contribuem os conflitos familiares e a violência doméstica”. OLIVEIRA & NETO, 2003, p. 5) “A violência coletiva, através das guerras ou de outras perdubações sociais, pode ter diferentes efeitos sobre as taxas, té mesmo paradoxais, conforme o cenário estudado”. (OLIVEIRA & NETO, 2003, p. 5). “Influenciar uma decisão política ou mostrar à sociedade a como se observa, entre outra situações, no seppuku, que ocorre no Japão e no sati, na India, onde viúvas hindus se matam diante da pira funerária do marido para sua família e ao falecido” (DESJARLAIS, 1997 apud OLIVEIRA & NETO, 2003, p. 5). Considerações acerca dos aspectos da religiosidade tambéam devem ser feitas”. (OLIVEIRA & NETO, 2003, p. 5). “As doutrinas católica e mulçumana condenam sua prática, e estudos na Ásia Meridional constataram que as taxas são mais ltas entre os hindus do que nos praticantes das duas primeiras”. (RALEIGH, 1993 apud OLIVEIRA & NETO, 2003, p. 5). .Com relação às teorias psicológicas, [… ] o suicídio representaria uma agressão voltada para o Íntimo, contra um objeto de amor introjetado e ambivalentemente investido, além de um desejo anteriormente reprimido de matar outra pessoa”. FREUD, 1953 ‘Não há consenso em afirmar que uma determinada estrutura psicodinâmica ou de personalidade estejam vinculadas diretamente ao suicídio”. (OLIVEIRA & NETO, 2003). “A psicopatologia é de extrema importância na gênese de umerosos casos e, segundo alguns autores, em até deles há um diagnóstico psiquiátrico presente ou critérios que satisfaçam retrospectivamente a um diagnóstico”. (DESJARLAIS, 1997 apud OLIVEIRA & NETO, 2003, p. 5). Em hospitais psiquiátricos, a mortalidade por suicídio e marcadamente aumentada, cerca de 3a 12 vezes maior que a da população geral, e vem crescendo nos últimos anos”. (ENGBERG, 1994; CASADEBAIG e PHILIPPE, 1992 apud OLIVEIRA & NETO, 2003, p. 5). “Nas populações étnicas nativas, a associação entre suicídio e a presença de patologias mentais pode ser encontrada na maioria, entre ssociação entre suicídio e a presença de patologias mentais pode ser encontrada na maioria, entre os poucos trabalhos realizados”. (OLIVEIRA & NETO, 2003, p. 6). Outro estudo epidemológico em índios adolescentes norte- americanos entre 9 e 15 anos, na sua maioria do grupo Qualla e Cherokee, mostrou uma correlação positiva entre diagnóstico psiquiátrico primário e o abuso de álcool subsequente, além da alta prevalência do consumo de tabaco, maconha e outras drogas ilícitas”. (FEDERMANN et al. , 1997 apud OLIVEIRA & NETO, 2003, p. 6). “Em 1990, mais de 1,4 milhão de pessoas se suicidaram, o quivalente a aproximadamente 1,6% da mortalidade mundial, ficando o suicidio entre as dez principais causas de morte”. (Banco Mundial, 1993 apud OLIVEIRA & NETO, 2003, p. ). “Os índices cariam muito de país para país e não têm correlação direta com seu grau de desenvolvimento ou industrialização, [… ] sendo três vezes mais frequentes nas áreas rurais que nas urbanas”. (OMS, 1991 apud OLIVEIRA & NETO, 2003, p. 6). “O Sri Lanka tem a taxa mais alta do mundo na atualidade, o que se tem sido correlacionado à sua história recente de violência política e social”. (OLIVEIRA & NETO, 2003, p. ). “Em muitos países europeus, o suicídio já foi considerado um problema de saúde pública, principalmente na Hungria, que possui a maior cifra do continente”. OLIVEIRA & NETO, 2003, p. 7). “No Japão ocorreu uma elevação significaticativa dos casos no pós-guerra, que ainda permacem relativamente frequentes”. (OLIVEIRA & NETO, 2003, p. 7). “Há um contexto de aprovação cultural do suicídio ritual que possibilita a restauração da honra pessoal e familiar em resposta ao sofrimento de uma humil 3 ao sofrimento de uma humilhação”. (TATAI E TATA, 1991 apud OLIVEIRA & NETO, 2003, p. 7). Nas Américas, recentemente tem-se observado um aumento da incidência, principalmente nos EUA, Chile, Argentina e Trinidade e Tobago”. OPS, 1993 apud OLIVEIRA & NETO, 2003, p. 7). “Apesar de uma tendência à relativa estabilização das taxas mundiais para a população em geral, nos últimos quinze anos a situação tornou-se muito preocupante entre os Jovens”. (OLIVEIRA & NETO, 2003, p. 7). “Entre todas as comunidades étnicas, os povos nativos indígenas possuem as piores estatísticas”. (GROSSMAN, MILLIGAN E DEYO, 1991 apud OLIVEIRA & NETO, 2003, p. 7). “Os índios norte-americanos e os nativos do Canadá e do Alaska presentam variabilidade entre as tribos estimada em 8 a 120 casos por ano (para 100 mil habitantes)”. SHORE, 1975 apud “Desde a década de 1 970, epidemias foram descritas entre os índios adolescentes norte-americanos (MANSON et al. , 1989 apud OLIVEIRA & NETO, 2003, p. 7). “Na história da etnologia Indigena da América do Sul, quase não se encontram registros contabilizados”. (OLIVEIRA & NETO, 2003, “No Brasil, [… ] a Fundação Nacional de Saúde computou 6. 594 casos no território nacional, em 1995, sendo a maior taxa entre a população de 20 a 39 anos”. (FNS 1988 apud OLIVEIRA & NETO, 2003, p. 8).
Na etnologia brasileira, parece que o hábito já era comum entre os Guarani-Apapokuva e os Urubu-Kaapor em meados deste século”. (OLIVEIRA & NETO, 2003, p. 8). a questão somente veio à tona após o destaque dado pela imprensa leiga à ‘epidemia’ ocorrida entre os somente veio à tona após o destaque dado pela imprensa leiga à ‘epidemia’ ocorrida entre os Guarani, nas proximidades do município de Dourados (MS), a partir da década de 1 980″ (OLIVEIRA & NETO, 2003, p. 8). “A situação mais crítica já descrita está entre o grupo indigena Sorowahá, do ramo linguístico Arawá (ou aruaque)”. OLIVEIRA & NETO, 2003, p. 8). “Desde os primeiros contatos, em 1980, os indigenistas depararam-se com tentativas de suicídio frequentes, através do envenenamento pela ingesta do sumo de raíz de um tipo de timbó (OLIVEIRA & NETO, 2003, p. 8). “Os estudos realizados entre as populações de nativos em vários lugares do mundo (no Brasil esse tipo de trabalho ainda tem Sido escasso) apontam invariavelmente para a importância dos fatores de risco vinculados à psicopatologia, além daqueles ligados aos aspectos socioeconômicos e culturais”. OLIVEIRA & NETO, 2003, Análise Crítica Nesta pesquisa realizada por Cleane S. e Oliveira e Francisco Lotufo Neto, sobre as estatísticas de suicídio em povos tradicionais, concluiu-se que, dentre todas as comunidades tradicionais, o maior índice está entre os povos indígenas. No Brasil o alarmante número de suicídios entre os povos indígenas abrange a vulnerabilidade social provocada pela ausência do Estado e questões culturais de relacionamento com a sociedade.
As causas de suicídio, na maioria das vezes, são atribuídas à bebida, às drogas, ou à fatores psicopatológicos. Porém, esses fatores estão intrinsecamente ligados à morte da cultura indígena. Toda a interferência do não-índio na vida do índio resultou em um etnocídio. A bebida e o uso de drogas serviriam apenas como um fator encorajador do su S um etnoc(dio. A bebida e o uso de drogas sen,’inam apenas como um fator encorajador do suicídio.
Atualmente os povos indígenas brasileiros encontram-se em condições de “desaldeamento”, não vivem mais em aldeias, a terra já não lhes pertence, foi tirada em conflitos e pela expansão agropecuária. Sem condições de subsistência, os índios são obrigados servir de mão-de-obra em fazendas situadas onde antes era seu território. Hoje grande parte da sociedade indígena mora nas periferias, ou mesmo nas ruas, das grandes cidades, em condições sub-humanas, sendo obrigados a pedir esmolas.
Ao trabalharem fora das aldeias e se deslocarem para as grandes cidades, os índios, ficam perdidos entre suas tradições e a sedução pelos novos costumes, o convívio diário com outra cultura, causa uma perturbação na sua identidade cultural. Como forma de diminuir as desigualdades sociais, o país adotou uma política assistencialista, onde o Estado fornece suprimentos aos Indígenas sem se preocupar com a sua auto-sustentabilidade, que prejudica a qualidade de vida dos mesmos. A falta de terras faz com que o índio dependa do Estado.
Essa política assistencialista não melhora a qualidade de vida e sim aumenta a dependência, além disso, contribui para que estas injustiças se perpetuem. O ideal seria um acompanhamento, monitoramento e desenvolvimento de ações que valorizem a cultura ind[gena e que venham coibir agravos de violência (suicídios, agressões e homicídios, alcoolismo, dependência química, etc. ) em decorrência da precariedade das condições de vida e da desapropriação e invasão das terras indígenas.