Crítica da religião

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CiêNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES CURSO DE GRADUAÇAO EM FILOSOFIA WELLINGTON DE LUCENA MOURA A CRÍTICA DA RELIGIÃO NA OBRA “DIFERENÇA DA FILOSOFIA DA NATUREZA DE DEMÓCRITO E DE EPICURO” DE KARL MARX. João Pessoa 2003 2 WELLINGTON DE LUCENA MOURA A CRÍTICA DA RELIGI- NATUREZA DE DEMO Monografia apresent oras to view next;Ege DA FILOSOFIA DA KARL MARX. ral da Paraíba como requisito para obtenção do grau de Bacharel no curso de Filosofia. ORIENTADOR: Prof. Dr. Antonio Rufino Vieira João Pessoa 2003 3 WELLINGTON DE LUCENA MOURA

Monografia apresentada à Universidade Federal da Paraíba Aprovada em de BANCA EXAMINADORA orientador, Professor Doutor Antonio Rufino, pela orientação precisa, dedicada e erudita. 5 A religião é o suspiro do ser oprimido, o coração de um mundo sem coração e a alma de situações sem alma. Éo ópio do povo. O apelo para que abandonem as ilusões a respeito da sua condição é o apelo para abandonarem uma condição que precisa de ilusões. A critica da religião e, pois, a crítica do vale de lágrimas de que a religião é o esplendor. (MARX, 1844 1). MARX, K.

Contribuição à crítica da Filosofia do Direito de Hegel – Introdução. Tradutor Alex Marins, S. Paulo, Ed. Martin Claret, 2001, p. 45. 7 RESUMO Nesta monografia comparam-se e estabelecem-se as diferenças entre os conceitos de religião e filosofia presentes nas obras da juventude de Marx (1839-1844), notadamente em sua Tese de Doutoramento intitulada Diferença da Filosofia da Natureza de Demócrito e de Epicuro; para tal, foram levados em consideração os poucos estudos sobre Marx, enquanto filósofo, bem como, a importância atual do tema das relações entre filosofia e religião.

Para cumprir esse objetivo, tornou-se necessário: estabelecer as diferenças entre os conceitos de filosofia e de religião na Tese de Doutoramento e em outros escritos do jovem Marx (1839-1844) e ressaltar as intuições de Marx, fundamentais para as formulações posteriores destes conceitos. para dar conta desta justificação, Marx formulou uma dupla crítica: uma dirigida à mentalidade teologizante dos velhos he elianos e assemelhados, e outra dirigida ao materialismo d elianos, pela crítica PAGF hegelianos, pela crítica insuficiente da religião.

Enfim, este studo mostrou que Marx procurou justificar a filosofia, do ponto de vista do materialismo, sem cair no determinismo, e justificar a liberdade, sem retornar, como os velhos hegelianos e muitos outros, ao irracionalismo religioso. Palavras chave: Filosofia. Religião. Crítica da religião. Materialismo. Marxismo. Irracionalismo. Atomismo. ABSTRACT In this monograph they compare and establish itself the differences between religion concepts and present philosophy in the works of the youth of Marx (18391 844), notedly in his Doctor’s Dissertation entitled The Difference Between the Democritean nd Epicurean Philosophy of Nature; for such, they were carried in consideration the few studies about Marx, while philosopher, as well as, the current importance of the theme of the relationships between philosophy and religion.

To accomplish that goal, it became necessary: compare, in the Doctor’s Dissertation and in other written of the youth Marx (1839-1844), the philosophy concepts and of religion; stress Marx’s Intuitions, fundamental for the posterior formulations of these concepts; establish the differences between philosophy concepts and of religion in the orks of the youth of Marx, notedly your Doctor’s Dissertation.

To make this justification, Marx formulated a critica’ couple: one driven to the mentality teologizante of the old hegelianos and resembled, and another driven to the materialism of the young hegelianos, by the insufficient criticism of the religion. Finally, this study showed that Marx tried to justify the philosophy, of the point of vie religion. Finally, this study showed that Marx tried to justify the philosophy, of the point of view of the materialism, without falling in the determinism, and to justify the freedom, without eturning, as the old hegelians and many another, to the religious irrationalism.

Keywords: Philosophy. Religion. Critical of the religion. Materialism- Marxism- Irrationalism. Atomism- SUMÁRIO INTRODUÇÃO….. ……………… 10 1. OS TEXTOS E O CONTEXTO FILOSOFICO DE MARX 1. 1 A relação da filosofia com a religião em 12 1-2 “Hegelianos” de direita e de . … 15 2. A CRÍTICA MARXIANAÀ RELIGIÃO 2. 1 A filosofia do jovem Marx…… 18 2. 2 A Tese de Doutorado: dois materialismos ………………………………………. 22 2. 3 0 teologismo racional de Plutarco. 30 2. 4 0 irracionalismo religioso.. . . . . CONCLUSÃO…… ….. 37 REFERENCIAS BI 40 10 Introdução Pretendemos nesta monografia com arar e estabelecer as diferenças entre os concei e filosofia presentes nas nas obras da juventude de Marx (1839-1844), notadamente em sua Tese de Doutoramento intitulada Diferença da Filosofia da Natureza de Demócrito e de Epicuro; para tal, levaremos em consideração os poucos estudos sobre Marx, enquanto filósofo, bem como, a importância atual do tema das relações entre filosofia e religião, e para fazê-lo, nos apoiaremos basicamente nas próprias obras de Marx.

Com este objetivo escolhemos a bra de Karl Marx, quando jovem, entre 1839 e 1844, período em que na Alemanha se travou este mesmo debate. Marx foi um firme defensor da filosofia e da ciência frente ao irracionalismo e a superstição e formou os conceitos principais do seu pensamento posterior justamente no calor deste debate de idéias.

Os textos da juventude nos mostram um Marx filósofo envolvido na crítica às formas de consciência alienadas, opostas ao saber real, que impedem o homem e a sociedade em que vive de tomar consciência de si, e das condições sociais de opressão e manipulação espirituais, politicas e econômicas e ssim o impedem de compreender e exercer a sua liberdade.

Este embotamento da consciência tem na forma da consciência religiosa um dos seus mais fortes aliados; Marx empenhou-se em fazer a crítica desta forma de consciência através da filosofia e escolheu a filosofia materialista de Epicuro, interpretando-a como a filosofia da autoconsciência grega, o iluminismo grego, para fundamentar este combate. ara cumprir nosso objetivo, pretendemos estabelecer as diferenças entre os conceitos de filosofia e de religião na Tese de Doutoramento e em outros escritos do jovem Marx (1839-1844) e ressaltar as intuições de Marx PAGF s OF Tese de Doutoramento e em outros escritos do jovem Marx (1839-1844) e ressaltar as intuições de Marx, fundamentais para as formulações posteriores dos conceitos citados.

Neste sentido, este estudo visa a uma melhor compreensão da crltica marxiana dos campos da filosofia e da religião, especificando mais claramente diferenças conceituais e históricas entre elas, assim como, delimitando o domínio de cada um dos conceitos, para, desse modo, criticar o ocultamento, a ilusão ideológica e a própria da alienação que resultam no inverso do trabalho da ciência, que onsiste em desvendar, esclarecer e compreender através da razão e da obser•v’ação. 1 Tendo como referência o pressuposto de que “A crítica da religião, no caso da Alemanha, foi na sua maior parte completada; e a crítica da religião é o pressuposto de toda a crltica”2 vamos observar que a Alemanha foi um lugar privilegiado – por sua contribuição filosófica – deste conflito espiritual entre as religiões e filosofias, e Marx esteve, enquanto filósofo, no centro do debate. Os textos desta época -1839 a 1844ainda são pouco trabalhados e até as traduções são difíceis de obter.

Para este studo, nos limitaremos a trabalhar alguns dos principais textos de Marx, tendo como condutor o texto da Tese de Doutoramento Diferença da Filosofia da Natureza de Demócrito e Epicuro, bem como dos “Cadernos para a Filosofia epicurista, estóica e cética”, os Manuscritos econômico-filosóficos, os artigos A questão judaica e a Crítica à Filosofia do Direito de Hegel — Introdução.

A raridade dos estudos sobre os textos do jovem Marx, além do fato de que neles a ênfase está mais no pe PAGF 6 dos estudos sobre os textos do jovem Marx, além do fato de que neles a ênfase está mais no pensamento de Marx como ilósofo do que como economista ou político, nos pareceu um motivo a mais justificar a relevância deste trabalho.

Analisaremos inicialmente o contexto filosófico em que Marx escreveu, o qual era um contexto marcado pelo hegelianismo, e, em seguida, examinaremos a crítica marxiana em quatro etapas: a filosofia do jovem Marx; a primeira crítica marxiana feita na Tese de Doutorado; a segunda crítica marxiana dirigida à mentalidade teologizante na filosofia; e uma análise da evolução da crítica marxiana ao irracionalismo religioso, desde a Tese de Doutorado até os Manuscritos de 1844.

Concluiremos mostrando como Marx justificou sua filosofia da religião partindo da tradlção filosófica epicurista para formular uma superação desta dupla crítica acima citada. 2 MARX. Critica da Filosofia do Direito de Hegel – Introdução, p. 45 12 1 . Os textos e o contexto filosófico de Marx O pensar se pôs em si; a jovem águia da razão logo levantou vôo por si mesma para o sol da verdade, e combateu contra a religião. (HEGEL Introdução à História da Filosofia, p. 127). 1. A relação da filosofia com a religião em Hegel A filosofia surge no âmbito da religião, segundo Hegel, entre os regos, para depois se fortalecer, ganhar autonomia, separafr se, enfrentar e combater a religião, e posteriormente, superar a religião. “O conteúdo geral da filosofia existiu antes em forma de religião, na forma de mito, que em forma de filosofia. Portanto, temos também de demonstrar esta diferença”3. Para Hegel, filosofia e rel PAGF 7 filosofia. Portanto, temos também de demonstrar esta diferença”3.

Para Hegel, filosofia e religião tem o mesmo objeto – o Absoluto, mas dele se aproximam de forma diferente, pois: “a religião tem o mesmo objeto da filosofia, a dlferença está omente no modo de consideração”. 4 A religião trata o objeto através da forma da representação de um objeto externo, e a filosofia o faz através do pensamento, de forma conceitual. Este caminho ocorreu entre os gregos. A filosofia surgiu do mito, ganhou autonomia, tornou-se crítica da religião popular e depois a compreendeu.

De novo no mundo medieval e no Renascimento: a filosofia submetida à teologia ganhou crescente autonomia, tornou-se independente, tornou-se oponente, enfim, compreendeu a religião. Assm, se não é feita a critica da religião, não é possível a sua superação – a sua compreensão. ? aí que tem sentido a palavra de Marx: “a crítica da religião é o pressuposto de toda crítica”5. Daí decorre que evitar a crítica religiosa faz cessar o processo da compreensão da religião, e assim, não há como evoluir para a cr[tica política e social. A crítica irreligiosa opõe-se a HEGEL Introdução à História da Filosofia. 11 e 105. Idem, p 108. 5 MARX, K. Contribuição à crítica da Filosofia do Direito de Hegel – Introdução. Trad. Alex Marins, S. Paulo, Ed. Martin Claret, 2001, p. 45. 13 que a filosofia continue submetida e sema da religião, sendo ulgada em seu tribunal. A confusão teórica entre filosofia e religião permite fazer passar filosofia submissa por compreensão filosófica, teologismo racional por “filosofia sem preconceitos religiosos”, doutrinação teol compreensão filosófica, teologismo racional por “filosofia sem preconceitos religiosos”, doutrinação teológica por discussão filosófica.

A expressão teologismo racional foi usada por Marx para definir uma mentalidade teologizante na filosofia que procura justificar racionalmente a irracionalidade religiosa, como mostraremos adiante. Os grandes filósofos de cada momento istórico combateram os deuses do seu tempo e a forma da religião do seu tempo. É o caso de Sócrates, dos pensadores gregos, dos pensadores iluministas, é o caso dos pensadores da reforma protestante como Hegel, que combateram a forma da religião do seu tempo, no caso dos alemães, a religião católica. Eis o que diz Hegel sobre a diferença entre filosofia e religião. Não obstante a afinidade, a diferença entre as duas chega a ser intolerância declarada6″. Hegel não se omite de citar as perseguições aos filósofos pela religião popular grega, nem a sclarecer que a igreja crista é “muito mais sensível” do que os religiosos gregos em relação aos filósofos. Muitos filósofos tentam usar a razão, usar a filosofia para justificar a teologia, justificar a religião, como tentou fazer a direita hegeliana, e como faziam os escolásticos da Idade Média, que não hesitaram em colocar a filosofia “a serviço” da teologia.

Surpreendentemente, em vez de combater os deuses do seu tempo, as formas que a religião do seu tempo, eles corroboram e reforçam tais crenças, abdicam da filosofia e tornam-se teólogos racionais, à maneira de Plutarco. Hegel, no livro Introdução à História da Filosofia afirma que a relação entre filosofia e religião tem se desenvolvido como d Filosofia afirma que a relação entre filosofia e religião tem se desenvolvido como descrevemos no início deste item.

Se for este o desenvolvimento da relação entre filosofia e religião, então, nas culturas em que a filosofia encontra-se confundida com a religião, passar à fase de combate é essencial para o seu desenvolvimento. para Hegel, a filosofia pode compreender a religião, mas não o invers07. Este compreender envolve isciplinas como História da Religião, Filosofia da Religião, Religião Comparada, Antropologia da Religião. Marx, ao comentar nos Manuscritos… Filosofia do Direito de Hegel, esclarece este “compreender: [XXIX] Se eu conheço a religião como autoconsciência HEGEL G. Introdução à História da Filosofia. Trad. Euclidy carneiro da Silva. s. paulo, 1980 2a ed. Hernus, p. 362 7 HEGEL, G. , p. 129. 14 humana alienada, o que nela conheço como religião não é a minha autoconsciência, mas a minha autoconsciência alienada nela confirmada. A minha própria identidade, a autoconsciência ue é a sua essência, não a vejo confirmada na religlão, mas na eliminação e na superação da religiã08.

Destaca o papel da filosofia no processo: Na sua existência real, esta natureza móvel encontra-se oculta. Só vem à luz e só se revela no pensamento, na filosofia; religião… g E conclui mais adiante: Mas, se a filosofia da religião constitui para mim a única verdadeira existência da religião, só sou legitimamente religioso como filósofo da religião, negando assim a religiosidade real, e o homem religioso real. 10 A questão religiosa dividiu os discípulos de Hegel conforme o modo como relaclonavam a

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