A espiritualidades nas bem-aventuranças
NONATO OLIVEIRA A ESPIRITUALIDADE NAS BEM-AVENTURANÇAS EVANGELHO DE MATEUS 1 a Edição Goiânia Edição do Autor 2010 DEDICATÓRIA À minha mãe Maria Ribeiro de Araújo (in memorian) 2 p 2 AGRADECIMENTOS A Deus, por propiciar esta oportunidade de escrever um livro, ? minha adorável esposa, Angelita, por seu amor e compreensão e aos meus filhos: Rafaela, Maria Luiza e Samuel Menorah. À minha saudosa mãe, Maria Ribeiro de Araújo, por ter me gerado e aos meus irmãos por terem me amado. Aos irmãos da Segunda Igreja Batista no Setor Garavelo e Igreja Batista da Paz pelas orações. ?? equipe e amigos da Academia Atitude pelo apoio e incentivo. 3 [NDICE Sinopse ntrodução 1. O Contexto Sócio-Político e Histórico do Evangelho de Mateus 1 . 1 As Caracter[sticas da Sociedade da Justiça Conclusão Referências Sobre o Autor 05 06 08 08 12 25 25 30 33 35 37 45 48 52 55 58 58 60 62 6466 67 68 70 71 73 76 4 SINOPSE O tema “A Espiritualidade nas Bem-Aventuranças Evangelho de Mateus” visa resgatar os ensinos de Jesus para as comunidades atuais, observando, é claro, o contexto mateano e, ainda, que o caminho da felicidade está na vivência e prática de suas palavras.
O presente trabalho pesquisará os textos de Mateus sobre as bem-aventuranças, o qual revelará que a felicidade de que elas falam é uma felicidade que vem até nós e não uma produzida por nós. Felicidade esta que não exclui a privação e o sofrimento. É através de um relacionamento íntimo e diário com Jesus, na dependência de seu Espírito e ainda, de modo autêntico, procurando viver as bem-aventuranças é que estaremos cumprindo a vontade de Deus, construindo um mundo de acordo com Seu projeto de amor e caminhando, cada dia mais, rumo ao Seu reino e conquistando a verdadeira felicidade. INTRODUÇÃO ? notável que na sociedade humana exista uma busca incessante pela felicidade. E o conceito de felicidade do homem está diretamente relacionado a obter riquezas, em exercer o poder em suas diversas formas e também em satisfazer seus desejos pessoais. Geralmente a felicidade não está relacionada às questões espirituais — celestiais — mas tão somente às materiais – terrenas.
As concepções de felicidade vigentes em nossa sociedade são: satisfação de todos os desejos terrenos, ausência de problemas e sofrimentos, estado de euforia sicoló ica satisfação de todos os desejos terrenos, ausência de problemas sofrimentos, estado de euforia psicológica ou experiência de sensações fortes. 1 Uma análise mais atenciosa dos textos de Mateus sobre as bemaventuranças, revelará que a felicidade de que elas falam é uma felicidade que vem até nós, não uma felicidade produzida por nós.
Felicidade esta que nao exclui a privação e o sofrimento. A proposta deste tema “A Espiritualidade nas BemAventuranças – Evangelho de Mateus” visa resgatar os verdadeiros ensinos de Jesus para as comunidades atuais e ainda que, o caminho da felicidade está na vivência e prática de suas palavras. Inicialmente, o primeiro capitulo, faremos uma contextualização das características da comunidade de Mateus. Logo em seguida, no segundo capítulo, faremos uma análise dos textos do Livro de Mateus, em seu Capítulo 5, versículos de 1 a IO.
Finalmente, no terceiro capitulo, faremos uma exposição de possibilidades de uma re-leitura das bem-aventuranças para a atualidade. DUMAIS, Marcel. O sermão da Montanha. Coleção Cadernos Bíblicos. São Paulo: paulus,1 998. p 24. 6 O presente trabalho é uma tentativa de estudar o texto bíblico, observando as ênfases, as necessidades e as razões propostas pelo autor de Mateus. Esperamos que o leitor possa encontrar através desta leitura propostas para uma vida mais feliz. 7 1 – O CONTEXTO SÓCIO, POLÍTICO HISTÓRICO E RELIGIOSO DO RÉTICAS DA SOCIEDADE EVANGEHO DE MATEUS.
I CARACTERÍSTICAS DA SOCIEDADE DE MATEUS NO evangelho de Mateus, assim como em muitos outros livros bíblicos, não consta a citação de seu autor. Desde Pápias , atribui- se o primeiro evangelho escrito, segundo ele, em hebraico, a Mateus, o publicano, um dos doze. A análise do texto transmitido demonstra, porém, que não se trata de tradução e sim do original grego: o autor aparece como crente judeu de língua rega, com possível formação rabínica, que redige os ditos de Jesus aproximando-os de sua mentalidade, proclamando ao mesmo tempo a Jesus como Messias para todas as nações. para Gundry 3, a erudição moderna usualmente nega que o apóstolo Mateus tenha escrito o evangelho que traz o seu nome e isto é um fato que mostra que o evangelho é anônimo, pois seu autor não é identificado em nenhum momento específico. Porém, as tradições da Igreja Primitiva unanimemente atribuem a Mateus o primeiro evangelho. 4. Em apoio às tradições da Igreja Primitiva está a habilidade de organização exibida pelo autor que concorda om a mentalidade provável de um cobrador de impostos, como fora o apóstolo Mateus 5.
O real problema que enfrentamos, no caso do evangelho de Mateus, não é quem foi seu autor humano, mas antes, o que fizemos com as palavras deste livro, cuja fonte, afinal, é divina. Nosso problema não é se o lemos, ou analisamos, e MATEOS, Juan & CAMACHO, Fernando. O evangelho de Mateus. São Paulo: paulinas, 1 993. p 11 3 GUNDRY, H. Robert. panorama do Novo Testamento. (tradução João Marques Bentes). São Paulo: Edições Vida Nova, 2a Ed 4 Testamento. (tradução João Marques Bentes). São Paulo: Edições Vida Nova, 2a Edição: 1998. 91,92 4 GUNDRY, 1998. p 91,92; STAGG, F. Comentário Bíblico Broadmam do Novo Testamento, Volume 8. Editor geral: Clinton J. Allen. Trad. Adiel Almeida de Oliveira. 2a ed. Rio de Janeiro: Junta de Educação Religiosa e Publicações, 1986. p 102 5 GUNDRY, 1988, p 91,92 8 nem mesmo se “cremos” nele, intelectualmente falando. Nosso problema é se praticamos ou não os seus preceitos. Quanto do Cristo, ali descrito, tem sido infundido em meu ser? Quanto dessa natureza se tem tornado minha? Quão vital é seu ensino para mim?
O evangelho de Mateus apresenta um retrato imortal do Cristo. Quão profundamente esse retrato tem penetrado em minha alma, para transformá-la segundo a Imagem de Cristo? 6 Em relação à data da composição do livro, esta é incerta. No entanto, há um consenso entre os estudiosos. A data mais provável é entre os anos 70 d. C. e 90 d. C. 7 A natureza judaica do primeiro evangelho sugere que o mesmo foi escrito na Palestina ou na Síria, particularmente em Antioquia, para onde haviam imigrado muitos dos originais discípulos habitantes da Palestina. Quanto aos propósitos do livro de Mateus, Hendriksen 9 salienta que, de uma forma geral, pode-se dizer que foi conquistar lenamente os judeus para Cristo; ou seja, conquistar aqueles ainda nao convertidos e fortalecer aqueles já convertidos. Jesus aparece neste evangelho como o Messias Salvador, enviado por Deus, o Rei de Israel. IO É de suma importância apresentarmos uma anális s OF Salvador, enviado por Deus, o Rei de Israel. 0 É de suma importância apresentarmos uma análise do contexto econômico, social, político e religioso dos Judeus no ambiente das bem aventuranças para uma melhor compreensão e interpretação do verdadeiro significado do ensinamento de Jesus na montanha. CHAMPLIN, Russel Norman. O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo, Volume 1. São Paulo: Sociedade Biblica Brasileira, 1980. p 261 7 STAGG, 1986, p loa; GUNDRY, 1988, P 93; CHAMPLlN,1980, p 261; MATEOS, 1993, p 1 1; DAVIDSON, Francis (ed. ), STIBBS, A. M. (colab. ), KEVAN, E. F. (colab. , SHEDD, Russell p. (ed. em português). O Novo Comentário da Biblia. 3ed. São Paulo, sociedade Religiosa EdiCóes Vida Nova, 1995. 8 GUNDRY, 1988, P 96 9 HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento, Mateus, Volume 1 São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2001. p 145 10 MATEOS, 1993, p 8; GUNDRY, 1988, P 93; HENDRIKSEN, 2001, 145; CHAMPLlN,1980, p 262 Na economia, no tempo de Jesus, somente os filhos do sexo masculino tinham direito à herança, as filhas tinham esse direito quando não havia descendentes masculinos e mesmo assim, deveriam casar-se dentro do clá. 1 Os judeus que viviam na Palestina cultivavam trigo, cevada e centeio. A região era rica em frutas como: uvas, olivas, figos, tâmaras e romãs. Criavam gado. O peixe era a alimentação básica do povo em geral. Naquela época ainda se praticava a “troca”. Todos os israelitas acima de treze anos – alguns estudiosos dizem ser acima dos dezenove – deveriam pagar por ano, como impost treze anos – alguns estudiosos dizem ser acima dos dezenove deveriam pagar por ano, como impostos ao Templo, o equivalente a dois denários 12 e o dízimo de toda a produção da terra.
O Templo era o centro de tudo e desfrutava de considerável sacralização. Era o centro do poder econômico e o lugar privilegiado da presença de Deus entre o seu povo. Nichols 13 chama os romanos de “os senhores do mundo”. O mpério Romano trouxe o mundo a um estado de paz e ordem propiciando-lhe meios fáceis de comunicação que possibilitaram o avanço desimpedido da mensagem da redenção.
Subjugando amalgamando os melhores elementos do Oriente, a Grécia contribuiu com a mentalidade capaz de penetrar e interpretar as verdades profundas da religião cristã, com um espirito que proveu terreno fértil e susceptível, no qual se pôde semear a semente da propaganda do evangelho, e com uma língua capaz de exprimir a mensagem de redenção com clareza e exatidão. 14 Quanto à situação política, o modelo de organização da sociedade, na Palestina ocupada pelos romanos, permanece real e mesmo imperial. A ordem fiscal, a ordem pública, o direito e a justiça constituem os três setores básicos em que o poder é xercido.
A ordem pública era assegurada internamente pelos romanos, mas davam FERREIRA, Francisco Albertina As Bem-aventuranças de Jesus no Evangelho de Mateus. – Aparecida, SP: Editora Santuário,1 999. p 9 12 DAVIDSON,1995. 13 NICHOLS, Robert Hastings. História da Igreja Cristã. 1 1 a ed. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 2000. p 17 14 DANA, H. E. O Mundo do Nov Igreja Cristã. 1 1a ed. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 2000. p 17 14 DANA, H. E. O Mundo do Novo Testamento. Rio de Janeiro, JUERP, 1977. p 129 11 10 liberdade para a politica judaica do Templo, para questões ordinárias entre os judeus. Roma respeitava as estruturas e instituições religiosas de Israel. A suprema autoridade judaica, no âmbito religioso e nacional era o Sumo Sacerdote, chefe da classe sacerdotal e presidente do Sinédrio, que por sua vez, era um grupo composto por 71 membros, que exerciam funções e ações distintas no templo. 16 0 Sinédrio funcionava como corte de justiça. Dispunha de polícia, que podia prender e encarcerar os delinquentes, aplicar multas e castigos corporais e excluir os criminosos da comunidade israelita. 17 Para Morín 18 Jesus não foi um militante politico.
Sua mensagem foi, antes de tudo, o núncio da revolução que Deus realizava, vindo habitar entre os homens. Mas ele veio proclamar um Deus próximo dos pobres, vindo trazer-lhes um reino de justiça e paz. Um reino onde a hierarquia se transforma em fraternidade e o poder em serviço. Jesus com seu estilo de vida foi um questionador da sociedade judaica, pois era solidário com os pecadores, com os pequenos, com os sem-lei, com os impuros. Ele contestou as estruturas de uma sociedade que ousava apoiar-se em Deus para justificar a separação entre aqueles que ensinam e os que deviam ser condenados. 9 A visão do mundo alimentada por Mateus no que oncerne à sua aceitação da autoridade da Escritura e interesse em redefinir o papel d em redefinir o papel do povo da aliança, representa, por seu apego vigorosamente normativo, à ética e à rigidez de sua estrutura comunitária, uma espécie acentuadamente diversa de comunidade. O tom e retórica de sua polêmica implicam em contínuo e crescente conflito com a comunidade FERREIRA, 1999, p 12 JEREMIAS, Joaquim. Jerusalém no tempo de jesus. sao Paulo: paulinas, 1983. p 247 17 FERREIRA, 1999, p 12 18 MORIN, E.
Jesus e as Estruturas de seu tempo, 2a ed. São Paulo: Paulinas, 1982. p 1615 122 19 MORIN, 1982, p 98 udaica de pendor rabínico. Com essa ala do judaísmo, Mateus entra claramente em desacordo quanto ao fato de se incorporar, naquele ambiente de vida, o papel singular de Jesus e se redefinir a participação na aliança. 20 1. 2 OS CONFLITOS ENTRE O JUDAISMO FORMATIVO EOS JUDEUS CRISTÃOS No século l, muitos grupos de seguidores de Jesus ou eram partes integrantes da comunidade judaica ou ainda não estavam completamente separados do Judaísmo.
A destruição de Jerusalém e do Templo (70 d. C. ) não foi apenas um golpe político para o povo de Israel. Significou também a destruição do centro cultural e religioso do povo. Na verdade, esses domínios convergem e aglutinam na instituição e simbolismo do emplo. O Templo constitu(a a estrutura social e cósmica da sociedade israelita. Uma nova síntese religiosa-cultural era agora necessária para que o judaísmo sobrevivesse. Para J. Andrew Overman 21 na situação e no ambiente da de Mateus, judaísmo sobrevivesse. Para J.
Andrew Overman 21 na situação e no ambiente da comunidade de Mateus, os fatores que influenciaram mais profundamente seu desenvolvimento foram a competição e o conflito com o chamado Judaísmo Formativo – um grupo que, como a comunidade de Mateus, estava envolvido m um processo de construção e definição social. Como o judaísmo de Mateus, o Judaísmo Formativo estava no processo de vir a ser. Os anos seguintes à destruição do Templo de Jerusalém e à primeira revolta judaica foram significativos tanto para o judaísmo de Mateus como para o Judaísmo Formativo.
Foi durante esse período que os dois grupos organizaram e definiram mais KEE, H. C. As Origens Cristãs – Em Perspectiva Sociológica. São Paulo: Paulinas, 1983. p 44 21 OVERMAN,J. Andrew. O Evangelho de Mateus e o Judaísmo Formativo. São Paulo: Loyola, 1997, p. 14 20 12 ativamente sua vida e suas crenças. Na época da escritura do Evangelho de Mateus, os dois grupos, o Judaísmo Formativo e o Judaísmo de Mateus, estavam evidentemente em competição e, ao que parece, o Judaísmo Formativo estava ganhando terreno.
Isso tem um impacto significativo na forma e no conteúdo do Evangelho de Mateus. Muitos dos desenvolvimentos na vida da comunidade de Mateus ocorriam em resposta ao impacto que um Judaísmo Formativo em organização e consolidação estava tendo sobre as pessoas da comunidade e sobre seu mundo. Encontramos em luta com a comunidade de Mateus, o Judaísmo Formativo, que era um dos vários movimentos que brigavam para ganhar mais influência e cont 0 DF 92