Aec modelos de auto controle
Psicologia: Teoria e Pesquisa Set-Dez 2002, Vol. 18 n. 3, pp. 337-343 Modelos de Autocontrole na Análise Experimental do Comportamento: Utilidade e Crítical Elenice S. Hanna2 Universidade de Brasnia João Claudio Todorov Universidade de Brasília e Universidade Católica de Goiás RESUMO – O presente trabalho discute o conceito de autocontrole na análise do comportamento nas contribuições de Skinner, Rachlin e Mischel a partir de diferentes usos do termo.
Autocontrole envolve: (1) uma resposta controlada (RC) que é parte de uma ou uma combinação de contingências que programam reforça ma história individu que ar 22 esma resposta; (2) edades aversivas RC’) que modifica para RC; (3) um comp • Sv. ipe to view algum aspecto das c de RC, e conseqüent olvidas no controle nça na probabilidade de RC.
São apresentados dois modelos experimentais de autocontrole amplamente testados na literatura e discute- se que o que tem sido feito no laboratório é insuficiente para dar conta da amplitude do conceito como apresentado por Skinner. Palavras-chave: autocontrole; Análise Experimental do Comportamento. Models of Self-control in the Experimental Analysis of Behavior: Utility and Criticism ABSTRACT- he present study discusses the concept of self- control in behavior analysis and contributions of Skinner, Rachlin and Mischel.
Self-control comprises: (1) a controlled response (RC) that is part of one or a combination of contingencies with reinforcement and punishment programmed for a single response; (2) an individual history that establishes aversive properties for RC; (3) a controlling behavior (RC’) that modifies some aspects of the environmental conditions of RC contingencies, and consequently produces (4) changes in the probability of RC. Two experimental models widely reported n studies of self-control are presented and we argue that the literature has been insufficient to count for the broad concept as it was presented by Skinner.
Key words: self-control; Experimental Analysis of Behavior. Um pesquisador poderia facilmente justificar a utilização de paradigmas experimentais de comportamentos complexos demonstrando que esses modelos possibilitam a investigação sistemática de variáveis que afetam esses comportamentos. À medida que os fatores envolvidos são identificados, previsão e controle desses comportamentos em contextos clínicos e ducacionais tornam-se possíveis (Todorov, 1989).
Entretanto, é comum encontrarmos na linguagem do dia a dia o caso de um só termo utilizado para significar um comportamento complexo e significar também uma fonte de variáveis controladoras desse comportamento. Um exemplo é o conceito de autocontrole. As concepções de autocontrole como um traço de personalidade, uma característica inata dos indivíduos ou uma força interior que possibilita o controle de suas próprias ações contrastam com observações casuais de que uma mesma Uma versão preliminar deste trabalho foi apresentada na XXX
Reunião Anual de Psicologia, Sociedade Brasileira de Psicologia, Brasília – DF. Endereçar correspondência para Elenice S. Hanna ou João Claudio Todorov, Departamento de processos psicológicos Básicos, Instituto de Psicologia, Universidade de Brasília, Brasília – DE 70. 910900 (E-mail: hanna@unb. br, todorov@unb. br). Os autores agradecem os c PAGF Brasília, Brasília – DF, 70. 910900 (E-mail: hanna@unb. br, todorov@unb. br). Os autores agradecem os comentários de William Mcllvane. essoa pode apresentar diferentes graus de autocontrole em situações diferentes, como também na mesma situação autocontrole pode diferir em etapas diferentes da vida. As crianças são geralmente descritas como mais impulsivas do que os adultos. Apesar dos resultados de Darcheville, Riviere e Wearden (1992) mostrarem que crianças também se comportam com autocontrole, a maioria de nós, às vezes mesmo com vontade, não se comportaria como um bebê em qualquer lugar, ou em situação desconfortável não choraria ou gritaria, como fazem muitas crianças. Quando adultos se comportam . om responsabilidade”, “para ser gentil”, “para conquistar, “para ter uma alimentação saudável” ou “para salvar o planeta” em geral ? possível que não estejam fazendo “aquilo que mais desejariam naquele momento” e sim pensando ou agindo em função das oportunidades futuras de ações e suas conseqüências. O relaxamento na linguagem de um analista do comportamento, conforme mencionado anteriormente, serve para mostrar a extensão do fenômeno no comportamento humano e sua possível relação com autoregulação, preservação da espécie e do meio ambiente.
Esforços para explicitar melhor a influência do meio ambiente sobre a aquisição e manutenção de formas de agir que possam ser chamadas de autocontrole são bem-vindos muito necessários. A literatura sobre autocontrole na análise do comportamento apon337 E. S. Hanna e J. C. Todorov ta três grandes influenciadores no desenvolvimento de metodologia, de conhecmentos empiricos e nas discussões sobre o tema. São eles: B. F. Skinner, W. Mischel e H.
Rachlin (e seus colaborado nas discussões sobre o tema. São eles: B. F. Skinner, W. Mischel e H. Rachlin (e seus colaboradores). É principalmente dessas propostas de análise do autocontrole que o presente artlgo tratará. B. E Sklnner, apesar de nunca ter estudado experimentalmente autocontrole, mostrou a importância o tema em vários dos seus livros (1953, 1969, 1974, 1978), procurando especificar as interações entre comportamento e as contingências ambientais que devem ser analisadas.
Um capítulo inteiro do livro Ciência e Comportamento Humano (1953) foi dedicado à análise de comportamentos relacionados ao autocontrole. De acordo com Skinner (1 953): Com freqüência o indivíduo passa a controlar parte de seu próprio comportamento quando uma resposta tem conseqüências que provocam conflitos – quando leva tanto a reforçamento positivo quanto a negativo. (p. 230).
Apesar de o parágrafo acima ser um dos trechos mais citados uando se apresenta a noção de Skinner de autocontrole, há diversos aspectos na sua análise sobre o fenômeno que merecem ser enfatizados: 1. Trata-se de uma contingência ou uma combinação de contingências com duas conseqüências para uma mesma resposta (reforçamento e punição) — esta resposta é chamada por ele de controlada (RC); 2.
Envolve uma história individual onde ocorre o estabelecimento de propriedades aversivas para o comportamento controlado, idéia esta derivada da afirmação de que respostas que reduzem a probabilidade deste comportamento podem ser fortalecidas; 3. Faz parte da ontingência um segundo comportamento chamado por ele de controlador (Rcl )- que muda algum aspecto que compõe as condições ambientais e altera a probabilidade da resposta controlada; 4. As mudanças na contingência do comportamento controlado probabilidade da resposta controlada; 4.
As mudanças na contingência do comportamento controlado produzidas pelo comportamento controlador podem: (a) reduzir/aumentar a intensidade de estímulos eliciadores ou aversivos; (b) produzir/ retirar estímulos discriminativos; (c) modificar a motivação através da criação de operações estabelecedoras (emoção, rogas); (d) tornar reforçadores/punidores altamente prováveis ou improváveis; ou (e) desenvolver altenativas comportamentais que não impliquem em punição.
Em qualquer desses casos a mudança produzida pelo comportamento controlador somente alterará a probabilidade desse comportamento se a probabilidade do comportamento controlado for alterada. Considerando que diferentes mudanças podem ser produzidas pela resposta controladora e que um comportamento operante é definido a partir de suas consequências, para Skinner existem as várias formas de autocontrole citadas no item 4 acima.
Serão examinados aqui apenas dois tipos de autocontrole extraídos dos exemplos mencionados por Skinner (1953). O primeiro tipo foi escolhido por estar contemplado em duas propostas de modelos experimentais atu338 ais de autocontrole. O segundo foi selecionado por apresentar características que não estão contempladas naqueles modelos, possibilitando a especificação dos limites da forma como autocontrole vem sendo estudado experimentalmente e possíveis conseqüências dessas delimitações.
Os objetivos do presente texto são, pois, apresentar dois modelos experimentais e autocontrole, comparando-os com as análises do conceito apresentadas por Skinner e mostrar que, apesar da utilidade para o estudo do fenômeno, esses modelos não são suficientes para dar conta de muitos comportamentos que podem ser ta PAGF s OF fenômeno, esses modelos não são suficientes para dar conta de muitos comportamentos que podem ser também considerados como formas de autocontrole.
Para o primeiro tipo de autocontrole a ser analisado, Skinner (1953) utllizou exemplos como fechar portas ou cortinas, fechar os olhos ou ouvidos para eliminar estímulos que desviam a atenção ou “evitar a entação” (p. 227). Nestes casos pode-se considerar que existem dois operantes concorrentes e incompatíveis, RI e R2 (e. g. , RI olhar para o palestrante a sua frente e R2 = olhar para uma cena interessante na sala ao lado). Algumas vezes definimos a segunda resposta pela negativa da primeira (e. g. , não olhar ou não prestar atenção na palestra).
O exemplo realmente se insere no contexto de autocontrole quando a cena interessante Inclui uma pessoa atraente e o palestrante está discorrendo sobre um assunto que a longo prazo pode lhe valer um emprego ou uma promoção. Quando se fala em autocontrole para “evitar a tentação”, a resposta que produz o “fruto proibido” também produz algum tipo de consequência aversiva ou suspensão/ atraso de reforçadores, e ambas são melhor entendidas a partir da análise da contingência triplice na qual cada possível resposta está inserida (Todorov, 1985; 1991).
SDI: RI – > SRI SD2: R2- > SR2 atrasado Como RI e R2 são incompatíveis e o atraso de SR2 reduz o seu valor reforçador, a probabilidade de RI é maior do que a probabilidade de R2_ Entretanto uma Rcl que modifica as condições ambientais e remove os determinantes de RI, como erminar com SDI (fechar a cortina ou virar de costas para a ‘tentação”), pode também inverter as probabilidades de RI e R2. Esta análise de autocontrole está parcialmente contemplada na proposta de H. Rachlin (1970, análise de autocontrole está parcialmente contemplada na proposta de H.
Rachiin (1 970, 1974, 1976, 1989), que é um pesquisador dos processos básicos do comportamento de escolha. O estudo clássico de Rachlin e Green (1972) utilizou a seguinte contingência com pombos, chamada de commitment (aqui traduzido como comprometimento ou compromisso): No procedimento, chamado tecnicamente de esquemas oncorrentes com encadeamento (ou esquemas concorrentes encadeados, Figura 1), na etapa inicial o sujeito possui duas alternativas de respostas (chaves A e B), cada uma levando a uma segunda etapa diferente.
Respostas em A produzem eventualmente as condições de estímulo (SD) para RI e R2, mas responder em B produz apenas as condições de estímulo para R2. A emissão de RI é seguida imediatamente por uma pequena quantidade de alimento e a emissão de R2 é seguida por uma quantidade maior de alimento após um Psic. : Teor. e Pesq. , Brasília, Set-Dez 2002, Vol. 18 n. 3, pp. Autocontrole e AEC nor imediato chamada de impulsividade.
Em discussões mais recentes (Rachlin, 1989, 2000), o autor aponta também que, em alguns casos, a análise do autocontrole identifica conseqüências molares melhores contrastando com a escolha da alternativa de reforço menor imediato (molecular). A utilidade do paradigma de Rachlin tem sido confirmada por estudos que mostram que a preferência por uma das alternativas depende de fatores ambientais.
Nos resultados já relatados, observou-se que a escolha da alternativa de autocontrole varia em função de: valores absolutos e relativos do atraso da magnitude do reforço (e. g. , Green & Snyderman, 1980; Snyderman, 1983), tipo de programação do esquema concorrente de reforçamento (Logue, 1988), da experiência p PAGF 7 de reforçamento (Logue, 1988), da experiência prévia de reforçamento com atrasos progressivamente mais díspares (e. g. , Mazur & Logue, 1978; Logue e cols. , 1984), para citar alguns. ? importante salientar que é comum encontrar variabilidade inter e intra-sujeito nos resultados destas pesquisas, a qual tem sido negligenciada por alguns, mas tem sido alvo de investigações adicionais por aqueles que acreditam que a variabilidade é ruto da ausência de controle de variáveis importantes (para revisão sobre esse assunto veja Hanna, 1991 O segundo modelo apresentado aqui tem sido utilizado por W. Mischel e colaboradores (Mischel & Baker, 1975; Mischel & Ebbesen, 1970; Mischel, Ebbesen & Zeiss, 1972, Mischel, Shoda & Rodriguez, 1989; Mischel & Staub,1965), e é chamado de atraso de gratificação.
Esse modelo é também consistente com a análise de Skinner (1953) sobre o primeiro tipo de autocontrole citado aqui. Os estudos de Mischel e colaboradores na área de psicologia cognitiva têm há muito inspirado e sido citados por nalistas do comportamento. Nos estudos com esse modelo a tarefa consiste na criança permanecer (esperar por um período de tempo) em uma sala experimental até que o experimentador volte, para receber a recompensa de maior magnitude, ou emitir uma resposta (tocar uma campainha para chamar o experimentador) que produz o reforço menor imediato.
Este segundo modelo experimental, portanto, também programa conseqüências atrasadas e de magnitudes diferentes em uma situação de escolha. Já foi demonstrado que o tempo de espera está relacionado com idade, variáveis sociais (atitudes de outros rente as alternativas), características pessoais, instruções PAGF 8 OF (atitudes de outros frente as alternativas), características pessoais, instruções sobre o que pensar ou fazer enquanto espera (para revisão veja Mischel, Shoda & Rodriguez, 1989), para Cltar algumas variáveis.
Autocontrole para Mischel, na perspectiva cognitivista, é a posposição voluntária da gratificação imediata e persistência do comportamento direcionado para um alvo, devido às suas consequências atrasadas (Mischel & cols. , 1989). A partir de seus estudos, Mischel (Metcalfe & Mischel, 1999) desenvolveu m modelo cognitivo baseado em representações simbólicas da recompensa que incentivam ou esfriam ações que geram a recompensa imediata, chamado de hot/ cool-system analysis.
O modelo de atraso de gratificação foi adaptado para pombos por Grosch e Neuringer (1981) utillzando uma contingêncla de escolha semelhante à utilizada anteriormente 339 Figura 1 . Diagrama da contingência de comprometimento utilizada por Rachlin e Green (1972). atraso. Muitos detalhes do procedimento e dos resultados não serão descritos aqui, mas não devem ser relevados pelo leitor com interesse no tema.
Note a semelhança funcional com o exemplo apresentado anteriormente considerando a situação inicial de escolha como sendo fechar (B) ou não fechar (A) a cortina e a segunda envolvendo olhar para o palestrante ou para a pessoa interessante (RI e R2). Na contingência utilizada por Rachlin e Green (1972) e em exemplos fornecidos pelos autores existem três rotas possíveis: a) comprometer-se (responder em B) e ficar com a recompensa maior e atrasada; b) não se comprometer (responder em A) e ficar com a recompensa menor e mediata; e c) não se comprometer e ficar com a recompensa maior e atrasada.
A alternativa “c”, entretanto, não é uma alter comprometer e ficar com a recompensa maior e atrasada. A alternativa “c”, entretanto, não é uma alternativa comportamental real. Esta é uma alternativa sistematicamente excluída e é a justificativa para a necessidade da alternativa que estabelece o compromisso. Rachlin e Green mostraram que quando os sujeitos escolhiam a alternativa A, na segunda etapa eles escolhiam a alternativa de impulsividade. A mudança de preferência para a alternativa de compromisso (B) foi observada apenas com a introdução de um per[odo (T) mais longo entre a resposta em A u B e o início da segunda etapa.
Diversos estudos posteriores utilizaram uma situação única de escolha, como a apresentada na segunda etapa do lado “A” da Figura 1 para estudar autocontrole (e. g. , Logue & peña-Correal, 1984; Logue & peña-Correal, 1985; Logue, Chavarro, Rachlin & Reeder, 1988; Logue, PeñaCorreal, Rodriguez & Kabela, 1986; Logue, Rodríguez, Peña-Correal & Mauro, 1984, 1987). Ao utilizar esta contingência de escolha simples, os pesquisadores falam sobre autocontrole a partir das escolhas do reforçamento maior atrasado ou da preferência por esta alternativa.
Com a adição de valores iguais aos atrasos de reforçamento das duas alternativas de resposta, observou-se também um aumentou nas escolhas de autocontrole, replicando os resultados obtidos por Rachlln e Green (1972). Rachlin e seguidores definem autocontrole, portanto, como a escolha da (ou preferência pela) alternativa de reforçamento maior atrasado, sendo a escolha do estímulo reforçador mePsic. : Teor. e Pesq. , Brasília, Set-Dez 2002, Vol. 18 n. 3, pp. 337-343 E. S. Hanna e J. C. Todorov por Anslie (1974). Nesse procedimento se o pombo bicasse uma chave iluminada, a resposta produzia o acesso ao t