Domingos antonio raiol e sua cabanagem
A PESSOA DE DOMINGOS ANTONIO RAIOL E A SUA CABANAGEM A obra “Motins pollticos”, escrita pelo barão de Guajará, paraense Domingos Antonio Raiol, entre 1865 e 1890. Nascido em Vigia no Grão-Pará, ainda criança viveu a Cabanagem e se tornou órfão. Em Pernambuco se formou Bacharel na área de Ciências Jurídicas e Sociais em 1854, pela Faculdade de Direito de Recife.
Exerceu a advocacia em Belém no escritório de Bernardo de Souza Franco, o primeiro presidente da província do Pará nomeado após a contenção dos cabanos em 1839, onde tornou- se uma espécie de protegido, também lhe rendeu frutos em sua osterior carreira politica e intelectual. Swpe to page Monarquista convict extrapolou os limites s p indicação imperial, fo resid 1882, Ceará em 1882 Foi promotor público org o vida política que do Brasil.
Por las de Alagoas em em 1856, procurador dos feitos da Fazenda Nacional no Pará. Ao longo de toda sua trajetória politica e profissional Raiol nunca deixou de escrever obras históricas, sendo que sua maior foi Motins pollticos ocorrido na província paraense entre os anos de 1 820 e 1840. No ano de 1 883, em razão de seus serviços (políticos e intelectuais) a favor do Império, foi agraciado com o titulo obiliárquico de Barão de Guajará. Em sua obra, Raiol analisa o movimento da Cabanagem.
Sobre Três enfoques: a compreensão do sentido conferido pelo autor às revoltas re regenciais, entendidas sob o significado datado de motins; a abrangência temática de Motins Politicos, desvinculando-se sua narrativa do padrão de escrita factual predominante no século XIX; e por fim, o recurso ao natlvismo como elemento fundamental do discurso, na medida em que reforçou o sentido de construção da identidade regional amazônica- Face à natureza deste texto, limitei-me a tratar da primeira questão.
De tudo que já se produziu acerca da Cabanagem, Motins Pol(ticos é a mais antiga e até hoje a referência historiográfica mais importante sobre a revolta.
Se não houve iniciativa por parte dos historiadores do Rio de Janeiro, ligados ao então recém- criado IHGB, e que somente deram algumas pinceladas gerais neste tema, ao inseri-lo em seus compêndlos gerais de História Pátria, coube a Domingos Antonio Raiol a tarefa de elaborar a primeira grande narrativa sobre o movimento A publicação de sua obra representou uma ruptura definitiva na produção regional sobre o tema, que ainda era incipiente, estabelecendo- e como marco fundador da historiografia cabana.
Alguns fatores contribuíram para esta empreitada: primeiro, por ser Raiol conterrâneo dos cabanos; segundo, pelo fato de que seu pai fora assassinado pelos rebeldes em 1 835, quando contava então com clnco anos de idade; e finalmente, com vistas ao Ingresso no IHGB, viu-se no dever de contribuir, no âmbito da historiografia regional, para a consolidação desta história, nos moldes da concepção de construção da identidade nacional como vinha sendo elaborada pelos membros daquele institu PAGFarl(Fq sendo elaborada pelos membros daquele instituto.
Os Motins Politicos abordados por Raiol compreendem, de fato, três períodos da história do Pará durante o Brasil Império, os quais foram retratados em cinco tomos. O primeiro, lançado em 1 865, refere-se aos episódios que se sucederam com a convocação das Cortes em Portugal, no ano de 1821, passando pelo processo de reconhecimento da Independência na Província do Grão-Pará, até o ano de 1823.
No segundo tomo, de 1868, abrange os movimentos que ocorreram durante o reinado de D. Pedro I indo até o momento de sua abdicação; no terceiro e quarto tomos, publicados em 883 e 1884, dedlca-se à narração dos conflitos ocorridos no Pará após a instalação do governo das Regências, até o ano de 1834; no quinto e último tomo, trata exclusivamente da Cabanagem, cobrindo os anos de 1835 a 1840. ? exceção do episódio ocorrido em 1 824, quando foram mortas 256 pessoas entre povo e tropa, por asfixia dentro do brigue Palhaço, no encerramento dos sangrentos conflitos em torno do reconhecimento pela Independência na região Norte, todos os “motins” de maiores implicações políticas se deram durante o governo das Regências. O primeiro consistiu em um golpe político entre lideranças civis e militares, onde foi deposto o primeiro presidente da Província do Grão-Pará nomeado pelo governo regencial, em agosto de 1831, originando daí o nome da revolta, Agostada.
O segundo movimento, ocorrido em abril de 1833, tratou-se de um conflito entre “brasileiros” li PAGF3rl(Fq entre “brasileiros” ligados à Sociedade Federal e “portugueses” restauradores e caramurus, culminando num confronto sangrento onde morreram noventa e cinco pessoas. O terceiro e último conflito, que teve início em janeiro de 1835 om a tomada do Palácio do Governo e o assassinato das principais autoridades locais, o presidente de.
Província Lobo de Souza e o comandante de armas Silva Santiago, à qual a historiografia posterior convencionou chamar de Cabanagem. Tais conflitos, considerando os atores sociais envolvidos, as lideranças politicas implicadas, o nível de violência atingido e a mobilização de forças legais para repressão adquiriram diferentes graus de importância. Talvez por esta razão, dentre todos os “motins” apresentados por Raiol, a Cabanagem foi o único que a historiografia regional conseguiu perpetuar na emória coletiva.
O entendimento desses conflitos da forma como se realizou na obra, levou o autor a equipará-los a um mesmo nível de importância, tornando-se o problema da conceituação dos movimentos políticos uma questão que preferiu minimizar da seguinte maneira: Caberão às pesquisas vindouras explorar as outras duas revoltas acima mencionadas, uma vez que o estudo desses movimentos poderá preencher uma considerável lacuna na história paraense dos Oitocentos.
Imparcialidade dos atos políticos, motins regidos por leis universais e a submissão “natural” das massas populares às leis e ? justiça, foram elementos pelos quais o autor se expressou em termos de populares às leis e à justiça, foram elementos pelos quais o autor se expressou em termos de uma visão determinista quanto ? ocorrência dos conflitos sociais na Província do Grão-Pará O trecho que reproduzimos adiante sintetiza seu entendimento da ordem social: Entretanto, ao estilo factual pautado por esquemas explicativos desse tipo, vemos operar-se no texto informações que se referem ao contexto histórico dos conflitos abordados.
Ao descrever os fatos políticos da Prov[ncia, Raiol se aproximava da xegese, na medida em que passava a considerar como parte do seu estilo “hermenêutico”, o contexto histórico especifico do momento a que se referia. A concepção de histonador romântico em Ralol pode ser percebida pelo recurso ao exemplo da Revolução Francesa. Ao falar em “hábitos e costumes” do povo francês, sugeriu uma preferência “cultural” pela monarquia em detrimento do regime republicano implantado com a Revolução. Com isto procurou expressar em primeiro lugar, que as tentativas de proclamação do regime republicano, como se configuraram na Revolta Pernambucana e na Confederação do Equador, não onseguiram fazer frente aos anseios da opinião pública, já que, a seu ver, os brasileiros manifestaram-se francamente favoráveis ao “sistema monárquico” de governo.
Ao colocar-se, através do discurso, como um partidário do regime monárquico, Raiol justificou muito superficialmente as vantagens desse regime, em relação ao republicano, afirmando que o primeiro “por sua estabilidade, se torna um poderoso elemento de ordem e prosperidade. “. No fi primeiro “por sua estabilidade, se torna um poderoso elemento de ordem e prosperidade. “. No final do primeiro tomo ao fazer uma súmula de todos os otins ocorridos na provincia do Pará durante as décadas de 1820 e 1830, o autor recorre novamente ao marco da Revolução Francesa. por sua ótica, a chamada “fase do terror foi o resultado do “ódio das massas populares”, suscitando o espírito de anarquia que levaria aos atos de violência cometidos pelos líderes revolucionários.
Revelando ao máximo sua intolerância com as que chamou “classes ínfimas da sociedade” faz o seguinte comentário sobre as classes populares envolvidas na Cabanagem: Efetuando uma diferenciação no interior das classes populares da sociedade paraense entre povo e ralé, Raiol creditou à última, nde residiam elementos das “camadas ínfimas da população”, as ações mais violentas, os atos irrefletidos e destituídos de conotações politicas. Daí a comparação dos atos das massas rebeldes cabanas à fase do terror, como a historiografia denominou o período mais sangrento da Revolução Francesa: Nessa e em muitas outras passagens, o autor assinala que as sublevações populares são sempre o resultado das ações de classes superiores sobre grupos subalternos, os quais em sua ótica são naturalmente obedientes às leis e ao governo.
Em diversas partes do texto o vemos reiterar sua opinião quanto ao aráter instintivo e irracional das massas, que desprovidas de uma capacidade autônoma de ação, eram sempre incitadas por indivíduos esclarecidos, pertencentes a uma classe social bem mais el PAGFsrl(Fq sempre incitadas por indivíduos esclarecidos, pertencentes a uma classe social bem mais elevada. Considerando esta ambigüidade, é até certo ponto surpreendente a critica veemente feita por Raiol à ação de magistrados que atuavam durante a primeira metade do século XIX. Em tom de indignação, comenta acerca dos excessos do poder discricionário dos juízes nomeados pelo governo em omissões militares de julgamento nos casos da Confederação do Equador e da Revolução Pernambucana.
Identificamos o mesmo tom de critica quando Raiol tratou das ações de repressão aos rebeldes cabanos, feita pelas forças legais comandadas pelo general Soares d’Andréia. Prisões ordenadas sem processo, torturas e execuções foram assinaladas como extremos do aparato militar que empreendia expedições de busca no interior da Amazónia. O trecho que se segue expõe outra contradição do discurso de Motins Políticos. Antes apresentados como personagens algozes da história, os abanos ressurgem no trecho acima como vítimas do poder discricionário dos legalistas, revelando um ponto-devista ambíguo do autor, a principio favorável às ações militares de repressão contra os rebeldes da Cabanagem. Anda assim, a visão de mundo expressa em seu discurso o situa como um historiador de seu tempo.
Sua concepção da história dos movimentos sociais prende-se a noções universalizantes, compreendendo-os através de leis de funcionamento da sociedade, uma influência indireta da obra de Hypolite Taine sobre a Revolução Francesa, já que não foi citada por Raiol. Talvez essa influência justifiq obre a Revolução Francesa, já que não foi citada por Raio’. Talvez essa influência justifique a opção do autor por denominar tais movimentos como motins, o que, como se depreende dos dicionários de época, reduzia em importância e significado as revoltas do período regencial Transcrevemos um trecho onde o autor sintetiza sua concepção acerca dos movimentos sociais: Daí decorre seus esquemas explicativos naturalistas e universalizantes sobre a realidade social, compreendendo- a sempre como regida por leis invariáveis.
Procurou abordar a sociedade através de noções emprestadas do conhecimento ógico, como a Física e as Ciências Naturais; ao efetuar a distinção entre povo e plebe, ou ralé, sendo esta última considerada sem possibilidades de regeneração em sua ótica oitocentista de evolução social, adotou uma escrita com um estilo peculiarmente metafórico, onde a sociedade é comparada a um corpo. Em diversas partes do texto, os pobres são referidos como a “parte pútrida do tecido social”, sendo suas manifestações o resultado da anarquia, “fermento” que produz a “elevação das fezes sociais”. Quanto aos seus argumentos em prol da educação a defendeu omo um poderoso instrumento de redenção das classes populares, e consequentemente, uma forma de se evitar a ocorrência de motins políticos.
Sua visão positiva acerca do aparato jurídico, dos direitos individuais e da propriedade, e a obediência aos valores morais pelo poder público foram compreendidos como fatores fundamentais para se evitar as agitações populares. Por fim, o ódio de raças de “homen PAGF8rl(Fq fatores fundamentais para se evitar as agitações populares. Por fim, o ódio de raças de “homens de cor contra os “brancos”. Quanto a este, julgou o autor que tal sentimento fosse ntrojetado pelas classes superiores no seio das camadas baixas da população. Contudo, assinalamos aparentes contradições em seu discurso quanto à visão que possuía sobre o comportamento violento das massas populares.
Se num determinado momento, o autor afirmava no primeiro tomo de sua obra, que as classes populares sempre respeitam a ordem pública, sendo incitadas pelas camadas mais altas da população a promoverem conflitos, no quinto e último tomo da obra, Raiol modifica completamente seu discurso: Ao invés de considerarmos tal entendmento da sociedade como outra contradição do discurso preferiu apontar nesse exemplo ma mudança na visão do autor, já que nesse trecho de sua narrativa, discorria sobre aos atos violentos dos revoltosos ocorridos na vila de Vigia, que culminariam com o assassinato de seu pai, Pedro Antonio Raiol. Em decorrência disto, expressou naquelas linhas a intolerância diante da ralé, sobre a qual, a seu ver, recaía a impossibilidade de regeneração social. Universidade da Amazônia-unama Alunos: Charles Andrade Eliezer Oliveira Igor Batista Leonardo Santos Lerry Soares Marcelo Amaral Marcos Ramos Professor: Rui Jorge Matéria: Historia Social da Amazônia PAGFgrl(Fq