Economia

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18 2 A GLOBALIZAÇAO DA ECONOMIA MUNDIAL Este capítulo, apresenta a dinâmica de desenvolvimento da economia mundial e os fatores que contribuíram para o processo de globalização e de acumulação de capital ao longo de cinco séculos. Além disso, tem por objetivo identificar os impactos do processo de globalização da economia mundial sobre o desenvolvimento econômico e social e sobre as desigualdades econômicas, sociais, regionais, nacionais e internacionais.

Compõe-se de três partes: • A dinâmica de dese • O processo de glob 6 As desigualdades ec ôw,. ,_ Swipe to view nentp Ao abordar a dinâmi undial, pretende-se ia mundial Século XX diais no Século XX da economia essência do processo de acumulação do capital em escala global com os elementos que lhe deram sustentação durante cinco séculos.

Na abordagem do processo de globalização, buscase apresentar suas principais características em cada um dos seus períodos do Século XV ao Século Ao tratar das desigualdades econômicas e sociais mundiais no Século XX, procura-se avaliar os efeitos do processo de globalização na geração das disparidades sociais e internacionais. Finalmente, foram apresentados os impactos do processo de globalização obre o processo de desenvolvimento econômico e social e as desigualdades econômicas, sociais, regionais, nacionais e internacionais. 2. A DINÂMICA DE DESENVOLVIMENTO DA ECONOMIA Século XV ao Século XX. é preciso retroagir no tempo, desde as origens do capitalismo. Além disso, é necessário entender o capitalismo da forma como concebeu Braudel (1982), que admitiu ser ele constituido por uma camada superior de uma estrutura em três patamares: a camada inferior, a mais ampla, de uma economia extremamente elementar e basicamente auto- suficiente, que denominou de vida material, a camada da não-economia, o solo em que o capitalismo rava suas raízes, mas na qual nunca consegue penetrar.

Acima dessa camada, vem o campo da economia de mercado, com suas muitas comunicações horizontais entre os diferentes mercados em que há uma coordenação automática que liga a oferta, a demanda e os preços. Depois dessa camada eng acima dela, vem a zona do antimercado onde circulam os grandes predadores e vigora a lei das selvas. Esse — hoje como no passado, antes e depois da revolução industrial — verdadeiro lar do capitalismo (Figura 2).

ANTIMER CADO ECO NO MIA DE MER CADO VIDA MATER IAL Figura 2 — Estrutura do capitalismo em camadas segundo Fernand Braudel Como afirma Arrighi (1996), a questão principal nao é identificar quando e como uma economia mundial de mercado ergueu-se acima das estruturas primordiais da vida cotidiana, mas quando e como o capitalismo ergueu-se acima das estruturas da economia mundial de mercado preexistente e, com o correr do tempo, adquiriu seu poder de moldar de maneira nova os mercados e as vid inteiro.

Defende a tese de 26 inteiro. Defende a tese de Braudel quando afirma que a metamorfose da Europa no monstruoso modelador da história mundial em que ela se transformou depois de 1 500 não foi uma simples transição. Foi, antes, uma série de etapas e transições, datando a primeira delas de muito antes do que se costuma conhecer como o Renascimento do fim do século XV. (Arrighi, 1996, p. l) Segundo Arrighi (1996), em parte alguma do planeta essa metamorfose aconteceu, à exceção da Europa onde algumas nações foram impelidas à conquista territorial do mundo e ? formação de uma economia mundial capitalista poderosa e verdadeiramente global. Considera ainda que a transição importante que precisa ser elucidada não é a do feudalismo para o capitalismo, mas a do poder capitalista disperso para um poder oncentrado, e que o aspecto mais importante desta transição é a fusão singular do Estado com o capital, que em parte alguma se realizou de maneira mais favorável ao capitalismo do que na Europa.

Apoiando-se em Braudel, Arrighi (1996) acrescenta que o capitalismo só triunfa quando se identifica com o Estado, quando é o Estado. Em sua primeira grande fase, a das cidadesestado italianas de Veneza, Gênova e Florença, o poder estava nas mãos da elite endinheirada. Na Holanda do Século XVII, a aristocracia dos regentes governou em benefício dos 20 negociantes, mercadores e emprestadores de dinheiro, e até de cordo com as suas diretrizes.

Do mesmo modo, na Inglaterra, a Revolução Gloriosa de 1688 marcou uma ascensão dos negócios semelhante à da Holanda. “A fusão entre o Estado e o capital foi o ingredie capital foi o ingrediente vital da emergência de uma camada claramente capitalista por sobre a camada da economia de mercado e em antítese a ela” (ARRIGHI, 1996, p. 20). O capitalismo só triunfa quando coloca o Estado a seu serviço, isto é, quando a burguesia assume a hegemonia do poder político.

Arrighi deixa claro que: a concentração do poder nas mãos de determinados blocos de órgãos overnamentais e empresariais foi tao essencial para as reiteradas expansões materiais da economia mundial capitalista quanto a concorrência entre estruturas políticas aproximadamente equivalentes. Como regra geral, as grandes expansões materiais só ocorreram quando um novo bloco dominante acumulou poder mundial suficiente para ficar em condições não apenas de contornar a competição interestatal, ou erguer-se acima dela, mas também de mantê la sob controle, garantindo um mínimo de cooperação entre os Estados.

O que impulsionou a prodigiosa expansão da economia mundial capitalista nos últimos quinhentos anos, m outras palavras, nao foi a concorrência entre Estados como tal, mas essa concorrência aliada a uma concentração cada vez maior do poder capitalista no sistema mundial como um todo (ARRIGHI, 1996, p. 13). Para Arrighi (1996), Veneza/Gênova, Holanda, Reino Unido e Estados Unidos, pela ordem, foram as grandes potências das sucessivas épocas durante as quais seus grupos domina 4 26 desempenharam, ao mesmo tempo, o papel de lideres dos processos de formação do Estado e de acumulação do capital.

Todas as vezes que os processos de acumulação de capital em escala mundial, tal como instituídos numa dada época, tingiram seus limites, seguiram-se longos períodos de luta interestatal, durante as quais o Estado que controlava ou passou a controlar as fontes mais abundantes de excedentes de capital tendeu também a adquirir a capacidade organizacional necessária para promover, organizar e regular uma nova fase de expansão capitalista (Figura 3), de escala e alcance maiores do que o anterior.

Co nce ntraçã o do po der capi Iatista Co ncorrê nc ia entre o s Estado *Naçõe s Expa nsão mun dial capital ista Acumu lação de capital Elaboração própria. Figura 3 – A expansão da economia mundial capitalista – causas e efeitos21 Arrighi (1996) defende a tese de que existiram quatro ciclos sistêmicos de acumulação de capital durante a evolução do capitalismo como sistema mundial: um ciclo genovês, do Século W ao início do Século XVII’ um ciclo holandês, do fim do Século XVI até decorrida norteamericano 100 anos. ara Wallerstein (1997) existe um moderno sistema-mundo que se originou no Século WI, o “longo século XVI” no dizer de Braudel, isto é, de 1450 a 1640, denominado cap talismo. Capitalismo e economia-mundo são, pois, as faces de uma mesma moeda. Considera que o capitalismo foi, desde o início, um assunto da economia-mundo e ão de estados-naçóes e que se trata de um equívoco afirmar que é somente no Século XX que o capitalismo se tornou mundial. Afirma ainda que foi apenas com a emergência da moderna economia-mundo na Europa do Século XVI que se viu o pleno desenvolvimento e a predominância econômica do comércio.

O desenvolvimento do capitalismo histórico como sistema mundial baseou-se na formação de blocos cosmopolitas-imperialistas (ou corporativos- nacionalistas) cada vez mais poderosos de organizações governamentais e empresariais, dotados da capacidade de ampliar (ou aprofundar) o raio de ação da economia mundial apitalista, seja do ponto de vista funcional, seja espacial. Para Arrighi (1996), em cada um dos ciclos de acumulação do capital a expansão comercial e da produção ocorrida no início deu lugar no final a uma especialização mais concentrada nas altas finanças, isto é, na especulação e na intermediação financeira.

Essa mudança de orientação aconteceu devido à queda nas taxas de lucro na expansão comercial e na produção. Wallerstein (1984) defende a tese de que a economia capitalista mundial que passou a existir na Europa no Século WI é uma rede de processos de produção integrados, unificados em OF2b Século XVI é uma rede de processos de produção integrados, unificados em uma simples divisão do trabalho.

Seu imperativo básico é a incessante acumulação de capital que é centralizada via acumulação-primitiva, a concentração de capital e os mecanismos de troca desiguais. Sua superestrutura política é o sistema interestatal composto por “estados”, alguns soberanos, outros coloniais. As zonas sob a jurisdição desses estados no sistema interestatal não têm sido economicamente autônomas, desde que elas têm sido sempre 22 integradas em uma grande divisão do trabalho da economia mundial.

Acrescenta ainda Wallerstein (1984) que o sistema econômico mundial tem se expandido historicamente em consequência de suas necessidades internas e tem incorporado novas zonas dentro da divisão de trabalho da economia mundial. Essas zonas que foram incorporadas tinham naturalmente muitos diferentes tipos de estruturas políticas no momento da incorporação e esses tipos de estruturas variaram do auto- suficiente império mundial com poderosa administração centralizada e longa herança histórica até as tribos de caçadores e lavradores sem Estado.

Wallerstein (1984) deixa evidenciado que quando grandes e elativamente poderosas estruturas como a do Império Russo, Império Otomano, Pérsia e China foram incorporadas, as forças externas buscaram enfraquecer os poderes dessas estruturas estatais e fazer acordos nos seus limites. Eventualmente, essas estruturas estatais recentemente incorporadas tornaram-se o que Lênin e outros deno semicolônias”. Em zonas incorporadas tornaram-se o que Lênin e outros denominaram de “semicolônias”.

Em zonas como o Caribe, América do Norte ou Austrália, as estruturas de poder dos nativos e grande parte de sua população foram destruídas e incorporadas e novos estados coloniais foram stabelecidos freqüentemente com a ajuda de colonos europeus. Houve um grande número de zonas como no subcontinente indiano e em muitas partes do sudeste da Ásia e África onde foram estabelecidas poderosas estruturas políticas circundadas por outras mais fracas.

Tipicamente, essas áreas foram invadidas e reduzidas ao status colonial, mas sem a intrusão de colonos europeus. Essas colônias foram governadas por uma mistura de dirigentes locais e estrangeiros. 2. 2 0 PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO DO SÉCULO XV AO SÉCULO xx Pode-se afirmar que a globalização é um processo que se iniciou há mais de cinco séculos, ue se aprofundou ao longo do tempo com a evolução da economia-mundo capitalista e se consolidou na era atual englobando todo o sistema econômico do planeta.

Ao longo do processo de globalização, em diferentes momentos históricos, as classes dominantes da Holanda, do Reino Unido e dos Estados Unidos se substituíram na liderança da economiamundo capitalista assumindo, com o decisivo apoio de seus Estados-Nações, a hegemonia da dinâmica de acumulação do capital. Os estudos de Fernand Braudel, Immannuel Wallerstein e Giovanni Arrighi demonstram a validade dessa tese.

Trata-se, portanto, de um equívoco, onsiderar a globalização um acontecimento recente, isto é, do Século XX, e traduzi-la co globalização um acontecimento recente, isto é, do Século XX. e traduzi-la como 23 sinônimo da hegemonia mundial dos Estados Unidos na era atual. A existência há mais de cinco séculos de uma economia-mundo capitalista em processo de expansão ou de globalização foi um dos fatores determinantes do progresso econômico e social das economias dos países capitalistas centrais e de retrocesso ou atraso das economias periféricas ou semiperiféricas (Figura 4).

Processo glo ba lização Pro gre sso co nômico e socia I dos p arses capital ista s centrais Amp liaça o d o pod er d as gran d es potê nc ia s Atraso ou retro ce sso dos p aises periférios / semiperiféricos Re dução da cap ac id ade de ma no bra d os p aíses Figura 4 — Impactos da globaliza ão da economia mundial sobre os países multo tempo, no minimo há cinco séculos, passando desde então por etapas diversas.

Antes de ter início a primeira fase da globalização, os continentes encontravam-se separados por intransponíveis extensões acidentadas de terra e de águas, de oceanos e mares, que faziam com que a maioria dos povos das culturas soubesse da existência uma das outras apenas por meio de lendas e imaginários relatos de viajantes como Marco polo. Cada povo vivia isolado dos demais, cada cultura era auto-suficiente; nascia, vivia e morria no mesmo lugar, sem tomar conhecimento da existência dos outros.

Braudel (1982) chamou esse processo de longo prazo de globalização de “o plano mais alto da economia” que, no Século XVI, “transpôs as fronteiras políticas e culturais que, 24 cada uma a sua maneira, separavam e diferenciavam o mundo mediterrâneo”. Naqueles tempos, globalização significava principalmente comércio de onga distância, devagar pelos padrões atuais, de metais preciosos, cereais e bens de consumo caros, bem como um sistema internacional de pagamentos em evolução, baseado em letras de câmbio entre banqueiros e comerciantes em pontos distantes do sistema.

Braudel define a economia mundial como uma soma de áreas individualizadas, econômicas e não- econômicas, [estendendo-se] para além das fronteiras de outras grandes divisões históricas… A economia mundial é a maior superfície vibradora possível, que não somente aceita a coniuntura, mas, em ce ou nível, a cria. É a 0 DF 26

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