Ler e escrever estratégias de produção textuais
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E NATURAIS DEPARTAMENTO DE LÍNGUAS E LETRAS JESSICA SENA SALES “0 SISTEMA TRÁGICO “É PRECISO ACABAR TELES” E org Trabalho apresentado ao curso de Letras – Português da Universidade Federal do Espírito Santo — UFES, como requisito parcial para aprovação na disciplina de Estudos Literários II, ministrada pelo professor Sérgio da Fonseca Amaral. Para Aristóteles, “A Arte é uma imitação da Natureza”.
Assim, para o filósofo, Arte seria uma recriação do principio criador das coisas criadas. Tal princípio criador foi definido anteriormente por iversos filósofos que buscavam uma explicação para a existência do mundo à sua volta e para a sua própria existência, como sendo uma matéria ou substância única, cujas transformações originaram todas as coisas conhecidas e associaram cada substância a uma força transformadora.
Utilizando Platão e seu principio segundo o qual o conhecimento consistia na passagem do mundo sensfi,’el da realidade (coisas Imperfeitas) para o mundo das ideias perfeitas, Aristóteles introduz os conceitos de substância, matéria e forma, afirmando que a realidade tende à perfeição expressa pelas deias. Assim, imitar significaria recriar o movimento interno das coisas que se dirigem à perfeição (o movimento que desenvolve a matéria em direção à sua forma final).
Tal movimento era a natureza. A Arte, a partir da recriação desse movimento, tem como função corrigir as falhas que a Natureza apresenta na sua busca pela perfeição. A Tragédia deve imitar as ações determinadas pela alma racional, paixões transformadas em hábitos, do homem que busca a felicidade, através do comportamento virtuoso (caracterizado por voluntariedade, liberdade, conhecimento e onstâncla), cujo fim supremo é a Justiça, cuja expressão máxlma é a Constituição.
Com isso, conclui-se que a Aristóteles afirma que a felicidade do homem está condicionada à obediência às leis. Como nem todos aceitam os afirma que a felicidade do homem está condicionada ? obediência às leis. Como nem todos aceitam os critérios de desigualdade nos quais se baseiam as leis para a obtenção da justiça faz-se necessána a presença de certas formas de repressão (política, polícia, costumes, tragédia grega), para fazer com que todos fiquem contentes ou passivos diante da situação stabelecida.
O sistema aristotélico de funcionamento da tragédia pode ser considerado um forte sistema de repressão, uma vez que tem por finalidade provocar a “catarse” no público espectador. Assim como a Arte corrige as falhas da Natureza na busca pela perfeição, a Tragédia corrige as falhas humanas na busca da felicidade pelo comportamento virtuoso, através da catarse, da eliminação (purgação) do elemento estranho e indesejável (impureza) que impede o homem de atingir seus objetivos. Tal elemento estranho é algo que ameaça o indivíduo e a sociedade, algo contrário às leis.
O sistema trágco coercitivo de Aristóteles é um sistema de repressão na medida em que tem por finalidade, através da eliminação de algum elemento prejudicial ao equilíbrio interno da sociedade (catarse), frear o indivíduo, conter rebeliões contra o sistema político estabelecido, eliminar tudo aquilo que não é legalmente aceito, purgar as tendências agressivas do espectador, uma vez que revela o destino trágico de uma personagem que agiu contra os valores éticos da sociedade em que se encontra.
Ao apresentar variações do sistema de Aristóteles, o autor sugere que ele continua sendo seguido, ao menos na sua es PAGF3rl(F8 do sistema de Aristóteles, o autor sugere que ele continua sendo seguido, ao menos na sua essência, nos dias atuais, purgando os indivíduos de características contrárias ao sistema polltico, social e econômico estabelecido.
O que não deixa de ser verdade, levando-se em consideração as telenovelas e produções cinematográficas atuais, em que o herói apresenta uma infinidade de virtudes (características boas aos olhos da sociedade) e o vilão, uma série de vícios (características más aos olhos da sociedade). Na maioria dos casos, estabelece-se o “final elif’, onde que o herói goza de plena felicidade e o vilão sofre as consequências de seus atos. Entretanto, o destino das personagens, principalmente no que se refere às telenovelas, é determinado pela reação do público espectador, que reflete a opinião da sociedade.
Assim, ao mesmo tempo em que as telenovelas reforçam a visão da sociedade e das camadas de poder, podendo ser vistas como elemento coercitivo e intimidatório das classes mais baixas, é também controlada e repreendida pela mesma sociedade que pretende repreender. O poder de repressão encontra-se, sim, presente, mas arece que sofreu uma inversão: ao invés de partir do produto veiculado e se instaurar sobre a população, parte agora da população, que impõe seus valores nas produções artísticas de sua época.
Tal poder é exercido de tal maneira que o sucesso das produções está plenamente veiculado à aceitação do público, que passa a escolher e decidir por conta própria o que é bom e mau para si propno. Trata-se, pois, não mais de art PAGF por conta própria o que é bom e mau para si próprio. Trata-se, pois, não mais de artes que, ao refletirem os valores da sociedade, acabam por impô-los na população, mas e populações que, ao adquirirem consciência e liberdade de expressão, acabam por impor seus valores sociais nas produções artísticas. FONTE ARTAUDE, Antonin. O teatro e seu duplo. São Paulo: Max Limonad, 1999. p. 97-1 12. 1. 2 É preciso acabar com as obras-primas há a presença de uma epidemia de peste que é uma encarnação fisica dessas forças. Mas tudo isso sob disfarces e numa linguagem que perderam qualquer contato com o ritmo epiléptico e grosseiro deste tempo. Sófocles talvez fale alto, mas com modos que já não são desta época. Ele fala fino demais para esta época, e parece que ele fala de lado.
No entanto, a massa que as catástrofes de estradas de ferro fazem tremer, que conhece os terremotos, a peste, a revolução, a guerra; que é sensível às agonias desordenadas do amor, consegue alcançar todas essas elevadas noções e só pede para tomar consciência delas, mas com a condição de que se saiba falar sua própria linguagem e de que a noção dessas coisas não lhe chegue através de disfarces e palavras adulteradas, pertencentes a épocas mortas que nunca mais poderão ser retomadas.
Antonin Artaud dizia que o teatro deveria ser considerado como um Duplo, não da realidade cotidiana e direta da qual foi eduzldo a ser uma cópia inerte, mas de uma realidade perigosa e arquetípica. Para tornar-se essencial, o teatro deve nos dar tudo o que pode ser encontrado no amor, no crime, na guerra ou na loucura. Tem que ser desenvolvida a ideia de um teatro sério que ultrapasse todos os nossos preconceitos, que implique uma crueldade, uma ação extrema levada aos últimos limites, sem, portanto, deixar de ser uma realidade verossímil.
Artaud concebe um espetáculo dirigido ao organismo inteiro (orgânico), no qual haja uma mobilidade intensiva de objetos, gestos, signos, que senam utilizados em um novo sentido, já que o teatro requer ma e de objetos, gestos, signos, que seriam utilizados em um novo sentido, já que o teatro requer uma expressão no espaço. É importante acabar com a sujeição do teatro ao texto. A linguagem teria que ir mais além das palavras, ser também uma linguagem de sons, luzes, onomatopeias, incluir música, dança, pantomima, mímica, efeitos de toda espécie.
Na obra é proposta toda uma revolução dos elementos teatrais, a ruptura com a noção tradicional: a concepção do espaço, da cenografia, da indumentária, etc. Segundo Artaud, o ator é um elemento de fundamental importância (pois o êxito do espetáculo depende e sua interpretação eficaz), uma espécie de elemento passivo e neutro, já que é negada a ele toda a iniciativa pessoal.
Ao dizer que as obras primas são qualidades do passado e que nao servem para o tempo atual, Artaud propõe uma linguagem inovadora, recheada de riscos, na qual as imagens ffsicas e violentas instiguem a sensibilidade do público que se vê preso por forças superiores. Ele propõe a quebra dos antigos padrões em prol do movimento, da inquietação, da reflexão através de caminhos que não são confortáveis para a sociedade. Ao abandonar as fórmulas pslcológicas, iriamos ater ao xtraordinário da vida, que através da arte, mais empiricamente através do teatro, nos livre do lugar comum ao qual estamos habituados. . 3 Questões a) Em seu texto O sistema coercitivo de Aristóteles, Augusto Boal afirma que o Sistema Trágico Coercitivo de Aristóteles persiste nos dias atuais com o objetivo de “frear o indivíduo e adaptá-lo ao que pré-existe”. possivel citar exem atuais com o objetivo de “frear o indivíduo e adaptá-lo ao que pré-existe”. É possível citar exemplos dessa adaptação nos dias de hoje? b) para Aristóteles, “A Arte é uma imitação da Natureza”. Assim, ara o filósofo, Arte seria uma recriação do princípio criador das coisas criadas.
Podemos apesar da coerção em torno da arte, ter ideias vindas diretamente de algo inexistente? c) Ao apresentar variações do sistema de Aristóteles, Boal sugere que ele continua sendo seguido, ao menos na sua essêncla, nos dias atuais, purgando os indivíduos de características contrárias ao sistema polltico, social e econômico estabelecido. Se não fosse esse “modelo”, é possível afirmar que haveria telespectadores dispostos a assistir a realidade da sociedade? d) Para Artaud é importante acabar com a sujeição do teatro ao exto. A linguagem teria que ir mais além das palavras.
Estaria ele tentando sujeitar a sociedade a um novo sistema? e) Segundo Artaud, o ator é um elemento de fundamental importância, uma espécie de elemento passivo e neutro, já que é negada a ele toda a iniciativa pessoal. O ator poderia então ser considerado parte de um todo no teatro? f) Ao dizer que as obras primas são qualidades do passado e que não servem para o tempo atual, Artaud propõe uma físicas e violentas instiguem a sensibilidade do público que se vê preso por forças superiores. É possível acabar parcialmente ou completamente com as obras- rimas?