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Custo de Oportunidade: Oculto na Contabilidade, Nebuloso na Mente dos Contadores André Moura Cintra Goulart Mestrando em Controladoria e contabilidade da FEA/USP Resumo Este trabalho tem como objetivo desenvolver uma reflexão sobre o custo de oportunidade, buscando-se constituir uma base adequada para a identificação de possíveis deficiências de conhecimento do referido conceito por parte dos profissionais da área contábil.

Considerando-se sua relevância e grande potencial de aplicação nas atividades empresariais, como na avaliação de resultadps, entende-se como fundamental a xistência de compreensão sobre o custo de oportunidade e suas aplicações. Pesquisa exploratória realizada indica a validade da hipótese estabelecida, de que os profissionais da área contábil detêm conhecimento insatisfatório sobre o conceito objeto deste estudo.

Assim, evidencia-se a necessidade de que mais atenção seja dada ao custo de oportunidade no processo de formação dos profissionais da contabilidade. Espera-se que estes profissionais, com segurança conceitual, estejam em condições de colaborar ativamente com o aproveitamento do custo de oportunidade m suas diversas aplicações, seja na contabilidade societária ou na gerencial, com benefícios para os usuários das informações contábeis. 1.

Introdução ao problema O conceito de custo de oportunidade apresenta destacada relevância e grande potencial de aplicação na avaliação de resultados de empresas. Também é amplamente utilizado, anda que intuitivamente, nas decisões pessoais tomadas diariamente. pode ser aplicado em diferentes fases do processo decisório, como no planejamento e decisões de -lal Studia de investimento. Apesar de não desconhecer a existência do usto de oportunidade, a contabilidade societaria não o considera em seus registros.

Assim, nos procedimentos de apuração de resultados que seguem os princípios de contabilidade geralmente aceitos, o custo de oportunidade é desconsiderado, como que ignorado, não contemplado. uma das consequências é que aos usuários de demonstrações financeiras não são transmitidas quaisquer informações sobre o custo de oportunidade. Por outro lado, no campo da contabilidade gerencial, observa-se que alguns modelos utilizam o conceito de custo de oportunidade, permitindo uma correta avaliação de resultados e compreensão dequada do efetivo desempenho de uma entidade.

Tais modelos, conforme Nascimento (1998: 130), representam esforços de autores em eliminar o distanciamento entre a teoria e a prática, concebendo instrumentos que permitem a “aplicação sistemática do conceito, visando promover mensurações mais precisas das consequências de decisões tomadas” e, com isso, contribuir para a “prática salutar de tomar decisões à luz de todos os elementos envolvidos nas circunstâncias”. Neste trabalho, como exemplo de consideração do custo de oportunidade, é apresentando o modelo de gestão econômica (Gecon).

Considerando a já destacada relevância do custo de oportunidade, entendese como de fundamental importância que os profissionais da contabilidade compreendam satisfatoriamente o conceito, seja para uma ampliação da consciência sobre a lacuna existente na contabilidade societária, seja para um incremento no aproveitamento do conceito nas avaliações gerenciais de resultados ou em outras fases do processo decisório. Nesse contexto, de parcial aproveitamento e parcial desconsideração cont 2 7 do processo decisório.

Nesse contexto, de parcial aproveitamento e parcial desconsideração contábil do custo de oportunidade, uestiona-se a qualidade da compreensão detida pelos profissionais da contabilidade quanto ao citado conceito. Então, na mente dos contadores, haverá segurança quanto ao conceito de custo de oportunidade? 2. Premissas básicas Cabe destacar, inicialmente, ser assumida a relevância da utilização do conceito de custo de oportunidade para uma correta avaliação de resultados empresariais.

Assim, os procedimentos contábeis que não consideram o conceito são entendidos como deficientes. Nesse contexto, entende-se como importante característica, na formação de um profissional de contabilidade, ma satisfatória compreensão do conceito e de suas possíveis aplicações. Neste trabalho, a graduação em ciências contábeis não é condição necessária para a caracterização do “profissional de contabilidade”. Este é entendido como qualquer profissional, com grau superior completo, que atue diretamente com a contabilidade.

Quanto à pesquisa exploratória realizada, responderam ao questionário elaborado profissionais com grau universitário, que atuam diretamente com a contabilidade e atividades de auditoria, na cidade de São Paulo. Vale mencionar que os participantes da pesquisa são reconhecidos como rofissionais de boa formação e conhecimento em contabilidade. Assim, entende-se que a amostra constitui parâmetro aceitável para indicações sobre o nível de conhecimento no universo de profissionais da área contábil no âmbito nacional. 3.

Objetivos O objetivo fundamental deste trabalho é desenvolver uma reflexão sobre o custo de oportunidade, buscando-se constituir uma base adequada para a Identificação de possiVeis deficiência 27 oportunidade, buscando-se constituir uma base adequada para a identificação de possíveis deficiências de conhecimento e compreensão do referido conceito por parte dos profissionais a área contábil. A reflexão propõe-se a discutir o custo de oportunidade, sua importância na contabilidade e em aplicações especificas, como na avaliação de resultados.

Trata-se de um trabalho de caráter exploratório, não objetivando alcançar respostas definitivas sobre o tema, mas levantar indicadores sobre a qualidade do conhecimento dos profissionais da área contábil sobre o conceito de custo de oportunidade. 4. Hipótese A hipótese deste trabalho é que o conhecimento sobre o conceito de custo de oportunidade, por parte dos profissionais da área contábil, é insatisfatório. Expressando de outra forma, é assumida a hipótese de que o conhecimento é deficiente, apresentando-se, de maneira geral, como superficial.

Assim, caracteriza-se uma situação hipotética em que o profissional de contabilidade não apresenta segurança quanto ao referido conceito. 5. Metodologia A metodologia deste trabalho está baseada em uma revisão de literatura, que busca caracterizar o conceito de custo de oportunidade, e em uma pesquisa exploratória, que objetiva aferir a qualidade do conhecimento de profissionais da área contábil sobre o que seja o custo de oportunidade. 6. O Custo de oportunidade 6. 1 – O conceito Em nossas vidas fazemos multas escolhas. E, quando escolhemos algo, acabamos abrindo mão de outras coisas.

Eis um raciocínio relevante para a compreensão do conceito de custo de oportunidade: ao escolher, tomamos um curso de ação, abandonando outras alternativas que nos proporcionariam benefícios específicos. Há um pensamento que, expresso na língua ingles 4 27 que nos proporcionariam benefícios especificos. Há um pensamento que, expresso na língua inglesa, transmite a mesma idéia: “If you get something, you generally have to give up something”. Então, se você escolhe algo, se você obtém algo, normalmente terá que abandonar algo.

E isso que é “desistido”, sacrificado ou do que se abre mão, refere-se justamente ao custo de oportunidade. Pindyck & Rubinfeld (1994:257) apresentam o seguinte entendimento para o conceito de custo de oportunidade: “os custos associados com as oportunidades que serão deixadas de lado, caso a empresa não empregue seus recursos em sua utilização de maior valor”. Thompson (1973), citado por Heymann & Bloom (1990: 10), oferece uma definição simples e elucidativa: “aqueles beneficios que poderiam ter Sido ecebidos tivesse um curso alternativo de ação sido escolhido”. ? interessante notar que quando escolhemos algo, temos a tendência a olhar apenas para aquilo que foi obtido com a escolha, não atentando para os benefícios que foram sacrificados pelo fato de não se ter escolhido outras alternativas. O conceito de custo de oportunidade é sempre presente quando a aceitação de uma alternativa exclui outras. Assim, “representa o custo de oportunidade o quanto a empresa sacrificou em termos de remuneração por ter aplicado seus recursos numa alternativa ao invés de outra” (Martins, 1995: 208).

Spenser & Spielgelman, itados por Mauro (1992:1 70), dizem que o custo de oportunidade refere-se ao custo das oportunidades a que se renuncia, ou em outras palavras, a uma comparação entre a política que se elegeu e a política que se abandonou. Por exemplo, o custo por usar o capital é o juro que se pode ganhar no melhor uso seguinte com risco igual. Se os fundos de s 7 capital é o juro que se pode ganhar no melhor uso seguinte com risco igual. Se os fundos de capital podem ganhar 5 por cento em seu emprego mais produtivo, esse é então o seu custo para a empresa que usa os fundos”.

Heymann & Bloom (1990:9) também fazem referência ao que enominam de princípio do custo de oportunidade, o qual tem origem no fato de que “o uso de um recurso econômico em uma aplicação exclui o seu uso em outra. Horngren (1985:93), define custo de oportunidade como “a contribuição máxima disponível de que se abre mão utilizando-se recursos limitados para um determinado fim”. Da expressão “contribuição máxima”, pode-se entender uma referência a melhor das alternativas abandonadas.

Observa-se, nas definições propostas, a referência às noções de escolha entre alternativas e de sacrifício e renúncia da remuneração e beneficios de alternativas abandonadas. Na pesquisa de campo realizada, procura-se testar se os profissionais possuem ciência sobre a relação das referidas “noções” com o conceito de custo de oportunidade. 6. 2 — Noção intuitiva A noção de custo de oportunidade é utilizada por todas as pessoas, em multas situações do dia-a-dia. Ao buscar uma compreensão sobre o conceito, é útil refletir sobre alguns desses casos, os quais se constituem em interessantes ilustrações.

Martins (2000: 33), destaca que “o custo de oportunidade é um dos mais relevantes na economia e nas decisões, não só do homem como de qualquer ser vivo que decide. ? natural, instintivo, intuitivo. (Se o leitor chegou até aqui, arcou com o custo de oportunidade relativo ao que teria ganho se tivesse aproveitado esse tempo para fazer o que considerava a segunda melhor alternativa no momento Aproveitando a contribuição de Heymann & 6 27 considerava a segunda melhor alternativa no momento (… )Y’.

Aproveitando a contribuição de Heymann & Bloom (1990:7), agora em considerações “não econômicas”: “parece claro que qualquer indivíduo pode fazer apenas algumas coisas particulares durante um periodo especifico de tempo. Por exemplo, assistir a um jogo e futebol exclui outras alternativas, como trabalhar no escritório. Usando o princípio do custo de oportunidade, o indivíduo imagina que o custo de assistir ao jogo não consiste apenas no preço explicito do ingresso, mas também nos ganhos sacrificados por não se trabalha”‘.

Assim, um indivíduo pode escolher entre trabalhar e ganhar $ 50, ou ir ao jogo, pagar o ingresso de $ 20, e receber outros benefícios não monetários, como o prazer de assistir à estréia da nova estrela de seu time. Supondo que assistir ao jogo tenha sido a alternativa escolhida, espera-se que os benefícios não monetários sejam superiores a $ 70, de forma compensar o preço do ingresso e a remuneração sacrificada, ou seja, o custo de oportunidade.

Outra interessante constatação: profissionais bem remunerados têm naturalmente maior probabilidade de contratar alguém para cortar a grama de seu jardim e lavar o seu carro do que aqueles que são remunerados de forma significativamente inferior. Isso ocorre não somente pelo fato de os profissionais melhor remunerados terem mais recursos para contratar serviços, mas também porque uma hora perdida, para eles, representa sacriffcios maiores.

Verifica- se que o conceito de custo de oportunidade está presente em iversas situações com que as pessoas deparam-se diariamente, especialmente quando a escolha de uma alternativa exclui o indivíduo dos benefícios proporcionados pelas alternativas rejeitadas. alternativa exclui o individuo dos benefícios proporcionados pelas alternativas rejeitadas. 6. 3 – A questão do risco Suponhamos que uma pessoa esteja pensando em abrir uma loja, carecendo de recursos para financiamento. Recorre a um amigo, fazendo a seguinte proposta: “Empreste-me $ 10. 000,00, por um ano, que lhe pagare juros de 10% a. . “. Este amigo, no entanto, rejeita a proposta, contestando: “Tenho condições de aplicar minhas poupanças e bter 15% ao ano”. Poderíamos pensar que bastaria oferecer uma remuneração de 16% a. a. para que o amigo aceitasse a proposta. Mas essa comparação desconsidera a questão do risco. Se o pagamento do empréstimo (Juros e principal), por parte do empreendedor, estiver condicionado ao sucesso do empreendimento e, este, por sua vez, configurar-se como de elevado risco, enquanto a alternativa disponível de aplicação a 15% for “livre de risco”, confirma-se a Impropriedade da comparação.

Martins (1995: 208), propõe um tratamento ao problema: “Duas alternativas poderíamos analisar, sem entrar m muito detalhe: ou entendemos o custo de oportunidade com relação a outro investimento de igual risco ou tomamos sempre como base o investimento de risco zero, que seria, no caso brasileiro, em títulos do Governo Federal, ou a Caderneta de Poupança”. Quanto maior o risco de uma aplicação, maior será a rentabilidade esperada pelo investidor. É por isso que investidores de bolsas de valores têm expectativa de auferir ganhos mais elevados do que os aqueles que aplicam em renda fixa.

Brealey & Myers (1992: 141), com bom humor, conseguem transmitir a noção do risco: “Os investidores sensatos não correm iscos somente para se divertirem. Estão a jogar com dinheiro verdadeiro”. O CAPM (capital asset pric 8 7 somente para se divertirem. Estão a jogar com dinheiro verdadeiro”. O CAPM (capital asset pricing model) consiste em um modelo de precificação de ativos que evidencia a relação entre risco e rentabilidade esperadal. No modelo, a rentabilidade esperada de um investimento varia na proporção direta do g (beta), o indicador de risco de mercado. A expressão do CAPM é a seguinte: Re = Rf+ g (Rm — RO.

O gráfico a seguir ilustra como o risco interfere no retorno esperado: Para entender o modelo, ? preciso definir as seguintes variáveis: a) Re = rentabilidade esperada de um ativo, como uma ação negociada em bolsa; b) Rf rentabilidade esperada da aplicação livre de risco (como a poupança ou títulos do Governo Federal); c) Rm = rentabilidade esperada da carteira de mercado (dada pelo índice Bovespa); d) (Rm – Rf) = prêmio de risco (diferença entre a rentabilidade de mercado e a da aplicação livre de risco, significando o adicional de retorno em função de um indivíduo expor-se a uma aplicação de risco, como o mercado acionário) e e) g (beta): indicador de risco de mercado de uma ação, que mede a sensibilidade do etorno de uma ação especifica relativamente às variações da carteira de mercado (uma ação de g = 1 tem risco igual ao da carteira de mercado; 13 = 0,8 indica uma ação de risco reduzido e g = 1 representa uma ação de maior risco). Assim, se o custo de oportunidade envolve a análise da remuneração oferecida por diferentes alternativas de aplicação, é apropriado considerar os graus de risco de cada empreendimento.

A simples comparação de retornos colabora com uma avaliação imperfeita. 7. A não consideração pela contabilidade societária O custo de oportunidade, apesar de conter, em sua expressão, a palavra usto, ap societária O custo de oportunidade, apesar de conter, em sua expressão, a palavra custo, apresenta natureza diversa dos “custos” normalmente tratados pela contabilidade. Uma das dificuldades para a compreensão do conceito reside justamente nessa característica de um custo que “não é bem um custo”. Quando falamos em “custos normalmente tratados pela contabilidade”, estamos nos referindo àqueles que, segundo Horngren (1985:93), são chamados de custos de desembolso.

Para este autor, o custo de oportunidade “representa uma alternativa abandonada, de modo que o “custo” é diferente do ipo comumente encontrado de custo, no sentido de não ser o custo de desembolso normalmente discutido pelos contadores e administradores. Um custo de desembolso implica, mais cedo ou mais tarde, um dispêndio de caixa Depreende- se que o custo de oportunidade está inserido em um conjunto de conceitos não usuais na contabilidade tradicional de custos. O fato de não receber espaço em demonstrações contábeis não significa que se trate de conceito de pouca relevância. pelo contrário, é muito importante para o tomador de decisões.

Segundo Beuren (1993:1), “a aplicação do conceito de custo e oportunidade é de fundamental importância para que os relatórios contábeis possam ser mais úteis aos usuarios da contabilidade. (… ) Entretanto, o sistema contábil tradicional, quer com registros a valores históricos puros ou a valores históricos corrigidos, não contempla informações sobre os possveis resultados na aplicação de recursos em utilizações alternativas”. Martins (1995: 208), referindo-se ao custo de oportunidade, faz a seguinte observação: “Esse é um conceito costumeiramente chamado de “econômico” e “não-contébil”, o que em si só explica, mas 0 DF 27

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