Memorial de leitura

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POR TAMIE SAITA MEMORIAL DE LEITURA 1 -APRESENTAÇÃO “O narrador conta o que ele extrai de experiência – sua própria ou aquela contada por outros. E, de volta, ele a torna experiência daqueles que ouvem a sua história. ” Walter Benjamim Elaborar um Memorial é imergir na própria história reavaliando a trajetória de vida e trazendo à tona não só recordações, mas também dados que novos sentidos.

Ao entrar em contat a oportunidade de d nossa vida e refletir c orlo to view nextgEge para o presente s passadas temos dimensões de ificado destas em ossa trajetória, problematizando a ação no presente e nos reconhecendo como sujeitos sócio-histórico. Neste Memorial de Leitura apresento uma narrativa rememorando meus primeiros passos na alfabetização (1a a 4′ séries do Primário), a descoberta da leitura e análise de livros na adolescência (5a a séries do Ginasial, 10 a 30 anos do Colegial) e teço considerações acerca da formação leitora. – A DESCOBERTA DAS LETRAS E DA LEITURA Nasci em Diadema, em 1968, na época um pequeno bairro da cidade de São Paulo – Capital, mas foi na “casa nova”, para onde nos mudamos (Jd. Aeroporto — SP) quando eu tinha 6 anos, que minha curiosidade pela leitura aflorou. Não existia pré-escola em instituições públicas e meus pais, com seis filhos, não poderiam artista de circo, inviável equilibrar-me em duas rodas); tomar ônibus sozinha . com tanta gente lá dentro, o motorista nunca iria adivinhar onde eu queria ir); e ler ( como eu iria decifrar aqueles códigos? . Meus pais e irmãos estavam alheios a esta minha curiosidade e não eram muito amigos da leitura. Como toda criança, fazia pseudo-leitura dos rótulos de embalagens, por exemplo, e fingia que lia revistas, mas me ei conta de que existia um código de escrita a partir de uma propaganda de sorvetes em outdoor. As letras eram incrivelmente parecidas com seus personagens e fiquei encantada: Coco Pirata, Laranja Sapeca e Uva Maluca. Para minha felicidade meu pai comprou os tais sorvetes.

Pedi as embalagens aos meus Irmãos e recortei desenhos e letras. Interagi com este material por semanas e com a mediação de minha irmã mais velha aprendi o som e de cada vogal e sllaba do alfabeto. Comecei então a tentar ler tudo que via, dando agora sentido ? escrita. Eu estava radiante no primeiro dia de aula na escola Municipal Ministro Calógeras, dentro daquele uniforme “militar”: camlsa social de tergal, saia pregueada até a altura dos joelhos, meias 3/4 e sapato social preto impecavelmente engraxado.

Parece estranho alguém dizer que “lembra” de cheiros, pois eu lembro: o dos plásticos que encapavam os cadernos, da caixa de lápis de cor, das canetinhas Silva Pen, e da cartilha Caminho Suave. Se eu pudesse inventaria o perfume desta obra – para minha surpresa, é considerada uma obra didática concebida pela educadora Branca Alves Lima, que com o intuito de suavizar e facilitar a al 10 idática concebida pela educadora Branca Alves Lima, que com o intuito de suavizar e facilitar a alfabetização associou imagens às letras.

Atualmente, graças à internet tive acesso a esta cartllha e voltei no tempo. Emocionada, recordei o aprendizado de cada letra, cada palavra. Não por acaso me identifiquei, na época, com a metodologia, já que minha história de leitora começa justamente com o encantamento pelo lúdico das letras que se associavam ao personagem do sorvete. A professora Susana (1a série), embora fosse de uma ternura e paciência inesgotáveis, era firme e exigente.

Não permitia conversas paralelas durante as explicações (sob pena de ficar virado contra uma parede), nos fazia copiar vezes e mals vezes palavras e frases (saíamos da escola com as mãos latejando), ler textos em pé e em voz alta (não tinha aquele que não gaguejasse ou ficasse vermelho). Mas, funcionava… É estranho que eu esteja afirmando isto, até porque muitas posturas da Pedagogia Tradicional ainda me incomodam, mas devo concordar que a atenção exigida durante as aulas fez com que todos, sem exceção, aprendessem a ler.

Concluo que atitudes ou metodologias, seja de que tendência edagógica for, devem ser refletidas e não simplesmente descartadas (ou até aceitas), pois se não são adequadas em determinado contexto, talvez sejam em outro. Nas 2a e séries, os professores trabalhavam com leitura e compreensão de textos – é uma pena que não tenha sido “interpretação” de texto. Adotavam um livro e líamos todos os dias um trecho. Recebíamos fichas com perguntas que eram resp Adotavam um livro e líamos todos os dias um trecho.

Recebíamos fichas com perguntas que eram respondidas num caderno específico: “Qual era o animal preferido de X? O que X foi fazer m Y lugar? Em que parágrafo se encontra a frase X? por que X ficou zangado? “. Eram aulas cansativas e monótonas a para sobreviver a esta tortura, eu e minhas amigas fazíamos de conta que se tratava de um jogo de “quem acha primeiro a resposta”. A pior parte era a de sentir o “frio na espinha” ao ter que ler em voz alta. A questão não era ler, com isto eu não tinha problemas.

A questão era ler em voz alta, e como eu era tímida! Lia bem, mas quase ninguém ouvia… 3- A PRIMEIRA PAIXÃO, O PRIMEIRO LIVRO Na 4a série e com dez anos de idade, já na primeira semana e aula fomos surpreendidos com o seguinte discurso da professora: Vocês já estão quase virando adultos, ano que vem vão para a quinta série. Então, têm que aprender a ler livros feito gente grande. O livro que vocês vão ler é para fazer uma prova no dia X. Chama-se A Mina de Ouro – e, sem mais delongas, anotou na lousa o nome da autora e editora.

No recreio, como bons pré-adolescentes, exorcisamos a professora e queríamos reivindicar nosso direitos: “Isto deve ser proibido na 4a série”, “Minha mãe é professora, vou perguntar se isso é certo”, “Vou falar com meu tio que é advogado! . Não adiantou, teríamos mesmo que terminar de ler aquelas 160 páginas em um mês. Contudo, descobrimos que o livro era fantástico! Narrava as aventuras de um grupo de jovens, de nossa faixa etána, que se perdiam no interior de uma caverna. Eu não grupo de jovens, de nossa faixa etária, que se perdiam no interior de uma caverna.

Eu não desgrudava do livro, e como que para não perder nenhum detalhe ou momento de suspense, lia em voz alta. Minha irmã, na época com 6 anos, certo dia aproximou-se e ficou atenta, ouvindo a história. Neste dia descobri as emoções de uma verdadeira leitura! Pedi para que ela se sentasse ao meu lado e anunciei com voz de locutor: “Atenção senhores ouvintes, hoje mais um cap[tulo das incríveis aventuras da história… A Mina de Ouro! (voz de suspense). Um livro de… Maria José Dupré (cantando).

Como a leitura deveria ser compreendida por uma criança de 6 anos (a irmã), intuitivamente eu pontuava as frases e, se não satisfeita com o efeito, retomava a leitura. Tornei-me expert em pontuação, antecipando a entonação de voz já no inicio da frase para por exemplo dar sentido às reticências ou ponto de exclamação no final desta. Tive também que inventar uma voz diferente e modo peculiar de falar para cada personagem, facilitando sua identificação (uma falava calmo, outro com voz estridente ou gaguejando).

Estabelecemos um horário para a leitura que se transformou numa espécie de radio novela (muito ouvidas na época) com direito a intervalo comercial. Adotei como meu melhor segundo amigo de leitura o dicionário. Outros livros igualmente maravilhosos que lemos foram O caso da borboleta Atíria (Lucia Machado de Almeida), Menino de Asas (Homero Homem) e Justino, o retirante (Odette Barros Mott). 4- PARA GOSTAR (AINDA MAIS) DE ER

Como acontece com quase todo estudante, ingressar na quinta sene GOSTAR (AINDA MAIS) DE LER série me causou calafnos – acredito que seja uma das fases mais críticas da puberdade – as mudanças hormonais e corporais que nos torna temperamentais, os interesses se voltam para a primeira paixão, os pés crescem além da medida e como se não bastasse isso tudo, alguém aterroriza: “A 5a série é fogo! Te prepara! ” Eu já me imaginava trancafiada em casa lendo aqueles livros indecifráveis de um filósofo qualquer da antiguidade.

Contudo, da à 8a séries os principais livros adotados pelos professores oram os da coleção para Gostar de Ler, compostos por crônicas de autores como Fernando Sabino, Luis Fernando Veríssimo, Carlos E. Novaes, José Carlos Oliveira dentre outros não menos importantes. Além de ser uma leitura agradável e lúdica, o fato de serem crônicas foi uma novidade, pois não t[nhamos o compromisso de seguir uma sequência rígida de leitura, podíamos ler primeiro as que nos agradassem mais. Contudo, não contávamos que no dia da avaliação teríamos que nos recordar de cada história, e eram muitas.

O título da coleção poderia ser “Para ter Prazer em Ler”, pois não e lembro de um só colega que não tenha adorado este estilo. 5- QUEBRANDO TABUS Ingressei no 10 ano Colegial aos 15 anos (1983). Confesso que estava exausta de estudar e queria até desistir, ficar durante aquele ano em férias. Mas, os hormônios da adolescência falaram mais alto: o garoto mais lindo do barro iria estudar na Escola Municipal de 20 grau Dr. Carlos Augusto de Freitas Villava Jr. , ou simplesmente Villalvão. PAGF 10 Escola Municipal de 20 grau Dr.

Carlos Augusto de Freitas Villava Jr. , ou simplesmente Villalvão. Foi uma época em que podíamos sair sem a companhia de dultos, de ônibus e voltar às dez da noite, promover bailinhos que varavam a madrugada em nossas garagens ou ficar na rua conversando até as duas da manhã sob protesto dos vizinhos. Era também uma época em que todas as meninas se insultavam de “galinha”, que significava não ser virgem, o que era um insulto e tanto! Pegar fama de “galinha” então… Eu discordava deste modo superficial de tratar do tema sexualidade.

Uma das revistas que eu li muito nesta fase foi a Caricia. Os pais jamais conversavam com suas filhas assuntos tão proibidos como métodos anticoncepcionais, aborto, orgasmo, masturbação, a rimeira vez. Esta revista também trazia depoimentos, conselhos, opiniões e foi dialogando com estas leituras que construí meus próprios valores e Juizos. A professora de L[ngua Portuguesa do 10 Colegial, aos meus olhos uma recatada e respeitosa oriental, indicou como leitura para fins de avaliação o livro Feliz Ano Velho de Marcelo Rubens Paiva.

Ficamos todos boquiabertos e surpresos com o conteúdo, que além de atender às expectativas da faixa etária como narrar viagens entre amigos adolescentes, namoro, beijos, trazia temas sobre a sexualidade. Inclusive o autor esteve na escola nos oncedendo uma entrevista. Percebendo comentários e burburinhos a respeito da sexualidade, a professora no dia seguinte deu uma verdadeira “lição de moral” e aula sobre o tema. O mais importante foi que ela esclareceu, sem eufemismos e com muito profissio aula sobre o tema.

O mais importante foi que ela esclareceu, sem eufemismos e com muito profissionalismo, que sexo não era “coisa suja” ou vergonhosa, mas que vinha acompanhado de responsabilidades. Foi como se eu deixasse de ser o patinho feio e me tornasse cisne, afinal, alguém importante concordava comigo. 6- CONSIDERAÇÕES FINAIS Muito se discute a respeito da formação leitora dos alunos. O que fazer para estimular a curiosidade e vontade de ler? Que estratégias de leitura usar em sala de aula? Qual o papel dos pais na formação leitora dos filhos?

O fato de viver num ambiente leitor ou cercado de livros garante esta formação? Fazer com que os alunos leiam textos avulsos ou um livro por mês incentiva ou desmotiva? Como formar leitores competentes? Quais os motivos da aversão à leitura? Não vivi num ambiente leitor. Minha mãe estudou até a série e lia livros espiritualistas, segundo ela, proibido para menores. Meu pai, nascido no Japão, mal falava o português, era Engenheiro Topógrafo, mas os livros que lia eram todos em seu idioma.

Meus Irmãos (cinco) não se interessavam muito pela leitura e nem mesmo os livros obrigatórios para avaliação escolar tinham sua atenção: pediam para que algum colega contasse a história na véspera da prova. Me questiono: se todas as crianças tivessem o mesmo encantamento que tive por algo tao simples (letras em embalagens de sorvete) se apaixonariam da mesma forma que eu pela descoberta do alfabeto e da leitura? Foi uma descoberta solitária, porém preenchida por eslumbramento, sensações e magia. Não havia ninguém ao lado daquela garota para preenchida por deslumbramento, sensações e magia.

Não havia ninguém ao lado daquela garota para incentivá-la, encorajá-la, ensiná-la. O que então moveu esta busca? É intrigante perceber hoje, que nem mesmo eu saberia responder, e se soubesse, enquanto futura Pedagoga, defenderia uma tese de mestrado ou escreveria um Best seller. Acredito que todas as crianças tenham este momento em suas vidas. Mas quem, com que dom se aperceberia deste momento sui generis a ponto de acolhê-la e fazê-la seguir em frente sem eixar se esvair este sentimento de felicidade? Não tenho dúvidas de que a escola foi primordial na minha formação leitora.

Os livros adotados eram carregados de slgniflcados que vinham de encontro aos anseios e interesses da cada faixa etária. O livro O caso da borboleta Atíria, por exemplo, fazia alusão à própria metamorfose pela qual estávamos passando aos 10 anos, e foi trabalhado interdisciplinarmente. Quantas crianças hoje, aos 10 anos, lêem um livro por mês de cerca de 160 páginas? São mais que dez livros por ano! A maioria das escolas populares, por motivos diversos, não têm dotado esta prática e optam pela pesquisa e leitura de textos de temas diversos, aos quais todos têm acesso através da internet, jornais, revistas.

Não descarto a importância deste tipo de leitura, mas é diferenciada daquela do livro, onde há uma história que provoca emoções, onde o aluno se identifica com determinado personagem, renete criticamente sobre atitudes e sente-se motivado a continuar a ler. Jovens, e até crianças, ao escolher um livro para leitura baseiam- se em três “qualidades”: ter se em três “qualidades”: ter poucas páginas, multas ilustrações e letra grande. Se ler três laudas de um texto já acham “um porre”, imaginem o que pensarão de um livro inteiro de 200 páginas?

Talvez, a escola de obras que proponham algum tipo de reflexão, sejam bem escritas e que estejam de acordo com os interesses da faixa etária tenham outro efeito que não o da repulsa. Carrego comigo o hábito da leitura. Leio pelo menos um livro a cada 20 dias, já que frequento uma biblioteca. Isto faz de mim exemplar e competente leitora ou uma intelectual? Não sei, já que leio de Jorge Amado a Danusa Leão, obras de Piaget a Harry Potter. Sei que, além de ter conseguido realizar as três colsas impossíveis andar de bicicleta, tomar ônibus sozinha, hoje, além de ter aprendido a ler, não só leio como: “Leio e me enleio.

Um ledo pelas páginas, pelas prosas, pelos versos, pelos livros que leio. Caminho, leio e me enleio. Pelos versos que me perco. Leio enleio. Mais que um caderno de resumos, um caderno de visões”. (http://leioenleio. blogspot. com/) REFERÊNC AS A MINA DE OURO. httpwpt. wikipedia. orgnviki/A FELIZ ANO VELHO. http://wvwN. mood. com. br/literatura/9. asp O CASO DA BORBOLETA ATíRlA. http:meiturasisabel. blogspot. com 12007/11 /o-caso-da-borboleta-atria. html PARA GOSTAR DE LER. http://www. passeiweb. com/na_ponta

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