Processo civilizatorio

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3 0 PROCESSO CIVILIZATORIO povos GERMINAIS O processo civilizatório, acionado pela revolução tecnológica que possibilitou a navegação oceânica, transfigurou as nações ibéricas, estruturando-as como impérios mercantis salvacionistas. Assim é que se explica a vitalização extraordinária dessas nações, que de repente ganharam uma energia expansiva inexplicável numa formação p meramente feudal e também nu essas últimas só surgiram mais tar De fato, as teorias ex OF6 Mesmo porque landa. dial não oferecem categorias teóricas capazes de explicar seja o poderio singular que alcançou civilização Árabe por mais de um milênio de esplendor, seja a expansão ibérica, que criou a primeira civilização universal. Essa carência é que nos obrigou, em nosso estudo do processo civilizatório (Ribeiro 1968, 1972), a propor, com respeito ao mundo árabe, a categoria de império despótico salvacionista, enfatizando o caráter atípico de seu salvacionismo, que nunca quis converter ninguém. Simplesmente conquistavam a área, gritavam o Jihad e deixavam o povo viver. expulsaram seu contingente judeu, assumindo inteiro comando de seu território através de u m poder centralizado que não deixava espaço ara qualquer autonomia feudal ou qualquer monopólio comercial. Num segundo movimento, se expandiram pelos mares, lancando- se em guerras de conquista, de saqueio e de evangelização sobre os povos da África, da Ásia e, principalmente, das Américas. Estabeleceram, assim, os fundamentos do primeiro sistema econômico mundial, interrompendo o desenvolvimento autônomo das grandes civilizações americanas.

Exterminaram, simultaneamente, milhares de povos que antes viviam em prosperidade e alegria, espalhados por toda a terra com suas línguas e com suas culturas originais. Ao mesmo tempo, se plasmam a si mesmas como novas ormações socioeconômicas e como novas configurações historico-culturais, que cobrem áreas e subjugam populações infinitamente maiores que a europela (Ribeiro 1970). É no curso dessa autotransformação que as populações indígenas das Américas, do Brasil inclusive, se vêem conscritas, a seu pesar, para as tarefas da civilização nascente.

Viabilizando-a na base dos saberes indígenas, que permitiram a adaptação do europeu em outras latitudes, e provendo largamente a força de trabalho que as inseriu no mercado França e a Itália, tão realizadas e plenas como ramos da civilização ocidental, não foram germinais. Fechadas em si, feudalizadas, ocupadas em dissensões com suas variantes internas, elas não se organizaram como Estados nacionais nem exerceram papel seminal. Os eslavos, simultaneamente, se expandiram pelas suas estepes e tundras e foram ter no Alasca.

Mas, contidos pelo esclerosamento de sua sociedade arcaica, rigidamente estratificada, refrearam seu ela de conquistar novos mundos. Os ingleses se expandiram como operosos granjeiros puritanos ou como uma burguesia industrial e negocista, que calculava bem cada um dos seus lances. Empenhados em outro gênero de colonização, sua tarefa era a de ransplantar sua paisagem mundo afora, recriando pequenas Inglaterras, desatentos ou indiferentes ao que havia aonde chegaram.

Negando-se a ver e a entender as vetustas razões e justificações do Vaticano, propoem-se simplesmente conquistar seu naco do bolo americano. Quando menos fosse para lá derramar excedentes da humanidade famélica de seus própnos reinos, dando-lhes novas pátrias por fazer. Alcançaram, também, primeiro pelas mãos de piratas, de corsários, de contrabandistas, quanto puderam tomar do ouro que os ilhéus carreavam para o Velho Mundo. Depois, pelo 3 alimentos e artefatos com s senhores de escravos das ilhas, produzindo as mercadorias dos pobres. 7 Os Iberos, ao contrário, se lançaram à aventura no alem-mar, abrindo novos mundos, atiçados pelo fervor mais fanático, pela violência mais desenfreada, em busca de riquezas a saquear ou de fazer produzir pela escravaria. Certos de que eram novos cruzados cumprindo uma missão salvacionista de colocar o mundo inteiro sob a regência catolico- romana. Desembarcavam sempre desabusados, acesos e atentos aos mundos novos, querendo flui-los, recria-los, converte-los e mesclar-se racialmente com eles.

Multiplicaram-se, em conseqüência, prodigiosamente, ecundando ventres nativos e criando novos gêneros humanos. Como se viu, a causa primeira da expansão ultramarina, e portanto dos descobrimentos, fora a precoce unificação nacional de Portugal e da Espanha, movidos por toda uma revolução tecnológica que lhes deu acesso ao mundo inteiro com suas naus armadas, gestando uma nova civilização. Libertos da ocupação sarracena, descansados da exploração judaica, dirimidos dos poderios locais da nobreza feudal, emergia em cada area um Estado nacional.

Foram os primeiros do mundo moderno. Surgem, assim, entidades ca azes de randes empresas, como béria se debilita tanto, que acaba or sucumbir como cabeça do Império mundial sonhado tantas vezes. Sucumbe, porém, é lá nos conflitos com seus pares. Cá, nos novos mundos, seus sêmens continuam fecundando prodigiosamente a mestiçagem americana; sua l[ngua e sua cultura prosseguem expandindo-se. Nesse passo, se enriquecem para constituir, afinal, uma das províncias amplas, mais ricas e a mais homogênea da terra, a América Latina. 8 A Inglaterra, que foi a terceira nação a estruturar-se, assentada nos capitais e nos saberes judaicos que acolheu, acaba por apossar-se da outra metade das Américas, sobre a qual se expandira como uma egunda macroetnia, imensamente homogênea e neobritânica. As dimensões desses domínios eram as do orbe que acabavam de ocupar. Sua heterogeneidade étnica original, ao contrário, era sem paralelo na história humana.

Só foi rompida e refundida através do esforço continuado de séculos, anulando qualquer veleidade étnica ou qualquer direito de autodeterminação dos povos avassalados. Assim é que a Ibéria e a. Gra-Bretanha, tão recheadas de duras resistências dos povos que englobam em seus territórios, que jamais consegulram digerir, aqui deglutem e dissolvem uase tudo. Onde se deparam com altas S ambém radical. Seu produto verdadeiro não foram os ouros afanosamente buscados e achados, nem as mercadorias produzidas e exportadas.

Nem mesmo o que tantas riquezas permitiram erguer no Velho Mundo. Seu produto real foi um povo-naçao, aqui plasmado principalmente pela mestiçagem, que se multiplica prodigiosamente como uma morena humanidade em flor, à espera do seu destino. Claro destino, singelo, de simplesmente ser, entre os povos, e de existir para si mesmos. Nada é mais continuado, tampouco é tão permanente, ao longo desses cinco séculos, do que essa classe dirigente exógena e infiel a seu povo. No a ? de gastar gentes e matas, bichos e coisas para lucrar, acabam com as florestas mais portentosas da terra. 9 Desmontam morrarias incomensuráveis, na busca de minerais. Erodem e arrasam terras sem conta. Gastam gente, aos milhões. Tudo, nos séculos, transformou-se incessantemente. Só ela, a classe dirigente, permaneceu igual a si mesma, exercendo sua interminável hegemonia. Senhorios velhos se sucedem em senhorios novos, superhomogêneos e solidários entre si, numa férrea união superarmada e a tudo predisposta para manter o povo gemendo e produzindo. Não o que querem e precisam, mas o que lhes mandam roduzir, na forma que impõem,

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