Quem é a prenda? a representação da mulher gaúcha em sua essência, ou uma construção do imaginário tradicionalista?
Quem é a prenda? a representação da mulher gaúcha em sua essência, ou uma construção do imaginário tradicionalista? Premium gy marid anpenR 09, 2012 IO pagcs QUEM É A PRENDA? A REPRESENTAÇÃO DA MULHER GAÚCHA EM SUA ESSÊNCIA OU UMA CONSTRUÇÃO DO IMAGINÁRIO TRADICIONALISTA? Mari Ana Dinizl RESUMO O texto que segue é uma reflexão sobre a mulher gaúcha, a priori qual sua relação com a fi ura da prenda Tradicionalista, e por que a associação entre as I 0 resgate sobre a mulh qu Swipe to page na construção da hist la gaú se prenda.
Enquanto mucamas, e tomava polemica. Um breve ecida, seu papel mulher tornou- idavam de filhos, s assumiam suas vidas, bens e decidiam o destino dos filhos, pois a ausência dos maridos lhes faziam ter os pés plantados no chão. Ao construir a história desta terra, junto com o gaúcho, a mulher rio-grandense também construlu sua história de mulher tradicionalista, brava, responsável, feminina, prendada, uma mistura que nos dá identidade própria dentro da realidade brasileira.
Palavras-chave: mulher gaúcha; história; tradicionalismo; identidade; MULHER GAÚCHA – PERSONAGEM ESQUECIDA PELA HISTÓRIA Buscando subsídios para a realização de um trabalho de pesquisa roposto em aula, sobre a figura da mulher gaúcha, dei-me conta da ausência de informações sobre esse personagem, vital para a guerras e revoluções, deixando a mulher em segundo plano.
Na verdade, para fazer justiça aos historiadores, seria mais preciso dizer que a mulher ficou em um plano indefinido na história, porque até mesmo figuras tipicamente discriminadas, como o escravo e o índio são mais citados por eles, o que só vem a realçar a imagem de machista que o gaúcho tem em todo o território nacional.
Aluna da graduação do Curso de História, texto produzido na isciplina de Leitura e Produção de Textos, da Universidade de santa cruz do sul (UNISC). Quando retratadas pela midia, de imediato nos vem à memória modelos internacionais, como Gisele Büdchen e Fernanda Lima, ginastas como Daiane dos Santos, ou ainda apresentadoras famosas, como Xuxa Meneghel. De fato, alheias a sua realidade histórica, as mulheres gaúchas hoje são famosas no Brasil e no mundo.
A grande maioria dos autores tradicionalistas também pouco tem a acrescentar sobre a sua história, embora suas obras sejam famosas por promoverem o resgate, a preservação e o ulto a tradição, tornando assim evidente a ausência de fontes de pesquisa sobre a mulher gaúcha, a não ser por uns poucos elementos folclóricos, passados de geração a geração, através da memória oral. Entretanto, o tradicionalismo gaúcho, ao que tudo indica, não consentiu que a mulher gaúcha caísse no esquecimento, trazendo á tona “A Prenda”.
Na expectativa de promover uma reflexão sobre a identidade da mulher gaúcha, este trabalho apresentará um breve apanhado sobre o seu papel na história d identidade da mulher gaúcha, este trabalho apresentará um reve apanhado sobre o seu papel na história do Rio Grande do Sul, em contraponto com a imagem da Prenda, apresentada pelo Movmento Tradlclonalista Gaúcho — MTG, através do seguinte questionamento: Quem é a Prenda?
A representação da Mulher Gaúcha em sua essência, ou uma construção do imaginário A MULHER GAUCHA E A HISTORIA De uma forma curiosa o estado do Rio Grande do Sul se apresenta em núcleos populacionais com traços culturais distintos, em parte devido aos vanados grupos de colonos responsáveis pela ocupação de seu território, como os índios, portugueses, espanhóis, negros, italianos, alemães e tantos utros, promovendo uma grande miscigenação cultural que originou os gaúchos.
Aleatória a epopéia masculina excessivamente promovida pela história, a mulher gaúcha viveu sua própria saga. Por onde começar esta reflexão? Como alguns autores, a partir do momento em que os imigrantes pioneiros chegaram ao continente? Ou retroceder um pouco mais, até os verdadeiros donos da terra? Seria imoral não mencionar aqui as Índias, que de fato e de direito são as primeiras gaúchas. Essas mulheres, juntamente com as negras, estão entre as mais descriminadas pela história.
Desempenharam o importante papel de companheiras, as únicas figuras femininas a quem os colonizadores tinham acesso, oferecendo conforto em uma terra desconhecida, aos homens que estavam longe de suas casas e de suas famílias. Um exemplo nítido que se segue é que estavam longe de suas casas e de suas famílias. Um exemplo nítido que se segue é o exposto por Sant’Hilaire (1935), citado por Peixoto (2003, p. 1 7), Quase todos os milicianos acantonados nesta parte da fronteira meridional são assim amasiados a índias.
A facilidade com que essas mulheres se entregam, sua docilidade, sua bronquice esmo, são atrativos para esses homens rudes que não visam nada além do instrumento de prazer. Através de trocas de idéias travadas em rodas de chimarrão nos CTGs, e da memória oral legada por nossas mães e avós, é possível constatar que as negras foram mulheres de presença constante, mas muito sutil não somente no quadro histórico do RS, mas em todo o País, provavelmente mais além.
Foram parteiras, presentes nos nascimentos de escravos e senhores, amas de leite, damas de companhia, empregadas, cozinheiras, e ainda, às vezes, eram submetidas a trabalhos pesados no campo. Ou seja, ainda que fosse por de trás das cortinas, a negra esteve sempre no palco dos pequenos e grandes acontecimentos, muitas vezes alcoviteira e portadora de segredos importantes de seus senhores, e cúmplice de suas senhoras. As mulheres brancas eram divididas em classes sociais, mas no que se refere a travar batalhas, e superar obstáculos, ambas percorriam uma estrada igualmente tortuosa.
O Rio Grande do Sul foi um estado que passou por muitas guerras e revoluções, principalmente por fazer fronteira com outros dois países, logo é presumível que os homens gaúchos passavam longos períodos usentes, deixa outros dois países, logo é presumível que os homens gaúchos passavam longos períodos ausentes, deixando as mulheres sozinhas, muitas vezes com filhos pequenos ou recém-nascidos, abandonadas á própria sorte. Leandro Araujo é muito claro ao referir-se no assunto: Obrigada a sofrer calada durante mais de duzentos anos de combates e revoltas, estas viram partir para guerras seus pais, irmãos, maridos e filhos.
Ficando com a obrigação de cuidar da casa, dos filhos pequenos e filhas moças, da criação e plantação. Não precisamos procurar muito para chegarmos a esta onclusão: se os homens válidos estavam envolvidos diretamente nos entreveros, a quem ficaria delegada a missão de manter de pé as estruturas familiares e, inclusive, econômicas do estado? A mulher gaúcha levou em suas costas por uma infinidade de vezes toda a responsabilidade de manter o Rio Grande ativo enquanto seus homens emprestavam suas forças a causas políticas.
Muitas vezes elas assumiam também o papel de soldado, pois ficando desprotegida a casa, a elas caberia a responsabilidade de proteger os bens e a integridade da familia. (Araujo, 2005) Como ficou evidente, a mulher foi parte integrante da construção a história do Rio Grande do Sul sim, sustentando sua estrutura familiar, administrando as estâncias na ausência do marido e filhos, no comando de outras mulheres, que afinal também sobreviviam ? ausência dos maridos peões, que iam lutar sob o comando de seu patrão estancieiro.
Na verdade, as mulheres, senhoras, escravas, empregada comando de seu patrão estancieiro. Na verdade, as mulheres, senhoras, escravas, empregadas, bugras, uniram-se em um esforço coletivo pela sobrevivência de suas famílias, suas posses, enfim, seu estilo de Vlda, fosse ele de requinte, de humildade, e até mesmo de escravidão.
Personagens históricas como Cabo Toco, citadas sempre em poesias e desfiles temáticos gaúchos, ou ainda presentes na rn(dia como foi o caso de Anita Garibaldi, romantizada pela Rede Globo na minissérie A Casa das Sete Mulheres (2003), nos mostram também as mulheres que acompanharam os maridos na guerra, morando nos acampamentos, quando havia algum, cuidando de feridos, e muitas vezes sem alternativa até mesmo pegando em armas. Todos esses aspectos da formação do estado foram fundamentais também para a constituição da personalidade da mulher sul rio-grandense, batalhadora, determinada e mancipada.
A PRENDA TRADICIONALISTA Em 1947, o jovem Paixão Cortes veio de Santana do Livramento até a capital Porto Alegrense para estudar, mas para sua surpresa, ao chegar aqui, descobriu um Rio Grande moderno, muito diferente da vida campesina do interior. Com um grupo também do interior, criou o primeiro Departamento Tradicionalista Gaúcho, dentro do Grêmio Estudantil da Escola Julio de Castilhos. Paixão e seus amigos eram movidos pelo sentimento de que o Rio Grande estava passando por um período de globalização, e os aspectos e valores da cultura gaúcha começavam a se perder.
Essa nova entidade vria suprir a necessidade que o Rio Grande tinha começavam a se perder. Essa nova entidade viria suprir a necessidade que o Rio Grande tinha de “reagauchar-se”. Mais tarde, em 1948 0 grupo fundou o primeiro CTG da história, o “35 CTG”, que cresceu de maneira descomunal, e em pouco tempo passou a ser convidado a participar de festivais culturais representando o gauchismo. Como já foi mencionado o gaúcho é uma figura machista, e o CTG á principio era exclusivamente masculino.
Porém, foi em um desses eventos, no “dia da tradição” em Montevidéu, que os membros do “35 CTG”, sentiram a usência de um elemento feminino, conforme explica Dutra (2002, p. 48): Os registros deste evento marcam o momento em que os tradicionalistas do Rio Grande do Sul, começaram a indagar-se a respeito da ausência de mulheres no grupo, pois no encontro de Montevidéu constataram que a presença de mulheres nas demais sociedades era marcante e imprescindível.
Após a introdução da mulher no CTG, surge uma nova questão. Qual seria sua nomenclatura? Os homens eram chamados peões, tal como os gaúchos nas estâncias, mas conforme comentado anteriormente, a história simplesmente não se interessou em documentar sua trajetória, portanto não havia um nome conhecido que fosse apropriado para referir-se á mulher dentro da sociedade tradicionalista.
Existia sim um termo, a “china”, que nomeava as mulheres fáceis da época, e que permaneceu com sentido semelhante nos anos que se seguiram. Em busca de um termo que se aplicasse á imagem que os tradicionalistas queriam passar de uma mulher gaúcha, grac um termo que se aplicasse á imagem que os tradicionalistas queriam passar de uma mulher gaúcha, graciosa, faceira, ao mesmo tempo forte e obstinada, o que se mostrou mais apropriado, fol “a prenda”, descrita por Dutra (2002, p. ), Assim como a vestimenta, as danças e os concursos de prendas articulam todo um aspecto simbólico que envolve a constituição da personagem prenda, também, as poesias e canções gaúchas têm abordado a prenda, dentro da chamada temática romântica. Existe uma vertente bem característica nessas poesias e canções, que criam uma imagem da “mulher gaúcha” frágil, indefesa, que chora a partida do gaúcho valente e provedor, mas que na sua ausência enfrenta o desafio da sobrevivência e do trabalho, na defesa da família, porém, sempre olhando o horizonte infinito a espera do seu amado.
Com o passar dos anos, a prenda inserida no Movimento para preencher uma lacuna, foi ganhando espaço, na mesma medida em que as mulheres se emanciparam na sociedade convencional, e de mera peça decorativa, passaram a assumir cargos de liderança dentro do Movimento, como Patroa dos CTGs fundados depols do “35”, como Coordenadora de Regiões Tradlcionalistas que surgiram com a criação do Movimento Tradicionalista Organizado, entre outros cargos de peso dentro da diretoria do MTG.
PRENDA TRADICIONALISTA, ESSÊNCIA OU INVENÇÃO? Observando a mulher gaúcha e a prenda tradicionalista aqui escritas, possuímos subsídios para refletir sobre sua associação, no que ela se baseia, e se de fato é coerente a relação subsídios para refletir sobre sua associação, no que ela se baseia, e se de fato é coerente a relação imposta pelo tradicionalismo. ? importante destacar, antes de tirar conclusões, que a mulher gaúcha fol Ignorada pelos historiadores, portanto, trazer a mulher gaúcha para o Movimento Tradicionalista, não foi uma tarefa fácil. A carência de uma presença feminina levou a construção da identidade da prenda, e nada além disso, visto que a principio o radicionalismo fora idealizado por homens, para os homens.
A prenda surgiu como um elemento completamente novo, com o propósito de desempenhar o papel das mulheres no galpão, mas essa “mulher tradicionalista”, visualizada pelos homens da época, superou todas as expectativas, tornando-se membro ativa das decisões e realizações do movimento, tal como a mulher gaúcha fora em outrora. Segundo Dutra (2002, p. 52), O Tradicionalismo gaúcho criou a prenda inspirado no modelo feminino que foi assentado pela sociedade patriarcal e reforçado pela forte influência do positivismo no Rio Grande do Sul.
Esta concepção positivista presente na sociedade, marcara os fundamentos gerais do culto às tradlçbes propagandeadas pelas entidades tradicionalistas fundadas por Cezimbra Jacques no séc. XIX. O positivismo também continuou norteando o pensamento dos tradicionalistas do séc. XX, que criaram a prenda, visto que esta representa a imagem de submissão das mulheres, ao seu papel de mãe, esposa ou filha. A prenda gaúcha é uma invenção essencial quando se pensa em preser esposa ou filha. reservação de hábitos culturais, manteneção de valores morals ou éticos inibidores da dominação de modernidades globalizadas, egundo as regras do chamado “gauchismo” Entretanto, ela é também essencial quando se pensa em reconhecimento a uma mulher que batalhou lado a lado com o homem na construção de uma identidade própria, independente dos padrões e políticas de seu gênero, mas dentro daquilo que se fazia necessário ? sobrevivência, não só de um estilo de vida, mas da própria vida, inserida em tempo, espaço físico e cultural próprio.
A prenda tradicionalista hoje não é apenas aquela que usa a indumentária gaúcha e participa de eventos sociais. Não, a prenda tradicionalista leva consigo, independente de roupa, uma postura e dignidade e defesa de suas raízes, busca meios para transmitir esse legado e faz de sua vida um exemplo a ser seguido. REFERÊNCIAS ARAÚJO, Leandro de. A Formação da Personalidade do Gaúcho. Dois aspectos peculiares. 5. 1. ] 2005. Disponível em: < http://www. sougaucho. com. br/buenas/index_divulgacao. htm>. Acesso em: 21 nov. 2009. DUTRA, Claudia Pereira. A Prenda no Imaginário tradicionalista. Porto Alegre: [s. n. ] 2002. Disponível em: . Acesso em 18 nov. 2009. PEIXOTO, Priscila dos Santos. O Folclore da Mulher: Crendices e Superstições. porto Alegre: Ed. Movimento Tradicionalista Gaúcho / Evangraf, 2003. PAGF 10