Des(razão), mulher e violência

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CICNCIAS SOCIAIS E HUMANAS CURSO DE HISTORIA – LICENCIATURA PLENA,’ BACHARELADO (DES)RAZAO, MULHER E VIO ÊNCIA: OUTRA HISTÓRIA DA LOUCURA E OS CONDICIONANTES SOCIAIS Trabalho de Conclusão de Graduação Priscila dos Santos Peixoto Santa Maria, RS, Brasil 2011 (DES)RAZÃO, MULHE LOUCURA E OS CON por PACE or71 STÓRIA DA Trabalho apresentado ao Curso de História – Licenciatura Plena/ Bacharelado, do Centro de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Federal de Santa Maria como requisito parcial para a obtenção do grau de Llcenciada com apostilamento em

Bacharelado em História santa Maria, RS, Brasil 2011 Universidade Federal de Santa Maria Centro de Ciências Sociais e Humanas Curso de História – Licenciatura Plena/Bacharelado A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova o Trabalho de aqueles que não podiam ouvir a música. (Friedrich Nietzsche) RESUMO Trabalho de Conclusão de Graduação Curso de História – Licenciatura Plena/Bacharelado Universidade Federal de Santa Maria (DESRAZÃO, MULHER E VIOLÊNCIA: OUTRA HISTÓRIA DA LOUCURA OS CONDICIONANTES SOCIAIS AUTOR: Priscila dos santos Peixoto ORIENTADOR: prof.

Dr. Júlio Ricardo Quevedo os Santos CO-ORIENTADOR: Prof. Francisco Estigarribia de Freitas Data e local da defesa: Santa Maria, 20 de Dezembro de 2011 0 Trabalho de Conclusão de Graduação “(Des)Razão, Mulher e Violêncla: outra História da Loucura e os Condicionantes Sociais” foi desenvolvido a partir de fontes bibliográficas, documentais e orais a fim de pesquisar e estudar o termo loucura na história, voltando-se para a especificidade da mulher na região de Santa Maria na década de 1970.

A escolha deste período se deu em função das mudanças pol[ticas, culturais e sociais que ocorriam no Brasil, culminando com o surgimento do ovimento feminista e sua atuação na difusão das conquistas para o universo feminino. Paralelo a isso, ocorre neste momento histórico, mudanças nas pollticas públicas de saúde mental e o aprofundamento de pesquisas referentes ao sofrimento psíquico e suas especificidades, aonde chega-se à manifestação da depressão em mulheres.

Em virtude disso, para poder se traçar um perfil da saúde mental da mulher durante a configuração desta doença, foram levados em conta os condicionantes sociais, mais especificamente as situações de violência sofrida por mulheres e a exclusão social das pessoas com doenças mentais ela sociedade santa-mariense, a partir do olhar do jornal veiculado neste periodo. O objetivo des PAGF 71 veiculado neste periodo.

O objetivo deste trabalho foi dar voz a pessoas que freqüentemente tem seus discursos desacreditados, por uma questão de gênero ou por uma questão de saúde. Palavras-chaves: História, Loucura, Mulher, Violência ABSTRACT Work Completion Graduation Course of History, Full Degree / Bachelor Federal University of Santa Maria (LJN) REASON, WOMEN AND VIOLENCE-: ANOTHER HISTORY OF MADNESS AND SOCIAL CONDITIONS AUTHOR: Priscila dos santos Peixoto ADVISOR: prof.

Dr. Júlio Ricardo Quevedo Co-Advisor: Prof. Francisco Estigarribia de Freitas Date and place of defense: Santa Maria, Dec. 20, 2011 Work Completion Graduation “(Un) Reason, Women and Violence: Another History of Madness and Social Constraints” was developed from literature sources, oral and documentary research in arder to study the word madness in history, turning to the specificity of women in the region of Santa Maria in the 19705.

The choice ofthis period was due to the political, cultural and social changes that occurred in Brazil, culminating in the emergence of the feminist movement and its role in he dissemination of achievements for the female universe. Parallel to this, there is this historical moment, changes in public mental health policies and the deepening of research related to psychological distress and their specificities, where coming to the manifestation of depression in women.

As a result, to be able to draw a profile ofwomenis mental health during the configuration of this disease were taken into account the social conditions, specifically the situation of violence suffered by w taken into account the social conditions, specifically the situation of violence suffered by women and the social exclusion of people ith mental illness by society in the city of Santa Maria, from the look of the newspaper aired during this penod.

The objective of this study was to give voice to people who often have discredited his speeches, as a matter of gender or a health issue. Keywords: History, Madness, Women, Violence LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 -A Nau dos Loucos, de loucura DE 1 970 • • • • • • • • • • • Bosch. . . 19 Figura 2 – Número de reportagens encontradas durante cada ano, classificadas por tema. 32 Figura 3- Propaganda de eletrodomésticos da década de 50. Figura 4 – Propaganda de eletrodoméstico da década de 70. 37 SUMARIO DEVANEIO INICIAL 8 1 UM pouco DE HISTÓRIA, IJM pouco DE LOUCURA — da loucura . 13 1. 2 Alinhavos da 13 1. 1 A construção social 14 1. 3 A Institucionalização da loucura: política, poder e 23 2 DONAS DE CASA À BEIRA DE UM tratamentos ATAQUE DE NERVOS: A LOUCURA EM SANTA MARIA NA DECADA 71 MARIA NA DÉCADA DE 1970 . de ser 49 REFERÊNCIAS . 30 2. 1 Adeus Amélia: a nova versão de mulher chega à Santa Maria FINAL . 53 8 34 2. Des(Razão) feminina: o paradoxo _ 41 ALUCINAÇÃO DEVANEIO INICIAL Mas enfim, o que é a História? No decorrer da graduação me deparei com uma infinidade de conceitos, opiniões e autores que tentaram explicar esta ciência ou esta “arte da vida”. Independente do que grandes historiadores já consagraram como História e todos os seus embates teóricos, a partir de toda esta miscelânea de definições, o que é comum a todas é a história conta a vida das pessoas. Só existe e tem sentido a partir da afirmação da vida.

Baseada neste pensamento comecei a refletir sobre como a históna opera, ou como a pesquisa histórica opera. São fatos, interpretações, investigações, mas nunca resultados recisos. Sobretudo o que move a pesquisa histórica é uma curiosidade que desperta o interesse de um pesquisador. De todas as correntes teóricas da história, todos os temas, períodos, como encontrar um recorte ou um tema que nos desperte a curiosidade? Penso que a resposta para esta pergunta esta em nossa própria vida, em nosso próprio corpo, escondida nos nossos pensamentos.

Aquilo que desperta a curiosidade vem do objetivo de responder as questões que estão no nosso íntimo, uma lembrança, um assunto mal res PAGF s 1 vem do objetivo de responder as questões que estão no osso íntimo, uma lembrança, um assunto mal resolvido, uma preferência, um desejo de fazer algo importante. Pensando nisso, ainda não defini se eu escolhi meu tema, ou se meu tema me escolheu. No desenvolvimento das disciplinas do curso de História, sempre voltei minha atenção para questões do universo feminino.

Mulheres que desafiavam convenções sociais, mulheres inertes em uma cultura machista e a paulatina mudança proporcionada pelas conquistas femininas através de lutas que permanecem até hoje. Esta é uma análise muito ampla para se fazer um recorte específico a ser desenvolvido, o entanto, o tema geral da minha pesquisa já estava escolhido: a históna da mulher. A partir da minha simpatia por este tema, fui desenvolvendo minhas atividades acadêmicas sempre voltadas para discussões do feminino, até que me deparei com algo que chamou minha atenção.

No desenvolvimento de um projeto o qual eu era bolsista, intitulado “Cartografia das Práticas Pedagógicas” que visava mapear um perfil das práticas vigentes na escola, eu procurei mapear também o perfil da saúde do docente. Neste levantamento realizado através dos arquivos dos recursos humanos das escolas referentes aos laudos de saúde, oi evidenciado uma porcentagem significatlva de afastamento de professores (em sua maioria mulheres) por motivo de depressão, distúrbios bipolares e alterações de humor.

Mais além, em contato com o Posto de Saúde Mental do Munic(pio de Santa Mana (informação verbal) fui informada que aproximadamente duas mil pessoas com algum tipo de sofrmento psiquco frequentam o posto e aproximadamente outras setecentas com algum tipo de sofrimento psíquico frequentam o posto e aproximadamente outras setecentas aguardam atendimento. Estes foram fatores que despertaram minha curiosidade para a saúde mental. Com esta pesquisa, o tema do meu trabalho de conclusão de graduação começou a se configurar: história da loucura da mulher.

Continuava bem amplo, mas ao menos já tinha um foco inicial. Com isso, comecei a procurar leituras para fundamentar minha pesquisa. As pesquisas sobre loucura abordam o tema de maneira geral e não por gênero, uma vez que as doenças mentais afetam tanto homens, como mulheres. Porém, para entrar na especificidade da mulher louca é preciso entender a aplicação do termo loucura na história, para então verificar as diferenças de gênero tanto em manifestação de oenças, quanto a tratamentos.

De maneira geral, a loucura ficou atrativa no sentido de que este termo muitas vezes foi usado de forma pejorativa e como um recurso de exclusão de sujeitos. Quando uma pessoa é diagnosticada com doença mental, automaticamente vem em nosso pensamento que em seu discurso pode haver falhas de verdade, de realidade, de sentido, o que leva a desacreditar não somente o discurso, mas também a ação dos “loucos” no mundo dos normais. Ora, se a históna só existe e tem sentido a partir da Vlda das pessoas, dizer que o discurso de um “louco” não tem credibilidade é negar a sua xistência e sua capacidade de historiar.

Neste sentido, minha pesquisa voltou-se para o entendimento de algumas questões, como porque negamos que há realidade no discurso de um louco, uma vez que entre devaneios, seu discurso reflete as dores de sua vida, ou a negação destas dores e as influências ext PAGF 7 71 devaneios, seu discurso reflete as dores de sua vida, ou a negação destas dores e as influências externas, o contexto sócio cultural, o complexo de relações sociais que direcionou e moldou sua ação dentro de um grupo social que agora o exclui, por não compartilhar das mesmas convenções comportamentais psíquicas.

O “louco”, por esta rotulação discriminatória já é excluído da sociedade. A mulher “louca” é de fato duplamente excluída, por estar no grupo dos insanos e por estar no grupo das mulheres, outro grupo social que faz parte dos excluídos da história. 10 Ao voltar minha pesquisa para a loucura da mulher, tentando encontrar as características da depressão na história, percebi que esta denominação era mais recente, mas o quadro de sintomas existia desde a antiguidade. A tristeza profunda, melancolia são definições precursoras da depressão que conhecemos.

A artir disso, minha curiosidade voltou-se para entender o que leva uma mulher a uma tristeza profunda. Seriam as mudanças hormonais das fases da vida mulher? Seria um desequilíbrio emocional ocasionado por uma perda, por uma doença ou pelo sentimento de perda de identidade após um rompimento de um relacionamento? O que leva uma mãe assassinar seu filho recém- nascido? É um descontrole emocional involuntário, hormonal, ou o que está exterior ao corpo pode agir sobre o corpo e a mente de uma mulher?

Diante destes questionamentos, pensar que a loucura é algo somente interno, hormonal torna-se inaceitável. Partindo do pressuposto de que o contexto histórico, a moral social e as pressões cotidianas podem influenciar no desenvolvimento de um estado depressivo, meu olhar se voltou para analisar os podem influenciar no desenvolvimento de um estado depressivo, meu olhar se voltou para analisar os discursos sociais que pressionam o agir das mulheres.

Com isso, cheguei ao meu recorte temporal, a década de 70 em Santa Maria. Alguns elementos me direcionaram para esta década: o modelo político vigente no Brasil, a Ditadura Militar, momento em que mulheres militantes foram torturadas pelos militares por subversão do egime, lembrando que no contexto das ditaduras na América Latina o movimento de mulheres se intensificou, a exemplo do movimento das Mães da Praça de Maio, na Argentina. ? um contexto de surgimento de movimentos sociais no mundo, como o movimento feminista, movimento de contra cultura, a teologia da libertação e, devido a estes movimentos, é também um período de conquistas de liberdades para as mulheres como a maternidade voluntária, com a difusão de métodos contraceptivos, a liberdade de sexo por prazer, luta pelo divórcio e inserção no mercado de trabalho. A partir destes recortes, inha pesquisa se dividiu em dois movimentos: a pesquisa bibliográfica e a pesquisa em fontes documentais.

O primeiro capítulo deste trabalho Um pouco de História, Um pouco de Loucura vai tratar da bibliografia sobre o tema da loucura de maneira sintética e mais generalista. Tendo por base o estudo de Michel Foucault sobre a história da loucura, o objetivo foi de entender o processo de construção social do louco. Foucault apresenta este processo através de sua análise do surgimento dos hospícios e como a loucura sofreu um amadurecimento conceitual e de tratamentos a partir das mudanças sociais, olíticas e econômicas da Idade Moderna.

Embora esta s partir das mudanças sociais, politicas e econômicas da Idade Moderna. Embora esta seja uma obra clássica de filosofia e haja resistência de muitos historiadores a respeito de sua colaboração para estudos históricos, penso que o trabalho de Foucault é imprescindível na medida em que através de sua observação dos hospícios ele consegue traçar um perfil do pensamento social que formou a base das críticas da sociedade moderna de controle. Para além disso, Foucault tem a capacidade de viajar no tempo sem ser anacrônico.

Trabalha com a históna presente e busca no passado elementos que venham ratificar sua pesquisa, sem a preocupação de uma linearidade. Ainda neste capítulo, é desenvolvido o conhecimento sobre a estrutura dos hospícios, desde tratamentos, internações, triagens e políticas públicas, a fim de familiarizar o leitor com o modelo de asilos existentes e a maturação do campo da psiquiatria, para então entrar no aspecto de gênero, mostrando as diferenças de tratamentos para homens e mulheres e alguns exemplos onde a vida da mulher louca teve espaço para registro na história.

Como se trata de um estudo de revisita diferentes épocas da história, tendo em vista que este trabalho ao se tornar público estará disponlVel para a leitura de pessoas de diferentes formações, quando se trata de períodos, movimentos e acontecimentos citados, tomei o cuidado de explicar estes movimentos em nota de rodapé. O segundo capítulo Donas de casa à beira de um ataque de nervos, a loucura em Santa Maria é dividido entre o resultado da pesquisa no jornal A Razão de Santa Maria e a interpretação e análise dos fatores sociais como violência e mudanças culturais com

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