Corporeidade na biodanza
ESCOLA DE BIODANZA ROLANDO TORO DO RIO DE JANEIRO PATRICIA SIMONE DAL-COL CORPOREIDADE NA BIODANZA Monografia Rio de Janeiro, RJ Outubro de 2003 CORPOREIDADE NA Por PATRÍCIA SIMONE DA to view nut*ge Monografia apresentada à ganca Examinadora da Escola de Biodanza Rolando Toro do Rio de Janeiro, como exigência parcial para a obtenção do grau de facilitador de Biodanza, sob a orientação de Antônio Sarpe. utubro de 2003 PARECER: A presente monografia, intitulada Corporeidade na Biodanza, elaborada por Patrícia Simone Dal-Col, está apta a ser submetida mostraram exemplo indelével de fibra, etidão,comprometimento, responsabilidade e resistência, sem jamais perderem a ternura que lhe são característico. Aos meus amigos e familiares, que sempre estiveram ao meu lado nesta jornada incessante pela busca do aprimoramento humano e que são parte inegável da construção de quem sou hoje. AGRADECIMENTO Agradeço primeiro a vida por me conceder o direito de existir e por ser a força nutridora para mlnhas buscas e descobertas.
Agradeço a todos os Didatas que atuaram na Escola de Biodanza Rolando Toro do Rio de janeiro que nos enriqueceram com sua sabedoria revelaram a beleza das palavras de Rolando Toro e contribuíram para que hoje possamos estar mais inteiros que ontem. Agradeço em especial a Maria Adela a quem tenho um carinho muito grande, para mim, como uma mãe, que com sabedoria e amor sabe quando e o que dizer ao filho. Não poderia deixar de agradecer a kátia Alves por sua presença em minha vida nos momentos em que me acompanhou e orientou nos passos com crianças.
Por fim, agradeço ao facilitador, ao professor, ao didata, ao orientador, ao amigo, enfim, ao admirável profisslonal, Antônio Sarpe que me acompanhou desde o início, na “trilha” pela busca de mim mesma, no caminho da Biodanza-vida dando-me um ouco de si e com a sua forma de amar me cativou. PAGF desfrutar o prazer de viver. ” [pic] RESUMO Rolando Toro. “Corporeidade na Biodanza” investiga a concepção de corpo na história do homem dentro de uma ótica filosofico-cient[fica que ressalta o domínio corpo/alma e a mecanização do corpo.
Essa dissociação e mecanização do corpo compromete o olhar do homem sobre sua existência humana. Na construção de uma perspectiva de corpo integradora e holística, surge uma nova visão de corpo, corporeidade. Nesse sentido, esse trabalho remete a abordagens do campo das ciências, no intuito de larificar o paradigma corporeidade. Para a discussão teórica desse paradigma usufrui-se das contribuições de Michel Foucaut e seu olhar sociológico sobre o corpo, na denúncia de um poder que se espalha pelas mais diversas instituições e se torna muito mais eficaz no controle do corpo. ma outra contribuição importante se faz com os apontamentos de Merleau-Ponty sobre um novo sentido para corporeidade, em que o corpo é fonte de descoberta do mundo e é possuidor de uma unidade existencial como ser-no-mundo. Não menos importante, abarca-se a filosofia poética de Rolando Toro toda fundamentação teórica do Sistema Biodanza, para assim, talvez, construir um pensamento sobre corporeidade. O “enredo” teórico dessa pesquisa busca por similitude entre os paradigmas científicos que norteam o Sistema Blodanza e as balizas encontradas nas ciências para estimular o debate a uma nova visão de corpo.
Esse paralelismo coloca a Biodanza defronte à concepção de corporeidade. Nesse sentido, a pesquisa sugere a Biodanza como um sistema às vias com a corporeidade. às vias com a corporeidade. SUMÁRIO RESUMOv INTRODUÇAO 1 1 CAPÍTULO 1 15 A DIALÉTICA CORPO X ALMA: UM HISTÓRICO DA VISÃO FRAGMEN ADA DE CORPO 15 1. 1 0 Pensamento Grego 15 1. 2 A Idade Média e o Pensamento Cristão 18 1. 3 0 Pensamento Cartesiano – Newtoniano. 22 1. 4 A Obscuridade do Corpo à Luz da Razão. 9 CAPÍTULO 2 36 A CORPOREIDADE NA DIALÉTICA ATUAL: O PARADOXO DO CULTO AO CORPO. 36 CAPÍTULO 3 45 UMA NOVA CONCEPÇÃO DE CORPO: A CORPOREIDADE 45 OS PARADIGMAS DA COR M PASSEIO PELO histórica. Considerando-se que não se pode saber em que momento exato se inicia o processo de negação do corpo, esse trabalho se propõe a abordar o assunto a partir do momento considerado como ponto crucial na transformação da visão do corpo na ultura ocidental.
Desde já, faz-se necessário deixar ressalvado que, muito embora as origens desta dissociação corpo/alma sejam remotas, tendo suas origens, na visão antropológica, na passagem do matricentrismo para o patriarcado,[l] e, na visão filosófica, na passagem do nuto para o logos, cuja transição se deu com os filósofos pré-socráticos,[2] abordar-se-á apenas a partir de Platão. Refletindo sobre o homem e a relação com seu corpo, juntamente a construções culturais, sociais, pol[ticas e filosóficas advindas da humanidade, quer-se atingir uma maior ompreensão sobre o paradigma corporeidade e sua ressonância na práxis de Biodanza.
Historicamente, incorporamos uma visão fragmentada de corpo, salientada por pensamentos mecanicistas e reforçados pela cultura, por intermédio de suas instituições. Neste processo histórico, fomos acumulando verdades do tipo: “quando a cabeça não pensa o corpo padece”, “devemos agir pela razão e não deixar que a emoção tome conta de nossa ação”, isso vêm caracterizar uma dissociação entre o sentir, o pensar e o agir. Essa dissociação implica numa descorporalização do ser e um star no mundo de forma não saudável.
A descorporalização fica cada vez mais evidente na medida em que todo argumento cultural e social é saudado somente pela razão, em evidentes espaços onde a comunicação entre o homem e o seu corpo fica renegada a um segundo plano PAGF s OF onde a comunicação entre o homem e o seu corpo fica renegada a um segundo plano, e sendo assim, o corpo assume o papel principal, tornando-se foco de um culto excessivo às formas e performances que deverão corresponder à sagacidade do belo.
Quando “estar no mundo” não eqüivale a “ser no mundo”, ignifica uma dissonância entre o sentimento de ser, o ato de estar e a cognição, refletindo um sentimento de estranheza do homem para si próprio, mantendo-se distante da unidade experimentada num estado de natureza anterior a razão. Em busca desse sentido de completude o homem por meio da dialética do conhecimento contesta na história, a problemática da dlssoclação corpo/alma e apresenta uma nova VISão de corpo, corporeidade. Corporeidade é o resgate da unidade vivenciada pelo homem anteriormente a sua ação filosófica no mundo.
O estudo desse novo paradigma declara a importância desse eencontro afetivo com o corpo para uma vida mais saudável. Nesse sentido, o Sistema Biodanza confirma o sentimento de corporeidade no homem, por ser uma prática que entende o homem como um ser uno que reúne no mesmo corpo razão, emoção e movimento. A Biodanza promove o reencontro do homem com sua corporeidade por meio de um processo de profunda conexão com a vida, que permite a cada indivíduo integrar-se a si mesmo, à espécie e ao universo. [3] Essa conexão com a vida é despertada na Biodanza através de uma dinâmica que envolve música e movimento que geram vivências.
Em Biodanza o conceito de vivência está relacionado com a experiência vivida com grande intensidade por um indivíduo no momento presente e envolvem a cenestesia, as funções viscerais e emocionais[4] , suscitando PAGF 6 no momento presente e envolvem a cenestesia, as funções viscerais e emocionais[4] , suscitando no homem a vivência da corporeidade A partir de uma análise histórica da relação do homem com sua corporeidade e do estudo filosófico-científico dos paradigmas que norteiam a Biodanza e a nova concepção de corpo, essa pesquisa propõem a seguinte questão: até que ponto o Sistema
Biodanza pode resgatar nos seres humanos a unidade perdida. É justamente este estudo que se postula nesse trabalho e está composto da seguinte maneira: No primeiro capitulo contextuallza-se a problemática do homem e sua corporeidade, fazendo uma ‘Viagem” pelo pensamento filosófico ocidental de diferentes épocas. A dialética corpo x alma: um histórico da visão fragmentada de corpo, trata de delinear a evolução histórica da problemática do homem e sua corporeidade no pensamento filosófico, religioso e cientifico. Acenando para concepção de corpo e a conseqüente fragmentação.
O segundo capitulo descreverá a posição do corpo na atual sociedade de consumo e as considerações feitas por Michel Foucaut acerca da interiorização de práticas disciplinares de vigilância e controle constante dos indivíduos, por meio das instituições sociais que tornam os corpos dóceis à subordinação e aos interesses do poder. Uma nova concepção de corpo: corporeidade questão abordada no terceiro capítulo introduz a nova ótica de corpo a partir do entendimento de “corpo próprio” concebido por Merleau-Ponty e sua argumentação sobre a posição do corpo no mundo como um “ser-no-mundo”.
Para uma maior compreensão das bases que justificam o novo paradigma conceitua PAGF 7 Para uma maior compreensão das bases que justificam o novo paradigma conceitual sobre corpo, corporeidade, concentra-se no quarto capitulo os parâmetros científicos que sustentam esse novo olhar sobre o corpo e compõem o arcabouço teórico do paradigma corporeidade. No capítulo cinco, caminha-se no sentido da apresentação da Biodanza, como um sistema proponente à corporeidade, estabelecendo vínculos científicos e filosóficos que apreenda o Sistema Biodanza como uma prática que entende o corpo entro da perspectiva corporeidade.
Portanto a Biodanza assume a corporeidade do homem na medida em que sua proposta compreenda um ser de razão, emoção e movimento e faz desta combinação a base para o desenvolvimento de sua prática. Para apreender o sentido de corporeidade é preciso abandonar a visão fragmentada, dissociada e dualista e abraçar a concepção de unicidade e integração do homem. CAPÍTULO 1 FRAGMENTADA DE CORPO 1. 1 0 Pensamento Grego O homem sempre teve dificuldade de perceber claramente, e sem preconceitos, o seu próprio corpo. Nas culturas primitivas, individuo não tinha consciência de possuir um corpo que interage num mundo de corpos e objetos.
Não havia reflexão sobre a individualidade e, portanto a corporeidade objetiva não era percebida em mei o de corpos objetivos. caracterizando um distanciamento de tudo que é finito e mutável[5]. Todo pensamento filosófico da antiguidade foi permeado por essa tendência. Com início da atividade reflexiva, o homem toma contato com sua individualidade por meio da introspecção. Sócrates inaugura essa atividade, levando o homem a identificar-se como individuo e a estabelecer sua posição diferenciada diante dos utros. Quebra a unidade do ser, dividindo-o em corpo perecível e alma imortal.
Com Platão, corpo e alma assumem posições antagônicas. Introduzindo o concelto de d01S mundos Platão instaura uma profunda ruptura entre o mundo sensível e o mundo inteligível, onde a existência de um tinha sua razão de ser no outro. Em sua teoria O Mundo das Idéias, Platão estabelece a visão dualista. Era necessário libertar o homem do mundo sensível e levá-lo ao mundo inteligível. O mundo sensível representava uma cópia imperfeita do mundo inteligível das idéias, das coisas perfeitas. Platão achava que tudo o que podemos tocar e sentir na natureza “flui”.
Não existe, portanto, um elemento básico que não se desintegre. Tudo que pertence ao “mundo dos sentidos” é feito de um material sujeito à corrosão do tempo[6]. Ao contrário do que se pensava, para Platão, o que é eterno e imutável está no plano espiritual, no mundo das idéias. Dentro desse pensamento privilegia-se logos em detrimento a physis. Nesta cisão é dado ? razão todo poder sobre o ser. O corpo não passa de um apêndice do pensar. Fragmentado, o homem age desconectado do seu sentir, contradizendo seu pensar.
O corpo, com suas inclinações e paixões, contamina a pureza da alma racional, impedindo-a de contemplar as com suas inclinações e paixões, contamina a pureza da alma racional, impedindo-a de contemplar as idélas perfeitas e eternas” “O corpo torna-se, assim, a prisão da alma, um obstáculo à realização do ideal de bem e verdade que ela aspira”. [7] Platão parte do pressuposto de que a alma, antes de pertencer a um corpo viveria a contemplação do mundo das idéias, onde tudo se conhece por simples intuição, ou seja, por conhecimento intelectual direto e imediato, sem precisar usar s sentidos.
A união, por ventura, de corpo e alma, seria na concepção de Platão, somente por uma necessidade de se remir de culpa, o que degradaria a alma, pois ela se tornaria prisioneira desse corpo. A alma humana, nessa perspectiva, se compõe de duas partes, uma superior, que seria a alma intelectiva e outra inferior, a alma do corpo. Considerada irracional essa alma inferior fragmentava, ainda mais, a visão de corpo, ao afirmar que a região do tórax seria a responsável pela iracidade e pela impulsividade, e a concupiscência estaria localizada no ventre e oltada para os desejos de bens materiais e apetite sexual. ara Platão é preciso que a alma superior domine a inferior, assim o sentir estaria subjugado ao pensar. A alma inferior impede a descoberta do conhecimento verdadeiro, leva a opinião e conseqüentemente ao erro. preciso controlar as paixões e os desejos, ou então, o corpo se torna sinônimo de corrupção e decadência moral. No diálogo O banquete, Platão relata que na juventude o que predomina nos encontros é a admiração pela beleza física, mas, o jovem ao amadurecer percebe que a beleza da alma é mais preciosa que a do corpo, a apreciação aqui,