Deficientes visuais
CADERNOS DA Este Caderno complementa a série de vídeos da tv escola Deficiência Visual Marta Gil (Org. ) M INISTÉRIO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA N. 1/2000 Presidente da Repú Fernando Henrique C S UMÁRIO Ministro da Educação Paulo Renato Souza oro dc•z to view nut*ge Secretário de Educação a Distância Pedro Paulo Poppovic Secretária de Educação Especial Marilene Ribeiro dos Santos Secretaria de Educação a Distância Cadernos da W Escola Diretor de Produção e Divulgação José Roberto Neffa Sadek Coordenação Geral Vera Maria Arantes Projeto e Execução Editorial
Deficiência visual / Marta Gil (org. ). – Brasília : MEC. Secretaria de Educação a Distância, 2000. 80 p. : ii. – (Cadernos da Escola. 1. ISSN 1518-4692) 1 Deficiência visual 2. 1ntegração escolar. 3. Sexualidade. 4. Educação Especial. l. Secretaria de Educação a Distância. CDU 376. 353 Programa 1 CONVERSAS SOBRE DEFICIÊNCIA VISUAL uitos consideram que a palavra ‘deficiente’ tem um significado muito forte, carregado de valores morais, contrapondo-se a ‘eficiente’. Levaria a supor que a pessoa deficiente não é capaz; e, sendo assim, então é preguiçosa, incompetente e sem inteligência.
A ?nfase recai no que falta, na limitação, no ‘defeito’, gerando sentimentos como desprezo, indiferença, chacota, piedade ou pena. Esses sentimentos, por sua vez, provocam atitudes carregadas de paternalismo e de assistencialismo, voltadas para uma pessoa considerada incapaz de estudar, de se relacionar com os demais, de trabalhar e de constituir família. No entanto, à medida que vamos conhecendo uma pessoa com deficiência, e convivendo com ela, constatamos que ela não é incapaz. ode ter dificuldades para realizar algumas atividades mas, por outro lado, em geral tem extrema habilidade em outras. Exatamente como todos nós. Todos n idades e talentos PAGF brasileira 6 etc. ) uma deficiência – mental, física (ou de locomoção), auditiva ou visual. Deficiência visual: conceitos Os graus de visão abrangem um amplo espectro de possibilidades: desde a cegueira total, até a visão perfeita, também total. A expressão ‘deficiência visual’ se refere ao espectro que vai da cegueira até a visão subnormal.
Chama-se visão subnormal (ou baixa visão, como preferem alguns especialistas) à alteração da capacidade funcional decorrente de fatores como rebaixamento significativo a acuidade visual, redução importante do campo visual e da sensibllidade aos contrastes e limitação de outras capacidades. Entre os dois extremos da capacidade visual estão situadas patologias como miopia, estrabismo, astigmatismo, ambliopia, hipermetropia, que não constituem necessariamente deficiência visual, mas que na infância devem ser identificadas e tratadas o mais rapidamente possível, pois podem interferir no processo de desenvolvimento e na aprendizagem.
Uma definição simples de visão subnormal é a incapacidade de enxergar com clareza suficiente para ontar os dedos da mão a uma distância de 3 metros, à luz do dia; em outras palavras, trata-se de uma pessoa que conserva resíduos de visão. Até recentemente, não se levava em conta a existência de res[duos visuais; a pessoa PAGF 53 cotidiana e no lazer. Conversas sobre deficiência visual 7 Foram desenvolvidas técnicas para trabalhar o resíduo visual assim que é constatada a deficiência. Isso melhora significativamente a qualidade de vida, mesmo sem eliminar a deficiência.
Usando auxilios ópticos (como óculos, lupas etc. ), a pessoa com baixa visão apenas distingue vultos, a laridade, ou objetos a pouca distância. A visão se apresenta embaçada, diminuída, restrita em seu campo visual ou prejudicada de algum modo. Recursos ou auxílios ópticos para visão subnormal são lentes especiais ou dispositivos formados por um conjunto de lentes, geralmente de alto poder, que se utilizam do princípio da magnificação da imagem, para que possa ser reconhecida e discriminada pelo portador de baixa visão.
Os auxílios ópticos estão divididos em dois tipos, de acordo com sua finalidade: recursos ópticos para perto e recursos ópticos para longe. (Braga, 1997, p. 12) A importância da visão A visão é o canal mais importante de relacionamento do individuo com o mundo exterior. Tal como a audição, ela capta registros próximos ou distantes e permite organizar, no nível cerebral, as informações trazidas pelos outros órgãos dos sentidos. Estudos recentes revelam que enxergar não é uma habilidade inata, ou seja, ao nascer ainda não sabemos enxergar: é preciso aprender a ver.
Não é um processo consciente. E-mbora nem pensemos nisso, estamos ensinando um bebê a enx 53 vida. Graças a testes de acuidade 8 visual recentemente desenvolvidos, hoje é possível azer a avaliação funcional da visão de um recém-nascido, ainda no berçário. Nós todos temos diversos ‘sistemas-guia’, formas muito pessoais que usamos para nos orientar no espaço, em geral sem tomar consciência disso. por exemplo: para aprender um carmnho, há quem se oriente por uma casa diferente, um prédio, ou outro marco de referência.
Outros têm uma boa noção dos pontos cardeais (norte, sul), usando-a como orientação. A visão constitui um desses sistemas-guia – provavelmente, o mais poderoso deles. Assim, os cegos precisam recorrer a outros tipos de sistema-guia. Alguns, por xemplo, usam como referência o tipo de calçamento das ruas (asfalto, paralelepípedos etc. ), ou as cuwas e esquinas das ruas de seu trajeto. Outros recorrem a pistas olfativas (uma fábrica de bolachas, por exemplo), ou auditivas (ruídos de uma praça movimentada). basta fechar os olhos e tentar reproduzir o comportamento de um cego pois, tendo memoria visual, a pessoa tem consciência do que não está vendo. Causas dos defeitos de visão As causas mais frequente PAGF s 3 visão corticais. O que significa a perda da visão? A cegueira e a visão subnormal podem também resultar de oenças como diabetes, descolamento de retina ou traumatismos oculares. A c egueira , ou perda total da visão, pode ser a dquirida , ou c ongênita ( desde o nascimento).
O indivíduo que nasce com o sentido da visão, perdendo-o mais tarde, guarda m emórias visuais , consegue se lembrar das imagens, luzes e cores que conheceu, e isso é muito útil para sua readaptação. Quem nasce sem a capacidade da visão, por outro lado, jamais pode formar uma memória visual, possuir lembranças visuais. Para quem enxerga, é impossível imaginar a vida sem qualquer forma visual ou sem cor, porque as imagens e as ores fazem parte de nosso pensamento.
Não O impacto da deficiência visual (congênita ou adquirida) sobre o desenvolvimento individual e pslcológico vana muito entre os indivíduos. Depende da idade em que ocorre, do grau da deficiência, da dinâmica geral da família, das intervenções que forem tentadas, da personalidade da pessoa – enfim, de uma infinidade de fatores. Além da perda do sentido da visão, a cegueira adquirida acarreta também outras perdas: emocionais; das habilidades básicas (mobilidade, execução das atividades diárias); da atividade profissional; da comunicação; e a personalidade como um todo.
Trata- 10 repercussões educacionais, emocionais e sociais, que podem perdurar ao longo de toda a vida, se não houver um tratamento adequado, o mais cedo possível. Atividades da vida diária: caminho para a autonomia Durante muitos anos, uma pessoa cega que falasse bem, tivesse desempenho acadêmico satisfatório e bom nível de informação e verbalização deslumbrava e maravilhava a todos. Nada mais se esperava dela, em termos de autonomia e de independência. Assim, a educação de uma criança portadora de deficiência visual se voltava basicamente para seus êxitos intelectuais.
Essa reação demonstrava a expectativa geral quanto às possibilidades de uma pessoa deficiente visual: o preconceito impedia que ela fosse considerada capaz de executar toda a gama de atividades que faz parte do cotidiano – deslocar-se com independência, cuidar-se e vestir-se com adequação, alimentar-se, interagir socialmente de forma prática e adequada, competir no mercado de trabalho, casar-se, enfim, exercer seu papel de cidadão que conta com o respeito da sociedade e é aceito.
Felizmente, as coisas estão mudando. Talvez não com a rapidez que seria desejável, mas muitos serviços de tendimento às crianças portadoras de defici- ência visual já incorporam a seus programas um trabalho voltado para as atividades de vida diária e ara a orientação e a mobilidad PAGF 7 53 o melo à pessoa que nao enxerga, ou que enxerga pouco. Nos programas de atendimento a pessoas portadoras de deficiência visual esse aprendizado é conhecido como ‘atividades da vida diária’, ou apenas ‘AVD’.
O Programa de Atividades da Vida Diária é uma preparação para a vida; capacita para o prazer da autosuficiência, liberta da ajuda e da proteção excessivas e motiva para o crescimento pessoal, por meio de titudes e valores positivos. A independência alcançada graças a um bom programa de Atividades da Vida Diária vai muito além das necessidades pessoals básicas, como higiene, alimentação, hábitos à mesa e etiqueta, cuidados com a casa e atividades sociais.
Significa d esenvolvimento da autoconfiança e valorização das próprias capacidades, aquisição de naturalidade, eficiência e desenvoltura no universo social e uma atitude que favorece a conscientização da sociedade em relação às potencialidades do portador de deficiência. Há crianças que, além da deficiência visual, presentam outros comprometimentos – da fala, da audição etc. Por isso, o primeiro passo em qual- 12 quer atendimento consiste em uma avaliação global, feita por uma equipe interdisciplinar composta por oftalmologista, pedagogo, fonoaudiólogo e outros profissionais, para decidir qual é o caminho a seguir.
A partir do diagnóstico, é elaborado um programa de Educação Precoce, que inclui atividades lúdicas de acordo com a i ação depende, em PAGF 8 OF Visual, também baseado em jogos e brincadeiras, criados ou adaptados para as mais diferentes ocasiões. Essas atividades se destinam a stimular a visão residual (quando há), e também os outros sentidos. Orientação e mobilidade A deficiência visual, em qualquer grau, compromete a capacidade da pessoa de se orientar e de se movimentar no espaço com segurança e independência.
Na idade pré-escolar, quando a criança está desenvolvendo sua capacidade de socialização, isso prejudica (ou até mesmo impede) o conhecimento do mundo a seu redor e seu relacionamento com outras pessoas. É um momento em que ela gosta de ter amigos, brincar junto e compartilhar os brinquedos. Se estiver impossibilitada de desempenhar esses papéis, icará insatisfeita e isolada, e isso trará prejuízos a sua aprendizagem. Para alguns autores, a limitação na orientação e na mobilidade pode ser considerada o efeito mais grave da cegueira. 3 O desenvolvimento das habilidades de orientação e mobilidade, parte essencial do processo educacional de qualquer criança deficiente visual, precisa começar desde cedo, em casa, com o apoio dos pals. Depois, o treinamento continuará na escola, com o professor especializado. Nos programas de estimulação precoce, orientação e mobilidade, há técnicas especializadas para esenvolver o sentido de orienta ao usando o tato, a audição e o olfato para s om os objetos pessoa se movimente e se oriente com segurança na escola, em casa, no trânsito, em locais públicos etc. de acordo com sua idade. O papel da família À família, base do desenvolvimento do ser humano, cabe a tarefa de oferecer ao portador de deficiência visual condições para seu crescimento como indivíduo, tornando-o capaz de ser feliz e produtivo, dentro de sua realidade, de suas potencialidades e de seus limites. Embora nem sempre seja fácil, a família precisa entender que o portador de deficiência é, antes de ais nada e acima de tudo, uma pessoa total, evitando focalizar a atenção na cegueira, ou na baixa capacidade visual.
A primeira atitude importante consiste em acreditar nas potencialidades da criança, considerando- 14 a capaz de estudar, de ser independente, de trabalhar, praticar espartes e tantas outras coisas que seus amigos fazem. Para muitos portadores de deficiência, a maior dificuldade está na falta de oportunidades. 15 • idade em que aconteceu; • associação (ou não) com outras deficiências; • aspectos hereditários; • aspectos ambientais; • tratamento recebido.