Finitude humana e ensino religioso

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FINITUDE HUMANA E ENSINO RELIGIOSO INTRODUÇÃO A finitude humana (ou morte) é um tema bastante complexo, negado pela cultura e pela sociedade de consumo, pouco investigado e pouco descrito em textos académicos. Acreditamos que esse nosso artigo poderá contribuir para o aprofundamento da questão, relacionando-o com as diversas possibilidades metodológicas de abordá-lo nas aulas de Ensino Religioso. Além disso, vamos abordá-lo levando em conta as quatro matrizes religiosas que estão presentes em nossa formação sócio-cultural religiosa, que são a af O assunto “morte assistência e promoç 5 p tal e a semita. ssões sobre a ema proibido no interior das familias e nas rodas de amigos. Ela é vista como fracasso, incapacidade ou incompetência dos médicos e profissionais de saúde, mas na verdade é a consciência da própria morte que nos humaniza. Por isso, o Ensino Religioso nao poderia deixar de abordar essa temática de frente, sobretudo dando elementos didático-pedagógicos que valorizem a sua forma metodológica. A morte é um desses assuntos que se liga por sua própria natureza à religião, à religiosidade e à espiritualidade.

O ser humano diante da finitude se pergunta pelo sentido a vida, porque nascemos, vivemos e teremos que passar necessariamente pela morte. E depois dela, o que haverá? Como veremos, nem todas as religiões estão preocupadas com essa vida após a morte, ou a doutrina de algumas religiosidades ensina uma vida noutra dimensão. O certo é que todas as religiões, sem exceção, defen defendem a Vida como algo sagrado, intocável por sua própria natureza. . Concepção africana da finitude humana para a concepção africana de morte vamos utilizar a apresentação didática feita por Prandi (2001, p. 44), que parte da concepção do Candomblé, como “religião dos orixás formada na Bahia, no século XIX, a partir de tradições de povos iorubás, ou nagôs, com influências de costumes trazidos por grupos fons, aqui denominados jejes, e residualmente por grupos africanos minoritários”.

Assim, esse candomblé baiano espalhou-se pelo Brasil, sendo que em Pernambuco é denominado por Xangô e no Rio Grande do Sul por batuque. É importante estar atentos ao que o autor esclarece um pouco mais adiante em seu texto: O candomblé angola, embora tenha adotado os orixás, que são divindades nagôs, e absorvido muito das concepções e ritos de origem iorubá, desempenhou papel fundamental na onstituição da umbanda, no inicio do século XX, no Rio de Janeiro e em São Paulo.

Hoje, todas essas religiões e nações congregam adeptos que seguem ritos distintos, mas que se identificam, nos mais diversos pontos do país, como pertencentes a uma mesma população religiosa, o chamado povo-de-santo, que compartilha crenças, práticas rituais e visões de mundo, que incluem concepções da vida e da morte. (PRANDI, 2001, p. 44).

A compreensão do sentido da morte para o grupo dos iorubás passa pela divisão feita do mundo em três planos: o Aiê, que é este nosso mundo, o do tempo presente; o Orum, que é o outro undo, a morada dos deuses orixás e dos antepassados, o mundo mítico do passado remoto; e o mundo intermediário dos que estão aguardando para renascer 2 OF as mítico do passado remoto; e o mundo intermediário dos que estão aguardando para renascer.

Este mundo dos que vão nascer está próximo do mundo aqui-e-agora, o Aiê, e representa o futuro imediato, ligado ao presente pelo fato de que aquele que vai nascer de novo continua vivo na memória de seus descendentes, participando de suas vidas e sendo por eles alimentados, até o dia de seu renascimento como um novo membro de sua própria família. Para os seguidores do candomblé e de outras religiões afro-brasileiras a morte é um tempo desprovido de sentido, sendo que depois dela o que se espera é voltar para este mundo, para o presente do Aiê. . Concepção indígena da finitude humana Sobre a concepção de morte entre os indígenas brasileiros utilizaremos um nosso trabalho anterior, onde explicamos melhor o que se entende por cultura indígena (Alves, 2008). Assim, sabemos que antes da chegada dos europeus à América havia aproximadamente 100 milhões de Índios no continente, sendo que no território brasileiro, esse número podia chegar a 5 milhões e nativos, aproximadamente.

Os Índios brasileiros estavam divididos em tribos, de acordo com o tronco lingüístico ao qual pertenciam: tupi-guaranis (região do litoral), macro-jê ou tapuias (região do Planalto Central), aruaques (Amazônia) e caraíbas (Amazónia). Atualmente, calcula-se que apenas 400 mil índios ocupam o território brasileiro, principalmente em reservas Indigenas demarcadas e protegidas pelo governo. São cerca de 200 etnias indígenas e 170 línguas. Porém, muitas delas não vivem mais como antes da chegada dos portugueses.

O contato com o homem branco fez com que multas tribos perdessem sua dentidade cultur as portugueses. O contato com o homem branco fez com que muitas tribos perdessem sua identidade cultural e consequentemente entrassem num processo de exterminação, semelhante a um genocídio, como já ocorreram em outros momentos da história humana. Entre os indígenas não há classes sociais como a do homem branco, uma vez que eles têm os mesmos direitos e recebem os mesmos tratamentos. A terra, por exemplo, pertence a todos e quando um índio caça, costuma dividir com os habitantes de sua tribo.

Apenas os instrumentos de trabalho (machado, arcos, flechas, arpões) são de propriedade individual. O trabalho na tribo é realizado por todos, porém possui uma divisão por sexo e idade. As mulheres são responsáveis pela comida, crianças, colheita e plantio. Já os homens da tribo ficam encarregados do trabalho mais pesado: caça, pesca, guerra e derrubada das arvores. Duas figuras importantes na organização das tribos merecem destaque, que são o pajé e o cacique. O pajé é o sacerdote da tribo, pois conhece todos os rituais e recebe as mensagens das entidades mediúnicas.

Ele faz o papel de médico, preparando chás e ervas para curar as doenças, executando o ritual da ajelança, onde evoca os deuses da floresta e dos ancestrais para ajudar na cura. Já o papel do cacique está relacionado com a chefia, a organização e a orientação dos demais índios. Notemos que a figura do pajé é a mesma do xamã siberiano: o pajé é médico, sacerdote, psiquiatra, pois ele cura, dirige as preces, aconselha, empregando não só as ervas medicinais como também o transe extático, no qual entra em contato com os espíritos em benefício de seus clientes.

Notemos que o pajé não se deixa possuir dos e 4 as contato com os espíritos em benefício de seus clientes. Notemos que o pajé não se deixa possuir dos espíritos, como no Candomblé africano, mas, como no xamanismo siberiano, apossa- se dos esp[ritos e às vezes sai em busca da alma do enfermo, que o abandonara, causando-lhe o estado doentio, para fazê-la retornar ao corpo e restituir-lhe a saúde. Cada nação indigena possui crenças e rituais religiosos diferenciados, porém, todas as tribos acreditam nas forças da natureza e nos espíritos dos antepassados.

Para estes deuses e espíritos, eles fazem rituais, cerimônias e festas. Transcrevendo o que expressamos ali naquele texto citado, afirmamos que, O pajé é o responsável por transmitir estes conhecimentos aos habitantes da tribo. Algumas tribos enterram os corpos dos índios em grandes vasos de cerâmica, onde além do cadáver ficam os objetos pessoais, o que pode demonstrar que uma crença na vida após a morte (ALVES, 2008, p. 85).

Concluindo esse tópico, podemos dizer que um dos elementos típicos do xamanismo é a crença na “alma” humana, como entidade espiritual, a qual não se extingue com a morte corporal, mas, transformando-se em espírito, empreende uma longa viagem em busca da “terra-sem-mal” 3. Concepção oriental da finitude humana As religiões orientais não têm a mesma visão da morte que a maioria das religiões oci e, tanto para chineses, s OF as quando se vai um morto. Acreditam que morte é renascimento. Em vez de preto, usa branco para celebrar o luto”. ode parecer estranho para nós ocidentais, mas os japoneses colocam alimentos sobre os túmulos, em razão de que nas Escrituras Budistas há uma passagem que descreve o sofrimento do monge Mokuren (um dos dez discípulos de Buda), vendo a mãe morta sofrendo de fome nas profundezas do inferno. A oferta de uma tigela de arroz ajudou a aliviar a dor dela. A tradição de oferecer omida e bebida aos mortos vem dai (Revista Lótus, 2000). O dia dos mortos no Japão é celebrado a 15 de agosto (O- bon), que é uma festa budista em que é permitido aos espíritos mortos visitar as casas de familiares vivos para comemorar o encontro com eles.

Acendem-se lanternas nas portas de entrada das casas para guiar os espíritos. No fim do festival acendem-se lanternas nos nos, de onde os fantasmas retornariam ao mundo sobrenatural, após visitar os parentes durante vários dias. As danças japonesas conhecidas em festivais japoneses como Bon- odori são originárias dos rituais fúnebres. Uma das funções das danças é espantar os maus espíritos, que também são reanimados na época. Já para o Hinduísmo, o ser humano tem uma alma imortal, que não envelhece quando o homem envelhece, que não morre, quando homem morre.

Um hinduísta acredita que, depois da morte de um indivíduo, sua alma renasce numa nova criatura vivente, podendo renascer numa casta mais alta ou mais baixa, ou pode passar a habitar um animal. para Hellern, Notaker e Gaarder (2000) no Hinduísmo há uma ordem inexorável nesse ciclo que vai de uma existência à outra, é o Carma do homem, palavra sânscrita que Sign as nesse ciclo que vai de uma existência à outra, é o Carma do homem, palavra sânscrita que significa ato, e se refere a pensamentos, palavras e sentimentos, não apenas em ações físicas.

O Hindu[smo não reconhece nem aceita nenhum destino cego, a responsabilidade pelo tipo de vida é sempre do homem, pois ele colherá sempre o que semeou, e automaticamente a transmigração está sujeita à lei da causa e efeito. Ao contrário das demais religiões, o Xintoísmo não reconhece um paraíso além da morte, pois não admite divindades, seres divinos transcendentes, independentes e governantes do mundo or eles criado, mas o Xintoísmo reconhece a existência de entidades espirituais que se manifestam em seres animados, pessoas e animais; e nos seres não-anlmados, como montanhas, árvores, água etc.

Na Revista “Mundo e Missão” (2009), afirma que o Xintoísmo confere uma quase dignidade divina a tudo o que pertença à natureza, como o sol, outros astros, montanhas, rios, lagos, bosques e a cada árvore, pedra, etc. Até as pessoas, depois da morte, podem se transformar em Kamis, não claramente especificados. Tanto que os ancestrais são personificados ou lhes é dedicada uma árvore, um riacho e, través deles, são lembrados, cultuados e venerados.

O taoísmo entende a morte como processo natural de transição entre o fim desta vida e uma nova etapa da existência. Após a morte existe uma alma que segue seu caminho, renascendo em uma nova condição. Ao invés de reencarnação, o Taoísmo usa o termo “transmigração”, para este processo já que o renascimento pode se dar no reino humano, mas também em outros, superiores ou inferiores. para Bizerril (2005), no que t em outros, superiores ou inferiores.

Para Bizerril (2005), no que tange às questões da vida e da morte, o taoísmo ocupa uma posição especifica no mundo ontemporâneo, ao formular uma narrativa fundada em confiar na sabedoria do corpo e da natureza, ao invés de buscar o controle da natureza imperfeita, como é característico da episteme biomédica hegemônica. Mescla o respeito às diferenças corporais individuais — como seria de bom-tom num universo social (urbano) mais individualista — e a busca de harmonia com os ritmos do cosmo – baseando-se em uma noção de totalidade que inclui sujeito, sociedade e mundo.

Concluindo, as religióes orientais aqui vistas, com influência na nossa cultura brasileira, mostram visões diferentes sobre finitude humana, que contrasta com as demais concepções ocidentais, que se embasa nas idéias semiticas que se veremos a seguir. 4. Concepção semítica da finitude humana A concepção semítica é formada principalmente pelas religiões monoteístas, judaísmo, cristianismo e islamismo, considerados também como herdeiros da fé de Abraão, patriarca e figura símbolo do semita, que a pedido de Javé, “sai de sua tua terra (… para a terra que te mostrarei” (livro do Gênesis, capitulo 12, versículo 1 Essas três concepções amadureceram ao longo de sua história o significado da morte dentro do desenvolvimento de ua doutrina de salvação, passando de uma concepção de que com a morte a vida terminava em definitivo até chegar ao ápice da idéia da doutrina da retribuição, que é a recompensa da vida digna e de fidelidade a Deus a ós a morte. 8 OF as Deus após a morte.

A força que essa idéia deu aos fiéis dessas três religiões, possibilitou atos heróicos de entrega da própria vida em favor de causas nobres, como a defesa da fé, da fidelidade a Deus e na crença na vida após a morte. Basta lembrar de figuras como os profetas de Israel e de Judá, narradas nos livros dos reis, dos ensageiros divinos que foram mortos na realização de seu oficio e de tantos outros mártires por causa da força que a palavra divina lhes dava. para os cristãos, esse ápice chega na entrega de Jesus à morte de cruz, onde a finitude humana transparece unida à eternidade divina.

A morte de Jesus é vista como a possibilidade de resgatar toda a humanidade da morte e elevá-la a ressurreição que compartilha com Jesus, sendo aclamado como vitorioso sobre a morte. Assim como os Judeus e os cristãos, os islâmicos crêem que a presente vida é apenas uma prova e preparação para o próximo reino da existência. Os artigos básicos de sua doutrina incluem os seguintes itens de fé: O Dia do Juízo Final, a Ressurreição, o Paraíso e o Inferno.

Quando um islâmico morre, ele é lavado usualmente por alguém da família, enrolado num tecido limpo branco, e enterrado com uma simples prece, preferivelmente no mesmo dia. Os islâmicos acreditam que isso seja um dos atos finais que podem fazer por seus parentes, e uma oportunidade para se lembrarem da sua breve existência aqui na terra. Pode-se dizer que, O Profeta Muhammad ensinou que três coisas podem continuar auxiliando uma pessoa mesmo depois da morte: a aridade que ela fez, o conhecimento que ela transmitiu e as orações que são feitas por um filho virtuoso pela alma dos pais. Centro que ela transmitiu e as orações que são feitas por um filho virtuoso pela alma dos pais. (Centro Cultural Beneficente Islâmico Foz de Iguaçú, 2009). Portanto, as três religiões semíticas possuem visão semelhante sobre a finitude humana e sobre a vida após a morte, que seria uma vida de convivência divina em retribuição à vida terrena. 5. A finitude da vida é uma experiência singular Embora o senso popular acredite que só as pessoas idosas orrem, na prática sabemos que a morte atinge todas as pessoas em todas as idades.

Temos assistido em nossas cidades, que as principais vítimas da violência são os jovens e muitas vezes, as crianças dentro do próprio lar. Mesmo assim, podemos levantar vários dados que relacionem envelhecimento com a morte. Por exemplo, alguns autores acreditam que o envelhecimento humano se processa pela ação do tempo sobre os indivíduos, levando em consideração o aspecto individual do idoso, ao afirmar que “envelhecer e morrer são experiências vitais singulares próprias de cada ser’ (PY e TREIN, 2006, p. 353).

Considerando a chegada da morte não como sinônimo do avanço da idade, mas sim como um evento natural na vida de cada um, podemos compreender a relação entre a morte e o envelhecimento não só como evento negativo, mas como resultante do fato natural de que o idoso é uma pessoa dotada de experiências vividas, como também uma pessoa que, ao longo de sua vida, passou e continua passando por uma série de transformações que também envolvem perdas e ganhos. A experiência clínica de Elizabeth Kübler-Ross (1987) levou ? descrição de uma série d as pessoas com doenças 0 DF 25

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