Produção de textos – para quem escrever: o interlocutor em questão

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FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO, CIÊNCIAS, EDUCAÇÃO E LETRAS _ FACE L Pós-Graduaçao em eoria da Literatura e Produção de Texto Área Letras Data de iniCi0 – 12/02/2011 PRODUÇÃO DE TEXTOS – Para quem escrever: o interlocutor em questão[l ] João Carlos dos S or2B to view nut*ge RESUMO 0 presente artigo an dução textual apresentadas no livro didático “Tudo é Linguagem” (BORGATVO, BERTIN, MARCHEZI, 2005), promovendo, assim, uma reflexão sobre a importância do interlocutor nos comandos de produção escrita.

O objetivo deste trabalho foi verificar e discutir se esses comandos de produção escrita do livro didático apresentam um nterlocutor, já que a ausência de indicação de um destinatário é um fator que contribui para a dificuldade na produção escrita. Os resultados da análise demonstram que o educando continua a produzir textos para a escola e para o professor, visto que os comandos não propõem um referencial real e uma finalidade social para o texto. Palavras-chave: produção escrita — livro didático — interlocutor. ituação, o ato de escrever é irreal, tem como único interlocutor o professor e, dessa forma, ao invés de se preocupar em estabelecer uma relação clara com seu leitor, ele acaba por render-se a regras de estrutura textual e gramaticais, pois sabe que seu leitor atua somente como corretor. Isso tudo acaba fazendo com que o resultado do texto seja contrário ao desejado pelo próprio autor e pelo professor, o qual espera que seu aluno produza um texto claro, objetivo e convincente, capaz de acrescentar informações novas ao leitor.

Para reverter essa situação, na qual o aluno escreve apenas para o professor, é necessário que as situações didáticas proporcionem ao aluno condições reais para a produção escrita e no ato da produção ele saiba quem é seu interlocutor e qual é a inalidade que o leva a produzir o texto e, assim, possa encontrar argumentos de acordo com a imagem desse interlocutor.

Nesse sentido, torna-se fundamental que o professor tenha consciência da importância de o comando de produção escrita apresentar um interlocutor, condição muitas vezes não encontrada nos livros didáticos, mas que constitui um fator imprescindível para que o aluno posicione-se frente ao interlocutor de seu texto, estabelecendo de fato uma interação.

Levando em conta a importâncla de se ter um referencial no ato da produção escrita e, considerando que em muitos asos o material didático não traz a imagem desse interlocutor nas atividades, o presente artigo tem por objetivo analisar os comandos de produção escrita de um livro didático de Língua Portuguesa da 5 a série do Ens PAGF 93 Portuguesa da 5 a séne do Ensino Fundamental, para verificar e discutir a presença ou a ausência do interlocutor nas propostas sugeridas nesse material.

O material analisado no corpus da pesquisa foi o livro didático “Tudo é Linguagem”, das autoras Ana Borgatto, Terezinha Bertin e Vera Marchezi, atualmente utilizado pelos colégios estaduais do município de Prudentópolis-PR. PRODUÇAO TEXTUAL: ASPECTOS TEORICOS E PRATICOS A produção textual escrita é uma atividade verbal, empreendida pelo escritor, com fins sociais, isto é, o autor de um texto, tendo em vista um objetivo, procura atingir o destinatário, por meio do trabalho com a palavra escrita.

Desse modo, considerando que o texto é o lugar da interação entre autor e leitor, pode-se dizer que a produção de texto constitui-se em uma atividade dialóglca. Por muito tempo, os textos produzidos pelos educandos eram encarados como um produto fechado. Caberia ao professor corrigi-lo, analisá-lo em seu grau de coerência, coesão, egibilidade, reduzindo a ação de produzir textos apenas a um exercício com fins avaliativos.

Com o surgimento dos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998) e, mais recentemente, das Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa para o Estado do Paraná (PARANÁ, 2008), acentuaram-se diversas mudanças no universo escolar que foram sentidas nas práticas em sala de aula, assim como na elaboração de materiais didáticos. No que se refere à produção escrita, o documento enfatiza: Em relação à e Em relação à escrita, ressalta-se que as condições em que a produção acontece determinam o texto (… alienta a importância de o professor desenvolver uma prática de escrita escolar que considere o leitor, uma escrita que tenha um destinatário e finalidades, para então se discutir o que será escrito (… ) é preciso que o aluno se envolva com os textos que produz e assuma a autoria do que escreve, visto que ele é o sujeito que tem o que dizer. A produção escrita possibilita que o sujeito se posicione, tenha voz em seu texto, interagindo com as práticas de linguagem da sociedade. (PARANÁ, 2008, p. 56).

Neste sentido, percebe-se que o documento pontua questões de ordem social cognitiva e, também, linguística que, té então, não haviam sido amplamente discutidas, mas que constituíram o pano de fundo para a mais nova fase da produção textual, a sociocognitivista-interacionista. O texto, antes visto enquanto produto a ser avaliado levando em conta apenas os aspectos formais, passa a ser encarado enquanto processo de ação e interação. O pressuposto adotado é o de que todo fazer (ação) é necessariamente acompanhado de processos de ordem sociocognitiva-interacional.

Koch (2004) afirma que os parceiros da comunicação possuem saberes acumulados quanto aos diversos tipos de atividades da vida social, e esses saberes ão ativados no processo da produção textual, a fim de tornar a atividade textual um sucesso. Para que o aluno produza um texto, que não seja uma mera sequência de frases soltas, é necessário um b 3 aluno produza um texto, que não seja uma mera sequência de frases soltas, é necessário um bom encaminhamento metodológico que direcione o autor sobre o interlocutor e o objetivo que seu texto deve atingir.

No entanto, o que ocorre normalmente, quando da execução destas atividades, é que o aluno é impelido a produzir um texto sem que lhe sejam dadas as condições necessárias para isto. Partindo deste ponto de vista, pode-se citar gakhtin (1 981 apud GERALDI, 1993), que afirma que todo enunciado deve possuir uma razão, um objetivo para ser produzido, uma vez que, a partir da finalidade que o texto deve atingir, pode-se construir um texto na escola ou para a escola.

O aluno escreve para escola, geralmente em situações irreais, na qual tem como único interlocutor o professor, que não oferece funcionalidade para o ato da escrita, ou seja, o aluno continua fazendo redações para que o professor corrija e seja, então, o único interlocutor real dos textos. Cabe ao educador o uso de metodologias capazes de ropiciar um trabalho com produção textual de qualidade, tendo consciência da importância do interlocutor nesta produção textual. Com isso, o aluno passa a produzir textos na escola, como declara Gerald’ (1993), em que a escrita torna-se funcional, não uma situação artificial.

Este mesmo autor coloca que um dos fatores mais importantes no ato de produção escrita é ter para quem dizer aquilo que quer dizer e, em seguida, ter o que dizer, ter uma razão para dizer aquilo que se quer dizer, que o locutor assuma papel de sujeito, que diz para quem diz, e que tudo isso seja realizado por meio PAGF s 3 locutor assuma papel de sujeito, que diz para quem diz, e que tudo isso seja realizado por meio de estratégias adequadas. No processo de elaboração de um texto, o escritor imprime no papel as marcas linguísticas de suas formações, mas, além disso, o leitor deve ser considerado no momento de produção textual.

Diante disso, podemos dizer que o leitor não exerce papel passivo no ato da escrita, como quer a tradição dos estudos de linguagem. Ao contrário, ele é condição necessaria para a existência do texto. Conforme salientam Kaufman e Rodrigues (1995, p. 51 ) “não é fácil imaginar que alguém escreve para ninguém’, fora dos muros escolares. Sempre há um destinatário dos materiais escritos: esse destinatário pode ser ou outra pessoa ou quem escreveu (quando escrevemos para não esquecer algo ou para organizar algum tema que estamos estudando)”.

Assim, o texto ganha valor quando está inserido num real processo de interlocução. Isto é, quando o que se escreve está direcionado e faz sentido para quem lê. Sob essa perspectiva, e pensando nas atividades de produção textual realizadas em sala de aula, é importante ressaltar que apenas num quadro efetivo de interação linguística é que o estudante pode tornar- e sujeito do que diz, ou seja, se o que diz faz sentido para o seu interlocutor, numa situação específica de comunicação. Como expõe Tenucci (apud KALIFMAN e RODRIGUES, 1995, p. 2), “O absurdo da escola tradicional é que se escreve nada para ninguém. Todo o esforço que a escola tradicional pede a criança é o de aprender a escrever para demonstrar que sabe escrever’. Na tradicional pede a criança é o de aprender a escrever para demonstrar que sabe escrever. Na prática escolar, a instituição deve aproximar a escrita tal como ela ocorre em situações de escrita extra-escolar. Ao observar os comandos de produção de textos, nota-se que a metodologia sugerida para trabalhar com o tema em questão, está um pouco que distante do que nos aponta Soares (2003, p.

Formar escritores competentes supõe, portanto, uma prática continuada de produção de textos em sala de aula oferecendo oportunidades para que o aluno “descubra” a necessidade de usar a língua escrita como forma de comunicação, de interlocução situação em que a atividade escrita se apresente como uma necessidade de comunicação e interação, em que o aluno tenha, pois, objetivos para escrever e estinatários (leitores) para quem escrever. Caso contrário, corre-se o risco de o estudante ter a sua capacidade linguistica prejudicada.

O que ocorre é que a escola, na sua trajetória histórica, torna falsas as condições de escrita e não fornece ao estudante as ferramentas de uma prática interativa da língua. Com esse falseamento, a escrita torna-se um exercício penoso que cristaliza o discurso. Surgem, então, frases- feitas, argumentos de senso comum, perfodos sem coerência que, frequentemente, aparecem nos textos dos educandos (BRI O, 1997). O trabalho com produção de texto em sala de aula deve, ortanto, ser conduzido de outra maneira.

O aluno tem que passar a ver esta atividade por um outro ângulo, qual seja o de que as pessoas escrevem pela vo PAGF 7 93 esta atividade por um outro ângulo, qual seja o de que as pessoas escrevem pela vontade que têm de fazê-lo, pela necessidade que têm de dizer o que pensam sobre determinado assunto. Escrevem porque querem convencer outras pessoas de que a maneira como interpretam determinada situação é a mais correta. Escrevem pela necessidade de interagir com outros sujeitos, enfim, o ato de escrever, de argumentar não se presta omente à leitura avaliativa do professor.

Por isso, se há uma condição essencial que precede a produção de um texto, esta condição é, sem dúvida, a definição do público a que ele se destina (BRITO, 1997). A falta de um destinatário é um fator que contribui para a dificuldade na produção das argumentações, pois não tendo um referencial, os alunos não se preocupam em melhorar seus argumentos e suas idéias no decorrer do texto. Fica nítida a importância de se ter um referencial na hora de produzir um texto escrito, saber para quem escrever é tão importante quanto saber o que vai escrever.

Mas, infelizmente, os alunos hoje, ainda, escrevem somente para o professor e para se obter nota, sem compreender que produzir um texto é uma atividade que estimula o senso crítico e desperta a desenvoltura de quem escreve. endo a linguagem como forma de interação, torna- se possível trabalhar o texto de forma mais profunda, a fim de investigar os recursos utilizados pelo produtor para transmitir a mensagem. Nesta prática, a compreensão é obtida por meio da negociação de sentidos entre sujeito-autor (locutor) e sujeito- leitor (interlocutor). . 1 0 interlocutor nos comandos de produ PAGF 8 3 sujeito-autor (locutor) e sujeito-leitor (interlocutor). 2. 1 0 interlocutor nos comandos de produção escrita Ao se produzir textos, a presença do interlocutor é de extrema importância. Ele inscreve-se tanto no ato de produção de sentido na leitura, como também se inscreve na produção, no momento em que está sendo construído. Ele é condição necessária para a existência do texto. ? medida que o produtor imagina leituras não-desejadas pelos eventuais leitores, mais clareza e pistas terá de deixar na produção. A produção textual deve partir de questões que levem o utor a pensar não só no que vai escrever, mas também em para quem se destina o texto escrito. Conforme Cagliari (1 995, p. 122) A produção de um texto escrito envolve problemas específicos de estruturação do discurso, de coesão, de argumentação, de organização de idéias e escolha de palavras, do objetivo e do destinatário do texto, etc.

Por exemplo, escrever um bilhete é diferente de escrever uma carta, uma notícia, uma propaganda, o relato de uma vlagem, uma confissão de amor, uma declaração perante um tribunal, uma piada. Cada texto tem sua função, e todas as formas precisam ser trabalhadas na escola. Complementando o que nos diz o autor acima citado, podemos ainda citar Jolibert (1994, p. 16), o qual afirma que o ato de escrever deve se concretizar em uma atmosfera que traduza o prazer de escrever.

Prazer de inven ir um texto, prazer de compreender como ele funciona, prazer de buscar as palavras, prazer de vencer as dificuldades, prazer de encontrar o tipo de escrita e as formulações mais adequadas a situações, prazer de progredir, prazer de tarefa levada até o fim, do texto bem apresentado. É preciso organizar o trabalho educativo para que os alunos experimentem, vivenciem a prática de produção de textos na sala e aula, incentivando a escrever nas mais diferentes situações, utilizando os referenciais que já têm sobre a escrlta, e analisando, principalmente, para quem escrever. ara que o professor possa atuar como mediador nos textos dos alunos e a fim de realizar as interferências necessárias para o seu crescimento, precisa escrever e fazê-lo com competência. Assim, para atingir esta competência na escrita, necessita primeiramente, assumir uma atitude responsiva ativa, (BAKHTIN, 1997). Ainda, segundo o mesmo autor, para atingir o interlocutor, para que o texto se torne claro a ele, é preciso obretudo, colocar-se no lugar de leitor, conclundo e cobrindo as lacunas do texto.

Na escola, na prática da escrita, normalmente o interlocutor é apenas o professor, e torna-se o único leitor dos textos produzidos pelos educandos. Kramer (2001 , p. 63) vai mais longe, ao afirmar que “muitos de nós, alunos e professores, não somos sequer leitores dos textos que escrevemos”. Dessa forma, como cobrar bons textos dos educandos quando, estes professores, sequer leem o próprio texto. A solução para o problema da escrita pode ser multo mals simples do que se imagina, aprende-se a escrever através de m

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