Resumo e análise – luciola
Resumo e Análise Lucíola é o quinto romance de Alencar e o primeiro da trilogia que ele denominou de “perfis de mulheres” (Lucíola, Diva e Senhora). Situa-se entre seus romances urbanos que representam um levantamento da nossa vida burguesa do século passado. A obra, publicada em 1862, é um romance de amor bem ao sabor do Romantismo, muito embora uma ou outra manifestação do estilo Realista aí se faça presente. Trata-se de um romance de “primeira pessoa”, ou seja, o narrador da história é um personagem importante da mesma, Paulo Silva.
E ele a narra em cartas dirigidas a uma senhora, G. M. pseudônimo de Alencar), que as publica em livro com o título de Lucíola. Fixam o Rio de to page OF27 Lírico, passeava à tar na Swipe nentp Público, morava no Fl protagonista de dra paixão desvairada. esa e tradicional, ntava o Teatro à noite no Passeio u Santa Teresa e era simples namoro ? Em todos os romance urbanos, Alencar aborda o amor como tema central. Ou, para ser mais exato, “aborda a situação social e familiar da mulher, em face do casamento e do amor.
Mas o amor como o entendia a mentalidade romântica da época, um amor sublimado, idealizado, capaz de renuncias, de sacrifícios, de eroísmos e até de crimes, mas redimindo-se pela própria força acrisoladora de sua intensidade e de sua paixão. Subjetivismo – O mu mundo do romântico gira em torno de seu “eu”: do que ele sente, do que ele pensa, do que ele quer. por isso o poeta e o personagem na ficção romântica estão em contínua desarmonia com os valores e imposições da sociedade elou da família. Em Luc(ola encontram-se pelo menos duas grande manifestações desse subjetivismo romântico.
A primeira grande manifestação de subjetivismo está na própria estrutura narrativa do romance. Trata-se de um romance de primeira pessoa”, em que a história é narrada do ponto de vista de uma só pessoa. No caso, Paulo. Tudo gira em torno do que ele viu, pensou, sentiu junto a Lúcia. Tudo, portanto, muito individual. Já no capítulo I, Paulo esclarece que escreveu essas páginas para se Justificar perante uma senhora que estranhou “a minha (dele) excessiva indulgência pelas criaturas infelizes, que escandalizam a sociedade com a ostentação do seu luxo e extravagância. Para isso , “escrevi as páginas que lhe envio, as quais a senhora dará um título e o destino que merecerem. É um “perfil de mulher” penas esboçado. ” A segunda considerável manifestação de subjetivismo está na oposição indivíduo x sociedade. No romance, Paulo e Lúcia ora se Insurgem contra as convenções sociais: “Que me importa o que pensam a meu respeito? ‘, ora satisfazem essas mesmas convenções, embora sempre reafirmando o próprio “eu” e fazendo a sua personalidade. Há certas vidas que não se pertencem, mas à sociedade onde existem. Tu és um celebridade pela beleza. O público, em troca do favor e admiração e que cerca os sue 2 7 Tu és um celebridade pela beleza. O público, em troca do favor e dmiração e que cerca os sue ídolos, pede-lhes conta de todas as sua ações. Quer saber por que agora andas tão retirada. ” “Ah! esquecia que uma mulher como eu não se pertence; é uma coisa pública, um carro de praça que não pode recusar quem chega..
Exaltação do amor – Em Lucíola, a temática central está exatamente na exaltação do amor como força purificadora, capaz de transformar uma prostituta numa amante sincera e fiel. “- o amor purifica e dá sempre um novo encanto ao prazer. Há’ mulheres que amam toda a vida; e o seu coração, em vez de gastar-se e envelhecer, remoça como natureza quando volta a rimavera. ” “Tive força para sacrificar-lhes outrora o meu corpo virgem; hoje depois de cinco anos de infâmia, sinto que não teria a coragem de profanar a castidade de minha alma.
Não sei o que sou, sei que começo a viver, que ressuscitei agora. , disse Lúcia após sentir a afeição de Paulo. ” Eo romance termina com esta patética exaltação do amor, balbuciada por uma prostituta regenerada por esse mesmo amor, momentos antes de sua morte: “Eu te amei desde o momento em que te vi! Eu te amei por séculos nestes poucos dias que passamos juntos na terra. Agora que a minha vida se conta por nstantes, amo-te em cada momento por uma existência inteira. Amo-te ao mesmo tempo com todas as afeições que se pode ter neste mundo.
Vou te amar enfim por toda a eternidade. ” Amor e morte – O romance é impregnado da idéia de morte pois Lúcia está continuamente a se queixar de 27 e morte – O romance é impregnado da idéla de morte pois Lúcia está continuamente a se queixar de uma doença misteriosa que Paulo não compreende nem aceita, supondo-se tratar-se de refinada desculpa para não se entregar a ele sexualmente. Lúcia não acredita nem admite que uma mulher como ela ossa usufruir das alegrias e gozos do amor conjugal, dando ao esposo “o mesmo corpo que tantos outros tiveram”.
Seria uma profanação do verdadeiro amor. “O amor!… o amor para uma mulher como eu seria a mais terrível punição que Deus poderia infligir-lhe! Mas o verdadeiro amor d’alma. ” Diante, portanto, da impossibilidade de realização de um amor puro, só resta a Lúcia, como personagem de um romance genuinamente romântico, uma saída: a morte. Nem mesmo um filho ela merece, pois seria o fruto de um amor vilipendiado. “Um filho, se Deus mo desse, seria o perdão da minha culpa! Mas into que ele não poderia viver no meu seio! E, numa atitude típica de heroína romântica, Lúcia anseia morrer nos braços do homem amado: “Ainda quando soubesse que morreria nos seus braços… Que morte mais doce podia eu desejar! “” „ desejava que fosse possível morrermos assim um no outro… uma só vida extinguindo-se num só corpo! “. E assim se fez. Morreu ao lado do ser amado, dizendo-lhe: “vou te amar enfim por toda a eternidade. (… ) Recebe-me… Paulo! ” Sentimentalismo melancólico – Em Lucíola um mínimo contratempo é o suficiente para lançar Lúcia ou Paulo na mais rofunda tristeza.
Numerosas passagens do romance colocam o leitor diante de quadros profundamente me 4 27 profunda tristeza. Numerosas passagens do romance colocam o leitor diante de quadros profundamente melancólicos. Como esta: “Foi terrível. Meu pai, minha mãe, meus manos, todos caíram doentes: só havia em pé minha tia e eu. Uma vizinha que viera acudir-nos, adoecera à noite e não amanheceu. Ninguém mais se animou a fazer-nos companhia. Estávamos na penuria; algum dinheiro que nos tinham emprestado mal chegara para a botica. O médico, que nos fazia a esmola de tratar, dera uma queda de avalo e estava mal. ara cúmulo de desespero, minha tia uma manhã não se pôde erguer da cama; estava também com a febre. Fiquei só! Uma menina de 14 anos para tratar de seis doentes graves, e achar recursos onde os não havia. Não sei como não enlouqueci. ” E esta outra, onde Lúcia se fez passar por uma amiga morta para aliviar o sofrimento dos pais: “Lúcia morreu tisica; quando veio o médico passar o atestado, troquei os nosso nomes. , Meu pai leu no jornal o óbito de sua filha; e muitas vezes o encontrei junto dessa sepultura onde ele ia rezar por mim, e eu pela única amiga que tive neste mundo.
Morri pois para o mundo e para minha família. Meus pais choravam sua filha morta; mas já não se envergonhavam de sua filha prostituída. ” Muitas das atitudes tomadas por Paulo ou Lúcia são próprias de pessoas que se deixam guiar pelo sentimento. Esta, por exemplo, esquisita e inexplicável de Lúcia “- Iremos juntos!… murmurou descaindo inerte sobre as almofadas do leito. Sua mãe lhe servirá de túmulo. ” Enfim, o romance todo, do início ao fim, está s 7 almofadas do leito. Sua mãe lhe servirá de túmulo. ” Enfim, o romance todo, do início ao fim, está impregnado de uma tmosfera melancólico-sentimental. ogismo – Os paradoxos, o comportamento ora excêntrico ora dúbio de Lúcia, ora virtuoso, ora pecaminoso que vai lançando Paulo numa dúvida angustiante: a própria duplicidade comportamental de Paulo, generoso e mesquinho, compreensivo e intransigente, correto e pilantra; tudo isso dá à intriga do romance um atrativo todo especial que, por sua vez, ora atrai ora aborrece o leitor. Há ainda outras manifestações de Romantismo no romance, tais como, imaginação e fantasia, culto da natureza, senso do mistério, exagero.
Mas são de importância secundária. Lirismo – Há um lirismo bem bucólico nesta passagem de Lucíola: “Sentamo-nos sobre a relva coberta d flores e à borda de um pequeno tanque natural, cujas águas límpidas espelhavam a doce serenidade do céu azul. Lúcia tirou do bolso seu crochê e o novelo de torçal, e continuou uma gravata que estava fazendo para mim. Enquanto ela trabalhava, eu arrancava as flores silvestres para enfeitar-lhe os cabelos; ou arrastava-me pela relva para beijar-lhe a ponta da botina que aparecia sob a orla do vestido. E nesta outra há graça, ternura, sentimento: “Toquei com os ábios a raiz daqueles cabelos sedosos que ondulavam com o sopro de minha respiração. Ana teve um estremecimento intimo; e banhou-se na onda de púrpura que descendo-lhe da fronte, derramou-se pelas espáduas roseando a branca escumilha. ” Gosto pela descrição – Em Lu 6 27 Gosto pela descrição – Em Lucíola, de quando em quando aparece a natureza como a aliviar o leitor das tensões dos dramas humanos.
Quanto à descrição dos personagens, Alencar parece se preocupar antes com o aspecto externo para depois chegar ao temperamento. Antes mesmo de o leitor saber quem era la, já Alencar lhe mostrou o retrato de Lúcia no cap[tulo “Admirei-lhe do primeiro olhar um talhe esbelto e de suprema elegância. O vestido que o moldava era cinzento com orlas de veludo castanho e dava esquisito realce a um desses rostos suaves, puros e diáfanos, que parecem vão desfazer-se ao menor sopro, como os tênues vapores da alvorada.
Ressumbrava na sua muda contemplação doce melancolia e não sei que laivos de tão ingênua castidade, que o meu olhar repousou calmo e sereno na mimosa aparição. ” Na passagem seguinte Alencar como que nos conduz do exterior ao interior de Lúcia: “O rosto uave e harmonioso, o colo e as espáduas nuas, nadavam como cisnes naquele mar de leite, que ondeava sobre formas divinas. A expressão angélica de sua fisionomia naquele instante, a atitude modesta e quase intima, e a singeleza das vestes niVeas e transparentes, davam-lhe frescor e viço de infância, que devia influir pensamentos calmos, senão puros. No que concerne ao vestuário feminino é inegável a influência que Balzac exerceu em Alencar: “Lúcia fitou-se por muito tempo, e chegou se ao espelho para dar os últimos toques ao seu traje, que se compunha de um vestido escarlate com o espelho para dar os últimos toques ao seu traje, que se compunha de um vestido escarlate com largos folhos de renda preta, bastante decotado para deixar ver suas belas espáduas, de um filó alvo e transparente que flutuava-lhe pelo seio cingindo o colo, e de uma profusão de brilhantes magnificos capaz de tentar Eva, se ela tivesse resistido ao fruto proibido.
Uma grinalda de espigas de trigo, cingia-lhe a fronte e caía sobre os ombros com a vasta madeixa de cabelos, misturando os louros cachos aos negros anéis que brincavam. ” Comparações – As comparações de Alencar, geralmente, referem- e aos personagens, ora em seus detalhes físicos, ora em seus estados de alma, ora em seus atributos morais. O segundo termo da comparação é colhido, na esmagadora malona das vezes, de elementos da natureza: reino vegetal, animal ou mineral.
Uma confirmação do que se disse está neste pequeno trecho: “Como as aves de arribação, que tornando ao ninho abandonado, trazem ainda nas asas o aroma das árvores exóticas em que pousaram nas remotas regiões, Lúcia conservava do mundo a elegância e a distinção que se tinham por assim dizer impresso e gravado na sua pessoa. ” Desarmonias – Em Lucíola, a luxúria do velho Couto, e mais tarde a prática do vício, torcem a personalidade de Lúcia.
A forma refinada desse sentimento da discordância é certa preocupação com o desvio do equilíbrio fisiológico ou psíquico. Relembre- se a depravação com que Lúcia se estimula e castiga ao mesmo tempo, e cujo momento culminante é a orgia promovida por Sá orgia espe 8 7 estimula e castiga ao mesmo tempo, e cujo momento culminante é a orgia promovida por Sá — orgia espetacular, com tapetes de pelúcia escarlate, quadros vivos obscenos, flores e meia luz, ltrapassando o realismo qualquer outra cena em nossa literatura seria.
Dentre muitos exemplos que se poderiam dar de “desarmonia” de situações, está o contraste entre Maria da Glória e Lucia• aquela, pobre, simples, escondida; esta, rica, caprichosa, pública. Mas isso já é um conflito entre o passado e o presente.. Porém, os contrastes mais importantes na técnica narrativa do livro são aqueles relacionados com pessoas e sentimentos. De Paulo e Lúcia, naturalmente. A mesma Lúcia que compôs recatadamente o roupão ante os olhos ávidos e voluptosos de Paulo que vislumbravam o simples ontorno de um seio foi capaz de desfilar nua na ceia em casa do Sá.
Ela é assim: contraditória. Ama e odeia. Atira-se ao vício e tende para a virtude, segundo suas proprias pa avras: “Eis a minha vida… deixara-me arrastar ao mais profundo abismo da depravação; contudo, quando entrava em mim, na solidão de minha vida Íntima, sentia que eu não era uma cortesa como aquelas que me cercavam. Ficaram gravados no meu coração certos germes de virtudes… ” Também Paulo apresenta um comportamento paradoxal. Ora ele deseja violentamente Lúcia ora promete respeitá-la.
Ofende-a e pede-lhe perdão, dá-lhe liberdade e a quer só para SI; despreza- a e sente dela pungente ciúme; vê nela uma prostituta refinada e uma menina de quinze anos, pura e cândida. Também Paulo é contrad prostituta refinada e uma menina de quinze anos, pura e cândida. Também Paulo é contraditório: vil e magnânimo, como todo bípede implume e social chamado homem. Técnica narrativa – Lucíola é um romance de primeira pessoa, ou seja, quem narra a história não é Alencar diretamente. Ele o faz por meio de um personagem que viveu os episódios.
No caso, sse personagem narrador é Paulo, que em cartas dirigidas a uma senhora (por quem o autor se faz passar) conta uma história de amor acontecida há seis anos entre ele e Lúcia. A senhora reuniu as cartas e delas fez o livro. “Eis o destino que lhes dou; quanto ao titulo, não me foi difícil achar. O nome da moça, cujo perfil o senhor me desenhou com tanto esmero, lembrou-me o nome de um inseto. “Lucíola” é o lampiro noturno que brilha de uma luz tão viva no seio da treva e à beira dos charcos. Não será a imagem verdadeira da mulher que no abismo da perdição consenta a pureza d’alma? ‘
No capítulo I, o narrador explica a razão das cartas: “A senhora estranhou, na última vez que estivemos juntos, a minha excessiva indulgência pelas criaturas infelizes, que escandalizam a sociedade com a ostentação do seu luxo e extravagâncias” Na estrutura narrativa de Lucíola, portanto, pode-se observar o seguinte: 1. há um autor real, José de Alencar; 2. um autor fictício, a senhora G. M. , destinatária das cartas de paulo 3. Um narrador, Paulo, com a incumbência e o privilégio de ordenar os fatos, comentá-los e tirar-lhes conclusões. À medida que transmite os fatos, vai fornecendo ao leitor el 0 DF 27