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Categories: Trabalhos

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554 – Artigo Original PRÁTICAS EDUCATIVAS EM SAÚDE E A CONSTITUIÇÃO DE SUJEITOS ATIVOS Rogério Dias Renovatol, Maria Helena Salgado Bagnat02 2 Doutor em Educação d to view Enfermagem da Univ Mato urso de Lo Grosso do Sul. Grosso do Sul. Brasil. E-mail: rrenovato@uol. com. br Doutora em Educação. Professora Livre-docente da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas. São Paulo, Brasil. E-mail: mbagnato@unicamp. br RESUMO: O objetivo do artigo é problematizar as práticas educativas em saúde contemporâneas e suas contribuições na constituição de subjetividades.

Trata-se de um estudo teórico-reflexivo, procurando cotejar essas práticas com as concepções foucaultianas de segurança e liberdade, elementos-chave na fabricação do sujeito ativo. Para esse percurso reflexivo abordamos a interdependência dessas práticas com a biomedicina e seus enunciados, em conformidade com Cultura. Risco. Identidade. EDUCATIONAL PRACTICES IN HEA TH CARE AND THE CONSTITUTION OF ACTIVE SUBJECVS ABSTRACT: The objective of this article is to identify the problems of contemporary educational practices in health care and their contributions to the constitution of subjectivities.

This is a heoretical, reflexive study, seeking to articulate these practices within Foucaultian conceptions of safety and freedom, key elements in manufacturing an active subject. In this reflexive examination we address the interdependence of these practices with biomedicine and -ts proclamations In conformity with risk philosophy, as well the capillarization of these discourses of the active subject through cultural pedagogies. Thus, we understand that these educational practices could present many configurations, among them strategies originating from safety devices, which contribute to the formation of active subjects.

In this tangle of discursive elements, interlaced by innumerous dimensions, by historically-built health practices, one can no longer imagine binary power relationships, but multiple power relationships intermingled with interpellations, which delimit conducts considered healthy for this other, grounded in representations situated in particular spaces and temporalities. DESCRIPTORS: Health education. culture. RiSk. Identity. PRACTICAS EDUCATIVAS EN SALUD Y LA CONSTITUCION DE SUJETOS ACTIVOS RESUMÉN: El objetivo del artículo ha sido problematizar las prácticas educativas en salud y sus contribuciones para la constitución de ubietividades.

El present PAGF teórico-reflexivo, donde concepciones foucaultianas sobre seguridad y libertad, elementos claves en la creación del sujeto activo. Para realizar esa reflexión, se aborda la interdependencia de las prácticas educativas en salud con la biomedicina y sus enunciados en conformidad con la filosofia del riesgo, así como la capilaridad de esos discursos sobre el sujeto activo a través de las pedagogías culturales.

De esa forma, se entiende que esas prácticas educativas pueden presentar varias configuraciones, entre ellas, estrategias provenientes de Ios dispositivos de seguridad, que contribuyen ara la formaclón de sujetos actlvos. En ese enmarañado de elementos discursivos, entrelazados por innumerables dimensiones, por précticas de salud construidas históricamente, no se puede más imaginar relaciones de poder polarizadas sino, múltiples relaciones de poder intercaladas por interpelaciones que delimitan conductas consideradas saludables para ese otro, fundamentadas en representaciones sltuadas en espacios y temporalidades particulares.

DESCRIPTORES: Educación para la salLld. cultura. Riesgo. Identidad. Texto Contexto Enferm, Florianópolis, 2010 Jul-Set; 19(3): 554-62. Práticas educativas em saúde e a constituição de sujeitos ativos INTRODUÇÃO Nas trilhas das histónas sobre as prátlcas Educativas em Saúde (PES) no Brasil, vários discursos foram pronunciados em nome de uma consciência sanitária, na busca pela identidade nacional, ou na tentativa de rom er com o ciclo da miséria e das doenças es discursos singulares e contribuído na formação de identidades de homens, mulheres, crianças e idosos em espaços e tempos específicos. orém, em determinados periodos históricos, as PES se prestaram muito mais para regular, controlar e disciplinar homens e mulheres, para m certo modelo de sociedade, para um projeto Então, quais as contribuições das PES contemporâneas na constituição de subjetividades?

Nessa dispersão de pensamentos em movimento, consideramos oportuno, através desse estudo teórico e reflexivo sobre as PES, aproximarmos-nos do pensamento foucaultlano, mais especificamente do segundo percurso genealógico do biopoder, cuja noção de poder não está vinculada somente ? ação exercida sobre um corpo com a finalidade de discipliná-lo, mas sim, sobre a ação que se exerce sobre outra ação. Desde então, o exercício de poder não age direta e imediatamente sobre s outros: trata-se de uma ação sobre a conduta, seja ela, eventual, presente ou futura.

Neste deslocamento, o sujeito docillzado, passivo e dominado cede espaço ao sujeito ativo, que é capaz de cuidar de si. A liberdade de ação é condição indispensável para essa nova especificidade do bio poder. 2 Na contemporaneidade, a cultura ocidental tem enfocado com veemência o gerenciamento de si, o autogoverno de seus corpos e o autocuidado em saúde, como elementos de autonomia e sucesso, contribuindo com processos de subjetivação, e na formação de novas matrizes identitárias, como a constituição de sujeitos ativos.

Desse modo, o objetivo desse estudo teóricoreflexivo foi problematizar as práticas educativas em saúde contemporânea ibuiçdes subjetividades. O percurso metodológico constituiu-se na aproximação com as concepções foucaultianas sobre segurança e liberdade, elementos-chave na fabricação do sujeito ativo, bem como na abordagem da interdependência das PES com a biomedicina e seus enunciados, Texto contexto Enferm, Florianópolis, 2010 Jul. set; 19(3): 554-62. – 555 – em conformidade com a filosofia do risco.

E, por fim, a capilarização desses discursos sobre o sujeito ativo atraves das pedagogias culturais. Para realizarmos estes diálogos assumimos, neste texto, que as PES são práticas sociais, culturais e detentoras de racionalidades e significados históricos. As PES envolvem intencionalidades educativas, não se restringindo às informações, orientações e ações com ênfase somente na técnica, mas são processos que ocorrem no encontro entre pessoas com diferentes culturas e realidades sociais e económicas, com representações diversas sobre a saúde, e as formas de ser e estar saudável. SEGURANÇA-LIBERDADE: POLITICAS, ESTRATÉGIAS TECNOLOGIAS DA GOVERNAMENTALIDADE NA CONSTRUÇAO DO SUJEITO ATIVO As concepções de segurança e liberdade foram apresentadas em curso ministrado por Michel Foucault, no Collàge de France, de 11 de janeiro a 5 de abril de 1978, que teve como título “Segurança, território e população”. Ao longo do evento, à medida que o filósofo francês analisava o liberalismo do século XVIII, propôs como categoria de análise, a segurança, pois, segundo ele essa questão foi inserida alidade PAGF s OF humano em objeto de estratégia política, de estratégia geral de poder.

Além do mecanismo da disciplina, já conhecido e estudado pelo autor, o conceito de segurança merge como um dispositivo que se aproxima do campo da probabilidade. Este não vem cancelar ou anular as estruturas jurídico-legais e, muito menos os mecanismos disciplinares. Ao contrário, o(s) dispositivo(s) da segurança acontece(m) em e no conjunto desses fenômenos.

Na nova racionalidade de governo, os referidos dispositivos, em consonância com os mecanismos de intervenção do Estado, vão assegurar e regular os processos econômicos, os fenômenos naturais e os processos intrínsecos da população. Desse modo, Foucault propõe o estabelecimento de uma relação que se torna inseparável: o par segurança-liberdade. Por conseguinte, a liberdade é o meio que circunda esse novo espaço de governo, a população. O desrespeito à liberdade não é simplesmente uma violação ilegítima dos direitos, mas a ignorância em como governar. – 556 Segundo Foucault, os dispositivos de segurança e as tecnologias decorrentes podem se constituir em mecanismos de controle social, que se integram com outros elementos como a psicologia, comportamento, modos de fazer e produzir as coisas, consumidores, comércio, marketing e, ao mesmo tempo, se organizam e estabelecem novas relações, outros circuitos. 3 Os dispositivos de segurança nao delimitam spaços rígidos e são flexíveis ermitem a mobilidade em um intervalo, não se restringe espaços urbanos. Em outras palavras, a lei proíbe, a disciplina prescreve e a função essencial da segurança, sem proibir ou prescrever, porém utilizando alguns instrumentos legais e disciplinares, é responder a fatos da realidade, de tal modo que sua resposta anule os elementos dessa realidade que desencadearam esses dispositivos. Logo, podemos afirmar que os dispositivos de segurança envolvem uma série de eventos que são possíveis e prováveis, utilizam-se de ferramentas de cálculo para comparar e avaliar custos sua especificação percorre um intervalo aceitável e pertinente, não se restringindo ao binarismo dos mecanismos disciplinares. Ao final da quarta aula, em 10 de fevereiro de 1978, conhecida como a Governamentalidade, Foucault diz ser a segurança, um movimento que avança diante da moderna racionalidade de governo. Desse modo, esse Estado de governo que tem essencialmente como alvo a população e utiliza a instrumentalização do saber económico, corresponderia a uma sociedade controlada pelos dispositivos de segurança Desde então, passou-se a viver em uma sociedade de segurança, em coexistência com uma sociedade de direito ou isciplinar já instauradas.

Em relação ao componente liberdade, Foucault3 propõe que a liberdade deve ser compreendida neste universo de mudanças e transformações de tecnologias de poder. A liberdade está correlaclonada ? aplicação dos dispositivos de segurança, pois eles só poderiam atuar e operar em condições de liberdade, possibilitando movimento, mudanças de posição e processos de circulação de coisas e pessoas.

E de modo inu It propõe PAGF 7 uma tecnologia de poder: [ ” … l first of all and above all it is a technology of Power Renovato RD, Bagnato MHS A liberdade, em Foucault, pode ser considerada como uma ecnologia da governamentalidade, contrapondo-se à idéia de uma liberdade essencialista, todavia atrelada a mecanismos de submissão ética, como o olhar normativo dos outros, o trabalho disciplinar de agências estatais ou não.

Assim, ser Ilvre seria conduzir sua existência, a sua conduta, a partir da relação de si com os outros ou consigo mesmo, de relações de poder, que, cada vez mais, impõem outros constrangimentos, diferentes dos mecanismos disciplinares, favorecendo a criação de cidadãos, como condição primeira do seu efetivo exercício nas sociedades liberais. 7 O que se pretende desde então é perguntar omo as novas estratégias de governamentalidade podem construir novas subjetividades, neste caso, o sujeito ativo.

Qual seria a relação com as concepções de segurança e de liberdade em sociedades, cuja tecnologia de governo nunca deixou de ser liberal, muito menos cessou de estar obcecada pelo liberalismo, desde o final do século XVIII? Tomaz Tadeu da Silva afirma que as tecnologias que produzem tais subjetividades são a condição de governamentalização do Estado. Isto é, mais autonomia significa também mais governo (no sentido de controle da conduta) ou [… ] mais cidadania significa também mais regulação

Assim, entendemos que a PAGF 8 OF impondo efeitos ou jogos de verdade, os quais devem ser reconhecidos e que os outros têm de reconhecer neles. para Foucault, a construção dessas subjetividades envolve relações complexas e circulares com outras formas, uma combinação astuciosa de técnicas de individualização (ou tecnologias de si) e de procedimentos de totalização (estados de dominação). 9 Foucault situa as tecnologias de governamentalidade entre as tecnologias de si e as tecnologias de dominação, como estratégias que operam sobre o campo de posslbilldades onde se inscreve o comportamento dos sujeitos ativos.

Isto ?, conduzir a conduta do outro é agir sobre um ou vários sujeitos ativos, governando assim, um eventual campo de ação dos outros. Os atos ou as condutas são os verdadeiros comportamentos das pessoas em relação aos códigos ou prescrições impostos aos sujeitos. A faTexto Contexto Enferm, Florianópolis, 2010 Jul-Sec 19(3): 554-62. bricaçao de sujeitos ativos na contemporaneidade pode evocar quatro aspectos principais: o aspecto desse sujeito ou o comportamento relacionado ? conduta e o que é concebido como ser indivíduo ativo, sua substância ética.

O segundo aspecto é o modo de sujeição descrito anteriormente, que e constitui na maneira pelo qual as pessoas são chamadas ou incitadas a se reconhecerem como ativas. O terceiro inclui as práticas de ascese, que são os meios pelo quais esses sujeitos podem se modificar para se tornarem su’eitos, o último aspecto, qual o tipo de ser os, quando constituição de subjetividades – sua ontologia, sua deontologia, sua ascética e sua teleologia. 0 portanto, é possível afirmar que o sujeito ativo é fabricado, assim como foi o sujeito passivo e docilizado ou, nas palavras de Foucault: eu diria que, se agora me interesso de fato pela maneira como e qual o sujeito se constitui de ma maneira ativa, através de práticas de si, essas práticas não são, entretanto, alguma coisa que o próprio indivíduo invente.

São esquemas que ele encontra em sua cultura e que lhe são propostos, sugeridos, impostos por sua cultura, sua sociedade e seu grupo social ” . 1 :276 Assim, não se trata agora da coerção e dos constrangimentos exercidos sob a massa dos governados, já que o poder liga-se antes aos modos como, numa dinâmica onde a autonomia e liberdade estão cada vez mais presentes mas também, sobre a produção de cidadãos, não apenas destinatários, mas intervenientes nos jogos e nas operações de poder

Ao sujeito contemporâneo, o desenvolvimento da cultura de si criou indivíduos sob a crença: pertence-se a si, só depende de si mesmo, que buscam combater qualquer possibilidade de fraqueza e fragilidade, com base em princípios universais, provenientes da razão ou da ciência, tendo como profetas, os especialistas, cuja teleologia é a soberania do sujeito sobre ele próprio. Assim, como vigilante censor de si mesmo, o sujeito ativo aplica-se sobre si práticas de ascese, que interpelam as subjetividades que circulam, sob a égide do capitalismo tardio, da valorização excessiva do corpo e da busca contínua ela saúde perfeita.

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