Reflexões sobre o processo de extinção da língua materna da etnia indígena arara e o envolvimento da academia como possivél agente de prevenção da reincidência desse fenômeno.

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Reflexões sobre o processo de extinção da língua materna da etnia indígena “arara” e o envolvimento da academia como possivél agente de prevenção da reincidência desse fenômeno. Premium ay Demergaspar anpe. nq IO, 2012 | 17 pages REFLEXÕES SOBRE O PROCESSO DE EXTINÇÃO DA LÍNGUA MATERNA DA ETNIA INDÍGENA “ARARA” E O ENVOLVIMENTO DA ACADEMIA COMO POSSIVÉL AGENTE DE PREVENÇÃO DA REINCIDÊNCIA DESSE FENÓMENO.

GASPAR, Demerval Pires; aluno do 80 semestre do Curso de Letras da UNEMAT, Universidade do Estado de Mato G demergaspar@hotm co ar 17 gico de Juina. Profa. Dra efetiva da Grosso, departament to view neZ*ge • Cília de Campos, do Estado de Mato gará da Serra e profa. Do Mestrado em Educação, campus de Cáceres na linha de pesquisa Educação, Diversidade, Interculturalidade e constituição do sujeito, orientadora deste trabalho. cecilfran@yahoo. com. r Resumo: Este trabalho tem por objetivo argumentar sobre as consequências que o contato da sociedade dominante brasileira, ocidental, capitalista, em seus processos de expansão demográfica e político-sociais, teve e têm sobre as sociedades indígenas do entorno da cidade de Juina, Noroeste do Estado de Mato Grosso. O foco da pesquisa diz respeito ao processo continuo de abandono do uso da língua materna e consequentemente de sua cultura, por essas populações, como resultado da imposição social da língua e da cultura dominantes. ossibilidade de se refletir sobre uma educação que privilegie o respeito às diferenças como forma de desconstruir preconceitos humanos e étnico-sociais. Originado em um longo período de observações do contato entre povos Indígenas e populações da cidade de Juina e de uma inquietação sempre presente neste pesquisador, as argumentações deste trabalho foram respaldadas m conhecimentos adquiridos em obras e estudos sobre a experiência de vida do povo Arara em seu longo contato com a sociedade dominante.

O estudo, baseado nesta vivência, discute sobre o risco que correm as demais populações indígenas dessa região, em perder parte de sua cultura. Como resultado acena para a possibilidade de uma reversão desse processo, tendo por base a educação, isso, a partir de intervenções da academia na formação de suas licenciaturas, valorizando conteúdos afins com a ética moral e o respeito para com a diferença e diversidade. Palavras chave; Língua, sociedade, perda cultural, educação

Introdução: No final do século XIX, com a expansão dos processos industriais e o decorrente aumento do consumo de matérias primas, países como o Brasil passaram a ver a atividade extrativista como uma excelente opção econômica. Interessados em parte desse mercado, o país mobilizou um verdadeiro exército e introduziu na Amazônia uma corrida para a extração do Látex. “Os soldados da borracha”, frentes extrativistas que impulsionadas pelas promessas de obtenção de altos lucros, se embrenharam floresta a dentro, subiram o rio Amazonas e a maioria de seus afluentes.

Via rio Madeira, alcançaram o vale do Aripuanã, os rios Roosevelt, Guariba, afl PAGF70F17 afluentes. Via rio Madeira, alcançaram o vale do Aripuanã, os rios Roosevelt, Guariba, afluentes e seus igarapés. Esta abundância fluvial facilitou o acesso cada vez mais profundo à floresta, e a constatação da existência de grande quantidade de senngueiras arvore das quais se extrai o látex, ampliando o interesse por essa região originalmente habitada por várias populações indígenas.

Entre elas, os Arara, uma das etnias indígenas mais afetada pelo contato propiciado por essa atividade. Essa população após um prolongado contato com a sociedade não indígena absorveu sua cultura e costumes incorporando-os a seu modo de ser e viver, fenômeno esse, que evoluiu para um processo de transformação cultural que hoje representa uma importante preocupação para seus descendentes. ara auxiliar a apreciação dessa relação e alguns de seus efeitos, buscou-se por meio de pesquisas bibliográficas no trabalho de autores tais como João Dal Poz, estudioso desta população, subsídios para uma reflexão a respeito do fenômeno, do desvinculo dessa população indígena om sua cultura ancestral, e ainda, por intermédio destas reflexões, arrazoar sobre o que esta situação pode significar para as demais populações indígenas do entorno da cidade de Juina.

Desenvolvmento: Historicamente a cultura brasileira vem recebendo, gradativamente, incorporações de múltiplos aspectos linguísticos e culturais, porém a maneira como é vista essa diversidade cultural, suas implicações e enriquecimentos adicionados, nem sempre fazem justiça à sua importância.

Observe-se principalmente a maneira preconceituosa como são encarados os povos, basicamente negros e índios aneira preconceituosa como são encarados os povos, basicamente negros e índios, que de alguma maneira, nestas terras, foram escravizados e subtraídos, tanto do ponto de vista socioeconômico, como também do ponto de vista humano e cultural. Criou-se assim, de maneira generalizada um estigma de inferioridade a seu respeito. Mas como não percebemos isto? O Brasil, nao foi formado por vários povos? Não possui uma grande diversidade cultural? Não é um país livre de preconceito?

Ao se referir ingenuamente à cultura brasileira se tem a ideia de relação harmônica em que costumes conhecimentos, titudes e opiniões se apresentam em igualdade de direitos e de importância. Na realidade, é justamente o contrário, ainda que suas contrlbuições na história da construção desse país tenham sido decisivas, essas culturas, nunca dividiram uma posição de igualdade com a cultura dominante (Fausto 1995). Aquela história de um país onde nao há preconceito e “todos” são vistos de uma maneira imparcial, não passa de uma forma de publicidade favorável a continuidade de uma situação de privilégios. No Brasil, preconceito não existe”, ainda que pareça bonito e um anto poético, introjeta, na mente da população, esta idéia como uma verdade, implicando no pensar a segregação e o preconceito como um comportamento natural. Assim percebidos, os clamores por justiça se tornam inaudíveis, e ratificam sua continuação. Essa ideia é bem retratada por Liana Melo em um dos seus artigos para a revista “Isto É”; O Brasil se orgulha, aqui e lá fora, de praticar a autêntica democracia racial. Pega bem, mas não é verdade. A tal convivência harmoniosa [… ] é pura miragem 17 autêntica democracia racial.

Pega bem, mas não é verdade. A tal convivência harmoniosa [… é pura miragem diante da realidade estatística. (Melo, ed. 1572, 2001, p. 31) Esses conceitos, por sua divulgação maciça e convenientemente conduzida, a muito fazem parte da consciência coletiva da nossa sociedade e perpetua essa diferença de valor como parte da cultura, porém, para um consenso, arrazoemos a princípio sobre cultura. A noção de cultura recebe muitos e distintos significados, identificar algumas abordagens nos ajudarão a delimitar sua compreensão e nos permitirá articular o tema da aculturação de populações indígenas.

Quinze séculos antes de Cristo, Confúcio afirmava algo multo arecido ao que se comprova cientificamente nos dias de hoje; “a natureza dos homens é a mesma, são os seus hábitos que os mantêm separados” (CONFUCIO XV a. C. ). Segundo o Novo Dicionário da Língua Portuguesa, Cândido Figueiredo (2010), o termo Cultura significa; “ato, efeito ou modo de cultivar; complexo dos padrões de comportamento, das crenças, das instituições e de outros valores espirituais e materiais transmitidos coletivamente e característica de uma sociedade” (FIGUEIREDO, 2010. p. 08) Segundo Marilena Chaui (2010), a Cultura seria o: [… lconjunto de práticas, comportamentos,ações e nstituições pelas quais os humanos se relacionam entre si e com a natureza e dela se distingue, agindo sobre ela ou através dela, modificando-a (rituais de trabalho, religiosos pintura, escultura, formas de autoridade, etc). (CHAUL 2010. p. 314) A parti autoridade, etc). (CHAU’, 2010. p. 314) A partir da Ideia que para se refletir sobre um assunto é necessário compreendê-lo alem de sua superficialidade, se apreciará a “cultura” tambem pelo ponto de vista antropológico.

Neste sentido Laraia (2001) aponta para uma visão que ultrapassa esse parâmetro, e descreve a “cultura” como, uma maneira inâmica de como o homem enxerga o mundo, distinguindo-o por intermédio da lente de seus próprios conceitos e verdades (sua cultura). Fazendo assim julgamentos que sempre levam em consideração seu próprio modo de vida, “o Eu”, como padrão para “os outros”. Como efeitos dessa dinâmica social, se evidenciam os mais distintos tlpos de conflitos etnocêntricos.

Assim ao se apreciar, o embate entre as culturas, Laraia (2001) acena para o modo como cada sociedade organiza o universo a sua volta, independente dos interesses dos demais, impondo sua cultura como um direcionamento. Nesse processo, são instituídos gradativamente s[mbolos e significados que passam a fazer sentido a essas pessoas como “raízes culturais”, e são compartilhados entre elas como componentes de interação social, os mesmos elementos, que dentro de qualquer cultura identificam seus indivíduos como pertencente a uma determinada comunidade ou região.

Elementos que determinam e reforçam a importância da memória cultural, diferenciando-os de outras populações ou comunidades, fazendo surgir, entre esses iguais, uma identidade cultural. Dentro dessa abordagem, alguns aspectos por sua importância e uso, dentro do processo cultural, algumas raízes culturais da identidade humana se sobrepõem a outras, n do processo cultural, algumas raízes culturais da identidade humana se sobrepõem a outras, numa relação de principalidade. Assim, a língua, com todos atributos e essencialidade para a existência soclal humana, passa a ser objeto das próximas argumentações.

Nessa perspectiva, Alkmim (2001 ) afirma: A história da humanidade é a história de seres organizados em sociedade e detentores de um sistema de comunicação oral, ou seja, de uma língua. Efetivamente, a relação entre inguagem e sociedade não é posta em dúvida por ninguém (Alkmim, 2001. p. 21) Também segundo Bakhtin (1 999), são nos espaços da linguagem que se constroem as definições de sentido, e onde por intermédio do discurso se ajustam os valores ideológicos e soclals: [… não são palavras o que pronunciamos ou escutamos, mas verdades ou mentiras, coisas boas ou mas, importantes ou triviais, agradáveis ou desagradáveis, etc. A palavra está sempre carregada de um conteúdo, de um sentido ideológico ou vivencial. (BAKHTIN, 1999, p. 95) Assim sendo, se pode afirmar que a língua, em razão a necessidade humana se constitui como um dos principais elementos das raízes culturais, colaborando na construção da realidade e da cultura. Sendo assim, se torna mais importante ainda quando populações utilizam-se exclusivamente do processo oral para transmitir seu conhecimento ancestral, sua cultura.

Bakhtin afirma ainda que, [… ] a palavra é uma espécie de ponte lançada entre mim e os outros. Se ela apóia sobre mim numa extremidade, na outra se apóia sobre o meu interlocutor. A palavra é um território comum do locutor e d extremidade, na outra se apóia sobre o meu interlocutor. A alavra é um território comum do locutor e do interlocutor. (BAKHTIN, 1999, p. 113) A quebra desta ponte desestabelece a comunicação entre o individuo e suas bases de conhecimento e vida, desvinculando- o de seu passado e consequentemente, de sua cultura.

Quando se fala de língua, se fala da cultura e da história de um povo, do próprio sentido de humanidade. Segundo Stuart Hall: “Falar uma língua não significa apenas expressar nossos pensamentos mais interiores e originais; significa também ativar a imensa gama de significados que já estão embutidos em nossa lingua e em nossos sistemas culturais. ‘ (Hall, 2005, p. 0) Voltando a discussão da relação de poder exercida por uma cultura dominante sobre as culturas a seu redor, a imposição da língua é estratégia historicamente comum.

No Brasil do período colonial, pela necessidade de integração dos colonizadores com os povos nativos do Brasil, uma língua geral, artificial foi usada. Significando “língua boa”, o “Nangatu”, criada pelos jesuitas para servir como língua franca. Baseada no vocabulário e pronúncia tupinambás, enquadrava-se dentro da gramática e da extrutura da língua portuguesa, que adicionada de conceitos, empréstimos de palavras e vocábulos do Português do Espanhol, facilitava a compreensão pelos não índios e a interação numa condição de relativa igualdade.

Porem com o crescimento do interesse português pelo poder, a imposição idiomática, como estratégia de dominação, forçosamente elevou a importância da Língua Portugu como estratégia de dominação, forçosamente elevou a importância da Língua Portuguesa frente às demais culturas em terras brasileiras (Fausto, 1995). Com essa ação, consequêntemente, se rebaixou o valor humano, social e cultural dessas populações, colocando-as em situação de inferioridade, de ubmissão ao modo de viver e pensar europeu.

Essa maneira de se referir a esses povos teve profunda importância histórica no que diz respeito a como deveria ser o tratamento dispensado ao indígena como indivíduo. Por séculos, mesmo em face de Inumeras provas de nossa “ligação cultural e linguística com os povos indígenas”, esses foram desconsiderados pela sociedade brasileira, que seguindo a “ideologia escravagista”, tendenclosa e com claras intenções de pnvileglar classes consideradas “superiores”, causaram sérios prejuízos à formação de uma identidade cultural nacional. ? com essa preocupação ue esse artigo argumenta sobre o perigo de perda de parcelas culturais importantes, que correm as populações indígenas do entorno da cidade de Juina. Nesse sentido se vale de observações feitas à etnia Arara. O povo “Arara”, também identificado por Yugapkatã, Arara do Beiradão, Arara do Aripuanã é um importante exemplo dessa degeneração, devido prolongado e transformador contato com os não índios, com isso, sua língua materna se tornou pouco importante para eles, consequentemente, seu passado sua história e sua cultura estão praticamente esquecidas.

Para se compreender melhor esse resultado será preciso, onsiderar o contexto de época, as relações entre as etnias e a exploração da borracha na Amazônia. A extração do átex, fortalecida comercialmente PAGF40F17 etnias e a exploração da borracha na Amazônia. A extração do látex, fortalecida comercialmente pouco antes dos anos 1900, favoreceu um sistema de permuta onde os produtos extraídos da floresta eram trocados por bens industrializados.

Esse sistema manteve as duas pontas do comércio da região funcionando por um largo período, de um lado as grandes corporações de outro os coletores intermediados por atravessadores que se encarregavam de distribuir as ercadorias, produtos industrializados, recolhendo o látex e demais produtos da terra. Como na maioria dessas relações a desigualdade de valor entre os produtos oferecidos como moeda de pagamento e os oferecldos em troca pelos extrativistas era muito grande, o que caracterizou essa atividade como um eficiente meio de exploração de mão de obra e enriquecimento.

O interesse gerado, fez com que nada se pusesse à frente desses altos lucros, nem mesmo a resistência dos povos indígenas. O estabelecimento e estreitamento das relações com os seringueiros propiciaram, pelo menos a princípio, uma situação e relativa comodidade e segurança para os “Araras”, porém, a evolução desse contato transformou sua maneira de pensar e de ser “Arara”.

A intensificação do uso da lingua dos não Índios e o abandono do uso de sua língua materna interromperam a transmissão de seus conhecimentos e tradições„ a tal ponto que pouco se sabe hoje em dia sobre a vida sócio-cultural dos antigos Araras. Algumas informações, conseguidas a esse respeito, vem de trabalhos desenvolvidos em 1987, pela antropóloga Vera dos Santos, a partir de registros antigos de religiosos e memórias de alguns colaboradores Arara mais velhos q

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