As entrevistas preliminares na psicanálise com uma criança

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Referência Técnica para o Diante das As entrevistas preliminare psicanálise com uma crian Premium Sy ingridlvs Man 07, 2012 II pages As entrevistas preliminares na psicanálise com uma criança Myriam R. Fernández Nessa apresentação, vamos focalizar, na prá entrevistas preliminares com os pais e a criança. Quanto criança — as entrevistas prelirmnares são, como sabe necessário ? emergência da transferência e a sua condiçã trabalho analítico.

O paciente, um meni quando, então, o tratamento foi con possivel dizer que oril to nextpage houve um final de análise como o formulado Lacan no seminário o Ato Analítico, pode-se, no entanto, afirma momento, essa análise terminara. Ao iniciá-la, o paciente tinha cerca meses e anteriormente estivera em tratamento por u encoprético. Filho mais velho de um casal jovem já separado, moço que nascera quando estava com aproximadamente dois meses depois deu-se a separação dos pais. O menino sofr praticamente agressividade do filho e o pai considerava-o manhoso e mimado.

Al’ estava, pois, a demanda dos pais com a sua queixa. Demanda que, já sabemos, é apenas imaginária, diferente daquela que se constitui em análise. Em termos de transferência possível, nesse momento inicial, avia o signif icante “psicanálise” e o nome da analista. Teria que aparecer uma certa suposição de saber que, de certa forma, se apresentou de inicio, fortificou-se e permaneceu durante LETRA FREUDIANA- Ano x-n« 9 31 As entrevistas preliminares na psicanálise com uma criança todo o tratamento e até para além dele. ? interessante pensar que, se ao final de uma análise, cai o sujeito suposto saber, em se tratando do que se pode chamar de transferência dos pais, permanece a suposição de um certo saber, o que aponta para o caráter imaginário dessa transferência, diferente também da que se institui em nálise, mas que, como vínculo intersubjetivo, é indispensável ? possibilidade do tratamento de uma criança. Primeira entrevista com os pais (o que escutei de mais significativo no discurso de ambos): Pai falando a respeito da separação do casal, diz duas vezes: “fui eu que me separei”.

No decorrer das entrevistas, entretanto, vai aparecer sua dificuldade de separação. A tal ponto que, quando o tratamento do filho é concluído, acha que é cedo ara terminar. Aos poucos aparece muita PAGF70F11 para terminar. Aos poucos aparece muita culpa em relação à separação do casal, a qual relaciona o sintoma do ilho, embora o ligue também ao nascmento do irmão. Dou-me conta de que essa separação ficou muito mal resolvida, permanecendo paciente no meio do “jogo” que havia entre os pais. Mãe ‘•—a respeito do sintoma do filho: “acho que agora ele faz mais para me agredir. Eu me sinto agredida”.

Conta como se dá a questão do cocô entre o filho e ela (um verdadeiro jogo de gozo) e diz: “Ele pede para eu lhe bater, é como se pedisse para apanhar”. Mais adiante, afirma: “Ele não quer que lhe digam — não”. Escuto que ela também não quer que o filho lhe diga — não (um “presente” não pode dizer — não) Veremos adiante porque se fala aqui em “presente’ . Conta que o filho, quando bebé, tivera algumas doenças: alergia picadas de mosquito e, ao mesmo tempo, sarna e impetigo. Diz que ficava noites em claro passando a mão no corpo do menino para ele não se cocasse (mais tarde sujaria as mãos no cocô dele).

Mãe e pai dizem que na escola o filho parece outra criança. O pai acrescenta: “sem estar conosco parece outro. É como dizem: são os pais que estragam os filhos”. Penso que a fantasia desse pai seria a de que, com a separação, teria estragado o filho. Há muita rivalidade entre PAGF de muita ironia um contra utro, discordam frequentemente. A separação não fora aceita pela mãe, que aproveita 32 LETRA FREUDIANA – Ano X- r,« g todas as oportunidades para agredir o pai. Este, por sua vez, usa o foto de sustentá-la para querer que ela fique como babá dos filhos (vamos ver como isto adquire importância pela própria história dela).

Na segunda entrevista com os pais o que surge de mais significativo é a fantasia do pal de que o filho, quando vier, talvez não queira entrar na sala sozinho comigo (não se separar dele, portanto, não se soltar). Percebo a necessidade de ouvir esses pais separadamente. Antes, porém, devo er a criança. Afinal, ambos tinham formulado sua demanda de tratamento para o filho e havia um sintoma bem enunciado pelos pais — a encoprese. Faço três entrevistas com a criança. Na primeira vem com o pai e a fantasia deste não se realiza, pois o menino entra comigo, desenha, quase não fala, mas fica.

Na segunda entrevista, penso que algo da suposição de um saber e, portanto, da transferência, começa a se delinear. Faz um desenho, peço-lhe que conte uma história sobre o mesmo e ele diz: “você já sabe” (refere-se ? história que contara sobre o desenho que fizera na primeira entrevista e que era ambém com coelhos). Respondo-lhe que é um desenho novo, pode ser uma história nova e quem sabe é ele. Falando sobre os coel -me quanto ao maior dele PAGF 11 história nova e quem sabe é ele. Falando sobre os coelhos, pergunta-me quanto ao maior deles: “que ano ele tem? ” Não respondo, dizendo-lhe apenas que quem sabe é ele.

Faz o mesmo em relação ao coelho menor, sem obter resposta. Pergunto-lhe quais são os nomes dos coelhos, ele não fala, mas “escreve”. Ainda não sabe escrever, mas faz com clareza a primeira sílaba do nome do coelho maior — Mi (que é também a silaba inicial do nome da analista). Na terceira entrevista, o que de mais signlficativo surge em relação à emergência da transferência, dá-se justamente quando já está saindo. Brinca com a corrente da porta, tentando fechá-la por fora (para guardar-me lá dentro? ). Digo-lhe que não dá, que fica difícil e que eu fecharei por dentro.

Diz então: “mas não fecha a porta”. Escuto isto como um pedido para que eu deixe a porta aberta para que ele possa voltar a entrar. Respondo-lhe então que a porta estará aberta para ele, quando voltar da próxima vez. Depois dessas três entrevistas com a criança, vejo o pai. Diz que faz análise, e olta a mostrar muita culpa pela separação. Fala na perda de sua mãe, há um ou dois anos, e na dificuldade de separar-se dela—chora. Pergunta se o filho estaria doente pela separação dos pais. Separação parece ser algo da ordem do seu fantasma e mais: o filho doente pela separação.

Faço a seguir umas quatro entrevistas com a mãe. A princípio estava muito quatro entrevistas com a mãe. A princípio estava muito arredia. Percebo que tinha medo de que eu quisesse analisá-la ao invés do filho, LETRA FREUDIANA-Ano x-n« 9 33 pois o marido dizia que ela tinha problemas psíquicos e que precisava de análise e, de fato, necessitava). Havia uma certa “limpeza de campo” a ser feita, inclusive para que a “transferência” comigo pudesse aparecer. A situação era um tanto complicada e não se podia começares cegas o tratamento da criança.

Estana o filho denunciando com o seu sintoma o que era da mãe? A partir da terceira entrevista a situação fica mais clara, inclusive para a mãe, a quem digo que se alguém ali for fazer análise comigo será o filho e não ela. Diz que já se tratara durante algum tempo. A partir desse momento, pode falar sobre a sua própria história, na qual aparece um pai muito severo, “durão”, que não era om marido para sua mãe e que também só lhe permitira fazer o pnmelro grau, obrigando-a, então, a ficar em casa para ajudar a mãe, que trabalhava com ele.

Sentira-se como empregada para os irmãos, principalmente para um deles, que ela dizia ser o privilegiado — ganhava coisas do pai e pudera estudar (era clara a rivalidade com esse irmão). “Agora quero me presentear. Quero me dar coisas”. Diz isto com raiva do marido que quer fazê-la de babá dos filhos (e, portanto, de empregada). Na fantasia dessa mãe, se marido que quer fazê-la de babá dos filhos (e, portanto, de Na fantasia dessa mãe, seria o paciente, primeiro filho, o presente” que não tivera do pai?

Só que um presente cheio de cocô, onde ela suja as maos, uma vez que o menino nao se limpa e é ela que tem de fazê-lo, como antes passara a mão na sarna e no impetigo dele. Além do mais, até o cocô que ela lhe pede ele não dá — mas se suja (faz nas calças) e ela tem que limpá-lo como uma empregada. Quanto à criança, parece que está recebendo a demanda que poderá levá-lo ? neurose obsessiva, frente à natureza paradoxal do objeto anal que lhe é demandado — a mãe pede, mas, quando ele dá, é algo que ela acha nojento. Diante disto, a dúvida: dou ou não dou?

A dona é ela ou sou eu? Ao mesmo tempo, está preso na relação mal resolvida entre os pais, nesse jogo em que fica como a pedra do meio. Talvez, com seu sintoma, fale sem saber do desejo de se soltar. Durante as entrevistas, através das brincadeiras e dos desenhos que faz, percebo que está entre prender e soltar. Depois das entrevistas com a mãe, faço uma com o casal e começo a ver regularmente o menino. Estamos ainda no tempo preliminar das entrevistas. Na terceira, após esse início regular, surge mais claramente, por meio de uma desenho, algo da transferência.

Faz primeiro um barco preso pela âncora barcos presos po uma âncora serão uma co ngo tempo — é o gozo 11 por uma âncora serão uma constante por longo tempo — é o gozo fixado que não se move). Através de mlnhas perguntas, vai contando parte de sua história na ilha em que vivera com os pais, uma vida paradisíaca, que fora bruscamente interrompida. 34 LETRA FREUDIANA- Ano X-n« g Enquanto fala, desenha um segundo barco que não está preso pela âncora. Leio esse desenho como: ele está preso (ancorado), mas não está sozinho—há um outro barco que está com ele.

Vejo isto na transferência como a inclusão da analista nas suas fantasias. Na entrevista seguinte começa a dirigir o sintoma à analista: arrasta-se pelo chão, tira a camisa e esfrega-a também no chão, põe-na na boca, empapa-a de saliva. Suja-se, portanto, como se fizesse cocô nas calças, mas ainda é uma sujeira só dele que o outro não tem que limpar. Trata-se de uma mostração do sintoma. É como se estivesse me testando. Paralelamente, a situação com a mãe está péssima, há brigas terríveis entre os dois—o “jogo” continua.

Começa também a fazer tudo para contrariar a analista. Passa a só querer entrar acompanhado pela mãe ou pela avó. Vacila na transferência. Há entrevistas que são interrompidas ainda na sala de espera. Outras vezes entra na sala com a mãe ou a avó. É um momento bastante difícil. Numa das vezes deira mostraçào do logo em que entra com a mãe, entra com a mãe, há uma verdadeira mostração do jogo de gozo enlouquecido — é a repetição em ato que denuncio na hora. O “jogo” entre eles agora é o entra não entra.

A questão não era tanto com a analista, mas com a mãe: ela queria que ele entrasse (que desse o cocô), ele não entrava (nao dava) — era a sua forma de se proteger do desejo da mãe. Isto se repete outra vez quando, ao hegarem, a mãe quer que ele vá ao banheiro e ele não vai — era a encenação do gozo real com o objeto cocô entre eles. Denuncio a situação novamente, interrompo e digo que voltem na próxima vez. Durante esse período tenho entrevistas frequentes com a mãe porque a questão está séria. Quanto ao menino, um dia entra, outro não. ?s vezes está na sala comigo, a mãe na sala de espera, sai correndo para vê-la e não quer mais entrar. Espero mais um pouco e decido cortar as vindas da mãe e da avó com ele, pedindo que venha com a empregada. Na primeira vez nao entra, mando-o embora da sala de espera. Depois isso, começa aos poucos a entrar, mas continua as provocações com a analista. Queixa-se à mãe da falta de brinquedos no consultório. Converso com ele sobre isto, diz que quer um jogo, não sabe qual, mas acaba se decidindo por um dominó. A principio brinca com as pedras sozinho. ouco depois, passa a pedir à analista que “‘jogue” com ele (é importante ue o jogo passe a ser com a analista). É tempo PAGF40F11 jogo passe a ser com a analista). É tempo de fixação da transferência, mas outra complicação aparece: a mae arrarya um namorado e leva-o para casa. O menino então nega-se a vir com a empregada, quer ue a mãe venha e entre na sala. Permito por algum tempo. LETRA FREUDIANA-Ano x-n” 9 35 As eatrevistas preliminares na psicanálise com uma criança Nessa época, tenho duas ou três entrevistas com o pai, que está furioso com a questão do namorado da mulher estar na casa.

A situação se acalma um pouco. Corto novamente as vindas da mãe com o filho, que volta a ser trazido pela empregada. Outra vez tenho que mandá-lo embora da sala de espera, ou porque não quer entrar ou porque quer ficar lá vendo revistas — mas isto dura pouco. Recomeça a entrar e um dia, de repente, irrompe o significante da transferência. ? realmente uma irrupção que eu não esperava (não sabia) que se daria assim, o paciente também não.

Ele chegara com um embrulho de papel laminado no qual havia quatro sanduíches de biscoitos cream crackers com requeijão pastoso. Senta-se no diva, abre o pequeno embrulho e começa a comer seus “sandu[ches”. Ainda pela sala, senta-se no diva e, aos poucos, temos o “cocô” espalhado por todos os lados. De vez em quando olha-me provocativamente. Continuo sentada, sem dar uma única palavra. Ele também não fala, mas suja e se suja. É claro que sinto um certo mal estar com tanta sujeira, mas calmamente es ero. Quando termina, ele f

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