Fenomenologia do brasil

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1. Em busca de um novo homem O homem é um ente essencialmente perdido e, quando se dá conta, procura encontrar-se. Esta sentença pode ser Ilda em vários niveis, por exemplo, no nível religioso ou no nível de um bandeirante no sertão, e seu sentido é sempre este: a decisão de tomar caminho (ou abrir caminho) depende sempre de um mapa da situação na qual o homem se encontra.

Isto significa que toda decisão depende não apenas da posição das coisas, mas também da imagem que fazemos da posição das coisas (provavelmente isto tem muito a ver com problema da liberda or 189 menos fiel, depende • m ponto de vista, a vista não pode, ele ja ela mais ou da, e este ponto de próprio, fazer parte da situação que entoca. O fato de o homem assumir pontos de vista não diz no fundo outra coisa a não ser que o homem procura encontrar-se.

Poderíamos dizer que a capacidade para a visão distanciada é prova da perdição humana, porque não teria sentido afirmar de um ente incapaz de ver sua situação que está perdido. No entanto, devemos ser cautelosos ao tentar estabelecer um nexo causal entre a capacidade para a superação e a perdição humana. Estaremos perdidos por podermos nos distanciar de nos mesmos, ou odemos sair de nós mesmos por estarmos perdidos? Provavelmente trata-se de pergunta sem sentido. É melhor (b) e dever portanto orientar-se.

Devemos constatar também que a consciência da desorientação e da necessidade de orientar-se não esta desperta sempre, nem em todos. Os assim chamados “bem integrados” (ou “quadrados”) não se sentem perdidos, e neste sentido cada um de nós é “quadrado” na maioria das vezes. A sensação da desorientação, a angústia do beco sem saída, toma conta de nós apenas por momentos, e torna-se insuportável por períodos mais extensos. Pois são stes momentos fugazes que nos movem para darmos o passo para trás de nós mesmos. Retroceder, para podermos imaginar e depois compreender e, por fim, para agir decididamente.

Pois estas são as fases do encontro consigo mesmo: distância, imaginação,conceito, ato; ou superação da situação, projeto de um plano sobre a situação, adequação do plano à situação, modificação da situação de acordo com o plano. É óbvio que a tentativa de encontrar-se pode falhar em não importa qual dessas fases, e esta é a razão porque a ensaiamos tão raramente. Na maioria das vezes, permitimos de om grado que a situação nos atordoe, a fim de escaparmos ? desorientação e à angústia do momento.

A liberdade, por louvada que seja, é incômoda, exige esforço, e não oferece garantia de sucesso. O atordoamento pela situação é um bom método para evitá-la. Este atordoamento pode ser formulado assim: a situação me determina e me propele, ela é incompreensível e, mesmo se pudesse compreendê-la, não bastariam minhas forças para opor-me a ela. Isto é uma formula ão razoável e uma tentativa honesta de evitar o uso d capacidade para conseguir a liberdade. Via de regra, no entanto, ão somos tão honestos, e procuramos fazer crer que fazemos o que fazemos por nos termos decldido livremente para tanto.

São os momentos de angústia (por fugazes que sejam) que nos revelam que fazemos o que fazemos por estarmos determinados e empurrados por fora. Mas até a formulação honesta é em certo sentido indigna, porque é da dignidade humana ensaiar a liberdade, por irrazoável que seja. Portanto: tentar manter a sensação da desorientação desperta. Assumir a perdição é a tentativa de encontrar-se, sob pena de fracassarmos. Este é o clima das considerações seguintes. Obviamente: distanciar-se e projetar planos não passam das duas primeiras fases do processo do encontrar-se.

São as fases especulativa e desengajada, e serão vãs, se não forem seguidas pela fase engajada. É certo: não basta explicar o mundo. Mas igualmente certo é que não podemos modlficá-lo, sem tentarmos explicá-lo (fato nem sempre suficientemente salientado pelos engajados). pois um tal “explicar o mundo” depende de pelo menos dois fatores, a saber: da distância do afastamento, e do ponto de vista. Quanto maior a distância, tanto mais ampla a visão, mas, também, tanto mais indistintos os etalhes e tanto menos fiel o plano da situação concreta.

E todo ponto de vista projeta uma luz sobre a situação na qual as coisas lançam sombras específicas, e portanto aparecem diferentemente de não importa que ponto de vista. Isto significa que toda tentativa de visão é individual, e que a ferece caracteriza o *GF3 o visionário pelo menos tanto quanto caracteriza a situação vista. Mas isto não significa que toda tentativa assim é necessariamente subjetiva, e portanto nada comunica. pelo contrário: da soma das visões disponlVeis pode fazer-se um mapa que se aproxima infinitamente da “verdade objetiva”, em jamais alcançá-la. ? claro: soma de distâncias e de pontos de vista nunca resultará na reprodução fiel do visto, portanto nunca levará à verdade no sentido aristotélico do termo. Mapas verdadeiros não podem existir e, portanto, não existem. Mas senam desnecessários se existissem. Pelo contrário: mapas não devem ser verdadeiros, se quiserem orientar-nos. Um mapa de uma cidade, que seria fiel se a reproduzisse por inteiro, seria tão confuso quanto oé a própria cidade, e não teria utilidade alguma. Um elemento de simplificação e de exagero é essencial para todo o mapa, e o ideal da bjetividade é portanto sumamente duvidoso.

Em todo caso, não será este o ideal das considerações que se seguem. Distanciar-se da situação e projetar de um determinado ponto de vista um mapa sobre ela, esta é a meta aqui perseguida. Portanto, este ensaio tem meta e limite. A meta é, repitamos, oferecer ao leitor um ponto de vista, a partir do qual poderá ver, de um ângulo determinado, a situação na qual estamos e acrescentar a visão resultante a outras visões para poder orientar-se. O limite é o engajamento, do qual o presente trabalho procurará aproximar-se sem alcançá-lo.

Pretende este ensaio manter-se esengajado, embora admita que todo deseneaiament rampolim a um trampolim a um engajamento, ou é irresponsável. O engajamento permanecerá (assim esperemos) fora dos limites deste ensaio, porque elepretende contribuir para a decisão do leitor, mas não lhe dar conselhos. Em outros termos: o ensaio recusa responsabilidade para assumir-se como não importa que “autoridade” (por admitir ser incompetente para tanto), mas assume responsabilidade para ser “fonte de informação” (porque crê possuir alguma competência para tanto).

Para resumir o que foi dito: movido por angústia e pela sensação de estar em beco sem aída, este ensaio se distancia da nossa situação, assume um ponto de vista específico, procura projetar daí uma imagem da situação, na esperança que tal imagem possa servir, em conjunto com outras, a uma orientação na situação e de trampolim para a sua modificação – portanto, para um engajamento. O que significa “nossa situação” neste contexto? Primeiramente, a situação da humanidade neste final do século XX.

Mas, obviamente, um tal Slgnificado vasto obrigaria a tomar tamanha distancia da situação, a fim de abarcá-la, que a visão resultaria em mera generalidade e banalidade. Por isso, urge definir o termo “nossa situação” um pouco mais razoavelmente. Por exemplo, desta forma: situação de um intelectual burguês, proveniente da cultura ocidental, no final do século XX. Mas, mesmo assim definido, o problema é tão amplo que parece convidar a uma queda na conversa fiada grandiosa. Evitar tal perigo será uma das tarefas mais árduas deste ensaio.

A esperança para tanto reside na estreita especificidade do ponto de vista a ser assumido. Será o ponto de vista de um intelectual brasileiro imigrado da Europa. Conforme disse: toda imagem depende de dois fatores: da distância e do ponto de ista. A distância assumida por este ensaio é grande, por ter ele escolhido um campo muito vasto. Em compensação, o ponto de vista é tão estreito que permite esperar que lugares comuns sejam evitados. O ponto de vista a ser assumido não exige explicação, já que resulta da própria condição de quem escreve este ensaio.

Mas a decisão de publicar tal visão deve ser explicada. O seguinte item será, pois, tentativa de autojustificatica do autor, e deve portanto ser tomado cum grano salis. A história enquanto soma dos atos decisivos (res gestae), e não enquanto também soma de ofrimentos, se tem desenvolvido até agora (isto é: nos últimos 8. 000 anos, aproximadamente) em larga faixa que cinge o globo entre os graus 25 e 50 do Hemisfério Norte. Não se trata de um período muito amplo, já que perfaz apenas 2% da existência do homem na Terra. ? provável que a humanidade nao seja nativa desta faixa, e quiçá a história toda não passe do método da humanidade para adaptar- se a ambiente não inteiramente conveniente. Uma maneira de ler a história é seguir as curvas traçadas pelos pontos de decisão dentro da faixa. Em tal leitura, por exemplo, a bertura do norte da Europa no século IV e do norte da América no século XVI serão tomados por momentos decisivos, e efetivamente a história é eralmente lida desta forma.

Mas, vistos a partir ponto decisivo na faixa não parecem constituir a verdadeira medida da história, e uma outra medida se impõe, a saber: a da relação entre a faixa histónca e o resto da humanidade (um resto que pode ser chamado de ahistórico ou pré-histórico, não importa). Esta segunda leitura da história está se tornando mais comum: a humanidade extra-histórica deixa de ser exótica, o mundo por ela habitado eixa de ser chamado hinc sunt leones e passa a ser chamado “terceiro mundo”, e o problema da relação entre história e não-história torna-se mais consciente.

Tal problema aparece na consciência sob duas formas. Uma o vê como desafio de enquadrar na humanidade histórica a humanidade nao-histórica, e é esta a forma que caracteriza as sociedades históricas (por exemplo o Ocidente que “ajuda no desenvolvimento”, e a China que “ajuda as revoluções libertadoras”). A outra o vê como desafio de depor a faixa histónca, e esta forma caracteriza algumas sociedades não-históricas (por exemplo a “negritude” e o lack power). Há, no entanto, outras formas de o problema aparecer na consciência, e uma é esta: é poss[vel tomar a história no sentido acima proposto como epiciclo de 8. 00 anos sobre um ciclo maior da humanidade, que dura centenas de milhares de anos. É possível dizer-se que existem sintomas que apontam o próximo fim de tal epiciclo. Visto da história, isto significa que esta emergia da pré-história para mergulhar em pós- história, em futuro próximo. efetivamente há vozes neste sentido no Ocidente (e não são apenas as vozes Mas, visto da não-história, isto significa que o epiciclo istórico surgiu precariamente da não-história, para nela mergulhar novamente. Porque do ponto de vista da não-história não tem sentido querer distinguir entre “pré” e “pós”, já que significam o mesmo.

E o problema da relação entre história e não-história aparece agora como problema de absorver novamente a história em não- história. Este ponto de vista é raras vezes assumido, e é ainda mais raramente publicado. Isto se explica com facilidade. Porque assumir tal ponto de vista intelectualmente, como glnástica mental, é coisa fácil e pode ser feita por todo aquele que tem ntelecto um pouco treinado. Mas insistir existencialmente sobre tal ponto de vista é acessível a poucos, apenas para quem sente o próximo fim da história em todos os seus nervos, e simultaneamente vivencia os problemas da não-história no próprio corpo.

Para poder sentir o primeiro, é preciso ter-se originado em sociedade histórica, e para vivenciar o segundo, é preciso viver em sociedade não-histórica, por exemplo: ser intelectual brasileiro imigrado da Europa. Mas em verdade nem sequer isto basta para assumir tal ponto de vista. Não basta pelas razões seguintes: o imigrante intelectual tem um papel na sociedade subdesenvolvida”, a saber: propagar os valores históricos em novo ambiente. Este papel é tão sedutor, que poucos a ele resistem, e destarte o imigrante se transforma, sem se dar conta disso, em catalisador da historicizaçao do novo ambiente.

Sem se dar conta, porque, se não estivesse atordoado pelo choque d eria lembrar-se que, da imigração deveria lembrar-se que, afinal de contas, emigrou da história porque a história lhe é problemática a ponto de ser insuportável. Acontece, é claro, que o imigrante se torna consciente disto e assume o exílio de bom grado. Mas neste caso dá as costas à história, qual Gauguin, e se desinteressa dela. Em ambos os casos é impossível assumir o ponto de vista aqui proposto, porque o primeiro é fruto de um engajamento na história, e o segundo de um desengajamento dela. ara se poder assumlr o ponto de vista proposto, é necessário que o imigrante se tenha perdido tanto na história quanto na não-história, e que procure orientar-se em ambas. Que duvide de ambas, sem desesperar de nenhuma. Portanto, que não desespere da nãohistória (como o faz a maioria dos pensadores do “‘Terceiro Mundo”, os quais procuram esesperadamente penetrar a história adentro), nem desespere da história (como o fazem tantos pensadores ocidentais, os quais procuram desesperadamente uma saída dela em direção de uma não-história romanticamente paradisíaca e mentirosa).

O autor crê estar na situação relativamente rara de poder assumir existencialmente o ponto de vista proposto. E esta relativa raridade representa, assim o crê, uma justificativa para a publicação do seu ponto de vista. para resumir o que ficou dito: este ensaio assumirá o ponto de vista de um intelectual burguês brasileiro, imigrado da Europa, para tentar imaginar, a artir dele, a situação do burguês intelectual ocidental em eral. Nutre a esperança de que a raridade do seu ponto contribuir para que outros se orientem e mudem o mundo.

Quanto ao método a ser seguido neste ensaio: será empreendida a tentativa de dar um passo para trás com relação à situação de um intelectual brasileiro imigrado, para ver tal situação à distância e permitir que ela própria se articule. Isto significa que será feita atentativa de abandonar todo preconceito e todo valor antes de dar o passo. Tal método constitui, geralmente, o método da fenomenologia. Quem já rocurou aplicá-lo, sabe que é um método muito penoso, porque exige constantemente autocontrole para evitar que os preconceltos e valores (que são muito pegajosos) não continuem agarrados àquele que se afasta.

Mas pode ser um método extremamente poderoso, porque, quando aplicado com êxito, revela a própria essência das coisas. Portanto: este ensaio procurará ver, descrever e raciocinar despreconceituadamente. “Despreconceituadamente” significa não apenas livre de ideologias, mas principalmente também livre de conhecimentos, isto é, de teorias. A atitude será portanto não apenas espida de valores, mas também de instrumentos das ciências especializadas.

Não será pretendida análise sociológica, econômica, etnológica, etc. , mas, pelo contrário, todo possível conhecimento que porventura existe no autor quanto aos métodos e resultados destas disciplinas será posto entre parênteses, a fim de não perturbar o fenômeno mesmo. Destarte se procurará conceder a pa avra ao próprio mundo vital do autor para que isto resulte em imagem viva e vivificada. Obviamente o autor não conseguirá evitar que valores e conhecimentos, uanto “verdadeiros”, se PAGF Ir, 189

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