Planejamento e controle dos custos da qualidade: uma investigação da prática empresarial

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Marcos Antonio de Souza • Elisandra Collaziol PLANEAMENTO E CONTROLE DOS CUSTOS DA QUALIDADE: UMA INVESTIGAÇÃO DA PRÁTICA EMPRESARIAL* PLANNING AND CONTROLLING OF QUALITY COSTS: AN INVESTIGATION ON MANAGERIAL PRACTICE MARCOS ANTONIO DE SOUZA Professor Doutor do Centro de Ciências Econômicas da Universidade Vale do Rio dos Sinos – RS E-mail: marcosas@unisinos. br ELISANDRA COLLAZIOL professo Continuada da Unive a PACE 1 oral RESUMO e Educação inos – RS E-mail: Este artigo tem como objetivo proceder a uma investigação da pratica empresarial sobre o planejamento e controle dos custos da qualidade.

Nesse sentido, contribui por oportunizar uma discussão atual sobre os procedimentos adotados pelas empresas, tanto no contexto da edição da norma NBR ISO 9004:2000, por meio da qual se passou a ter, pela primeira vez, uma explícita manifestação legal a respeito, como daqueles procedimentos recomendados pela literatura. O estudo empírico contou com a participação de 53 empresas de médio e grande portes, certificadas e integrantes do cadastro da Fundação para o Prêmio Nacional da Qualidade (FPNQ), sendo 32 nacionais e 21 estrangeiras.

Para tanto, utilizou-se de questionário encaminhado o responsável pela área de gestão da qualidade. O estudo conduziu à conclusão de que as empresas permanecem não dedicando ao planejamento e controle dos custos da qualidade qualidade. Constatou-se a continuidade de baixa aplicação de procedimentos direcionados à classificação e mensuração dos custos da qualidade, inclusive na elaboração de relatórios gerenciais específicos e nas atividades de orçamento e medição do retorno dos investimentos em qualidade.

Também ficou evidenciado que a baixa utilização é mais acentuada nas empresas nacionais. Palavras-chave: Gestão do sistema da ualidade; Custo da qualidade; Mensuração dos custos da qualidade. ABSTRACT The objective of this article is to investigate the companies’ practices regardlng planning and controlling of quality costs. The study discusses current procedures adopted by the corporations according to the edition of the NBR ISO 90042000, which, for the first time, showed a legal recommendation about treatment of quality cost in line with the procedures recommended by the academic literature.

The empiric research was developed based on 53 medium and large companies certified by ISO criteria, all f them associated to the Fundação para o Prêmio Nacional da Qualidade (FPNQ — Foundation For the National Prize on Quality ), a Brazilian association created to promote and improve quality system benefits. Of these 53 organizations, 32 are domestic companies and 31 are Brazilian subsidiaries of multinational enterprises.

To reach the goal of this research a questionnaire was sent to quality department managers. The research concluded that the organizations have not payed enough attention to the planning and controlling of quality costs in the same level that they have devoted to formalize the operational rocess to get the ISO certificate. The result PAGF devoted to formalize the operational process to get the ISO certificate.

The results of the research indicate that the companies have used few and superficial procedures to classify and measure quality costs as well as budgeting and evaluating the return ofinvestment on quality and related management information reports_ It was also observed that the poorer practices are more noticed in Brazilian domestic companies. Keywords: Management of quality system; Quality Cost; Measuring quality cost. Recebido em 03. 01. 2006 • Aceito em 18. 05. 06 • 2a versao aceita em 30. 06. 2006 Artigo originalmente apresentado no XXIX EnANPAD, Brasnia-DF, setembro/2005. R. cont. Fin. – usp, sao Paulo, n. 41, p. 38 – 55, Maiomgo. 2006 INVESTIGAÇÃO DA PRÁTICA EMPRESARIAL 39 1 INTRODUÇÃO O crescimento das transações em negócios internacionais durante as décadas recentes é um fenômeno que virtualmente tem conectado todos os países, cada vez mais, tornando-os dependentes do comércio e dos investimentos internacionais.

O aumento do comércio internacional de produtos, serviços e tecnologia, assim como o aumento de investimentos strangeiros, são as forças direcionadoras da internacionalização dos negócios. No contexto da globalização de mercados e da conseqüente expansão dos negócios internacionais, há um desejo comum das empresas, independentemente de suas origens: o de alavancar operações e resultados.

A relativa eliminação das fronteiras e barreiras na esfera de atuação das empresas, aliada ao expressivo avan Rias de produção e expressivo avanço nas tecnologias de produção e comunicação, tem resultado na existência de um mercado cada vez mais competitivo e exigente. É nesse contexto que se manifesta Mondem (1 999, p. 19), afirmando que: Hoje em dia, a competição entre as empresas transcende fronteiras, uma vez que elas competem nos mercados internacionais.

Em resumo, toda essa competição tem um objetivo comum: oferecer produtos com qualidade que agradem aos consumidores a preços acessíveis. Esse tipo de competição está se tornando cada vez mais árduo na arena do mercado global. Corroborando o entendimento de Mondem, Nakagawa ( 1991) destaca que, nas duas últimas décadas do século passado, o recrudescimento da competição global tem sido de tal ordem que as empresas vêm sendo ompelidas a se comprometerem seriamente com a chamada filosofia de excelência empresarial.

A questão da excelência destacada por Nakagawa também tem sido reconhecida por outros pesquisadores. Hansen e Mowen (2001), por exemplo, destacam que a melhoria cont[nua e a eliminação de desperdício são os dois princípios básicos que governam um estado de excelência na manufatura. Tais autores complementam afirmando que a excelência na manufatura é a chave para a sobrevivência no ambiente atual de competitividade de classe mundial.

Dentre os vários fatores que caracterizam o estágio e excelência destacado por Nakagawa e Hansen e Mowen, e ainda no âmbito do acirramento da competição global, Fawcett, Calantone e Roath (2000) destacam que custo e qualidade são os seus focos primários, por serem eles demandados por consumidores globais, e correspondem aos fundamentos sobre os quais outras capacidades co demandados por consumidores globais, e correspondem aos fundamentos sobre os quais outras capacidades compe- titivas são constru(das.

Tal reconhecmento decorre da constatação de que os clientes, cada vez mais, anseiam e privilegiam produtos revestidos com a qualidade por eles desejada e ao menor preço. Porter (1990) trata desses atributos no contexto do estabelecimento de estratégias empresariais que objetivam a criação de uma vantagem competitiva sustentável. Para assegurar o atendimento ao requisito da qualidade, as empresas têm se dedicado à certificação do sistema por meio do atendimento às determinações das normas ISO.

Quanto aos custos decorrentes, sejam eles origmados pelos gastos realizados para a obtenção da qualidade, ou pela falta dela, a preocupação deve ser a mesma. Tem sido reconhecido pela literatura contábil que a variável ‘custos’, em seu contexto geral, influencia de forma eterminante na dimensão de resultados. Portanto, a sua gestão é um pré-requisito para a eficácia organizacional, visto possibilitar a obtenção de uma economia de custos eficaz, com benefícios para a empresa e seus clientes.

Obviamente isso também é aplicável com relação aos custos da qualidade em particular, objeto deste estudo. Tem-se, então, que, ao tratar da prática empresarial quanto ao planejamento e controle dos custos da qualidade, este estudo está diretamente relacionado à discussão de aspectos que envolvem e sustentam a continuidade das organizaçoes.

OBJETIVOS E CONTRIBUIÇÃO DA PESQUISA O objetivo central da pesquisa é o de investigar o nivel de aderência das empresas pesquisadas no que se refere à adoção efetiva das prát nível de aderência das empresas pesquisadas no que se refere à adoção efetiva das práticas de gestão de custos tanto sob o foco dos desenvolvimentos teóricos verificados na literatura quanto ao previsto na norma NBR ISO 9004:2000.

A motivação para a execução desta pesquisa decorre da sugestão de Moori e Silva (2001) para novos estudos sobre a matéria, tendo em vista que, na opinião deles, com a edição da série 2000 das ormas ISO a mensuração de custos da qualidade passou a ser um item obrigatório para fins de certificação. Mesmo sendo tal afirmativa passível de discussão, visto também ser possível a interpretação de que na realidade NBR ISO 9004:2000 indica uma recomendação de adoção, a contribuição deste estudo está em oportunizar uma discussão atual sobre os procedimentos adotados pelas empresas.

Seja obrigatória, ou não, a realidade é que com a edição da NBR ISO 9004:2000 passou-se a ter, pela primeira vez, uma explícita manifestação legal a respeito. R. Cont. Fina – USP, São Paulo, n. 1, p. 38 – 55, Maio/Ago. 2006 40 Entende-se, portanto, que após cinco anos de vigência da norma é oportuno diagnosticar o nível de reconhecimento que as empresas dedicam à necessidade de planejamento e controle dos custos da qualidade, procedimento esse já há muito tempo referendado pelos diversos pesquisadores consultados. A justificativa deste estudo suporta-se na interpretação dada por ludícibus (1996, p. 1). O autor, ao fazer uma análise sucinta da Gestão Estratégica de Custos e de sua ligação com a Contabllidade Gerencial e com a Teoria da Contabilidade, destaca que: Em primeiro lugar, PAGF 6 com a Contabilidade Gerencial e com a Teoria da Contabilidade, destaca que: Em primeiro lugar, é importante deixar claro que o que mais importa, na realidade, é a qualidade da prática contábil. A doutrina tem sua grande importância, é bem verdade, quando consegue projetar estruturas conceituais que se antecipam ? prática (mas que devem ser validadas pelos experimentos reais).

Outra motivação para a realização deste estudo é a constatação da necessidade de pesquisas direcionadas a investigar a adoção de práticas de mensuração e registro dos custos da qualidade om base em uma amostra mais significativa de empresas. De fato, há uma preponderância de estudos que têm pautado o seu desenvolvimento na estratégia metodológica de estudos de casos ou na ênfase conceitual sobre a validade e utilidade da mensuração e controle dos custos da qualidade como instrumento de gestão.

Como exemplo de tal constatação, têm- se, entre outros, os estudos de Carvalho et al. (2000), Lima e Martins (2001), Nascimento (2003) e Quesado e Da Costa (2005). 3 REFERENCIAL TEÓRICO 3. 1 Iniciativas para os Sistemas da Qualidade Apesar do grande destaque dado nas últimas décadas ? mplantação de sistemas da qualidade, atingindo ela o status de alta relevância entre aqueles elementos que constituem a gestão estratégica empresarial, deve ser reconhecido que a questão da qualidade já vem sendo discutida com muito mais antecedência. Robles Jr. 2003, p. 21) destaca que “O conceito de Total Quality Control foi introduzido por Armand V. Feigenbaum, através de um artigo publicado em 1957 na revista Industrial Quality Control; em seguida, em 1961 publicou um livro, intit PAGF 7 publicado em 1957 na revista Industrial Quality Control; em seguida, em 1961 publicou um livro, intitulado Total Quality Control: engeneering and management”. Wilbur (2002, p. 75), também, manifesta-se no mesmo sentido, ao afirmar que “Os princípios que fundamentam os atuais proceR. Cont. Fin. – usp, São Paulo, n. 41, p. 8 55, Maio/Ago. 2006 dimentos dos sistemas da qualidade estão largamente baseados nos desenvolvimentos iniciados há mais de 50 anos por alguns poucos pesquisadores, como, por exemplo, W. Edwards Deming’. Apesar do destaque que é dado ao fenômeno da globalização como o principal indutor para as iniciativas quanto aos sistemas da qualidade, tendo em vista as exigências impostas por um ercado caracterizado por uma concorrência mais acirrada, um evento mais pontual, e parte integrante de tal globalização, também tem merecido destaque na literatura pertinente.

Trata-se da agressiva iniciativa das empresas japonesas que incorporaram a questão da qualidade como uma estratégia diferenciada para a época. De fato, nos anos 1970 e 1980, os japoneses desencadearam uma revolução global na eficácia operacional, introduzindo práticas pioneiras, como a gestão da qualidade total e melhoria contínua. Em consequência, os fabricantes japoneses desfrutaram, durante muitos anos, de ubstanciais vantagens de custo e qualidade.

Tal vantagem competitiva japonesa, em conseqüência, passou a ser uma ameaça à continuidade das demais empresas concorrentes. A partir de tal constatação, o tema qualidade passou, de forma mais efetiva, a fazer parte da agenda de todas as empresas preocupadas em assegurar a sua continuidade no cumprimento agenda de todas as empresas preocupadas em assegurar a sua continuidade no cumprimento de sua missão. Fawcett, Calantone e Roath (2000, p. 75) sustentam tal constatação, ao afirmarem que “Qualidade emergiu como uma vital prioridade competitiva m resposta à invasão japonesa ocorrida no final dos anos de 1970 e inicio dos anos de 1980′. Tal reconhecimento também pode ser encontrado em Sakurai (1997, p. 130) quando esse afirma que “Made in Japan, anteriormente objeto de desdém, é atualmente uma marca de distinção. Os japoneses são os líderes reconhecidos da moderna revolução mundial da qualidade, A influência da iniciativa japonesa, também, é destacada por Robles Jr. 2003). C ‘ta o autor que Deming, o qual alcançou notória proeminência em wrtude de sua atuação no Japão, na década de 1950, profetizou que em breve o país conquistaria o mercado undial, o que foi plenamente confirmado. 3. 2 Formalização dos Sistemas da Qualidade Uma decorrência natural da internacionalização da economia, provocada pelo fenômeno da globalização, e além daquelas já destacadas na introdução deste estudo, foi a preocupação em harmonizar, em nível mundial, alguns procedimentos no âmbito das empresas. 1 Isso tem sido verificado em diversas áreas, como, por exemplo, na harmonização das práticas contábeis, conforme destacado por Castro (2001) e CFC (2005). No âmbito dos procedimentos direcionados a assegurar um padrão desejado de qualidade isso ão tem sido diferente. A criação da International Organization for Standardization (ISO) ratifica tal entendime diferente. A criação da International Organization for Standardization (ISO) ratifica tal entendimento.

Oliveira e Melhado (2004) destacam que a ISO é uma entidade não governamental, criada em 1947, com sede em Genebra, Suíça. Ela tem como objetivo promover o desenvolvimento da normalização e atividades relacionadas com a intenção de facilitar o intercâmbio internacional de bens e desenvolver a cooperação nas esferas intelectual, científica, tecnológica e de atividade econômica. Como ecorrência tem-se o surgimento das Normas ISO, as quais representam um padrão mundial de referência em relação ? gestão da qualidade.

Os membros que compõem a ISO são os representantes das entidades máximas de normalização nos respectivos países associados, como o Instituto Nacional de Metrologia (INMETRO), no caso do Brasil. Tais representantes, por meio da atuação dos respectivos comitês técnicos – no Brasil a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), são responsáveis pelos trabalhos técnicos necessários à estrutura, emissão e atualização das referidas normas, as quais devem ser bservadas pelas entidades credenciadas para os trabalhos de certificação.

A formalização dos sistemas da qualidade ocorre sob a observação de três normas principais, revisadas em 2000, conforme Quadro 1: Norma ISO 9000 Denominação Sistema de Gestão da Qualidade: fundamentos e vocabulário Escopo Descreve os fundamentos de sistemas de gestão da qualidade e estabelece a terminologia para esses sistemas. Especifica requisitos para um sistema de gestão da qualidade — no qual uma organização precisa demonstrar sua capacidade para fornecer produtos que atendam a

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