Suicidio trama da comunicação

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Marcimedes Martins da Silva Suicídio – Trama da Comunicação Dissertação Dissertação apresentada como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Psicologia Social à Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, sob orientação da Profa. Bader Burihan Sawaia. Comissão Julgadora: Dra. Bader Burihan S S”ipe to view k Dra. Helda Bullota “Chega de palavras, pois estas tambem irão se perder com o tempo. (Frase extraída de um bilhete escrito por um suicidado) Resumo Trata-se de um estudo na área de Psicologia Social partindo do pressuposto que o suicídio é um gesto de comunicação e de ransformação, devendo ser estudado sob a ótica psicossocial, considerando as representações sociais do suicidado manifestadas através de bilhetes que escreveu e presentes também em fotos tiradas de sua pessoa após o suicídio.

A literatura pesquisada abrangeu alguns pontos teóricos referentes ao suicídio apontados por Durkheim e Freud, textos específicos a respeito de bilhetes suicidas e estudos de diferentes áreas do conhecimento a respeito de representação social e comunicação. O método de pesquisa consistiu na coleta, aleatória, durante 12 metamorfose – o suicidando é agregado à sociedade após o gesto uicida no papel de suicidado. O suicídio é um signo que seduz a pessoa, a qual mantém com ele um vínculo emocional, substituindo, em última instância, outros signos morte e vida.

Enfim, o presente trabalho revela o caráter político do suicídio através do qual o suicidado recupera a imagem do homem ativo, dono da própria vida e capaz de influenciar a realidade. Agradecimentos À Professora Bader Burihan Sawaia, orientadora da Dissertação. Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico – CNPq, que deu apoio financeiro. A um colaborador desconhecido. Sumário Introdução IX. Definição do problema II. Teorias A) Literatura B) Representação social e comunicação IX. Metodologia A) procedimento B) Análise dos dados 7 g 17 28 33 43 43 47 a.

As fotos e os bilhetes: considerações gerais 50 X. Os (cones e as metamensagens suicidas XI. O suicídio :gesto de comunicação social Sentimentos IX. O itual de passagem e metamorfose IX. A trama política da comunicação IX. As intenções do suicidado X. Comportamento político 69 74 81 89 101 103 109 IX. Compromisso politico e social Referências bibliográficas 119 Anexo Anexo II Anexo III Anexo IV 117 27 128 131 133 Introdução Marcimedes Martins da Si PAGF gg ao próprio homem e aos outros. ” (Rosseau) liberdade. ” (Nietzsche) ” … uma fuga ou um fracasso. ” (Sartre) ” a positivação máxma da vontade humana. (Schopenhauer) ‘ todo o caso de morte que resulta directa ou indirectamente de um acto positivo ou negativo praticado pela própria vítima, acto que a vítima sabia dever produzir este resultado. ” (Durkheim) Definições teóricas se alternam, se complementam, se contradizem: as reticências, ou mesmo um ponto de interrogação, permanecem em desafio a uma resposta definitiva exata. Este estudo também não procura uma única resposta, pois não acredita que ela exista, pelo contrário, enfoca o suicídio como uma questão de múltiplas respostas porque o caminho do suicídio é o da ambigüidade.

Nele vida e morte se encontram, se complementam, se ” . admitir a morte no tempo certo e com 8 contradizem, repetindo este movimento infinitamente como as definições do própno termo em torno de ódio e amor, coragem e covardia, etc. Mesmo afirmativas que parecem inquestionáveis, como a de que o suicídio é resultado de angústia e sofrimento, ão valem para todos os países e se tornam absurdas quando se estudam os casos de suicídio em países orientais.

Lendo as páginas seguintes não é poss[vel encontrar toda a riqueza de discussões, debates e idéias que acompanharam a elaboração desta dissertação, mas uma coisa é certa: o trabalho acadêmico foi acompanhado de muito humanismo e respeito pelos suicidados. É comum os estudiosos do suicídio serem acusados de defendê-lo e incentivá-lo, bem como de falar academicamente a respeito do assunto, sem considerar de maneira mais humana o drama de quem vive com suicidado rama de quem vive com suicidados na família ou com o suicídio dentro de si mesmo.

A tais acusações, cabe responder que a neutralidade científica não existe; chamar a sociedade, através da discussão acadêmica, a assumir parte da responsabilidade com os suicidados não significa defendê-los e nem incentivar o ato suicida, mas a discussão acadêmica é rica justamente porque o drama vida/morte é vivido por todos nós. Em resumo, esta dissertação é resultado de muito trabalho, mas também de muitas reflexões carregadas de sentimentos. I – Definição do Problema ? difícil precisar quando o primeiro suicídio ocorreu, mas ele parece estar sempre presente na história da humanidade.

A Enciclopédia Delta de História Gerall registra que, em um ritual no ano 2. 500 a. C. , na cidade de Ur, doze pessoas beberam uma bebida envenenada e se deitaram para esperar a morte. Recorrendo a livros religiosos como a Bíblia, por exemplo, é possível também encontrar os registros de alguns suicidados famosos – Sansão, Abimelec, Rei Saul, Eleazar e Judas. O suicídio de pessoas famosas foi sendo registrado, porém a história oficial ignorou os inúmeros cidadãos comuns suicidados.

No entanto, historicamente, é possível constatar a maneira como a sociedade tratou os suicidados e como este tratamento foi se alternando, cabendo observar, com especial atenção, o suicídio enquanto questão política tratada de diferentes maneiras pelo Estado. Na Antiga Grécia, um indivíduo não podia se matar sem prévio consenso da comunidade porque o suicídio constituía um atentado contra a estrutura comunitária. O suicídio era condenado politi o suicídio constituía um atentado contra a estrutura comunitária. O suicídio era condenado politicamente ou juridicamente.

Eram recusadas as honras de sepultura regular ao suicidado clandestino e a mão do cadáver era amputada e enterrada a parte. Por sua vez, o Estado tinha poder para vetar ou autorizar . Enciclopédia Delta de História Geral. Rio de Janeiro: Delta, 1969, vol. 1, p. 26. 0 um suicídio bem como induzi-lo. Por exemplo, em 399 a. C. , Sócrates foi obrigado a se envenenar. Em outras culturas do primitivo mundo ocidental, era dever do ancião se matar para preservar o grupo cuja solidez estava ameaçada pela debilitação do espírito que habitava o corpo do chefe de família.

Ocorria uma franca indução comunitária ao uicídio, religiosamente estimulada e normativamente legitimada. ” (Kalina e Kovadloff, 1983, p. 50) No Egito, se o dono dos escravos ou o faraó morriam, eram enterrados com seus bens e seus servos, os quais deixavam-se morrer junto ao cadáver do seu amo. Também no Egito, desde o tempo de Cleópatra, o suicídio gozava de tal favor que se fundou a Academia de Sinapotumenos que, em grego, significa “matar juntos”. Em Roma, como em Atenas, adotou-se em relação ao suic(dio atitudes diferentes, legitimando a morte do senhor que se matava e condenando a morte do escravo suicidado.

O senhor, m homem livre, ao se matar, exercia sobre si mesmo o direito próprio de sua condição social, amparado no espaço político pela lei pública. O escravo, porém, matando-se, ia contra a autoridade do senhorio, contestando seu poder e diminuindo seu capital, o que era contra a lei familiar redominante no espaço doméstico. O gesto suic diminuindo seu capital, o que era contra a lei familiar predominante no espaço doméstico. O gesto suicida, glorificado no cenário político, era condenado quando se tratava de um escravo porque o valor do ato era inseparável da condição social do ndivíduo.

Entretanto, ao matar-se, a denúncia do escravo ia além da sua condição social e além do espaço doméstico porque colocava em xeque os valores universais de liberdade e justiça, os quais aparentavam ser exclusivos do seu senhor quando este lutava na defesa de sua cidade e de seus pnvilégos. De fato, é em defesa de liberdade e justiça, que Catão, chefe de clã, comete suicídio para se opor ao poder soberano de César. Mata-se para semir às leis e às liberdades da República contra a morte delas – pelo menos as da aristocracia senatorial – imposta pelo Império

Romano. O suicídio de Catão não se constitui em um ato que prejudica a estrutura comunitária, como afirmava Aristóteles, mas em um ato de quem permanece fiel à sua comunidade. No Império, o Estado torna-se propriedade privada de César, onde os cidadãos são agora súditos Ilvres para agir, mas não tão Ilvres para morrer porque podem ter os bens confiscados em favor do Estado, penalidade esta aplicável aos militares e aos condenados ou detentos a espera de julgamento que suicidassem, desde que seus herdeiros não conseguissem demonstrar sua inocência.

Se quatro séculos antes e quatro séculos depois de Cristo o suicídio é ora tolerado ora reprimido, sua reprovação vai se reforçando durante os primeiros séculos da era cristã até que seja totalmente condenado no século V por Santo Agostinho e pelo Concllio de Arles (452 d. C. ), seguido de condenado no século V por Santo Agostinho e pelo Concílio de Arles (452 d. C. ), seguido depois pelos de Orleans, Braga, Toledo, Auxerre, Troyes, Nimes, e culminando com a condenação expressa de todas as 12 formas de suicídio no ‘Decret de Gratien”, um compêndio de direito canônico do século XIII.

Na Idade Média crista, o suicídio é condenado teologicamente. A Europa cristã acaba com as diferenças entre o suicídio legal e ilegal: matar-se era atentar contra a propriedade do outro e o outro era Deus, o único que criou o homem e quem, portanto, deveria matá-lo. A vida do indivíduo deixa de ser um patrimônio da comunidade para ser um dom divino e matar-se equivale a um sacrilégio. O suicidado não tem direito aos rituais religiosos, seus herdeiros não recebem os bens materiais e seu cadáver é castigado publicamente, podendo ser exposto nu ou queimado.

Os suicidados são igualados aos adrões e assassinos e o Estado e a Igreja fazem tudo para combater os suic(dios. A sociedade foi reprimindo o suicídio até a Revolução Francesa, a qual aboliu as medidas repressivas contra a prática do sulcídio, o que para Kalina e Kovadloff2 significou que a conduta suicida deixou de comprometer a estabilidade do Estado. O suicídio assumiu, assim, um caráter que oscila entre o quase clandestino, ou francamente clandestino, e o patológico. ? um gesto solitário, dissimulado, uma transgressão. Eles escreveram: se abrir, em meados do século WIII, uma 2 “Entre a pessoa e a comunidade começou a Eduardo Kalina é especialista em psiquiatria e psicanalista. Santiago Kovadloff é docente de filosofia. Ambos são argentinos e militantes da causa ecológica. PAGF 7 gg Kovadloff é docente de filosofia. Ambos são argentinos e 13 distância que duzentos anos mais tarde terminará constituindo as múltiplas formas de incomunicação contemporânea.

Por isso, mais que um ato de indulgência estatal frente ao indivíduo, deve- se ver nesta liberalização progressiva das normas punitivas com respeito ao suicídio uma expressão de irrelevância social que começa a pesar sobre a pessoa. Ou seja, não se contempla o suicídio com tolerância porque se o compreende, mas porque já não se lhe atribul maor transcendêncla coletiva. ” Checkjng for Lipdates analisam a sociedade atual com clara intenção de entender o suic(dio como existência tóxica.

A existência tóxica é a vida vivida de forma que o ser humano esteja se matando no cotidiano, todos se matando em comum acordo através de uma maneira de viver perigosa para a saúde. Uma existência tóxica é uma vida envenenada porque vive daquilo que a aniquila, promove e perpetua a alienação humana e fomenta o apoio às contradiçóes ue a destrõem. Para tanto, multiplicam-se as condutas autodestrutivas como o armamento 14 nuclear, a contaminação do planeta e, até mesmo, a despersonificação urbana do homem 3 contemporâneo . Enquanto na concepção c PAGF 8 OF gg mesmo, a despersonificação urbana do homem 3 contemporâneo .

Enquanto na concepção clássica o suicídio é o ponto final de um processo, Kalina e Kovadloff afirmam que o suicídio é o processo em si mesmo. O fato é que, apesar da Revolução Francesa ter abolido as medidas repressivas contra a prática do suicídio, aparentando que a conduta suicida não ompromete a estabilidade do Estado, uma observação primeira da relação suicidado-sociedade indica que há um movimento social organizado de prevenção ao suic[dio, o qual mobiliza os poderosos meios de comunicação modernos e instituições como, por exemplo, o CW-Centro de Valorização da Vida.

Ou seja, há um confronto latente na complexa estrutura social moderna entre dois movimentos: o dos suicidados e outro que se lhe opõe. O presente estudo, partindo do pressuposto que o suicídio é um processo em si mesmo que não termina com a morte e, ainda, que o suicídio é um gesto de comunicação, visa ampliar a ompreensão do relacionamento entre o suicidado e a sociedade. O indivíduo se mata para relacionar-se com os outros e não para ficar so ou desaparecer.

A morte é As condutas autodestrutivas são descritas detalhadamente na obra: KALINA, E; KOVADLOFF, S. Suicídio e sociedade. In: As cermônias da destruição. Tradução de Sônia Alberti. Rio de Janeiro . Francisco Alves, 1983. 172 p. pp. 64-142. 15 o único meio que o sujeito encontrou para restabelecer o elo de comunicação com os outros. Fernando Sabino(1986), na crônica intitulada “Suíte Ovalliana”, conta que Jayme Ovalle, questionado respeito do suicídio, disse: “É um ato de publicidade: a publicidade do desespero. (p. 144) Desde dezembro de 1990, a pub disse: “É um ato de publicidade: a publicidade do 144) Desde dezembro de 1990, a publicidade do desespero dos índios guaranis de 16 a 22 anos, em Mato Grosso do Sul, ocupa as páglnas dos jornals brasileiros, obrigando as autondades governamentais a se interessarem por esta crescente onda de suicídios por enforcamento e por ingestão de veneno.

A questão a ser discutida é: nao seria o suicídio um gesto de comunicação, a transmissão de uma mensagem individual para a sociedade? A resposta violenta do suicidado é sua busca em comunicar-se, transformando-se, porque a sociedade não lhe permitiu antes que o fizesse. Quando lhe foi impossibilitado comunicar-se, cortaram-lhe também sua influência sobre a sociedade, a qual se restabelece através de seu gesto suicida, mesmo que não seja uma pessoa famosa.

O que se pretende é pesquisar o suicidado, cidadão comum. Note-se que o termo “suicida” não clarifica qual é a condição do indivíduo. Por isto este estudo opta por fazer uma distinção entre os termos “suicidando” aquele que ameaça lou tenta suicídio e que pode ser chamado de ameaçador ou tentador; e “suicidado” – aquele que efetivamente se matou. Conforme foi dito anteriormente, serão privilegiados 16 os aspectos relacionados com a comunicação do suicidado para com a sociedade.

Na impossibilidade de se analisar mais detalhadamente todas as linguagens – espacial, corporal e verbal empregadas pelo suicidado, será privilegiada a linguagem verbal manifestada por ele, espontaneamente, através de bilhetes. Quanto às outras, serão tomadas como dados complementares a partir da análise das fotografias tiradas do cadáver no local do ato suicida,

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