Análise da música parque industrial

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITU O DE LETRAS E LINGUISTICA ESTÁGIO SUPERVISIONADO DE LITERATURA II Análise da Canção parque Industrial de Tom Zé Bruno de Sousa Figueira Retocai o céu de anil/ Bandeirolas no cordão/ Grande festa em toda a nação. / Despertai com orações/ O avanço industrial/ Vem trazer Aeromoça e ternura alegria/ Num instant Já vem pronto e tabe somente requentar/ to view garota-propaganda/ a parede,/ Minha sorriso engarrafado/ lar/ E usar,’ É made, made, made in Brazil. / Porque é made, made, made, made in Brazil. Retocai o céu de anil/ Bandeirolas no cordão/ Grande festa em toda a açàoMDespertai com orações/O avanço industrial/ Vem trazer nossa redenção. ‘ A revista moralista/ Traz uma lista dos pecados da vedete/ E tem jornal popular que/ Nunca se espreme/ Porque pode derramar. ‘ É um banco de sangue encadernado/ Já vem pronto e tabelado,’ É somente folhear e usar,’ É somente folhear e usar. (Tom Zé, Parque Industrial, Tom Zé) No presente artigo, nos propomos a fazer uma análise da música Parque Industrial, lançada no álbum do cantor e compositor Tom Zé, em 1968.

A música Parque Industrial e o cantor Tom Zé marcaram, no Brasil, o movimento político- rtistico-cultural chamado Tropicália. Além de realizar uma análise crítica da canção Parque Industrial lançando mão das principais Tropicalista, refletiremos sobre a presença do imaginário grotesco e da ironia na letra da música. O movimento tropicalista foi influenciado pelas correntes artisticas de vanguarda aliadas por uma cultura pop local e estrangeira. Com diversas manifestações experimentais nos diferentes meios artísticos, o Tropicalismo buscou combinar as tradições da cultura brasileira com radicais inovações estéticas.

Com forte presença na música, o Tropicalismo foi “cantado” por Caetano Veloso, Gilberto Gil, Torquato Neto, Tom Zé, Maria Bethânia, Gal Costa, Jorge Bem, Nara Leão, Os Mutantes, Sérgio Sampaio, entre outros. Nas artes plásticas, o grande nome da Tropicália foi Hélio Oiticica. O movimento também influenciou o cinema nacional, principalmente o chamado Cinema novo de Gláuber Rocha. No teatro, o destaque foi para as peças anárquicas de José Celso Martinez Corrêa. O movimento, com raiz na década de 1960, dividia o cenário politico-cultural brasileiro com as repressões provenientes da ditadura militar.

A ditadura além de instaurar um tom repreensivo, também foi responsável por uma certa modernização” do país. Neste caso, as aspas parecem ser bem adequadas à palavra modernização, pois este “avanço” mascarava um conservadorismo imposto pelo governo militar. O clima de violência, censura e falta de liberdade foi o impulso que a Tropicália precisava para constituir-se como uma forte movimento não só artístico-cultural, mas político. O Tropicalismo pretendia subverter as convenções e transgredir as regras vigentes, em todos os aspectos, o que extrapolava as barreiras da arte.

Procurando entender a fundo o PAGF70F11 Procurando entender a fundo o contexto de produção e irculação da música parque Industrial de Tom Zé, precisamos estar cientes de certas peculiaridades da Ditadura Militar no Brasil (1964-1985), visto que o álbum de Tom Zé, que abarca a música em estudo, foi produzido no ano de 1968 e circulou nos anos seguintes, sendo “trilha sonora” para os anos do governo do general Emílio Garrastazu Médici, isto, pois muito do que aconteceu no Governo Médici é cantado na música Parque Industrial.

O governo de Médici (novembro de 1969 a março de 1974) foi conhecido como o mais repressivo de toda a Ditadura militar brasileira. Nele, foram cnadas e mantidas multas leis de xceções; dentre elas, a que mais se destacou foi o Ato Institucional número 5 – Al-5, criado no final de 1968 e que se arrastou durante o governo de Médici. Além da forte repressão à liberdade, outro grande destaque deste governo foi o chamado “Milagre Econômico” ou “Milagre Brasileiro” (1963-2973), obtido por meio de financiamentos externos.

Recursos adquiridos pelo governo brasileiro, advindos de países desenvolvidos, foram investidos na construção civil: estradas, portos, hidrelétricas, rodovias e ferrovias. O produto Interno Bruto – PIB cresceu consideravelmente e milhões de empregos foram gerados. As empresas estatais faturaram muito, devido ao aumento das exportações. O poder aquisitivo da classe média foi elevado, e alguns produtos de consumo, típicos da burguesia, como, carro, imóveis e eletrodomésticos, tornaram-se mais acessíveis.

O governo encon PAGF30F11 como, carro, imóveis e eletrodomésticos, tornaram-se mais acessíveis. O governo encontrava-se em situação favorável para se auto-promover: o controle dos meios de comunicação, a imagem de um pais em desenvolvimento, o conforto dado ? classe média e até mesmo o título da seleção brasileira na copa mundial de futebol, ocorrida em 1970, no México. O país transmitia a imagem de uma economia forte e em pleno crescimento. A população estava consumindo, realizando seus “sonhos”, e cada pessoa cumpria o seu devido papel na sociedade.

O povo estava iludido com tantas “vantagens” e se acomodou, mesmo diante de tamanha repressão. O álbum de Tom Zé, de 1969. foi lançado nessas condições históncas. A seguir, iremos analisar a música parque Industrial, considerando as ideias do Tropicalismo, o contexto de Ditadura Militar, milagre econômico, bem como a presença do imaginário grotesco e da ironia na canção. O álbum de estréia do cantor brasileiro Tom Zé, em 1968, barcou muito das características e ideologias do Tropicalismo.

O álbum é marcado por questões que deram “cara” ao tropicalismo, como a presença da surpresa e do sincretismo. Por exemplo, as canções, ao passo que seguiam um padrão de compasso, por vezes eram “surpreendidas” por compassos que se alternavam, fazendo uma inovação rítmica. A atmosfera musical, no álbum de Tom Zé, possibilitava uma mistura de géneros, que perpassava do erudito ao popular. A canção Parque Industrial dialoga intimamente com a proposta tropicalista, uma música que transgride pela ironia.

Uma grande átira sobre a “modernização” conservadora que o país vivia, a músi PAGFd0F11 transgride pela ironia. Uma grande sátira sobre a “modernização” conservadora que o pais vivia, a música de Tom Zé debochava em cima do orgulho nacionalista de um desenvolvimento industrial e um nacionalismo forjado, já que, na verdade, esse “desenvolvimento” não era construído pelo país, mas sim, dado à goela abaixo —”engarrafado” – e advindo de investimentos internos, principalmente dos Estados Unidos da América – EUA.

Para explanar sobre a noção de grotesco, lançaremos mão do texto Grotesco: Transformação e Estranhamento de Aristides Alonso, no qual o autor faz um panorama sobre o conceito. Deste modo, assumindo que na canção de Tom Zé há um deboche e uma ironia, que chega ao ponto do escárnio, pensaremos, em um primeiro momento, no verbete “grotesco” segundo a definição apontada por Aristides Alonso, que utilizou-se como fonte o Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa: grotesco (ê). Do it. grottesco. ] Adj. 1. Que suscita riso ou escárnio; ridículo: individuo grotesco; moda grotesca. 2. Tip. V. lineal. (2). S. m. 3. Qualidade ou caráter daquilo que é ridículo, grotesco: O grotesco da situação ressaltava em toda a sua força. Cf. grutesco. ] segundo (ALONSO, p. 3): A significação geral do que hoje se entende por grotesco ficou durante muito tempo como uma subclasse do cômico, do cru, do baixo, do burlesco ou mesmo do mau gosto.

Ou ainda, uma denominação bastante genérica para o que se entende comumente por aberrante, fabuloso, demente, macabro, caricatural ou significações semelhantes. Seus tantos sentidos e multiplicidade de referências já fora ou significações semelhantes. Seus tantos sentidos e multiplicidade de referências já foram abordadas de muitas maneiras, buscando-se o entendimento e o lugar dessa xpressão estética tão nca de posslbilldades de significação, mas também de difícil conceituação.

Porém, além de assumirmos esses conceitos mais genéricos sobre o grotesco, também assumiremos alguns pressupostos do lingüista e filósofo gakhtin presentes no texto de Alonso. Em seu estudo sobre o grotesco, no ensaio A Cultura Popular na Idade Média e no Renascimento: o Contexto de François Rabelais, Bakhtin fala que a originalidade da cultura cômica popular, não foi ainda inteiramente revelada, mas que sua amplitude e importância na Idade Média e no Renascimento foram consideráveis.

O mundo infinito das formas e manifestações do riso opunha-se à cultura oficial a um tom sério e religioso da época. Selecionamos para o nosso estudo, dois excertos do texto de Alonso, sobre as postulações de Bakhtin relacionadas a noção de grotesco. Temos: As múltiplas manifestações dessa cultura carnavalesca podem subdividir-se em três grandes categorias: 1. As formas dos ritos e espetáculos (festejos carnavalescos, obras cômicas representadas nas praças públicas etc); 2.

Obras cômicas verbais (inclusive as paródicas) de diversa natureza: orais e escritas, em latim ou em língua vulgar; 3. Diversas formas e gêneros do vocabulário familiar e grosseiro (insultos, juramentos, blasonarias populares, etc. ). Essas três categorias estão estreitamente interrelacionadas e se combinam de diferentes formas. (ALONSO, ? , p. 4) estreitamente interrelacionadas e se combinam de diferentes formas. (ALONSO, p. 4) Assim, na tese de Bakhtin sobre o realismo grotesco, o princípio material e corporal aparece sob a forma universal, festiva e utópica.

O cósmico, o social e o corporal estão ligados indissoluvelmente numa totalidade indivisível. No realismo grotesco, o elemento material e corporal é um princ[pio positivo. O seu traço marcante é o rebaixamento, a transferência ao plano material e corporal, o da terra e do corpo na sua unidade, de tudo que é elevado, espiritual, ideal e abstrato. O riso popular que organiza todas as formas do realismo grotesco foi sempre ligado a esse “baixo material e corporal”. O riso como modo de degradação.

No realismo grotesco, a degradação do sublime não tem caráter formal ou relativo. “Alto” e “baixo” possuem um sentido topográfico. “Alto” é o céu, “baixo” é a terra que dá vida, o seio corpora. e não se conhece outra forma de baixo além destas. E surge sempre como marca ou lugar de começo. ALONSO, ? , p. 4) Desta forma, assumiremos em nossa análise que o grotesco está relacionado às diversas formas de manifestações cômicas que vão na contramão da cultura vigente; e que trata-se de um estado de transformação, segundo Alonso (? , p. ) de metamorfose, no estágio da morte e do nascimento, do crescimento e da evolução” Esclarecendo o escopo teorico que sustenta a noção de grotesco assumida neste estudo, aprofundaremos a análise da canção Parque Industrial do cantor e compositor Tom Zé, enfatizando o deboche e a ironia presentes na letra. para a nossa anális compositor Tom Zé, enfatizando o deboche e a ironia presentes na letra. Para a nossa análise, utilizaremos ainda, do Dicionário de Símbolos de Chevalier e Gheerbrant, a fim de se pensar num imaginário grotesco presente na música.

O fato de a primeira palavra da canção ter um tom imperativo com a pessoa verbal em vós (Retocai); e o fundo musical tramitar por sons de uma banda de orquestra e barulho de multidão, nao é por acaso. Temos a impressão de um grande evento militar com uma forte veia nacionalista: uma banda tocando e a multidão soltando o seu “grito” patriótico, o que é reforçado pelo “céu de nil”, típico das cores da bandeira do país. A imagem construída se reforça quando a letra da canção fala de uma “grande festa em toda a nação”. odemos observar a imagem de uma grande comemoração, pessoas tranquilas e satisfeitas com o país, imagem reforçada pelo “céu de anif’ que além de dar uma ideia de calmaria, evoca um ufanismo – o céu azulado, cor de anil, como na bandeira do país Além disso, podemos pensar no significado do símbolo azul, vejamos: “O azul é o caminho do infinito, onde o real se transforma em imaginário. Acaso não é o azul a cor do pássaro da elicidade, o pássaro azul, inacessível, embora tão próximo? Entrar no azul é um pouco fazer como Alice, a do pais das Maravilhas: passar para o outro lado do espelho. (CHEVALIER, GHEERBRANT, 2009, p. 109) Pensando nesse s(mbolo, podemos observar a presença do grotesco na canção, afinal há uma transformação do real para o imaginário, interpretação posslVel, segundo a smbologla do azul (“céu de transformação do real para o imaginário, interpretação possível, segundo a simbologia do azul (“céu de anil”). Além disso, esse imaginário pode ser pensado como uma figura que imprime um lgniflcado de alheio, isto é, podemos pensar que a população que vivia meio a Ditadura Militar e Milagre Econômico estava alheia ao mundo por de traz do “lindo céu de anil”.

Este estar alheio também pode ser entendido como uma caracterização do grotesco, pois há um clima de deboche na figura da tranqüilidade apresentada por esse céu de anil. Tendo essa primeira imagem construída na/pela canção, vemos o motivo da grande festa: “O avanço industrial”. Os versos que seguem, falam da garota-propaganda, da aeromoça que esbanja ternura no cartaz e da alegria que estas imagens podem trazer. O vanço industrial e a grande divulgação deste desenvolvimento era motivo para se orgulhar, para se sentir feliz.

A música revela, desta vez mais explicitamente, o seu caráter irônico: “Pois temos o sorriso engarrafado”, isto é, a felicidade do brasileiro não é verdadeira, é enlatada e empurrada à força, Tom Zé mostra que o brasileiro tem que sentir alegria do grande desenvolvimento do pais; e mais, tem que se orgulhar da nação. A ironia não se encerra no sorriso engarrafado, os versos dizem: Já vem pronto e tabelado/ É somente requentar/ E usar,’ Porque é made, made, made, made in Brazil”, mais uma vez alando da felicidade pré-pronta e artificial, não-brasileira.

Podemos reforçar os argumentos para essa leitura observando o uso da expressão inglesa “made in grazil” (‘feito no Brasil”); Será que essa felicidade é mesmo d PAGF40F11 expressão inglesa “made in grazil” (“feito no Brasil”); Será que essa felicidade é mesmo do Brasil ou vem de um “Brazil” com “Z? São esses os questionamentos que a música nos coloca: De onde vem mesmo essa felicidade e esse desenvolvimento industrial? Será que o povo brasileiro tem motivos para se orgulhar do desenvolvimento que, na verdade, não foi ele quem construiu?

Outra característica forte do tropicalismo vai aparecer no decorrer da música, a contracultura, o ir contra as ideologias vigentes. Esse contraponto fica claro em duas cenas construídas: a revista moralista, que traz os pecados da vedete e o jornal popular, que se “espremer sai sangue”. São imagens que podem revelar as contradições da ditadura, que por um lado, tem uma pose de moralista, mas por outro derrama sangue do povo brasileiro. E a música questiona ao ouvinte: – afinal quem tem moral? Nestas passagens, também podemos enxergar a presença do imaginário grotesco, mas desta vez, por uma imagem macabra e caricatural.

Temos a presença do símbolo sangue, vejamos uma poss[vel significação, conforme o Dicionário de Símbolos, que pode nos dar a impressão de uma ideia mais obscura, beirando ao macabro: “O sangue é considerado por certos povos o veículo da alma, o que explicaria, segundo Frazer, os ritos dos sacrifícios, durante os quais todo cuidado era tomado para que o sangue da vítima não se derramasse no chão” (CHEVALIER, GHEERBRANT, 2009, p. 800) A música segue falando do jornal popular, que também como a felicidade, já vem pronto e tabelado. E mais uma vez, a canção, com um grande tom irônico, nos fala de uma felicidade tão a

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